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domingo, 9 de janeiro de 2022

AQUI HÁ RESISTÊNCIA! - Percival Puggina

Qual foi o principal problema enfrentado por Bolsonaro no exercício da presidência da República?  
Sobre a resposta a essa pergunta eu não tenho dúvida: o combate sem trégua a Bolsonaro se deve a ter ele sido eleito pela parcela conservadora da sociedade.  
Omisso e silencioso, esse eleitorado ganhou, com ele, súbita expressão política. 
 

 
E isso foi visto como ato de guerra pelos “progressistas” de todos os matizes (e de todos os países).[só que os 'progressistas' de todos os matizes e de todos os países (como sabiamente destaca o articulista) se f ... . Tentaram de todas as maneiras impedir a vitória de Bolsonaro - de tentativas de assassinato, sugestões de suicídio, pragas para que morra, boicote sistemático a todas as medidas que Bolsonaro tentou adotar buscando governar, mais de CEM decisões do STF contra o capitão a outras que até tedioso citar - NADA CONSEGUIRAM.]
O capitão permanece no Governo, a força do VOTO CONSERVADOR cresceu o que levará a mais um mandato 
 
Fosse Bolsonaro um “progressista”, sua vida seria mais tranquila. Até então, a guerra cultural estava em curso e era vencida pela esquerda com facilidades análogas às encontradas pela máquina de guerra nazista ao invadir a Europa Ocidental. Na vitória de Bolsonaro, porém, o Brasil disse ao mundo que, aqui, haveria resistência.  
Você não enfrenta máquinas de guerra poderosas e vencedoras sem determinar reações em contrário. 
E elas foram severíssimas nos ambientes culturais propriamente ditos, no mundo acadêmico, nas poderosas e endinheiradas fundações da Nova Ordem Mundial, nos meios de comunicação, no aparelho burocrático do Estado e nos poderes de estado, notadamente nos Tribunais Superiores.

 

Bolsonaro poderia ser exatamente como é, mas se não tivesse despertado e mobilizado o eleitorado conservador – favas contatadas nas disputas entre duas esquerdas durante um quarto de século – o governo teria tido outro curso e enfrentado dificuldades bem menores. [sugerimos clicar aqui.]

Examine o leque dos candidatos presidenciais. Exceto Bolsonaro (PL) com 30%, todos os demais são esquerdistas e isso dá boa ideia sobre para onde aponta o ano eleitoral cuja folhinha já está rolando. [só que os supostos 70% da esquerda, após triturados, espalhados e jogados no esgoto, nada são. Os VOTOS conferidos nas urnas ao  capitão vão superar os 50% já no primeiro turno. 
Os candidatos da famigerada esquerda só tem alguma chances nas pesquisas dos 'datas' qualquer coisa.] Depois, olhe detidamente os nomes e conviva com a realidade
eles são tudo que os partidos políticos têm a apresentar após quatro anos fazendo fumaça e barulho, impedindo o governo de governar, atacando-o por tudo  e por nada, criando despesa para um orçamento já estourado, fazendo negócios, batendo à porta do STF para fazer “política”. Nada revela tão bem o quanto são inaproveitáveis nossas legendas partidárias do que os nomes que apresentam ao eleitorado!

Lula (PT), com 40%. É um candidato zumbi, que surfa pesquisa, mas não aparece em público e deve fugir de espelho. Seu pior inimigo é sua biografia.

O governador João Dória (PSDB), dito Bolsodória na campanha de 2018, passou quatro anos criando problemas ao presidente e conseguiu apenas 3% de intenções de voto na última pesquisa que li. 

Sérgio Moro (Podemos) está longe de ser um conservador, ou um liberal, como Bolsonaro descobriu tarde demais. Seu papel de hoje não é aquele com que o atraíram; é o que a história já lhe reservou: tirar [tentar] votos de Bolsonaro para ajudar a eleição do ex-presidiário. Diante de apenas 11% de intenções de voto, seus próximos já o aconselham a disputar cadeira de senador para não ficar desocupado.

Ciro Gomes (PDT) contabiliza 7% e se vê em meio a uma calmaria, com o velame caído, sem receber uma lufada de ar que lhe permita esperar terra à vista em algum ponto de seu monótono horizonte.

A senadora Simone Tebet (do outrora grande MDB), picada pela mosca azul, fez o possível para se pôr em evidência, sempre infernizando a vida do presidente e descobre, agora, que conseguiu atrair a atenção de apenas um em cada cem eleitores brasileiros. [associou sua imagem, de forma irreparável, ao descontrole que não conseguiu conter no circo CPI da covid.]

O senador Rodrigo Pacheco (PSD), o omisso “Pachecão”, fez muito mau uso de seu poder no Senado, ajoelhou-se perante o STF, virou as costas ao clamor popular, precisou fechar suas redes sociais, e ainda quer (?) ser presidente. Com 0,6% perde até para a colega Simone Tebet. 

Não me tiram a esperança de ter meu país de volta. Aqui resistiremos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 19 de julho de 2020

Estado de choque - Nas entrelinhas

Correio Braziliense


“Guedes propõe solução simples para um problema complexo: mais um imposto. Como sabe que é isso, pode ser para criar um cavalo de batalha, justificar seu fracasso e deixar o cargo”

A ideologia de livre mercado do vienense Friedrich August Von Hayek, paradigma da política liberal conservadora do pós-guerra, foi historicamente associada às doutrinas de choque. Embora originárias das décadas de 1920/1930, suas ideias somente ganhariam força após a II Guerra Mundial. Esse caráter de “choque” foi resultado do envolvimento de Hayke com regime ditatoriais da América Latina, entre os quais a ditadura sanguinária do general Augusto Pinochet, no Chile. A doutrina de choque funciona como uma chantagem, porque as pessoas são persuadidas de que a única opção é aceitar o “mal menor” diante das crises, o que se traduz em soluções selvagens para a desregulamentação da economia e alienação patrimonial, assim como a naturalização do desemprego em massa e da chamada “destruição criativa”.

[Presidente Bolsonaro, Guedes já fracassou - além de ser indeciso é azarado = a pandemia acabou com alguma chance dele acertar.
Agora, fracassado quer levar ao fracasso a sua necessária, para o Brasil e milhões de brasileiros, reeleição.]

Obviamente, Hayke foi um crítico das teorias de John Maynard Keynes, o que dificultou muito sua vida no imediato pós-guerra, por causa do sucesso das políticas keynesianas nos Estados Unidos, depois da Grande Depressão de 1929, e na reconstrução da Europa Ocidental, com o Plano Marshall, no imediato pós-guerra. Entretanto, Hayke ganhou o prêmio Nobel de 1970 e conquistou corações e mentes dos dois principais líderes ocidentais da década seguinte, Ronald Reagan, presidente republicano dos Estados Unidos, e Margareth Thatcher, primeira-ministra conservadora do Reino Unido. Com isso, sua figura controversa deixou de ser associada aos ditadores latino-americanos e passou ser identificada com a bem-sucedida política “neoliberal” desses dois líderes.

Com o colapso da antiga União Soviética e do comunismo no Leste Europeu, o mundo ingressou num período de aparente unipolaridade, até a Rússia de Putin se reerguer como potência energética, a aliança franco-alemã se consolidar na Europa e a China, emergir como novo player da economia mundial, cujo eixo comercial se deslocou do Atlântico para o Pacífico. Simultaneamente, um filósofo norte-americano, John Rawls, que cresceu em Baltimore e havia servido no Pacífico — Nova Guiné, Filipinas e Japão —, durante a II Guerra Mundial, começou a ser muito discutido nos Estados Unidos, por causa de suas teses sobre a justiça, o direito dos povos e a equidade. Formado em Princeton, no começo dos anos 1950, estudou na Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde conviveu com outro gigante do liberalismo, Isaiah Berlin.


Equidade
Justiça, equidade e desigualdades eram as principais preocupações de Rawls, que questionava a forma como os princípios de justiça se baseavam. Ele estava preocupado com a relação entre a política e as desigualdades, que ultrapassa os julgamentos morais individuais. Por essa razão, estabeleceu uma correlação entre os princípios da justiça e a forma como os sistemas educacional, sanitário, tributário e eleitoral funcionam. Crítico da guerra do Vietnã e simpático aos movimentos de direitos civis das minorias, concluiu que todos têm as mesmas demandas para as liberdades básicas e que as desigualdades sociais e econômicas deveriam ter um limite razoável, que fossem associados a cargos e posições acessíveis a qualquer um, de forma a que todos pudessem sobreviver com dignidade. Nesse aspecto, o Estado deveria ser garantidor da justiça com equidade. Suas palestras sobre o tema foram reunidas num livro por ele revisado em 2001: Justiça como equidade: uma reformulação (Martins Fontes), muito adotado nas escolas de direito no Brasil. Sua Teoria da Justiça era o livro de cabeceira do presidente Bill Clinton, do Partido Democrata.


O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um discípulo da Escola de Chicago, liderada por Milton Friedman, outro prêmio Nobel de Economia, de quem foi aluno e apadrinhado na ida para a equipe econômica do general Pinochet. A essência do seu pensamento se baseia na formação de preços, livre mercado e expectativas racionais dos agentes econômicos. Há um ano, o ministro anuncia uma reforma tributária, sem apresentá-la, enquanto o Congresso discute dois projetos, um no Senado, de autoria do ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), e outro na Câmara, do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), com base em estudos do economista Bernard Appy.

Como já vimos, é preciso compatibilizar nosso liberalismo com a justiça social. O que a pandemia escancarou foi o sucateamento da saúde e da educação e a brutal violência e iniquidade social nas favelas, periferias e grotões do país. Entretanto, agora, Guedes anuncia uma proposta de reforma tributária cujo eixo é a criação de imposto com tributação automática de operações digitais, para arrecadar mais de R$ 100 bilhões. Na prática, é uma exumação da antiga CPMF, que foi criada originalmente para viabilizar recursos para a Saúde.

O problema de Guedes é o crescimento da dívida pública por causa da pandemia, que deve elevar o deficit fiscal de R$ 134 bilhões para, aproximadamente, R$ 700 bilhões, o que inviabiliza as políticas de transferência de renda e pode provocar o colapso financeiro do governo federal, se não houver uma reforma administrativa e nova reforma previdenciária no próximo ano. Guedes propõe uma solução simples para um problema complexo: mais um imposto. Política de choque. Como sabe que é isso mesmo, pode ser, também, para criar um cavalo de batalha, justificar seu fracasso e deixar o cargo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo,jornalista - Correio Braziliense





sexta-feira, 5 de junho de 2020

O ‘terrorismo’ que convém - Editorial - O Estado de S. Paulo

Trump e Bolsonaro usam o “terrorismo” como muleta para a imaturidade democrática

[Eles ganham eleições;
Trump teve dificuldades devido o coronavírus mas começa a ser recuperar e vai ganhar em novembro/20; e,
Bolsonaro além da pandemia tem que enfrentar inimigos que tentam impedi-lo de governar, mas vai se recuperar e ganha em 2020.]
As manifestações contra o racismo decorrentes do horrível assassinato de George Floyd extravasaram as fronteiras de Minneapolis e ganharam as ruas de algumas das principais cidades dos EUA, sobretudo da capital, Washington, e da Europa. A despeito da emergência sanitária, milhares de jovens têm se reunido todos os dias para clamar por justiça na punição do assassino, o policial Derek Chauvin, e pelo fim da rotineira violência policial praticada contra os negros, que sofrem tão somente pela cor da pele. Nos corações e mentes desses jovens, é como se a letalidade potencial do novo coronavírus fosse menos ameaçadora que o velho racismo estrutural que há muito tempo macula a história do país que arquitetou os pilares da democracia moderna. “Ninguém aqui esquece o receio de contrair a covid-19”, disse um dos manifestantes, “mas certas coisas precisam mudar.”
 [Imagem Inserida por Blog Prontidão Total - Transcrito do Alerta Total]
Em questão de dias, manifestações que estavam restritas aos EUA irromperam em cidades da Holanda, da França e do Reino Unido, principalmente, e lá despertaram tensões locais adormecidas, muitas delas decorrentes de processos de colonização que resultaram numa massa de cidadãos alijados da distribuição dos ganhos advindos do desenvolvimento econômico e social nesses países. Em Paris, por exemplo, os manifestantes foram às ruas cobrar explicações sobre a morte de um jovem negro e pobre ocorrida há mais de quatro anos dentro de uma delegacia de polícia. Em Londres, milhares de pessoas ocuparam o Hyde Park e vocalizaram a dor e a revolta por casos que quase sempre têm o mesmo desfecho que o de George Floyd no Reino Unido. Em Berlim, manifestantes pintaram o retrato de Floyd num pedaço remanescente do Muro. O Brasil não ficou à margem desse movimento por um mundo mais justo. Há poucos dias, também houve uma manifestação contra o racismo em Curitiba. Embora não fosse a tônica da manifestação havida na Avenida Paulista, em São Paulo, no fim de semana passado, também houve lá protestos contra a violência racial, que foram desfigurados por radicais.

É fundamental registrar que a maioria dessas manifestações ocorre de forma absolutamente tranquila, em que pesem registros de choques episódicos entre a polícia e os manifestantes nos EUA, na França, no Reino Unido e no Brasil. Ao analisar as manifestações, Karen Donfried, presidente do The German Marshall Fund of the United States (GMF), fundo de cooperação transatlântica inspirado no Plano Marshall, classificou o racismo como uma segunda “pandemia” que o mundo civilizado precisa urgentemente enfrentar. Em nenhum momento de sua reflexão, Donfried classificou os atos de protesto como “terrorismo”, o que só mostra quão absurdos são os presidentes Donald Trump e seu ventríloquo brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro, as únicas lideranças políticas a ameaçar usar força militar contra as manifestações de rua por sua suposta natureza “terrorista”. Não se pode dizer que o GMF, corolário da ação americana pela consolidação da democracia liberal na Europa Ocidental, seja “comunista” ou “esquerdista”.

[para tristeza de muitos Donald Trump e Jair Bolsonaro serão reeleitos;
Trump começa a volta ao surf na recuperação econômica dos Estados Unidos e Bolsonaro, demorará um pouco - seus inimigos são teimosos e o gênio explosivo do presidente retarda um pouco para que sejam derrotados - mas as eleições no Brasil serão em 2022.]

Não por acaso, Donald Trump e Jair Bolsonaro são os únicos presidentes que classificam os manifestantes como “terroristas” porque a nenhum dos dois interessa o crescimento dessas manifestações, que não só podem, como irão, mais cedo ou mais tarde, revelar críticas às suas administrações. No Brasil, aliás, isto já está ocorrendo. Aqui, o racismo ainda é uma pauta lateral nos protestos, direcionados em grande medida contra os diuturnos ataques de Bolsonaro contra a democracia e as instituições republicanas. Se povoadas por “terroristas”, portanto, justificar-se-ia, na visão da cúpula bolsonarista, o emprego das Forças Armadas para coibir tais manifestações, o que é um completo absurdo. Eventuais crimes praticados nestes atos são de competência das polícias estaduais, não das Forças Armadas.

No fundo, tanto nos EUA como no Brasil, o que se observa é um flagrante desprezo de seus presidentes pelo escrutínio público e institucional, incapazes que são de liderar e fazer política no ambiente democrático, ou seja, sujeitos às limitações do sistema de freios e contrapesos. 

Editorial - O Estado de S. Paulo





quarta-feira, 27 de novembro de 2019

As tentações autoritárias - Nas Entrelinhas

“São governos falidos, eleitores ressentidos, pagadores de impostos que querem mais benefícios e poderosos sindicatos que querem manter privilégio. Impossível atender a todos


Não foi a primeira vez — provavelmente, não será a última — que alguém próximo ao presidente Bolsonaro ameaça a oposição com o espectro do AI-5. Mas, desta vez, a coisa foi mais grave, porque se tratou do ministro da Economia, Paulo Guedes. Foi um raciocínio político com começo, meio e fim: “É irresponsável chamar alguém pra rua agora pra fazer quebradeira. Pra dizer que tem que tomar o poder. Se você acredita numa democracia, quem acredita numa democracia espera vencer e ser eleito. Não chama ninguém pra quebrar nada na rua. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com 10 meses você já chama todo mundo pra quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem, então, se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?”, disse o ministro. “É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso”, remendou Guedes, depois.

A declaração do ministro da Economia sobre o AI-5 provocou reações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, durante Encontro Nacional do Poder Judiciário, em Maceió: “O AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado”. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também criticou o ministro Guedes: “Não dá mais para usar a palavra AI-5 como se fosse bom-dia, boa tarde, oi, cara, não dá”. Deu uma mão no cravo e outra na ferradura, ao se dizer assustado com o comportamento dos políticos, que parecem estar “mais se preparando para uma briga campal do que pra uma disputa eleitoral no futuro”, uma alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O raciocínio de Guedes merece uma reflexão mais profunda. Não teria a mesma dimensão se não estivéssemos vivendo uma conjuntura complexa e de grande instabilidade na América do Sul, que os investidores estão acompanhando com apreensão. Ninguém deseja uma convulsão política e social no Brasil, que, de fato, tem um presidente da República que não completou um ano de mandato. Entretanto, no momento, apesar do apoio do Congresso à reforma da Previdência e da blindagem da política econômica pelas suas lideranças, o governo tem avaliação negativa do seu desempenho, por razões que não são decorrentes apenas do quadro de desigualdades sociais profundas e desemprego em massa que encontrou. Parte do desgaste decorre de atitudes que confrontam a opinião pública em relação a temas que contam com um certo consenso social, mas o governo afronta, principalmente, em áreas onde as políticas públicas precisam de mais eficiência e menos ideologia.

Crise do Estado
Ademais, a criação do Aliança pelo Brasil pelo presidente Jair Bolsonaro, com um programa político
ultraconservador, dobrou a aposta na radicalização política e ideológica, com repercussão muito negativa na imprensa internacional, que identifica o novo partido como uma organização de ultradireita alinhada com outros partidos congêneres da Europa. [curioso é que quando a maldita esquerda, ultracorrupta, corrupta liderada pelo pt = perda total = governava o Brasil, não era dado destaque a eventual repercussão negativa na imprensa internacional, especialmente devido o assalto aos cofres públicos.
Insistimos em  lembrar que em todo o mapa da América do Sul, todos os países da esquerda estão em conflito e nos da direita impera a PAZ e HARMONIA, exceto o Chile que sofre os reflexos negativos, de dois períodos de esquerdismo. ]  Por isso mesmo, o posicionamento do governo brasileiro não é visto como um fenômeno isolado, mas como parte de um processo com viés autoritário em curso, principalmente no Leste Europeu e na Ásia, e que seduz setores da sociedade na Europa Ocidental e até nos Estados Unidos.

Há uma crise de financiamento do Estado democrático em todo o Ocidente. Quase todos os governos arrecadam menos do que gastam, a começar pelos Estados Unidos, que só teve cinco superavits desde 1960, e a França, que não produz um superavit desde 1975. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, costuma dizer que a União Europeia abarca 7% da população, 25% do PIB mundial e 50% dos gastos sociais. No caso dos países da América Latina, essa crise é agravada pelo desemprego em massa e a ampliação da miséria. Ou seja, a vida não está fácil para ninguém, é preciso fazer reformas para que o Estado volte a gastar menos do que arrecada e tenha condições de investir, aqui e no mundo.

São governos falidos forçados a cortar serviços públicos, eleitores ressentidos querendo manter seus direitos sociais, pagadores de impostos que querem mais benefícios com o dinheiro que dão ao governo e poderosos sindicatos de servidores públicos que querem manter seus privilégios. Impossível atender a todos. Nessa crise, que põe em xeque as democracias representativas, surgem ideias totalitárias, principalmente na Europa e na Ásia. O modelo chinês desafia valores do Ocidente, como o sufrágio universal, mas obtém resultados econômicos impressionantes. Nesse mundo em transformação, no qual as novas tecnologias são uma ferramenta importante para enxugar o Estado e melhorar o desempenho dos governos, porém, é preciso responder a duas questões. Primeiro, para que serve o Estado? Segundo, como modernizá-lo na democracia? As tentações autoritárias vêm das dificuldades para responder a essas perguntas.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Bolsonaro diz que é 'falácia dizer que Amazônia é pulmão do mundo', ataca cacique Raoni e diz que não aumentará reservas - O Globo

Na ONU, Bolsonaro não recua sobre Amazônia: 'Falácia dizer que é patrimônio da humanidade'

Presidente afirmou que Brasil é o país que mais protege o meio ambiente e que não vai aumentar demarcações indígenas:

Na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro sustentou que é uma "falácia" as visões internacionais de que a floresta amazônica é um patrimônio da humanidade e o pulmão do mundo. [confira aqui, revista FORBES as razões pelas quais a Amazônia não é o pulmão do mundo...... uma delas é 'que ela produz e utiliza a mesma quantidade de oxigênio".] Seguindo a tradição brasileira de ser o primeiro país a falar no encontro, Bolsonaro também destacou que não vai aumentar as áreas indígenas: "Acabou o monopólio do senhor Raoni", afirmou. 
O líder indígena Raoni Metuktire, reconhecido internacionalmente e que recentemente esteve reunido com líderes europeus, como o francês Emmanuel Macron,  também foi alvo de críticas de Bolsonaro no discurso da ONU. Ele foi caracterizado pelo presidente como "peça de manobra":
A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o Cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia.
— Somos um dos países que mais protegem o meio ambiente, nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental, e ela permanece intocada. — disse o presidente. — É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e o pulmão do mundo. 

ONU: 'Vim apresentar o novo Brasil que ressurge após estar à beira do socialismo', destaca Bolsonaro

 
Na íntegra: Discurso de Bolsonaro na ONU

Bolsonaro criticou, sem citar nomes, líderes que se portaram de forma considerada desrespeitosa em relação ao Brasil:
Um ou outro país se portou de forma desrespeitosa e de forma colonialista em relação ao Brasil. Questionando o que nos é mais sagrado, nossa soberania.
Na véspera, o presidente da França, Emmanuel Macron convidou o consórcio dos estados da Amazônia para reunião sobre futuro da floresta.

Sem mais áreas indígenas
Enquanto falava sobre a situação da floresta amazônica, Bolsonaro afirmou que não vai aumentar as demarcações de áreas indígenas. Segundo ele, os organismos internacionais que pedem o aumento dessas áreas estão interessados nas riquezas minerais. — Hoje, 14% do território brasileiro é demarcado por áreas indígenas. Nossos nativos são seres humanos como cada um de nós, eles querem e merecem usufruir de todos os direitos como nós. O Brasil não vai aumentar para 20% as áreas indígenas.


Bolsonaro destacou a abundância de metais preciosos em áreas infígenas, especialmente as terras Yanomami a Reposa Serra do Sol.
— Nossas reservas indígenas são ricas em ouro, diamante, nióbio e terras raras. Esses territórios são enormes. Isso demonstra que os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas sim com a riqueza e a biodiversidade existentes nessas áreas.

O Globo, Sociedade
 


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Globalismo e Bioética: a desumanização dos serviços públicos de saúde

“A vida que professar será para benefício dos doentes e para o meu próprio bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos. Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres’’.
Juramento de Hipócrates

Alfie Evans corre o risco de ter o mesmo destino trágico de Charlie Gard.

A pergunta que fazem: Por que tratar um doente dispendioso se é possível matá-lo?
Quantas vezes, no Brasil e no mundo, sob o jugo de um sistema unificado de Saúde, nos deparamos com hospitais mal geridos e postos de saúde burocratizados e sem estrutura, nos quais a medicina é colocada sob provas extremas? Quantas vezes, nas últimas décadas, não nos defrontamos com situações limítrofes, nas quais a dor causada pelo indiferença criminosa e pelos e maus tratos, notórios pela evidente negligência do Estado, se contrapoem aos princípios inspiradores de Hipócrates, o pai da medicina ocidental? Quantas vezes, no decorrer destes sombrios anos que marcam a escalada do socialismo, assistimos a morte ser exaltada em detrimento da vida, por parte de defensores de supostos “direitos humanos”, por meio de cânticos carregados de traição àqueles a quem juram salvaguardar e proteger?


Densas razões estratégicas de longo prazo
É a demografia, estúpido, a única questão importante. A Europa no final do século será um continente depois da bomba de nêutron. As grandes construções ainda estarão lá, mas as pessoas que as fizeram terão desaparecido”.
Mark Steyn, analista político canadense.


O National Health Service (NHS), o sistema de saúde britânico, maior sistema público de saúde e o mais antigo do mundo, é designado pelos globalistas como ‘’a solução da saúde para o mundo’’. Implantado no Reino Unido, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, chegou a ser homenageado de forma enigmática na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, no verão de 2012.  Ele forma a base dos cuidados médicos do Reino Unido. É interessante observar que os NHS foram criados por legislações separadas e começaram a funcionar em 5 de julho de 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial. Seu slogan é : “Somos o Número Um”. ( “NHS ranked ‘number one’ health system”). Conforme o atual secretário de saúde da Inglaterra, Jeremy Hunt, “é motivo de orgulho e seu modelo é “classificado como o melhor sistema de saúde dentre 11 países ricos”. Para Hunt, “esse resultado excelente é um testemunho da dedicação da equipe do NHS. ”

(...) 
 
Doentes graves acumulam-se em filas intermináveis sem receber tratamento. Em certa ocasião, Paul Corriggnan, secretário do então primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, declarou que para o NHS corrigir  seus problemas agudos no tratamento de doenças crônicas, teria que contratar serviços externos, algo tão grandioso (ou seja impossível), segundo ele, e que seria notado por todos. Sem recursos suficientes, os tratamentos não estão sendo  realizados. Uma suposta correção para o problema, que foi a pauta de intensas discussões, e que parece ter sido implementada, foi disposta por meio três ações necessárias. Primeira, financiamento; segunda: hospitais eficientes e dedicados a tratar especialidades; terceira, e a mais crítica: reduzir a procura de tratamentos desnecessários, através de uma melhoria da saúde pública unida a cuidados individuais.
 
Passados quase um ano das supostas soluções apresentadas e perante os casos gritantes dos bebês ingleses (Charlie Gard e Alfie Evans, entre outros, que foram abandonados em hospitais sem receber tratamento algum), a verdade veio à tona.

Ao analisarmos o histórico ocorrido com Charlie Grad, torna-se patente que o NHS optou por reduzir essa “terceira ação”. Sobretudo no sentido de abandonar todo e qualquer investimento em pesquisa, medicina experimental, e o caminho do progresso científico. Por motivos econômicos, optou por designar todos seus doentes crônicos como desnecessários.
Kate Andrews, do Instituto Economic Affairs, expressou, publicamente: “O NHS está longe de ser a inveja do mundo”; “não são apenas aos trabalhadores pobres que recebem cuidados precários; a provisão de cuidados do NHS é igualmente precária para todos, independentemente da renda”.
A verdade é que o Reino Unido tem uma das taxas mais elevadas de mortes evitáveis ​​na Europa Ocidental e dezenas de milhares de vidas poderiam ser salvas a cada ano se os pacientes do NHS em condições graves fossem tratados por sistemas de seguro social de saúde em outros países, ou ainda em cooperação mútua.

MATÉRIA COMPLETA, Clique aqui
 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O longo braço da intolerância e da barbárie



Atentado contra jornalistas em Paris mostra que desafio é prevenir ações terroristas sem prescindir das liberdades que caracterizam o regime democrático ocidental
De um lado, a democracia ocidental, com os direitos e garantias individuais, o Estado laico, a liberdade de expressão e de imprensa capazes de produzir textos e charges críticas, irônicas, satíricas, bem-humoradas ou não.

E quem se sentir atingido tem respaldo legal para obter reparação na Justiça, se for o caso. De outro, o fundamentalismo islâmico, que se alimenta das trevas, do ódio, da barbárie, da intolerância. Quem se opuser pode ser morto impiedosamente.

Foi o que fizeram ontem atacantes encapuzados ao disparar rifles Kalashnikov numa reunião de pauta do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, matando 12 pessoas, entre elas dez funcionários da publicação — quatro delas chargistas de renome nacional e até mundial, como Georges Wolinski, de 80 anos, e Stéphane Charbonnier, “Charb”, o editor. Pelos antecedentes — o jornal já publicou várias charges sobre o profeta Maomé, e por este motivo sua sede anterior foi destruída por uma bomba em 2011 — conclui-se que os terroristas são ligados ao fundamentalismo islâmico.

É um atentado cheio de simbolismos. Executado em Paris, coração da França, pátria das liberdades e dos direitos humanos. Contra um ícone da liberdade de imprensa, o “Charlie Hebdo”, que ousa desafiar, com a sátira e o bom humor, o fanatismo homicida do fundamentalismo islâmico. Confirma também que, a partir do Oriente Médio, o longo braço do terror pode atingir qualquer ponto do globo.

Não se trata apenas de uma questão de segurança, embora ela seja cada vez mais importante. A grande questão é como as sociedades ocidentais vão se resguardar dessa ameaça sem perder as características democráticas.  O risco é irem se fechando e acabarem também intolerantes e xenófobas. Esta será, se ocorrer, uma vitória do terrorismo. É necessário gerar instrumentos que permitam combater o extremismo, sem prejuízo das liberdades. Há algo errado quando 3 mil europeus, descendentes de muçulmanos, aderem ao Estado Islâmico (EI), maior expressão do fundamentalismo sunita, que prega o retorno à era de ouro do califado e a destruição dos valores ocidentais. Cerca de mil são franceses e muitos já voltaram ao país.

É evidente a incapacidade de a Europa Ocidental, sobretudo da França, integrar os imigrantes e descendentes à sociedade. Eles em boa parte vivem segregados, nos banlieus (subúrbios) parisienses. E constituem alvos fáceis para cooptação pelo EI e outros grupos extremistas. É preciso, portanto, que os governos convençam esses imigrantes das vantagens dos valores ocidentais sobre o fundamentalismo. Será necessário também persuadir as populações nacionais a substituir o preconceito por tolerância e acolhimento. Será mais fácil lidar com os radicais se eles estiverem isolados.

 Fonte: Editorial – O Globo