J. R. Guzzo
O atraso na votação do novo ministro foi mais uma aberração na longa sucessão de agressões diretas ao Estado democrático
Caminha para o seu desenlace,
enfim, mais um episódio miserável na vida pública brasileira:
- a
sabotagem comandada pelo presidente da Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, durante quatro meses seguidos, contra a apreciação do
nome indicado pelo presidente da República para ocupar a vaga existente
no Supremo Tribunal Federal.
Algum dos marechais-de-campo das
“instituições”, esses que vivem dizendo que Senado, STF, o “regimento
interno” e o resto da banda são entidades sagradas e intocáveis, seria
capaz de dizer o que o interesse público ganhou com essa palhaçada? É
claro que não. O atraso na votação do novo ministro foi apenas uma
aberração – mais uma, na longa sucessão de agressões diretas ao Estado
Democrático que a falsa legalidade tem feito em todos os níveis no
Brasil de hoje.
A democracia brasileira, cada
vez mais, é um objeto de curiosidade. Para o ministro Alexandre Moraes e
o seu inquérito ilegal sobre “atos antidemocráticos”, ela está ameaçada
de morte por cantores de música caipira, motoristas de caminhão e
candidatos de “direita”.
Mas um político sozinho, por rancores e
interesses puramente pessoais, pode bloquear por quatro meses, ou quanto
tempo quiser, o funcionamento da ordem constitucional. Aí ninguém acha
que a democracia está sendo agredida.
O exame pelos senadores do nome
indicado para o STF agora vai – ou pelo menos parece que vai.
Mas quem
pagará pela desmoralização completa do processo de escolha?
Quem pagará
pelos prejuízos que esses quatro meses de paralisia trouxeram para a
máquina pública?
O responsável único por esse absurdo, com certeza, não
pagará nada. Ninguém paga, nunca. [e a rachadinha do Alcolumbre será esquecida? ou investigar 'rachadinha' coloca em risco a democracia a 'brasileira'?]
Como a democracia pode estar
sendo defendida, estimulada ou fortalecida pelos quatro meses de atraso
na aprovação do novo ministro do STF? O que aconteceu é exatamente o
contrário: o uso descarado das regrinhas inventadas pelos políticos para
satisfazer a desejos pessoais. O senador “zé” ou o senador “mané”
querem isso ou aquilo; o Estado tem se curvar para eles, e o interesse
comum que vá para o diabo que o carregue.
Impedir por quatro meses
inteiros, sem nenhuma razão decente, que o maior Tribunal de Justiça do
país complete o seu efetivo legal não é um “ato antidemocrático”. O que
será, então?
GZH - José Roberto Guzzo, colunista