J. R. Guzzo
Guerra entre Israel e Hamas é usada para legitimar ódio aos judeus, crime hoje praticado como virtude ‘progressista’
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
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J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
"Direitos trans são direitos humanos", na Marcha das Mulheres, na cidade de Nova Iorque | Foto: Shutterstock
“Quando la masa actúa por sí misma,
lo hace sólo de una manera, porque no tiene otra:
lincha”
José Ortega y Gasset
“Tribalismo é a resposta à imaturidade porque
permite ao homem permanecer
imaturo com a sanção de seu grupo”
Eric Voegelin
Em 25 de março, num parque na cidade de Auckland (Nova Zelândia), onde proferiria uma palestra sobre os direitos das mulheres, Posie Parker foi cercada por uma multidão raivosa de ativistas trans, que a xingaram, a ameaçaram de morte e lhe cobriram com molho de tomate
Martin Luther King Jr. e Malcolm X no debate do Senado sobre a Lei dos Direitos Civis de 1964 | Foto: Wikimedia Commons
Mas, quando comparamos os dois movimentos de direitos civis — o dos negros, nos anos 1960, e o dos transativistas, nos anos 2020 —, notamos certas diferenças saltando aos olhos. Em primeiro lugar, o modelo de ação política do transativismo não parece ser o pacifismo altivo de Martin Luther King, mas, ao contrário, a pregação violenta, revolucionária e histriônica de um Malcolm X ou dos Panteras Negras. Em segundo lugar, a violência da qual alegam ser vítimas não é exatamente similar à que acometia os negros no passado, pois inclui coisas como referir-se a eles com o pronome errado, pedir (mesmo educadamente) para que usem o banheiro compatível com o seu sexo biológico, ou opinar contrariamente à presença de homens biológicos (conquanto identificados como mulheres) nos esportes femininos. Diante dessas contrariedades, os transativistas têm reagido com violência e fúria. Frequentemente em bando.
Alguns casos viralizaram na internet. Na Universidade de Brasília (UnB), um transativista ameaçou de agressão física uma aluna que, além de pedir que ele saísse do banheiro feminino, cometeu o pecado de tratá-lo por “cara”. “Eu não são sou um cara. Não tem nada que me impeça de meter a mão na sua cara” — berrou, transido de ódio, o homem que se sente mulher. Reação semelhante teve um transativista na cidade de Albuquerque (Novo México, EUA). Quando o atendente de uma loja o tratou inadvertidamente por “senhor”, em vez de “senhora”, o homem teve um ataque de fúria. Sentindo-se mortalmente violentado, agiu de modo simetricamente inverso ao de Ruby Bridges: gritou, xingou, chamou o atendente para a briga, e saiu chutando produtos do estabelecimento. Em suma: armou aquilo que, no Brasil, se conhece popularmente como “barraco”. Episódios semelhantes se sucedem dia após dia, num clima de opinião cada vez mais propício à histeria coletiva.
Mas a diferença entre o transativismo e a campanha pelos direitos civis dos negros fica ainda mais evidente ao lembrarmos de dois eventos recentes, no qual mulheres críticas ao movimento foram cercadas, silenciadas e agredidas por uma turba de transativistas. Foi o caso, por exemplo, da britânica Kellie-Jay Keen-Minshull, também conhecida como Posie Parker, uma militante feminista. Em 25 de março, num parque na cidade de Auckland (Nova Zelândia), onde proferiria uma palestra sobre os direitos das mulheres, Parker foi cercada por uma multidão raivosa de ativistas trans, que a xingaram, a ameaçaram de morte e lhe cobriram com molho de tomate. Sob escolta policial, ela teve de fugir às pressas do lugar, interrompendo a sua turnê intitulada “Deixem as mulheres falarem”. Ali, em Auckland, os transativistas não deixaram. Posie Parker tornou-se alvo da esquerda identitária | Foto: Reprodução/Twitter
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Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste
A patrulha identitária inventou agora o Apartheid do Bem. Como funciona? É a mesma coisa que o Apartheid, mas é feito pela turminha do zen-fascismo, então passa a ser super correto, antirracista e ter uma justificativa linda e pacífica. Não sei se a moda já chegou aqui no Brasil. (Se souber de algo, mande para o pessoal do atendimento ao leitor me repassar.) Nos Estados Unidos, programas e áreas exclusivas para "estudantes de cor" são a nova realidade antirracista.
O jornalista norte-americano Christopher Rufo, que é tão amado quanto eu pela bancada da lacração, tem catalogado casos concretos em que escolas públicas do país dele propõem eventos com segregação racial. Ele busca as explicações para esse tipo de atrocidade. Seria cômico se não fosse trágico.
Na imagem que ilustra este artigo, a proposta é uma excursão só para "estudantes de cor" levados só por "professores de cor". Gente, mais isso não é meio parecido com Apartheid? Não, se for do bem. Daí trata-se de "providenciar a oportunidade para que estudantes de cor estejam com um grupo de professores que se parece com ele e tem experiências de vida parecidas". Infelizmente, não é um caso isolado. Pelos comentários no tweet você vai ver que muita gente já acha que segregação racial é uma boa coisa.
Esse é o caso de uma escola pública em Denver e acabou repercutindo na imprensa internacional. Botaram um letreiro gigante promovendo a noite familiar do playground do Apartheid. Ninguém percebe? É um evento mensal em uma escola pública no país que pouco tempo atrás teve um movimento enorme para garantir que fosse banida toda forma de segregação racial. Não pode fazer segregação racial em escola. Quer dizer, se for do bem, pode sim.
Para as autoridades educacionais, o espaço exclusivo para "famílias de cor" não é segregação racial. “Os líderes da escola da Centennial receberam um pedido específico das famílias para criar um espaço de pertencimento. A Centennial atendeu ao pedido. Apoiamos esforços como este, pois fornecem conexões, apoio e inspiração para famílias que compartilham experiências semelhantes e vêm de origens semelhantes.”, disse o departamento de escolas públicas de Denver.
As pessoas que hoje promovem o Apartheid do bem têm familiares que lutaram contra a segregação racial nos Estados Unidos, que viveram esse inferno. Como é possível não perceber que estão fazendo exatamente a mesma coisa? Há uma parte da humanidade que resolveu abdicar da realidade. Tem gente que cancela por racismo quem fala criado-mudo porque inventaram uma origem para a palavra e, ao mesmo tempo, apóia segregação racial. E faz sucesso, viu?
Ainda não vi isso em escolas no Brasil, vejo em novelas, no jornalismo e demais nas redes sociais. Talvez você já tenha ouvido a expressão "palmitagem". É uma acusação que se faz à pessoa negra que pretende ter filhos com uma pessoa branca. Na lógica do zen-fascismo, seria um processo opressor de branqueamento da raça para que os negros sejam eliminados.
Gente, eu já tinha ouvido isso em algum lugar. Sim, o pessoal do White Power fala exatamente a mesma coisa. Eles acham que existe uma conspiração mundial para acabar com a raça branca e por isso são contra misturas étnicas, a favor da segregação. Como vai dar certo um movimento antirracista que, na prática,
propõe a mesma medida que a Ku Klux Klan?
Cancelando quem discordar, igual a KKK também. Mas agora é tudo pelo bem.
Quem embarca nas piores barbáries autoritárias nunca vai te dizer que é sangue ruim mesmo e gosta de ver o sofrimento alheio. Se você é meu leitor frequente já peço desculpas antecipadamente pela frase repetida. Repito sempre algo que aprendi no universo da psicologia e é fundamental nesses tempos de Cidadania Digital, grupos polarizados e decisões rápidas: a tétrade sombria (narcisistas, sádicos, psicopatas/sociopatas e maquiavélicos) sempre terá justificativa moral para praticar as barbáries com que se deleita e arrumará apoio entre os que acreditarão.
Mais importante do que a justificativa da pessoa ou o discurso são as ações e os frutos. É difícil para nós, já que ter razão é uma delícia e ver gente ruim se dar mal é melhor ainda. Ocorre que a gente pode ficar tão hipnotizado com isso que não percebe ter sido enganado ou ter ajudado na vitória de gente ainda pior. Quem propõe segregação racial quer um único resultado, jamais foi bom para a humanidade.
Termino citando uma escritora que sempre me inspira, Hannah Arendt, em sua obra de 1951, Origens do Totalitarismo: "O sujeito ideal do governo totalitário não é o nazista convicto ou o comunista convicto, mas as pessoas para as quais a distinção entre fato e ficção e a distinção entre verdadeiro e falso não existe mais". Preste atenção em quem tem muitas certezas, em quem se preocupa mais com o que acha do que com o que sabe, em quem jamais admite não saber.
Ligar os pontos entre fatos por meio de pensamento mágico é algo que nosso cérebro faz com prazer. A desconexão dos problemas da realidade, sobretudo quando feita em grupo, é acolhedora. Somos gregários e queremos acreditar que somos bons. É dessa autoindulgência que nasce a barbárie. Só a humildade salva. Aprender sempre, ouvir para entender e não para rebater, ter em mente que todos erramos e eu posso estar errada agora são práticas para jamais deixar de lado nesses tempos bicudos.
Madeleine Lackso, colunista - Gazeta do Povo - VOZES