A atiradora não é das mais competentas, mas seu maior erro não é a falta de pontaria, e sim a escolha dos
alvos. O PMDB é um partido de profissionais,
especializado em ocupar suculentas fatias do poder. Quando amadores
tentam dar cargos a profissionais, para conquistá-los, tudo pode acontecer,
menos dar certo.
Não adianta atender a Temer, Eduardo
Cunha, Renan Calheiros, porque fica faltando atender a Jader Barbalho, Sarney, uma
faminta tropa de elite. Fica faltando atender à bancada de deputados
e aos senadores. E a incompetência é
tamanha que se aceitou entre os reivindicantes até um dente-de-leite,
o deputado federal Leonardo Picciani, do
PMDB do Rio, inexperiente, mas já voraz.
É provável que nem juntando a ONU
inteira seja possível atender a todas as reivindicações peemedebistas por
bons cargos, com verbas abundantes e amplo espaço para nomeações. E não é só o PMDB: é preciso atender também ao PT, ao PP, pois só
pixulecos não enchem barriga. E,
claro, aos aliados do PCdoB, até agora
fiéis; e aos "movimentos sociais",
aqueles que se apresentam como exércitos em defesa do
que chamam de legalidade (ou
seja, aquilo que os beneficia).
A falha é achar que não é preciso negociar, discutir, buscar pontos convergentes
com os aliados: basta nomear e pronto.
Certo, ninguém desse povo rejeita
cargos, mas retribuir com apoio são outros, e muitos, quinhentos. A falha é da negociANTA, que despreza os aliados e procura perder o mínimo possível de tempo com
eles.
Em troca, os
aliados perdem o mínimo possível de tempo com ela.
A dança das cadeiras
Dilma age, na política, de forma
incoerenta com as ideias que diz ter - tanto que
engole Joaquim Levy enquanto abomina todo o seu pensamento econômico.
Mas não pode levar a culpa sozinha: mesmo que fosse uma exímia articuladora, como poderia chegar a acordos satisfatórios se boa parte
dos políticos não sabe se a campainha, de manhã bem cedinho, indica a chegada do padeiro ou do agente
de viagens com a passagem para Curitiba?
Eduardo Cunha, principal nome da oposição, está na mira
de cinco delatores premiados.
Renan é nome recorrente nas investigações. Jarbas Vasconcelos jamais teve sua honestidade
contestada - e, por isso mesmo, quem quer negociar com ele? Dilma já não é boa de conversa política, e isso piora muito
quando não sabe com quem tem de conversar.
Dilma? Quem?
O caso mais triste é dos "movimentos
sociais", dos sindicatos petistas, das instituições mantidas pelo PT.
Até blogueiros
chapa-branca falam mal da política de Dilma.
Os "movimentos sociais", as instituições mantidas pelo PT, sindicatos
obedientes que muito se beneficiaram hoje ignoram
a presidente e combatem sua política. A Fundação
Perseu Abramo, do PT, decretou que as medidas econômicas defendidas pelo Governo
são erradas.
Com esses aliados, Dilma nem precisa de
oposição - ainda bem, porque oposição boazinha
assim jamais se viu no mundo. Quem não diz "sim" diz "sim, senhora". E até a chama de "presidenta".
Semana animada
Hoje entram em votação os vetos de Dilma a itens da pauta-bomba aprovada
pela Câmara (se os vetos forem
derrubados, aumenta em alguns bilhões de dólares a despesa permanente do
Governo). Se forem rejeitados, fora as
consequências econômicas, as negociações entre Dilma e o PMDB terão de ser revistas.
À luz da História
O jurista Hélio Bicudo, que combateu o Esquadrão da Morte até extingui-lo e foi
fundador do PT, e a advogada Janaína Paschoal, que com ele assinou o
pedido de impeachment de Dilma Rousseff, deram excelente entrevista à Roda Viva, na TV
Cultura de São Paulo. Hélio
Bicudo, 93 anos, agudo e preciso como de costume,
deu sua opinião sobre a postura dos oposicionistas que combatem o impeachment (citou Geraldo Alckmin e Fernando Henrique): "Atitude covarde".
Dormindo com o inimigo
O governador Geraldo Alckmin,
PSDB, tentou ser discreto: durante quase um ano seus contatos foram
mantidos em segredo. Mas um dia a
história vaza. E O Estado de S. Paulo descobriu
que Alckmin manteve longo e cordial encontro com dirigentes do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o que forma o tal "exército
do Stedile" de que Lula falou. Seu principal interlocutor no MST é Gilmar
Mauro - e foi por seu intermédio que o Governo tucano paulista investe, só neste
ano, R$ 7 milhões nos assentamentos do grupo ("assentamentos" é a palavra bonita que se usa em vez de
"invasões").
Segundo Gilmar Mauro, Lula aprova a
aproximação entre o MST e Alckmin. Por que desaprovaria, se a injeção de dinheiro paulista no MST
vai reforçar o exército de Stedile?
Loucura sangrenta
O saudita Ali Mohammed al-Nimr foi detido há quatro anos em manifestações
contra o Governo (na época,
vivia-se a Primavera Árabe). Tinha
17 anos. Agora, com 21, foi condenado à decapitação. Depois que lhe cortarem a cabeça, o corpo deve ser
crucificado, para exposição pública.
Seu pai, clérigo xiita (na Arábia
Saudita, os sunitas predominam), também
foi condenado à morte.
A Arábia Saudita
exerce a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Aguarde! Prepare-se. Chumbo Gordo vem aí.