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domingo, 2 de abril de 2023

Quando o Rei do Congo implorava para vender escravos a Portugal - Gazeta do Povo

Vozes - Thiago Braga


Quando o Rei do Congo implorava para vender escravos a Portugal -  Foto: Wikimedia 

O Rei Afonso I do Congo estava desesperado. Como vimos na coluna anterior, ele não queria de jeito nenhum que os portugueses comprassem escravos de qualquer outra pessoa que não fosse ele próprio: nem dos mercadores nobres do seu reino, e muito menos de Angola. 
Mas a competição entre os reinos africanos já tinha iniciado, e não acabaria mais.
 
Foi o próprio Afonso quem pediu ao rei português que ele parasse de comprar escravos no Congo. Com isso, ele esperava drenar os recursos dos nobres rivais que havia dentro do seu próprio reino: se ele não negociasse com os europeus, ninguém mais o faria
Mas os portugueses encontraram outra fonte inesgotável de escravos, disposta a fornecer tantos quantos fossem precisos: os Reinos de Ndongo e Matamba, conhecidos pelos portugueses como Angola (nome derivado de seus maiorais e líderes, os Ngolas).
 
Afonso I do Congo ficou aterrorizado com essa perspectiva: ele via o seu poder e prestígio escorregando para as mãos de reinos hostis e rivais – e o vizinho Angola era a pior deles
Mas ele sabia que tinha uma cartada poderosa em suas mãos e estava pronto para usá-la. 
Escreve então ao rei D. João III pedindo que o comércio de escravos com o Congo volte com força total. Vemos isso no “Regimento do Feitor do Trato de S. Tomé”, escrito em 2 de agosto de 1532 naquele rústico e lindo português quinhentista. 
Ali o rei proíbe o “trato” de escravos com Angola a pedido do Rei do Congo dizendo que o “Rei do Congo está descontente e escandalizado em haver resgate [de escravos] em Angola e oferece que levantando-se [suspendendo-se] o trato nela, fará tantas vantagens nos resgates e despachos dos navios que forem a seu Reino e dará cada ano tanta quantia de escravos com que se possa fazer mais proveito.”

Se o reino português ainda não tinha entendido a dinâmica do comércio em África, depois dessa carta de Afonso I eles não teriam mais dúvidas: os reinos e nobres africanos queriam exclusividade no comércio de escravos com os europeus e fariam tudo por isso. Essa corrida escravagista protagonizada pelos líderes africanos abarrotaria os navios portugueses com quantidades de escravos “inumeráveis”.

A palavra “inumeráveis” está em aspas pois ela foi mencionada em outra carta, apenas 4 anos depois, que ratificava exatamente essa abundância macabra que o Congo prometera aos portugueses. 
Na carta de Manual Pacheco a D. João III de 28 de março de 1536, o oficial cita que nunca vira tantos escravos com os “navios e portos estando sempre carregados”, e que nos 5 anos que estivera ali “nunca descia para 4 a 5 mil peças em nenhum ano fora as incontáveis peças que morriam antes de embarcar.” 
Fazendo uma matemática simples, de 1531 a 1536 teriam saído do Congo cerca 25 mil escravos.  
Eles eram contabilizados na ilha de São Tomé, uma espécie de Alfandega de escravos, e de lá, neste mesmo período, os primeiros escravos foram trazidos para o Brasil.

Esse comércio de escravos monstruoso só foi possível graças à colaboração e protagonismo próprios líderes e governantes africanos. Sem essa participação ativa, essa tragédia teria sido, sem sombra de dúvidas, muitíssimo menor

Nas décadas seguintes, a mesma interação entre portugueses e africanos continuava forte. 
Contudo, a partir do século XVII Angola assume o protagonismo no comércio enquanto o Reino do Congo perde toda a sua influência e poder político. 
Nessa transição de poder, nenhuma figura foi tão romantizada quanto a Rainha Ana Nzinga, que lutou para acabar com o tráfico de escravos do seu povo, ao mesmo tempo que escravizava e traficava outros povos para os holandeses, grandes rivais dos portugueses. 
Assim como Afonso I, ela faria de tudo para ter o monopólio do comércio de escravos nas suas mãos, custasse o que custasse. Aliás, já escrevi uma coluna dedicada a essa grande “heroína” aqui na Gazeta.

A conclusão, analisando todos esses documentos e a geopolítica africana da época, que esse comércio de escravos monstruoso só foi possível graças à colaboração e protagonismo próprios líderes e governantes africanos. Sem essa participação ativa, essa tragédia teria sido, sem sombra de dúvidas, muitíssimo menor.

Aqui se encaixaria muito bem o ditado: “quando um não quer, dois não brigam”. Os portugueses sabiam que não tinham como brigar com os africanos: estavam em número esmagadoramente menor, não conheciam o território e estavam cercados de povos desconhecidos e muitíssimo bélicos. Se os líderes africanos não quisessem, os portugueses não teriam os escravos; ou, pelo menos, não os milhões que tiveram. 
Mas líderes africanos quiseram; e os portugueses quiseram
Essa soma de desejos, que para nós são odiosos e desumanos, para eles não poderiam ser mais normais e mundanos
Entre guerras e conflitos, o fato é que o cotidiano da escravatura se dava de forma relativamente pacífica e amistosa entre os reinos europeus e africanos: europeus e africanos eram protagonistas nesse "filme" de terror. 
Foi graças a essa “química” que a praga se espalhou por toda a América e permaneceu ativa durante 3 séculos.
[Em nossa opinião,  a matéria acima,   amplamente  fundamentada, deixa claro a responsabilidade total e absoluta dos reinos africanos no tráfico de escravos; 
não eram os portugueses, ou cidadãos  naturais de qualquer outro país não africano, que 'invadiam' o continente africano para caçar naturais de países africanos para  fins de tráfico; eram os próprios reinos africanos que competiam entre si para venderem o que consideravam fonte de recursos.   
O caso da rainha Ana, que não aceitava que os povos do seu país fossem comercializados, mas se dispunha a vender povos de outros países é prova cabal da responsabilidade dos reinos africanos pelo repugnante comércio de seres humanos.
Por tudo se conclui que a responsabilização dos brasileiros não procede - mesmo dos que viveram em séculos passados - no que concerne à escravatura.
Por conseguinte, em nosso entendimento e no de qualquer ser humano que leia com isenção a presente matéria, a política de cotas raciais, não tem fundamento devendo prevalecer SEMPRE, a MERITOCRACIA.]
 
Referências bibliográficas
BRÁSIO, António. Monumenta Missionaria Africana. Volume 1. África Ocidental (1471-1531). Agência Geral do Ultramar, 1952.
LOVEJOY, P. E. (2011). Transformations in slavery: a history of slavery in Africa (Vol. 117). Cambridge University Press.

Veja Também:

    Quando reis africanos brigavam para vender escravos aos europeus
    Como o comércio de escravos africanos chegou à Europa?

Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

Thiago Braga, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 14 de março de 2022

Um Brasil parado - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

É proibido tocar no potássio brasileiro, um produto essencial para os interesses do País

A invasão da Ucrânia pela Rússia e o imediato travamento que se seguiu na economia russa deixaram o Brasil a pé numa questão estratégica a dependência quase total que o agronegócio brasileiro tem hoje dos fertilizantes importados.  
Uma parte importante deles vem da Rússia, e com a guerra o fornecimento foi interrompido; o esforço, agora, é para encontrar outros vendedores no mercado internacional. É vital que isso aconteça. Sem fertilizante não há safra, e sem safra a economia do Brasil sofre um enfarte agricultura, pecuária e todo o mundo de serviços que atende à atividade rural são hoje o centro da atividade econômica neste país
O valor bruto da produção no campo, em 2021, foi de R$ 1 trilhão e as exportações chegaram a US$ 100 bilhões – dinheiro que mantém o Brasil solvente em divisas e sem o qual a economia simplesmente entra em colapso. A isso se soma a imensa vantagem da segurança alimentar. 
O Brasil tem o que precisa para si e ainda alimenta 1 bilhão de pessoas no resto do mundo. 
 
O Brasil é dependente de muita importação, da área de tecnologia a peças para a indústria de automóveis, mas, no caso dos fertilizantes, o País vive uma aberração de primeiro grau. Importa do exterior 95% dos seus adubos minerais só que tem, aqui mesmo, as minas que dariam de sobra para suprir todas as necessidades no País pelos próximos 200 anos. Só em potássio, um elemento essencial nessa equação, as reservas conhecidas do Amazonas e do Pará somam 3 bilhões de toneladas. Está tudo embaixo da terra
É proibido tocar no potássio brasileiro, um produto essencial para os interesses do País; a agropecuária tem de comprar na Rússia, no Canadá ou onde encontrar, ao preço que encontrar – e, como se vê agora, com a guerra, há horas em que não encontra.

Sem fertilizante não há safra, e sem safra a economia do Brasil sofre um enfarte – agricultura, pecuária e todo o mundo de serviços que atende à atividade rural são hoje o centro da atividade econômica neste país. Foto: Rafael Arbex/Estadão
O caso do potássio é um escândalo em estado puro. Desde 2010 a iniciativa privada tenta explorar as jazidas de Autazes, no Amazonas, onde se estima reserva de 800 milhões de toneladas.  
A combinação de uma legislação suicida, a ação destrutiva da burocracia regulatória e a militância do Ministério Público, tudo com as bênçãos do sistema judiciário, não deixam mexer em nada. 
Um projeto de grande porte, que envolve não apenas mineração, mas indústria, transporte e toda uma cadeia produtiva, e já obteve as licenças estaduais necessárias, está travado desde 2016. Fica “perto” de uma área indígena – não dentro; apenas “perto” – e, por conta disso, procuradores estão bloqueando sua utilização.[a questão agora envolve segurança alimentar dos brasileiros está em risco o que4 torna assunto de SEGURANÇA NACIONAL, o que, em qualquer democracia do mundo, tem prioridade. Assim, é explorar as jazidas, se necessário, removendo os ocupantes da área indígena, até mesmo para uma área menor; 
ou para defender terras ociosas os brasileiros vão ter que passar fome - sofrimento que já e comum a milhões de seres humanos.
A regra é simples: sem potássio não há fertilizantes; em fertilizantes a produção agropecuária cai mais da metade = a fome aumenta e,  na mesma proporção,  o de brasileiros famintos.

Isso se chama pobreza contratada. O Ministério Público e a Justiça são hoje os inimigos número 1 do progresso, da criação de empregos, de oportunidades e de renda e da possibilidade de um Brasil mais justo através do crescimento. Querem o País parado exatamente onde está.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


domingo, 1 de novembro de 2020

De “Maria Fofoca” a “Nhonho”: o que está por trás das novas brigas no governo Bolsonaro? InfoMoney

InfoMoney

Episódios marcam acirramento nas disputas entre distintas alas da coalizão governista às vésperas do que se especula vir a ser uma reforma ministerial.  Conflitos internos e externos têm marcado a rotina de membros do governo federal mesmo após tentativas de moderação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e mudanças na conduta política da atual administração.

Nos últimos dias, o protagonista das brigas públicas foi o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), desta vez com o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), a quem batizou de “Maria Fofoca”, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), referido por sua conta no Twitter como “Nhonho” (horas depois o ministro alegou que seu perfil havia sido invadido).

O episódio marca um acirramento nas disputas entre distintas alas da coalizão governista por espaços na administração às vésperas do que se especula vir a ser uma reforma ministerial. Recentemente, os militares ampliaram participação no governo, passando a ocupar todas as pastas sediadas no Palácio do Planalto, enquanto o grupo ideológico perdeu posições especialmente com a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação.

Já os partidos do chamado “centrão”, antes atacados pelo presidente, começaram a integrar o segundo escalão, viram o Ministério das Comunicações ser refeito e entregue ao deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) e agora cobiçam novas pastas. “O movimento de Bolsonaro de aproximação com o ‘centrão’ foi se intensificando cada vez mais e é natural que os integrantes deste grupo queiram espaços de maior destaque no governo. Por outro lado, desagradou aquela base mais ideológica, com perfil mais conservador”, diz a analista política Júnia Gama, da XP Investimentos. “Estamos vendo essas três alas que integram o governo entrando em conflito, por conta desta mudança de rumos que o presidente vem fazendo nos últimos meses. Isso vai desemborcar em uma minirreforma ministerial que deve acontecer no começo do próximo ano”, complementa.

Muitos movimentos são especulados para a possível dança das cadeiras. Um deles envolveria a saída de Salles, após sucessivos desgastes provocados por sua postura na crise provocada pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, além da declaração em reunião ministerial de que o governo deveria aproveitar a pandemia do novo coronavírus para “passar a boiada” em para alterar normas no setor. O ministro, porém, conta com respaldo da ala ideológica, sobretudo após a queda de Weintraub.

Investidas também são observadas sobre o Ministério da Economia. Os novos aliados políticos de Bolsonaro têm defendido a ideia de um desmembramento da pasta, o que permitiria a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e até do Ministério do Planejamento. Os novos postos poderiam acomodar integrantes do “centrão” que passaram a dar suporte ao governo no parlamento. A possibilidade de recriação das pastas foi negada por Bolsonaro em live no início do mês, mas segue agitando conversas nos bastidores. “Vai ser muito difícil, são muitos apetites para o presidente saciar. Ele vai ter que fazer um xadrez muito delicado”, observa Júnia Gama. “Paulo Guedes, apesar de tudo que sofreu nos últimos meses, continua sendo um bastião do governo, um pilar da diretriz econômica liberal, mas tem muita gente de olho naquele ministério”.

Antes de movimentar peças no xadrez da Esplanada, Bolsonaro deve acompanhar atentamente o desfecho das eleições municipais, sobretudo nas disputas nacionalizadas (casos de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo), e da disputa pela presidência nas duas casas legislativas. A redistribuição dos postos, caso efetivada, terá de respeitar a nova correlação de forças que se desenhará no plano político.

InfoMoney