Comando da campanha aprovou fim de proposta sobre Constituinte para tentar atrair aliados
Depois de usar a vinculação com o ex-presidente Lula para transferir votos para o candidato Fernando Haddad , o PT vai trabalhar para descolar a imagem dos dois ao longo da campanha no segundo turno.
Em entrevistas e no programa eleitoral serão destacadas a personalidade
e características pessoais de Haddad. Até as visitas a Lula, que está
preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba,
desde abril, podem ser revistas. Dentro da estratégia para o segundo
turno, nesta segunda-feira, a coordenação da campanha aprovou mudanças
no plano de governo para tentar atrair o apoio de Ciro Gomes(PDT).
O petista já fez 15 visitas ao
ex-presidente, cinco delas como candidato. A vinculação entre o
presidenciável e o seu padrinho político foi a tônica da etapa inicial
da eleição. Nas primeiras atividades de rua, Haddad chegou a citar o
nome de Lula uma vez a cada 22 segundos . Também costumava se apresentar aos eleitores vestindo camisetas com o nome ou a imagem do ex-presidente. – O Haddad chega no segundo muito como a
substituição do Lula. Agora o Haddad do segundo turno é o Haddad –
resumiu o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner, que passou a integrar
a coordenação da campanha nesta segunda-feira.
Na visita desta segunda-feira, o líder
petista liberou Haddad e disse que ele não precisa se preocupar em
encontrá-lo toda semana. A reunião teve momentos tensos, quando foram
discutidas estratégias para a campanha. Na noite de domingo, logo após a
confirmação da passagem ao segundo turno, aliados de Haddad diziam ter
esperança de que o candidato ganhasse o aval de Lula tanto para ter mais
autonomia para se apresentar ao eleitor como para definir os rumos da
campanha. Segundo Wagner, porém, não haverá uma desvinculação completa
de Lula. – Não vai descolar nunca. Tem um
primeiro momento que foi o da transferência (de votos), que teve a
gratidão ao que presidente (Lula) fez. Agora, ninguém vive só do que que
foi. Numa eleição se vive fundamentalmente do que vai ser. É hora de o
Haddad dizer o seu programa de governo.
Na segunda-feira, Haddad visitou Lula em
Curitiba, mas, ao contrário do que vinha fazendo, não deu entrevista na
frente da Polícia Federal. O PT reservou uma sala num hotel da capital
paranaense para que ele falasse com os jornalistas. Ao ser indagada se
as idas semanais a Curitiba continuarão no segundo turno, a presidente
do PT, Gleisi Hoffmann, eleita deputada federal pelo Paraná, respondeu:
– Não vemos problema nenhum em consultar
(o Lula). Nem o Haddad vê. Vai depender muito da dinâmica da campanha.
Temos agora menos de 20 dias (de campanha). Eu não sei qual vai ser o
tempo, a disposição, as condições para que nosso candidato possa
conversar com o ex-presidente. Se for possível, ele vai. Se não, vamos
fazer campanha. Nós já temos a linha da campanha.
Desistência de nova Constituinte
Além de se descolar de Lula, Haddad
ainda viu a coordenação da campanha aprovar na segunda-feira a retirada
de um dos pontos de programa de governo que, segundo aliados, não lhe
agradava: a proposta de formulação de uma nova Constituinte. A mudança
será usada como arma para atrair a adesão de Ciro Gomes no segundo
turno. No final do primeiro turno, o candidato do PDT chamou a proposta
de constituinte do PT de “violência institucional”.