Se
os dois não se acertarem (e
ainda não se acertaram), quem pagará a conta serão 200 milhões de
brasileiros
O Globo – Coluna
Elio Gaspari
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ri demais e
fala demais. A doutora Dilma
zanga-se demais e fala de menos. Levy ainda não completou 90 dias no
cargo e já se viu na constrangedora
situação de reverter uma afirmação depois de ser publicamente repreendido pela chefa. O pior é que ambos tinham
razão: a amplitude das desonerações tributárias foi uma “brincadeira” e sua expressão foi “infeliz”. Noutra ocasião Levy
foi levado a uma acrobacia semântica, esclarecendo que a economia não
sofrerá uma “recessão”, mas uma “contração”. (Em qualquer época, o Planalto tem horror a
essa palavra. Em 1974 a censura baixou uma ordem tornando
“terminantemente proibidas” quaisquer referências “relativas a recessão
econômica, ainda que hipotéticas”).
Até hoje se pode ouvir a gargalhada de Mário Henrique Simonsen ao saber dessa
proibição.
As
situações em que Levy se atrapalhou são despiciendas porque ainda não refletem grandes
diferenças de fundo. Se a doutora quiser que ele cante tangos numa Unidade de
Terapia Intensiva, quem pagará a conta serão os brasileiros. Nos últimos 50
anos, presidentes e ministros da Economia dançaram a mesma música em apenas
quatro ocasiões, com as duplas Lula-Palocci, FH-Malan,
Médici-Delfim e Castello Branco-Roberto Campos. O preço dos desarranjos
e dos ministros-fantasmas foi a maior crise econômica da história do país.
Se
o comissariado e o doutor Levy ficarem num jogo de gato e rato, ambos perderão. Entre as atribuições do ministro
da Fazenda está a de animador de
auditório. Alguns titulares, como Guido Mantega, tiveram desempenhos
patéticos. Outros, como Pedro Malan, funcionaram como maestros, regendo
charangas de sábios. Levy mostrou que é
um mau animador. Ora exagera no economês, ora escorrega num coloquialismo
de banqueiro bem-humorado.
Tudo isso
não tem grande importância diante das dificuldades das contas nacionais e do
esforço que será necessário para recolocá-las nos trilhos. Enquanto Lula deu mão
forte a Antonio Palocci, seu governo teve rumo na economia. A situação de Levy é outra. O compromisso da doutora com sua agenda é uma dúvida. O do
comissariado petista é quase uma certeza negativa.
Apesar de
tudo, o ministro da Fazenda já conseguiu
impedir que a conta das concessionárias de energia fosse para o Tesouro,
avançou na brincadeira das desonerações e está fechando o cofre. [a ‘vitória’ de Levy ao impedir a ida para o Tesouro da conta das
concessionárias de energia, foi uma derrota para o consumidor brasileiro, que ficou com a obrigação de pagar a conta via
sucessivos aumentos tarifários da energia elétrica.]
Ainda
falta muito. O repórter Vinicius Nader informa que as grandes
empresas metidas na Lava-Jato estão solicitando empréstimos de US$ 10 bilhões do BNDES. (Cerca de US$ 3
bilhões para a Sete Brasil.) São os
ectoplasmas dos “campeões nacionais”.
Os interesses que alavancam esses pedidos supõem que o doutor Luciano Coutinho,
presidente do banco, seja aparentado com a Casa de
Saud. O rei Salman, cujas contas
vão melhor que as da doutora, comemorou sua
ascensão ao trono distribuindo algo como US$ 32 bilhões aos súditos sauditas.
Fez isso de acordo com a metáfora do economista Ricardo Paes de Barros, jogando o dinheiro de helicóptero. O problema de Levy é que o chamaram para tomar dinheiro dos contribuintes, com o propósito de cobrir buracos criados pela banda saudita do
governo.