Malu Gaspar - O Globo
Davi Alcolumbre articula indicação de Rodrigo Pacheco para barrar André Mendonça no Supremo
[senador Alcolumbre! por um desses desastres inexplicáveis, o senhor conseguir 'estar' presidente do Senado; tão absurdo evento certamente não se repetirá.Quem escolhe o procurador-geral da República é o presidente Bolsonaro - aceite e aproveite o resto do seu mandato = que, pelo seu desempenho, será o único.]
A recondução
de Augusto Aras ao cargo de procurador-geral da República, anunciada
ontem, eliminou a alternativa preferida do senador Davi Alcolumbre
(DEM-AP) para tentar impedir a escolha de André Mendonça para a vaga de
ministro do Supremo Tribunal Federal aberta com a aposentadoria de
Marco Aurélio Mello. Mas isso não significa que Alcolumbre desistiu de
impedir o atual advogado-geral da União, seu desafeto e candidato de
Jair Bolsonaro, de assumir a vaga.
Prevendo que Aras seria tirado da disputa pelo
próprio presidente da República, ao nomeá-lo para mais um mandato na
PGR, Alcolumbre articula há pelo menos um mês um plano B: tentar
convencer os senadores que não se empolgam com a indicação de Mendonça a
se engajar numa campanha pela nomeação de ninguém menos do que o
próprio Rodrigo Pacheco, o atual presidente do Senado. [o cidadão foi eleito senador da República, por um desastroso acidente(incluindo entre outras coisas estranhas,a presença de 82 cédulas, quando só há 81 senadores) ficou presidente do Senado. Apesar de tudo, não aprendeu que quem indica ministros do STF é o presidente da República - se o indicado for rejeitado, o presidente da República indica outro, até que um nome seja aceito.]
Embora seja apenas um senador, Alcolumbre é o
presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). É por essa
comissão que o nome de Mendonça precisa ser avaliado antes de ser
submetido ao plenário do Senado, onde precisa de 41 dos 80 votos para
ser aprovado.
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Mas Alcolumbre não só tem dito nos bastidores que não
pretende pautar a sua indicação tão cedo, como trabalha incansavelmente
para que ele seja rejeitado. Além de não gostar de Mendonça, ele também
estaria magoado com Bolsonaro pelo fato de que não ter sido nomeado
para um ministério depois de sair da presidência do Senado, como esperava. Augusto Aras era o preferido do ex-presidente do Senado e
de vários outros porque, além de ser visto como alguém simpático às
causas da classe política e de ter contribuído para o enfraquecimento da
Lava Jato, ele era considerado imbatível numa disputa com Mendonça.
Quando sua indicação à PGR foi submetida ao Senado, Aras foi aprovado
com 68 votos.
Agora, por mais que a ida de Rodrigo Pacheco para o
Supremo pareça uma ideia esdrúxula, uma vez que o presidente do Senado é
um dos cotados para uma candidatura de terceira via à presidência da
República, Davi Alcolumbre insiste. Desde que a ideia foi lançada num jantar em que
estavam senadores como Katia Abreu (PP-TO), Eduardo Braga (MDB-AM) e
Renan Calheiros (MDB-AL), ele vira e mexe volta a ela.
Nas últimas semanas, ele tem telefonado aos
senadores, um a um, para pedir que não recebam Mendonça e nem votem
nele. E quando lhe perguntam em quem votar, senão no candidato de
Bolsonaro, Alcolumbre recorre ao nome de Pacheco. Em sua batalha anti-Mendonça, o senador do Amapá já
consultou inclusive o próprio Rodrigo Pacheco – que não deu corda à
iniciativa, mas não a vetou. Bolsonaro também já foi informado da
movimentação.
Segundo a linha de raciocínio que Alcolumbre expõe
nas conversas, reproduzidas à equipe da coluna por três dos seus
interlocutores, Pacheco seria um bom nome para Bolsonaro porque evitaria
o "vexame" de o presidente de ter seu candidato rejeitado; seria bom
para o Congresso, por ser um ministro do Supremo que já foi
parlamentar.
E por último, mas não menos importante, abriria espaço para
recolocar na presidência do Senado algum aliado fiel de Bolsonaro, uma
vez que Pacheco não seria suficientemente leal ao governo. A questão é que, segundo o plano de Alcolumbre, esse
aliado seria ele mesmo. Daí porque os principais interessados em barrar a
candidatura de Mendonça – alguns emedebistas e a ala mais ligada ao
Centrão, que não o consideram "confiável" – não veem vantagem em
trabalhar pela alternativa Pacheco. Nessa hipótese, só Alcolumbre, que
alimenta a ideia fixa de tentar voltar à presidência do Senado, sairia
ganhando.
Enquanto isso, André Mendonça segue em campanha.
Nesta terça-feira, ele foi a Goiania se encontrar com os senadores
Vanderlan Cardoso (PSD) e Luis do Carmo (MDB). Na semana passada,
participou de um jantar na casa do ex-advogado-geral da União Fábio
Medina Osório, com os senadores Rose de Freitas (MDB-ES), Eduardo Gomes
(MDB-TO), Nelsinho Trad (PSD-MS) e Lucas Barreto (PSD-AP).
A seguir nesse ritmo, periga Alcolumbre acabar falando sozinho.
Malu Gaspar,colunista -Blog em O Globo