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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Mãe de jovem saudita condenado à decapitação pede ajuda de Obama



A mãe de um jovem condenado à decapitação por ter participado de protestos contra a monarquia saudita pediu ao presidente americano Barack Obama que salve seu filho, em uma entrevista veiculada nesta quinta-feira. A sentença contra Ali al-Nimr, que tinha apenas 17 anos quando foi detido em fevereiro de 2012, atraiu atenção no mundo inteiro por sua idade e pela suspeita de que foi torturado para confessar supostos crimes.


Ali Mohammed al-Nimr: condenado à decapitação por protestar contra o governo saudita(VEJA.com/Facebook)

"Quando visitei meu filho pela primeira vez, não o reconheci", explicou sua mãe, Nusra al Ahmed, ao jornal britânico The Guardian. "Vi claramente uma ferida em sua testa. Outra ao redor de seu nariz. Eles o desfiguraram, seu corpo estava muito magro", contou. "Ele urinou sangue por dias e disse que sentia muitas dores". O pai de Ali, Mohammed al-Nimr, admite que seu filho participou das manifestações, mas afirmou que é inocente das acusações de roubo, violência contra a polícia e uso de coquetéis molotov.

A mãe disse que a sentença - que decreta que seu filho seja crucificado após ser decapitado - é "extremamente retrógrada". "Nenhum ser humano normal e lúcido faria isso com um menino de 17 anos. E por quê? Ele não derramou sangue, não roubou nada". Por fim, pediu a ajuda de Obama. "Ele é um dos homens mais influentes do mundo e pode interceder para resgatar meu filho", apelou.

O menino é sobrinho de Nimr al Nimr, um religioso xiita - o regime saudita é sunita - condenado à morte acusado de ser um dos mentores das manifestações que abalaram o país há quatro anos, no período conhecido como Primavera Árabe, quando países do Oriente Médio e Norte da África tiveram protestos pedindo por democracia e mais liberdades civis.

Fonte: VEJA/AFP


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Atirando ao acaso - A Arábia Saudita exerce a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU




A atiradora não é das mais competentas, mas seu maior erro não é a falta de pontaria, e sim a escolha dos alvos. O PMDB é um partido de profissionais, especializado em ocupar suculentas fatias do poder. Quando amadores tentam dar cargos a profissionais, para conquistá-los, tudo pode acontecer, menos dar certo.

Não adianta atender a Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, porque fica faltando atender a Jader Barbalho, Sarney, uma faminta tropa de elite. Fica faltando atender à bancada de deputados e aos senadores. E a incompetência é tamanha que se aceitou entre os reivindicantes até um dente-de-leite, o deputado federal Leonardo Picciani, do PMDB do Rio, inexperiente, mas já voraz.

É provável que nem juntando a ONU inteira seja possível atender a todas as reivindicações peemedebistas por bons cargos, com verbas abundantes e amplo espaço para nomeações. E não é só o PMDB: é preciso atender também ao PT, ao PP, pois só pixulecos não enchem barriga. E, claro, aos aliados do PCdoB, até agora fiéis; e aos "movimentos sociais", aqueles que se apresentam como exércitos em defesa do que chamam de legalidade (ou seja, aquilo que os beneficia).

A falha é achar que não é preciso negociar, discutir, buscar pontos convergentes com os aliados: basta nomear e pronto. Certo, ninguém desse povo rejeita cargos, mas retribuir com apoio são outros, e muitos, quinhentos. A falha é da negoci
ANTA, que despreza os aliados e procura perder o mínimo possível de tempo com eles.

Em troca, os aliados perdem o mínimo possível de tempo com ela.

A dança das cadeiras
Dilma age, na política, de forma incoerenta com as ideias que diz ter - tanto que engole Joaquim Levy enquanto abomina todo o seu pensamento econômico. Mas não pode levar a culpa sozinha: mesmo que fosse uma exímia articuladora, como poderia chegar a acordos satisfatórios se boa parte dos políticos não sabe se a campainha, de manhã bem cedinho, indica a chegada do padeiro ou do agente de viagens com a passagem para Curitiba?

Eduardo Cunha, principal nome da oposição, está na mira de cinco delatores premiados. Renan é nome recorrente nas investigações. Jarbas Vasconcelos jamais teve sua honestidade contestada - e, por isso mesmo, quem quer negociar com ele? Dilma já não é boa de conversa política, e isso piora muito quando não sabe com quem tem de conversar.

Dilma? Quem?
O caso mais triste é dos
"movimentos sociais", dos sindicatos petistas, das instituições mantidas pelo PT. Até blogueiros chapa-branca falam mal da política de Dilma. Os "movimentos sociais", as instituições mantidas pelo PT, sindicatos obedientes que muito se beneficiaram hoje ignoram a presidente e combatem sua política. A Fundação Perseu Abramo, do PT, decretou que as medidas econômicas defendidas pelo Governo são erradas.

Com esses aliados, Dilma nem precisa de oposição - ainda bem, porque oposição boazinha assim jamais se viu no mundo. Quem não diz "sim" diz "sim, senhora". E até a chama de "presidenta".

Semana animada
Hoje entram em votação os vetos de Dilma a itens da pauta-bomba aprovada pela Câmara (se os vetos forem derrubados, aumenta em alguns bilhões de dólares a despesa permanente do Governo). Se forem rejeitados, fora as consequências econômicas, as negociações entre Dilma e o PMDB terão de ser revistas.

À luz da História

O jurista Hélio Bicudo, que combateu o Esquadrão da Morte até extingui-lo e foi fundador do PT, e a advogada Janaína Paschoal, que com ele assinou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, deram excelente entrevista à Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo. Hélio Bicudo, 93 anos, agudo e preciso como de costume, deu sua opinião sobre a postura dos oposicionistas que combatem o impeachment (citou Geraldo Alckmin e Fernando Henrique): "Atitude covarde".

Dormindo com o inimigo
O governador Geraldo Alckmin, PSDB, tentou ser discreto: durante quase um ano seus contatos foram mantidos em segredo. Mas um dia a história vaza. E O Estado de S. Paulo descobriu que Alckmin manteve longo e cordial encontro com dirigentes do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o que forma o tal "exército do Stedile" de que Lula falou. Seu principal interlocutor no MST é Gilmar Mauro - e foi por seu intermédio que o Governo tucano paulista investe, só neste ano, R$ 7 milhões nos assentamentos do grupo ("assentamentos" é a palavra bonita que se usa em vez de "invasões").

Segundo Gilmar Mauro, Lula aprova a aproximação entre o MST e Alckmin. Por que desaprovaria, se a injeção de dinheiro paulista no MST vai reforçar o exército de Stedile?

Loucura sangrenta

O saudita Ali Mohammed al-Nimr foi detido há quatro anos em manifestações contra o Governo
(na época, vivia-se a Primavera Árabe). Tinha 17 anos. Agora, com 21, foi condenado à decapitação. Depois que lhe cortarem a cabeça, o corpo deve ser crucificado, para exposição pública. Seu pai, clérigo xiita (na Arábia Saudita, os sunitas predominam), também foi condenado à morte.

A Arábia Saudita exerce a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Aguarde! Prepare-se. Chumbo Gordo vem aí.



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O longo braço da intolerância e da barbárie



Atentado contra jornalistas em Paris mostra que desafio é prevenir ações terroristas sem prescindir das liberdades que caracterizam o regime democrático ocidental
De um lado, a democracia ocidental, com os direitos e garantias individuais, o Estado laico, a liberdade de expressão e de imprensa capazes de produzir textos e charges críticas, irônicas, satíricas, bem-humoradas ou não.

E quem se sentir atingido tem respaldo legal para obter reparação na Justiça, se for o caso. De outro, o fundamentalismo islâmico, que se alimenta das trevas, do ódio, da barbárie, da intolerância. Quem se opuser pode ser morto impiedosamente.

Foi o que fizeram ontem atacantes encapuzados ao disparar rifles Kalashnikov numa reunião de pauta do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, matando 12 pessoas, entre elas dez funcionários da publicação — quatro delas chargistas de renome nacional e até mundial, como Georges Wolinski, de 80 anos, e Stéphane Charbonnier, “Charb”, o editor. Pelos antecedentes — o jornal já publicou várias charges sobre o profeta Maomé, e por este motivo sua sede anterior foi destruída por uma bomba em 2011 — conclui-se que os terroristas são ligados ao fundamentalismo islâmico.

É um atentado cheio de simbolismos. Executado em Paris, coração da França, pátria das liberdades e dos direitos humanos. Contra um ícone da liberdade de imprensa, o “Charlie Hebdo”, que ousa desafiar, com a sátira e o bom humor, o fanatismo homicida do fundamentalismo islâmico. Confirma também que, a partir do Oriente Médio, o longo braço do terror pode atingir qualquer ponto do globo.

Não se trata apenas de uma questão de segurança, embora ela seja cada vez mais importante. A grande questão é como as sociedades ocidentais vão se resguardar dessa ameaça sem perder as características democráticas.  O risco é irem se fechando e acabarem também intolerantes e xenófobas. Esta será, se ocorrer, uma vitória do terrorismo. É necessário gerar instrumentos que permitam combater o extremismo, sem prejuízo das liberdades. Há algo errado quando 3 mil europeus, descendentes de muçulmanos, aderem ao Estado Islâmico (EI), maior expressão do fundamentalismo sunita, que prega o retorno à era de ouro do califado e a destruição dos valores ocidentais. Cerca de mil são franceses e muitos já voltaram ao país.

É evidente a incapacidade de a Europa Ocidental, sobretudo da França, integrar os imigrantes e descendentes à sociedade. Eles em boa parte vivem segregados, nos banlieus (subúrbios) parisienses. E constituem alvos fáceis para cooptação pelo EI e outros grupos extremistas. É preciso, portanto, que os governos convençam esses imigrantes das vantagens dos valores ocidentais sobre o fundamentalismo. Será necessário também persuadir as populações nacionais a substituir o preconceito por tolerância e acolhimento. Será mais fácil lidar com os radicais se eles estiverem isolados.

 Fonte: Editorial – O Globo