Há dois anos eu escolhi ser pai e, após
isso, ser intelectual é uma das últimas prioridades em minha vida,
depois, por exemplo, de comprar um sofá novo para minha esposa, criar
meu filho e enteado, além, é claro, de comprar uma garrafa térmica
Stanley Hydration para levar à academia.
As pessoas extrapolam em suas paixões,
as turbas exageraram na ânsia de serem progressistas ou conformistas,
facilmente se lambuzaram na retórica oportunista de posição ou oposição e
acabam, por fim, deitadas de conchinha com suas cartilhas ideológicas.
Enquanto isso, os sãos tentam entender a realidade através de seus olhos
e não a partir dos diversos “ministérios da verdade” que pululam por
aí. É exatamente aqui que começa a “treta”: quando a realidade não se
adequa à narrativa oficial da mídia e do mainstream em geral, como num
passe de mágica ?
ou como numa cirurgia de resignação sexual ?, você se
torna um fascista oficial sem direito de defesa, um bolsonarista
“passador de pano” abjeto, um “trumpista” da Ku Klux Klan e/ou um
adorador de Hitler… tudo por tabela, sem demais análises ou debates.
Mas, vem cá, o progressismo consegue
sempre ir além, né? Não demora muito e eles dão pinta de suas intenções,
suas veias autoritárias saltam mesmo estando atrás de um sorriso sereno
de “inclusão” amorosa. Logo eles dobram e guardam suas faces de
“Teletubbies social” para assumir aquela feição de Stálin. Em um ano,
relembremos, a turba que pede lockdown eterno conseguiu defender,
justificar e aplaudir tudo aquilo que é danoso a uma sociedade sadia.
Atualmente o progressismo sobrevive sob dois adjetivos determinantes:
mediocridade moral e disposição tirânica. Da censura a conservadores,
inquéritos de exceção contra jornalistas que não integram
o mainstream tradicional, prisões de transeuntes em praças, restaurantes
e praias, ao clamor por uma “ditadura necessária”, o pessoal que ama a
humanidade conseguiu criar um sistema despótico de submissão àqueles que
não concordavam com eles… tudo isso em meio a uma pandemia global.
Olha, de certa maneira, é de admirar…
Se você guarda aquela mínima visão
independente perante a realidade, não há como não perceber quem são
aqueles que mais se afastam de uma visão liberal de existência social;
já não está mais disfarçado quem são os que mais ameaçam a democracia
ocidental. Pensem o seguinte, visualizando todo o panorama político
atual: se homens como Adam Smith, Alexis de Tocqueville, Ludwig von
Mises, Friedrich von Hayek, etc., se todos ainda vivessem, estariam mais
assustados com Trump no poder ou com Biden? Se todos se encontrassem
numa taverna qualquer nesse instante, eles estariam fortemente
preocupados com a inclusão de transexuais nos esportes olímpicos, com a
cor de pele de qualquer assistente do governo a fim de agradar o Black
Lives Matter, ou com a censura descarada do Twitter aos que pensam
diferente do establishment?
O pêndulo da liberdade e da dignidade
individual que outrora Voltaire e Burke, apesar das premissas e ideias
diferentes, defenderam e se ombrearam no intento de resguardar a todo
custo, parece agora girar em seu eixo e parar na posição extremista de
libertinagem no despotismo. Tem até “novos liberais” endossando essa
velha cartilha despótica. Acreditam? Nossa era parece aceitar com extrema
parcimônia a ideia de que haja Big Tech’s que tenham, a um click de seus
teclados, o poder de emudecer milhões de pessoas que não se adequam ou
concordam com suas posições partidárias ou diretrizes ideológicas.
Como cético que sou, sempre estou pronto para que o feijão azede um pouco mais. A jornalista Maria Laura Assis denunciou que
no estado de Formosa, na Argentina, há verdadeiros “campos de
concentração” para infectados e suspeitos-de-estarem-infectados pelo
coronavírus. Uma bizarrice que beira a sátira de South Park. Porém, é
real. Pesquisando mais a fundo, não foi nada difícil encontrar vídeos,
imagens e até coberturas jornalísticas de mídias mais independentes
daquele país que mostram uma realidade bizarra, macabra, que não só
lembra o nazismo, como o copia com certa lealdade.
No melhor estilo soviético denunciado
por Alexander Soljenítsin em Arquipélago Gulag, as dezenas de
denunciantes desse absurdo afirmam que os policiais argentinos invadiram
as suas casas dizendo que os indivíduos e suas famílias teriam que
acompanhá-los para os campos de isolamento forçado pois, ou estavam
infectados, ou tiveram contato com infectados. Aqueles que se negam a ir
por bem são levados à força.
Calma, tem como azedar mais. O canal argentino identificado com as letras “TN” entrevistou uma
mãe, Monica, que foi presa nesse campo com sua filha de 4 anos. Isso
mesmo, 4 anos. Ela relata o terror do confinamento, estando os campos em
espaços ermos, os supostos médicos apenas mediam suas temperaturas e
nada mais, sem se deixarem identificar de modo algum. As denúncias
chegam ao patamar do absurdo quando se nota a precariedade dos locais;
banheiros sujos, pessoas deitadas em colchões podres, ratos, cobras,
janelas gradeadas.
Se um desavisado começar a leitura do
parágrafo acima, poderia facilmente deduzir que estamos falando da
Alemanha nazista e não da Argentina socialista de Alberto Fernández.
Na Saxônia, relatos
da imprensa local acenam para a possibilidade de criar espaços para
isolar à força infectados que se recusam a seguir a quarentena;
isso, a meu ver, é errado em todo o mundo, mas na Alemanha soa ainda
pior. E não, não estou “passando pano” para Bolsonaro ao dizer tudo
isso; eu pouco me importo com governos, na realidade. Importo-me mais
com a minha biblioteca e meu gato do que com Bolsonaro; ou até mesmo com
a sua opinião sobre mim, ou com o sexo frágil de Fiuk e a militância da
“Carol com K”.
Você pode estar de nariz torcido nesse
instante, pensando: “por que estou lendo um texto desse?” Tá bom, já vou
finalizar; mas antes entremos num campo da completa sinceridade.
Fechamos este pacto aqui, sem ninguém ver.
Depois de um bom banho, no final de um
dia estressante de trabalho, sentado na poltrona mais gostosa de sua
casa, com um jazz de fundo e uma taça de vinho na mão, ali é, enfim,
permitido sermos sinceros de verdade ante à realidade. Ninguém nos vê,
ninguém nos escuta. Não precisamos mais fazer média para os grupos a que
pertencemos; não precisamos nos portar galantes na frente da moça ou
rapaz com que flertamos, e nem fingir que nos importamos com qualquer
inclusão social ou com as girafas da Amazônia.
Ali, na poltrona da franqueza, está
liberado falar e pensar asneiras ridículas, xingar a mãe, a ex e o Papa,
podemos até assistir ao BBB para depois dizer que quem assiste é idiota
útil. Ninguém julgará. Naquela poltrona, vertidos na sinceridade de um
estado de natureza, afastados dos compromissos sociais, ideológicos e
das amarras psicológicas, podemos então admitir o que todos nós sabemos:
não são os ditos “conservadores” as reais ameaças às liberdades no
Brasil e no Mundo. Não são os tios do zap os fascistas, nem o agora
aleijado Oswaldo Eustáquio. O Tião e a Neide, o Joaquim e Chica, que
compartilham vídeos do Bolsonaro levantando a lata de Leite Moça, não
estão mancomunados numa rede subalterna de neonazistas de Jacareí ou de
Osasco, definitivamente não estão programando um atentado a bomba aos
sacrossantos juízes do STF.
Isso é narrativa midiática vadia, nós
sabemos, todos sabemos; esse fascismo apregoado nos conservadores
brasileiros é mentiroso. Hoje a ameaça ao modelo liberal de vida,
duramente construído e maturado no Ocidente, é só uma: o progressismo. É
ele que clama por um “autoritarismo necessário”, um fascismo de
arco-íris e pôneis transexuais, uma ditadura psicopata pintada
de marshmallows rosa. Podem me xingar nos comentários; me escrachem nos
grupelhos de lacração; mas nós sabemos.
Artigo publicado originalmente no site do IL em 12/02/2021.
O autor é filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.