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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Bolsonaro em Nova Iorque - Fernando Gabeira

Bolsonaro deve falar amanhã em Nova York. É o acontecimento da semana, embora as semanas no Brasil surpreendam com frequência.  Escrevi um artigo tentando elaborar sobre o contexto que espera Bolsonaro. No passado não era assim. Os presidentes brasileiros inauguravam a sessão da ONU com discurso protocolar e bocejos na plateia. Sarney foi criticado por citar um obscuro poeta maranhense em seu discurso. Se o problema agora fosse esse, nem valeria escrever sobre o tema.
Bolsonaro ignora o ímpeto das forças que despertou com sua política amazônica. Ninguém o avisou. Seu chanceler acha que a Nasa não distingue fogueira de queimada. Internamente, estimulou os predadores. Era evidente que o enfraquecimento da fiscalização, a promessa de trazer mineradoras americanas para atuar na Amazônia, tudo isso contribuiu para a frase que estava no ar: da próxima vez o fogo.

Nos Estados Unidos houve quem afirmasse que as queimadas na Amazônia são uma grande ameaça à segurança nacional e devem ser tratadas como armas de destruição massivas. [nenhum ponto do planeta está livre da presença de imbecis - diagnóstico apropriado para os que expelem tamanha asneira. 
Queiram ou não de todo o circo montado maximizando as queimadas, inevitavelmente, se conclui que queimadas ocorrem todos os anos e continuarão a ocorrer - do mesmo que os incêndios na Califórnia.] 
 
Macron recuperou, timidamente, o discurso de Mitterrand sobre soberania limitada. Mitterrand a mencionou em dois casos: destruição ambiental e grandes violações dos direitos humanos. [os franceses começaram a tentar impor a soberania limitada quando traíram a Argentina -venderam mísseis 'exocet' para os hermanos e passaram, traiçoeiramente - os códigos operacionais para os ingleses, durante a Guerra das Malvinas.]
Esse debate aparece pouco no Brasil. Mais concretas são as consequências econômicas. Fundos de pensão estrangeiros, que administram trilhões, exigem uma política de preservação da Amazônia. No meio da semana, a Áustria fez saber que não apoiaria o tratado da Europa com o Mercosul por razões ambientais.  [o 'x' do enigma é que só agora apareceram trilhões disponíveis para investimento no Brasil - desde que o Brasil doe a Amazônia para os 'investidores'.
O negócio é bom, já que para cada hectare queimado o valor da Amazônia aumenta.
O complicador é se as mais de 10.000 ONGs que existem naquela região, cada uma com algo em torno de dez ongueiros = 100.000 mamadores = decidirem ajudar a apagar os incêndios.
Cada um como um balde de 10 litros, resulta no total de 1.000.000 de litros  de água = carga superior a transportável por mais de 300 aviões especializados em combates a incêndios.] São muitas as oportunidades que o Brasil pode perder se insistir no tom de Bolsonaro. O centro do debate não é a soberania, mas o que o Brasil faz dela numa região específica que interessa ao planeta.

Num contexto tradicional de buscar as melhores vantagens para o país, a Amazônia é dos maiores trunfos para nossa diplomacia. Basta reconhecer como legítima a preocupação internacional, [desde que não haja dúvidas sobre o a sinceridade dos líderes mundiais - pra ficar só em um exemplo: sinceridade e lealdade não combinam com os franceses.] que não é apenas dos líderes mundiais, mas também de seus eleitores.

A partir daí, é possível definir um amplo campo de cooperação. Só não fico aflito porque sei que uma coisa é Bolsonaro e suas redes; outra é o Brasil real. Nove governadores da Amazônia Legal falam pela região e desenvolvem uma política própria. Sabem melhor o que estão fazendo porque conhecem a Amazônia e se preocupam com a sorte de 28 milhões de pessoas que vivem na região.  De uma certa forma, isso acontece também com o Trump nos Estados Unidos. Os governadores que levam a sério as mudanças climáticas desenvolvem uma política própria.

O problema, no caso brasileiro, é que Bolsonaro é um presidente bastante conhecido no exterior. Nova York não se importa tanto com a ONU e os discursos. Mas a imprensa e a televisão certamente vão se interessar. Será uma semana de grandes debates sobre o clima na ONU. Manifestações e tudo mais. Não sei precisamente o que Bolsonaro falará. Mas, se falar o que pensa, vai escandalizar; se falar o que não pensa, talvez não seja convincente.  Se pelo menos citasse poetas maranhenses. O passivo já é grande. É preciso reconstruir a relação com os europeus, afastar as sempre presentes ameaças de boicote comercial.

Bolsonaro vê a Amazônia com os olhos dos fazendeiros que o apoiam. Critica os fiscais e ignora um campo em que precisa crescer: o combate à biopirataria.
O centro da tragédia de sua política amazônica é subestimar o conhecimento que a floresta pode produzir e o já acumulado pelos seus habitantes. No Pará existe um homem que cria cobras e vende seu veneno para a indústria farmacêutica. Ganha bem, e o veneno tem inúmeras utilidades medicinais. Novas espécies são identificadas pelos pesquisadores, às vezes cinco por semana.

O conhecimento da Amazônia é o instrumento estratégico que o Brasil precisa manobrar, definindo a cooperação estrangeira, direitos autorais de povos da floresta, enfim exercendo sua soberania nos fatos onde realmente ela interessa, e não em discursos para entusiasmar eleitores, cada vez menos entusiastas, cada vez mais envoltos nas brigas internas. [A Amazônia pertence ao Brasil e sua SOBERANIA e inegociável; cooperação estrangeira, só autorizada previamente e dentro de protocolos estabelecidos pelo Brasil.
A Amazônia é dos brasileiros, direitos autorais são do Brasil - NAÇÃO SOBERANA e que pertence aos brasileiros - e não dos povos da floresta.]

Quando não há horizontes, a sensação é de naufrágio, que, aliás, se define mesmo como a perda do horizonte.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira 
 
Artigo publicado no jornal O Globo em 23/09/2019


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Encontrado corpo de cadete desaparecido durante treinamento em Itatiaia

Lucas Santiago Sanchez tinha 23 anos e estava desaparecido desde madrugada desta quinta feira (2/8)

O Comando da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) informou que foi localizado hoje (3/8), pela manhã, o corpo do cadete Lucas Santiago Sanchez, 23 anos, do 3º ano do Curso de Cavalaria, que estava desaparecido desde a madrugada de ontem (2/8), quando participava de um exercício com outros alunos na Represa do Funil, em Itatiaia, região sul fluminense.
 
O cadete estava no 3º ano do Curso de Cavalaria (foto: Divulgação/Aman)
Segundo a academia militar, a morte do cadete ocorreu durante o naufrágio de uma embarcação na madrugada do dia 2 de agosto, por ocasião de um deslocamento fluvial, realizado durante o Estágio de Patrulhas de Longo Alcance com Características Especiais. Na embarcação havia um oficial, 13 cadetes e o piloto. A Aman informou, em nota, que o estágio conduzido pela Seção de Instrução Especial (Siesp), é uma atividade prevista no plano de disciplinas da academia, sendo realizado anualmente, por mais de uma vez, cujos instrutores são experientes e especializados em "operações desta natureza”.

A família do cadete, que já vinha recebendo apoio psicológico e religioso, desde o momento em que foi constatado seu desaparecimento, foi prontamente informada. Após o acidente, os militares que estavam a bordo foram resgatados por outra embarcação que estava próxima ao local e conduzidos para a margem da represa. Ao se verificar o efetivo, foi constatada a falta do Cadete Sanchez. Em seguida, foram iniciadas as buscas, reforçadas, ao longo do dia, com o apoio da Marinha, do Corpo de Bombeiros, do Comando de Operações Especiais, do Comando de Aviação do Exército, do 12ª Brigada Infantaria Leve e do Batalhão Escola de Engenharia. O corpo do aluno foi encontrado, por volta das 8h30 de hoje e, em seguida, iniciados os procedimentos legais. Um inquérito policial militar foi instaurado para apurar as causas do acidente, segundo informou o comando da Academia Militar.
 
 

 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A orquestra do Titanic e os servidores públicos

Aumento do funcionalismo, com estabilidade e remunerações acima da iniciativa privada, é inoportuno e incoerente

Todos os relatos sobre o naufrágio do Titanic afirmam que a orquestra tocou no convés do navio até minutos antes da submersão, como forma de acalmar os passageiros durante o embarque nos botes salva-vidas. Nesse momento, o líder da orquestra saudou os músicos como habitualmente fazia dizendo-lhes: “Cavalheiros, obrigado. Foi uma apresentação magistral. Boa noite”. E acrescentou: “Boa sorte”.

Lembrei-me da orquestra do Titanic diante da situação fiscal que o país atravessa e dos aumentos salariais recentemente concedidos aos servidores públicos federais. O Brasil tem cerca de 11 milhões de funcionários públicos. A maior parte está nos municípios (6,5 milhões). Outros 3,2 milhões estão nos estados; 1,2 milhão, na União. As despesas conjuntas representam, aproximadamente, 14% do PIB.

Segundo o IBGE, a proporção de servidores municipais em relação à população brasileira, que era de 2,2% em 2001, subiu para 3,2% em 2014. Entre 1999 e 2014, embora os estatutários predominem, sua proporção caiu de 65,4% para 61,1%. Em contrapartida, no mesmo período, cresceram os percentuais de pessoas sem vínculo, de 13,4% para 18,7%.
Nos estados, vários governadores não conseguem pagar salários em dia e atribuem as situações de penúria somente à recessão e à queda de arrecadação. Decretam “estado de calamidade financeira” — para o qual suas gestões muito contribuíram — como forma de se livrar das punições previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). As crises, porém, decorrem, em grande parte, do crescimento abrupto das despesas com pessoal e das burlas à LRF.

A lei determina limite de 60% para a relação entre a despesa total com pessoal e a receita corrente líquida no conjunto dos poderes dos estados, sem qualquer espaço para as “interpretações criativas” adotadas por diversos gestores, sob as barbas dos tribunais de contas. No último trimestre de 2016, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) divulgou tabela que confrontou as informações autodeclaradas pelos estados com os dados colhidos e examinados pelos técnicos da STN no âmbito do Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal. No Rio de Janeiro, por exemplo, enquanto o estado informava que a relação entre as despesas com pessoal e a receita corrente líquida em 2015 era de 41,77%, o percentual calculado pelos técnicos do Tesouro atingiu 62,84%.

Na União, tanto a quantidade de servidores como as “comissões” cresceram significativamente. De 2002 para 2016 (dados de setembro), os cargos, funções de confiança e gratificações passaram de 68.931 para 99.122, o que significa acréscimo de 30.191! Sem falar nos “supersalários” e no festival de aumentos ocorrido em 2016, nos vencimentos e nos “penduricalhos”, como o promovido no dia 29 de dezembro sob a forma de "bônus de eficiência e produtividade”.

A administração pública sempre teve servidores competentes. Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, redigia discursos com a mesma genialidade dos seus poemas. Machado de Assis, Cartola e Vinicius também contribuíram para a vida pública com dedicação e arte. Atualmente, o juiz Sérgio Moro, os procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná, o procurador do MP de Contas, Júlio Marcelo, dentre muitos outros, são exemplos de brasileiros que dignificam os cargos que ocupam. E, certamente, não o fazem por salários ou bônus, mas sim pelo propósito de defender o interesse público e o Estado. Servir à sociedade é uma missão nobre e, como tal, deve ser valorizada.

A reposição salarial é justa e deveria ocorrer para todos os trabalhadores brasileiros, públicos e privados. No momento, entretanto, temos um déficit fiscal estimado para 2017 em R$ 180 bilhões e 12,1 milhões de desempregados. Nesse contexto, o aumento salarial dos servidores públicos — com estabilidade no emprego e remunerações médias acima daquelas recebidas na iniciativa privada — é inoportuno e incoerente. [os servidores públicos não foram contemplados com aumento salarial e sim com reposição salarial - sendo público e notório a grande diferença entre aumentar salário e repor salário.
Mais uma vez se impõe relatar o prejuízo que até agora os servidores do Poder Judiciário estão sofrendo devido o chamado aumento concedido por Temer.
Considerando que recebemos alguns protestos dos que nos honram pela pouca clareza da explicação que fornecemos, vamos ao final desta transcrição, detalhar todo o episódio.]

Os músicos da orquestra do Titanic passaram à história como heróis por terem cumprido suas obrigações com extremo profissionalismo. Nenhum sobreviveu ao naufrágio. Cada artista ganhava apenas quatro libras por mês. Pouco tempo depois, suas famílias receberam uma conta que incluiu as insígnias de lapela, a túnica e as partituras, submersas em algum ponto do Atlântico Norte.

No Brasil que vai a pique, alguns sindicatos de servidores públicos continuam a tocar o barco como se nada estivesse acontecendo. O problema é que a conta, que aumenta a cada dia, é paga por todos nós. Resta-nos repetirmos o que disse o maestro: Boa sorte!

Por: Gil Castello Branco é economista e fundador da organização não governamental Associação Contas Abertas
gil@contasabertas.org.br

Transcrito do O Globo
AUMENTO DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO DEU PREJUÍZO, JÁ QUE RESULTOU EM REDUÇÃO SALARIAL.
FATOS: A CF 88 determina que a cada ano seja concedido um reajuste geral para todos os servidores públicos.
Em 2003, o estrupício do Lula, cumprindo o mandamento constitucional, determinou a concessão de reajuste de 13% para os servidores públicos federais.
A norma é clara no sentido de que cada servidor público deveria ter seu salário reajustado em 13% - abusando na explicação: os servidores com salário de R$ 500,00, receberiam reajuste de R$ 65,00, de igual forma os com salário de R$ 10.000,00, receberiam a título de reajuste R$ 1.300,00.

 Só que Lula, fraudador nato, e seus 'aspones' aplicaram um golpe: no decreto de reajuste em vez determinar a incidência de 13% sobre cada salário, aplicaram 13% sobre o menor salário a época - vamos considerar R$ 500,00 - e os R$ 65,00  resultantes incidiram sobre aquele salário e os demais, desconsiderando o valor de cada salário.
Com isso, quem ganhava R$ 10.000,00 recebeu o 'fantástico' reajuste de R$ 65,00 - imagine o total da diferença a favor de cada servidor que ganhava salário superior ao menor salário da época.
Naturalmente que os servidores se valeram da via judicial pugnando pelo cumprimento correto do dispositivo constitucional.
Naquela época o sequestro do reajuste determinado pelo Nosso 'guia' não mereceu destaque na imprensa - afinal, Lula era considerado por mais de 50% dos brasileiros 'assessor direto' de DEUS e quem iria considerar errado algo expelido pelo Apedeuta.

O tempo passou e em 2015 a ministra Rosa Weber deu ganho de causa aos servidores do Poder Judiciário e diante da impossibilidade de pagamento do passivo resultante da diferença de 12 anos - incidindo sobre o salário de todos os servidores públicos federais, dos Três Poderes - foi decidido que os atrasados seriam pagos em data futura  e que a sentença prolatada na Ação movida pelos servidores do Poder Judiciário Federal , seria estendida aos servidores do Legislativo e Judiciário em data futura.

De imediato, os servidores do Judiciário passaram a receber apenas a atualização salarial = 13% sobre o que ganhavam em 2015.

Com o reajuste Temer, já no pagamento da primeira parcela do tão falado 'aumento' (algo em torno de 5%¨) os 13% foram retirados do contracheque dos servidores e substituídos pelos 5% = quem troca 13% por 5%, perde 8%;
seis meses depois foi paga mais uma parcela do reajuste Temer e quem estava perdendo 8% passou a perder 3%, prejuízo que permanece até quando ocorrer o pagamento da terceira parcela e o prejuízo de 3% se transforma em ganho de 2%.

Na expectativa de que o assunto tenha sido devidamente explicado, damos por encerrada qualquer abordagem sobre o assunto - exceto se surgir fato novo.]


Editores do Blog Prontidão Total


quarta-feira, 16 de março de 2016

Com uma bala só, Lula conseguiu acertar pelo menos cinco tiros no pé, mostrando que além de corrupto, ladrão, burro e sem noção, ainda atira mal

Para livrar-se do juiz Sérgio Moro, que aumentou extraordinariamente seu poder de fogo com a carga de dinamite providenciada por Delcídio do Amaral, Lula resolveu refugiar-se no ministério e apostar no desaforo privilegiado.  

Ao disparar o que lhe parecia uma bala de prata, o estrategista trapalhão acertou cinco tiros no pé:

Primeiro: confessou que não tem como explicar as delinquências em que se meteu e, por isso mesmo, morre de medo de continuar na mira da Lava Jato.
Segundo: colou no Supremo a imagem de tribunal que protege alvos da Justiça Federal, esquecido de que o STF vai julgá-lo com base no colosso de provas em poder de Sérgio Moro, da força-tarefa de procuradores e da Polícia Federal.
Terceiro: assumiu o leme de um barco condenado ao naufrágio ─ e, portanto, condenou-se a morrer abraçado ao poste que instalou no Planalto.
Quarto: ao assumir a chefia da Casa Civil, proibiu-se de brincar de chefe da oposição petista ao governo petista de que agora faz parte.
Quinto: nas próximas manifestações de rua, o Fora Lula! vai ganhar do Fora Dilma!
Tudo somado, está claro que apenas os devotos da seita ainda enxergam uma grande jogada no que foi uma monumental ideia de jerico.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A crise e seu espetáculo

As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição

Como é possível um governo lambuzado em dezenas de casos de corrupção, e tendo o seu principal líder acusado de graves crimes, continuar agindo e dirigindo os negócios públicos como se o país vivesse em plena bonança econômica e respeito aos valores republicanos? Vivemos uma situação anômala. O mais estranho é que os dias vão passando, as crisespois são várias vão se sucedendo e se aprofundando, mas nada muda. Nada no sentido da interrupção deste perverso processo. É como se estivéssemos condenados ao fogo eterno, cada vez mais quente e mais devastador.

A sucessão das denúncias e as condenações na operação Lava-Jato quase uma centena, até agora são recebidas como algo natural, parte intrínseca da política. Diversamente dos Estados Unidos, o nosso destino manifesto seria conviver com a corrupção. Sempre teria sido assim — e sempre será assim. O que em outros países encerraria a carreira de um político aqui passou a ser entendido como um ato falho, de falta de esperteza.

Não é preciso ir muito longe na nossa história ou buscar formas metafóricas para tratar da conjuntura brasileira e de seus personagens. As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição e nem na contemporaneidade ocidental. Isto porque, além dos indícios de ocultação de patrimônio denunciados pelo Ministério Público, são estabelecidas relações com o maior desvio de recursos de uma empresa pública da história, o petrolão. E que levaram a Petrobras a uma situação pré-falimentar.

Lula continua agindo como se vivesse em um país imaginário e que sobre ele não pesasse nenhuma acusação ou o que é pior — fosse inimputável. Quando disse que era a alma mais honesta do Brasil, a afirmação foi recebida como chacota. Mas não: ele acredita que é intocável, como os nossos imperadores de acordo com a Constituição de 1824 — ressaltando, claro, que nenhum deles, Pedro I ou Pedro II, cometeram ilícitos da magnitude do petrolão. Evidentemente que não imagino que Lula leu a Constituição Imperial. Qual o quê. Não leu nem a de 1988 — penso até em sugerir uma edição exclusiva para ele e, para deixar a árdua tarefa mais palatável, poderia colorir artigo por artigo.

Dilma considera que tudo vai bem. Ficou — ou fingiu? — indignada com a avaliação do FMI sobre a economia brasileira. Fala de um Brasil que não existe. As entrevistas com os jornalistas, às sextas-feiras, foram patéticas patéticos também foram os jornalistas: alguns tiram selfies com a presidente. Estamos na maior depressão econômica da nossa história, e Dilma age como se tivéssemos crescendo a ritmo chinês. A reunião do tal Conselhãoque não tem legalidade constitucional; o que há na Constituição é o Conselho da República, que nunca foi convocado por ela foi mais um exemplo de dissociação entre o mundo imaginado pela presidente e o cenário de caos econômico que vivemos. O mais patético foram os representantes empresariais que compareceram e legitimaram a farsa.

Teremos um 2016 onde as crises ética e econômica vão se agravar. A Lava-Jato — e outras eventuais operações da Polícia Federal deverão devassar ainda mais os crimes deste triste método de governança adotado desde 1º de janeiro de 2003. Tudo indica que a economia deve ter um desempenho igual ou pior que 2015, ou seja, a recessão deve chegar a um resultado negativo do PIB próximo de 4%. É como se assistíssemos a um naufrágio de dentro do navio, com acesso aos botes salva-vidas, mas sem que façamos qualquer movimento, inertes, passivos, quase que um suicídio histórico.

O projeto criminoso de poder ainda tem muita lenha para queimar. E estão queimando. Destruíram a maior empresa brasileira. Atacaram com voracidade os fundos de pensão dos bancos e empresas estatais. Agora, estão solapando as bases do FGTS com a complacência das centrais sindicais pelegas. Possuem uma ampla base de apoio que é sustentada pelo saque do Estado. A burguesia petista ainda tem os bancos e benesses oficiais como suas propriedades. Os sindicatos nunca tiveram tanto dinheiro, produto do famigerado imposto sindical. Os tais movimentos sociais sobrevivem com generosas dotações governamentais sem que haja qualquer controle da utilização destes recursos.

E são milhares de sindicatos e associações. Isto sem falar em outros setores, como os blogueiros e jornalistas amestrados, os artistas em tempo: o que Chico Buarque acha do triplex e do sítio do Lula? São tenebrosas transações? Pseudo intelectuais et caterva.
Estamos em meio a uma selva escura. E, pior, sem que um Virgílio nos conduza. Fazer o quê? Este é o paradoxo que vivemos. O projeto criminoso de poder nunca esteve tão debilitado, desmoralizado. Sobrevive porque não encontra obstáculos na estrutura legal do Estado as instituições, diferentemente do que dizem as Polianas, não funcionam —, e inexiste uma oposição política digna deste nome. Há esforços isolados, quando muito. 

Os líderes oposicionistas não estão à altura do momento histórico. São fracos, dispersivos. Não gostam de serem obrigados a ter de enfrentar o governo e seus asseclas. Preferem o ócio, a conciliação parlamentar. Acreditam que a Lava-Jato e a gravidade da crise econômica vão, por si só, derrotar a quadrilha que tomou conta do aparelho de Estado. Não entenderam que, assim como o hábito não faz o monge, a crise pode não conduzir mecanicamente a uma queda imediata do petismo. Pode sim empurrar o Brasil para uma depressão econômico-social nunca vista na nossa história. E quando forem assumir o governo, só haverá ruínas.

Por: Marco Antonio Villa, historiador - O Globo

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ideias de jerico do governo presidido por Dilma e chefiado por Lula só produzem derrotas

O fracasso das ideias de jerico obrigou o governo condenado ao naufrágio a viver uma quarta-feira de cinzas na primavera

Neste 7 de outubro, o governo presidido por Dilma e chefiado por Lula viveu uma quarta-feira de cinzas fora de época. Foi muita derrota para um dia só. O Congresso se recusou a fazer a vontade do Planalto. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu investigar as suspeitíssimas contas das campanhas de Dilma.O Supremo Tribunal Federal sepultou a tentativa de adiar mais uma vez o julgamento das pedaladas fiscais pelo Tribunal de Contas da União. O TCU não se dobrou à ofensiva totalitária e sepultou a manobra concebida para afastar do caso o relator Augusto Nardes. As contas redesenhadas por pedaladas criminosas não escaparam da reprovação unânime e inédita.  

Os tiros no pé desferidos pelos bucaneiros trapalhões acabaram concluindo a pavimentação da estrada que conduz ao impeachment.

Como constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o padrinho e a afilhada resolveram desviar-se da rota do naufrágio recorrendo a barganhas, pressões, chicanas e outras espertezas que, sabe-se agora, ultrapassaram o prazo de validade. Somados, os fiascos deste 7 de outubro informam que, se os dois continuam os mesmos, o País do Carnaval mudou. A crise econômica e a Operação Lava Jato abriram os olhos do Brasil.

Até recentemente, Lula era visto por milhões de crédulos profissionais como um intuitivo genial. Hoje até antigos devotos só conseguem enxergar um fabricante de ideias de jerico. A supergerente de araque também sucumbiu à força dos fatos. Hoje Dilma Rousseff é o nome da crise. É a maior das pedras que obstruem a trilha que leva do primitivismo à modernidade.

A remoção do trambolho ficou bem mais fácil depois da primeira quarta-feira de cinzas acontecida na primavera.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes