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quarta-feira, 4 de março de 2015

A dupla Dilma-Levy



 Se os dois não se acertarem (e ainda não se acertaram), quem pagará a conta serão 200 milhões de brasileiros

O Globo – Coluna Elio Gaspari

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ri demais e fala demais. A doutora Dilma zanga-se demais e fala de menos. Levy ainda não completou 90 dias no cargo e já se viu na constrangedora situação de reverter uma afirmação depois de ser publicamente repreendido pela chefa. O pior é que ambos tinham razão: a amplitude das desonerações tributárias foi uma “brincadeira” e sua expressão foi “infeliz”. Noutra ocasião Levy foi levado a uma acrobacia semântica, esclarecendo que a economia não sofrerá uma “recessão”, mas uma “contração”. (Em qualquer época, o Planalto tem horror a essa palavra. Em 1974 a censura baixou uma ordem tornando “terminantemente proibidas” quaisquer referências “relativas a recessão econômica, ainda que hipotéticas”). 

Até hoje se pode ouvir a gargalhada de Mário Henrique Simonsen ao saber dessa proibição.

As situações em que Levy se atrapalhou são despiciendas porque ainda não refletem grandes diferenças de fundo. Se a doutora quiser que ele cante tangos numa Unidade de Terapia Intensiva, quem pagará a conta serão os brasileiros. Nos últimos 50 anos, presidentes e ministros da Economia dançaram a mesma música em apenas quatro ocasiões, com as duplas Lula-Palocci, FH-Malan, Médici-Delfim e Castello Branco-Roberto Campos. O preço dos desarranjos e dos ministros-fantasmas foi a maior crise econômica da história do país.

Se o comissariado e o doutor Levy ficarem num jogo de gato e rato, ambos perderão. Entre as atribuições do ministro da Fazenda está a de animador de auditório. Alguns titulares, como Guido Mantega, tiveram desempenhos patéticos. Outros, como Pedro Malan, funcionaram como maestros, regendo charangas de sábios. Levy mostrou que é um mau animador. Ora exagera no economês, ora escorrega num coloquialismo de banqueiro bem-humorado.

Tudo isso não tem grande importância diante das dificuldades das contas nacionais e do esforço que será necessário para recolocá-las nos trilhos. Enquanto Lula deu mão forte a Antonio Palocci, seu governo teve rumo na economia. A situação de Levy é outra. O compromisso da doutora com sua agenda é uma dúvida. O do comissariado petista é quase uma certeza negativa. 

Apesar de tudo, o ministro da Fazenda já conseguiu impedir que a conta das concessionárias de energia fosse para o Tesouro, avançou na brincadeira das desonerações e está fechando o cofre. [a ‘vitória’ de Levy ao impedir a ida para o Tesouro da conta das concessionárias de energia, foi uma derrota para o consumidor brasileiro,  que ficou com a obrigação de pagar a conta via sucessivos aumentos tarifários da energia elétrica.] 

Ainda falta muito. O repórter Vinicius Nader informa que as grandes empresas metidas na Lava-Jato estão solicitando empréstimos de US$ 10 bilhões do BNDES. (Cerca de US$ 3 bilhões para a Sete Brasil.) São os ectoplasmas dos “campeões nacionais”. Os interesses que alavancam esses pedidos supõem que o doutor Luciano Coutinho, presidente do banco, seja aparentado com a Casa de Saud. O rei Salman, cujas contas vão melhor que as da doutora, comemorou sua ascensão ao trono distribuindo algo como US$ 32 bilhões aos súditos sauditas. Fez isso de acordo com a metáfora do economista Ricardo Paes de Barros, jogando o dinheiro de helicóptero. O problema de Levy é que o chamaram para tomar dinheiro dos contribuintes, com o propósito de cobrir buracos criados pela banda saudita do governo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Clérigo convoca fiéis para mutilar e crucificar militantes do EI



Principal clérigo no Egito convoca fiéis a crucificarem e a mutilarem militantes do Estado Islâmico
Ahmed al-Tayeb acusa grupo de violar os princípios do Islã ao queimar piloto vivo
O clérigo sunita Ahmed al-Tayeb, um dos líderes religiosos mais influentes do Egito, fez um apelo nesta quarta-feira pela matança, crucificação ou mutilação de militantes do Estado Islâmico (EI), após o piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh ser queimado vivo por extremistas do grupo. O pai do piloto, Safi, pediu vingança à morte do filho e defendeu que o EI seja exterminado.  Eles (jihadistas) são criminosos. O sangue de Muath é o sangue da nação e o país deve vingá-lo — afirmou Safi. — Exijo que o Estado Islâmico seja exterminado.

Em um comunicado, Tayeb disse que os jihadistas do EI mereciam castigo porque estavam lutando contra Deus e o profeta Maomé. Para o clérigo, a forma como o grupo executou Kasaesbeh é uma violação aos princípios do Islã que proíbem a mutilação de corpos mesmo em tempos de guerra.

A Universidade de Al-Azhar, à qual Tayeb é xeque, divulgou um comunicado expressando "profunda irritação com o ato terrorista desprezível" feito por "um grupo terrorista, satânico". Já o clérigo saudita Salman al-Odah usou o Twitter para condenar a ação do EI que ele classificou de abominável.  "Queimar é um crime abominável rejeitado pela lei islâmica, independentemente dos motivos. É rejeitado se for  um indivíduo ou um grupo ou um povo. Só Deus tortura pelo fogo", disse.

O piloto, de 26 anos, foi capturado por militantes do Estado Islâmico em dezembro, quando seu jato F-16 caiu perto de Raqqa, na Síria. Em retaliação à morte de Kasaesbeh, a Jordânia executou por enforcamento a mulher-bomba iraquiana Sajida al-Rishawi e outro membro da al-Qaeda. O EI havia inicialmente condicionado a libertação do piloto à soltura de Sajida, presa na Jordânia e condenada à morte por sua participação nos atentados de 2005 em Amã. Após o governo jordaniano aceitar a troca, no entanto, o grupo extremista não deu sequências às negociações e publicou um vídeo na terça-feira exibindo a morte do piloto.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Petróleo do pré-sal se torna menos rentável

Tempestade perfeita

No programa de investimentos no pré-sal, Petrobras considerou dólar numa média futura de R$ 1,95

A Arábia Saudita é a maior exportadora de petróleo, dona das maiores reservas. Logo, deve ser de seu interesse o maior preço possível para o óleo, certo? Errado, neste momento ao menos.

Acontece que tem o petróleo naturalmente barato aquele fácil de extrair, que brota da terra, como o saudita — e o caro, aquele só encontrado nas profundezas do mar, como o nosso do pré-sal, nas rochas de xisto ou nas areias betuminosas. Pois a produção desse petróleo caro e difícil está em alta no mundo todo, favorecida, economicamente, pelo elevado preço do barril verificado nos últimos anos.

Nos EUA, por exemplo, ocorre o boom na exploração de óleo de xisto. A produção cresceu tanto que o país reduziu as compras externas, deixando o posto de maior importador global para a China. O Canadá, também dependente de importações, acelera a extração de óleo de areias. E a Petrobras deu a partida na exploração do pré-sal.

Pois justamente agora o preço do barril está em queda e queda forte. De mais de 100 dólares dos últimos tempos, a cotação nos EUA e em outros mercados internacionais caiu para a faixa dos 70 dólares, ficando até abaixo disso em diversos momentos. Com a economia mundial em marcha lenta, o consumo de energia cresce abaixo da produção, que havia sido estimulada pela forte expansão global do início deste século e, especialmente, pelo crescimento dos emergentes.

Demanda em baixa, oferta em alta, lá se vão as cotações. Vai daí, alguns membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), como Venezuela e Irã, começaram a pressionar o grupo para reduzir a produção e, assim, forçar uma alta de preços. A Opep coloca no mercado cerca de 30 milhões de barris/dia, mais ou menos um terço do consumo global. Tem, pois, o poder de calibrar as cotações.

Mas, surpresa, a Arábia Saudita, que lidera o grupo e tem capacidade de aumentar sua produção quase imediatamente, derrubou a proposta. Tem lógica. O preço baixo reduz a rentabilidade do petróleo “difícil” e inviabiliza muitos projetos. Por exemplo: o óleo das areias do Canadá só é rentável se puder ser vendido a 80 dólares o barril. No pré-sal brasileiro, segundo avaliação de consultorias locais e internacionais, o custo de produção vai de 40 a 70 dólares, conforme o campo e o contrato de exploração. Nos EUA, algumas companhias dizem que 60 dólares é o limite para muitas áreas.

Para registrar: no seu ambicioso programa de investimentos no pré-sal, até 2020, a Petrobras considerou o barril de óleo a 105 dólares hoje, caindo para 100 e depois para 95. Também considerou o dólar numa média futura de R$ 1,95. Tudo considerado, há uma perda de rentabilidade se as cotações continuarem nos níveis atuais e inviabilidade econômica de algumas áreas se os preços caírem ainda mais. Ou seja, será difícil atrair capital privado, nacional e estrangeiro, para os novos projetos. Mesmo porque o atual regime de partilha cobra pesados pagamentos das companhias que explorem os poços. A Petrobras já tem campos adquiridos, mas, de qualquer modo, precisará se financiar no mercado global — e isso estará mais difícil.

É certo que a queda dos preços de gasolina e diesel ajuda bastante o caixa da Petrobras, importadora líquida de combustíveis. Neste momento, por exemplo, a estatal vende os produtos aqui dentro a preços 20% superiores aos que paga lá fora. Inverte, assim, a relação dos últimos quatro anos. Mas esse ganho é insuficiente para levantar o capital necessário. O futuro da Petrobras é a exportação de óleo. O ambiente econômico global, de baixo crescimento, e a descoberta e uso cada vez maior de energia alternativa indicam que o preço do óleo pode permanecer baixo por um bom tempo.

Coloque no cenário a crise do petrolão e se entende por que a Petrobras se aproxima de uma tempestade perfeita. Em qualquer caso, e considerando a confusão armada pelo governo no setor elétrico, mais as perdas impostas ao etanol, parece que o país precisa rever suas políticas de energia.

GOLPE
Economistas do grupo desenvolvimentista, ou da “nova matriz”, muitos deles instalados no governo Dilma, estão chocados com a designação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O choque é tão ou mais forte do que o ocorrido em 2003, no primeiro governo Lula, quando Antonio Palocci instalou a nata dos economistas ortodoxos na Fazenda — incluindo o mesmo Levy no posto-chave de secretário do Tesouro.

Na ocasião, a ortodoxia funcionou. Hoje, os desenvolvimentistas acham que é diferente e que Levy vai durar pouco. Dilma é economista e da nova matriz. Mas não teria tomado essa difícil decisão se não precisasse tanto dele.

Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo