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quarta-feira, 19 de julho de 2023

Doutrinação - Você paga pelo curso antigordofobia do PT - Gazeta do Povo

Omar Godoy

Gordofobia, fascismo, veganismo: os cursos que o PT oferece na internet com dinheiro público

O ex-deputado José Genoino é um dos petistas sem cargo ou mandato que atuam na Fundação Perseu Abramo.| Foto: Reprodução / YouTube - Fundação Perseu Abramo [lembramos que o comunista em questão, quando puxava cadeia pelos crimes do mensalão, era dado pela corja petista como praticamente morto devido a problemas cardíacos - queriam tirá-lo da cadeia a todo custo - uma grande mentira, tanto que transcorridos mais de dez anos,  continua vivo.
Sobre a qualidade dos cursos, lembramos apenas que quando brincava de guerrilheiro no Araguaia, anos 70, se destacou pela covardia e INcompetência como discípulo do ditador cubano  Fidel.]
 
Que tal fazer um curso de formação de lideranças ministrado pelo José Genoino? 
E aprender como a dança pode ser uma estratégia antigordofóbica e antirracista? 
Ou ler um e-book que contesta a narrativa golpista sobre a política econômica dos governos petistas?
 
O leitor da Gazeta certamente não deseja se envolver com esse tipo de material mas, querendo ou não, está pagando por ele
É que os conteúdos citados acima, e mais centenas de outros semelhantes, estão disponíveis no site da Fundação Perseu Abramo, espécie de braço programático do PT mantido com recursos do fundo partidário (leia-se: dinheiro público).
Só em 2022, a entidade recebeu cerca de R$21 milhões, aplicados na produção de livros, cursos, lives no YouTube, pesquisas, eventos, artigos, documentários, exposições e projetos de memória. 
É o que se convencionou chamar de think tank, ou seja, uma organização dedicada a produzir e disseminar conhecimentos sobre política, economia, saúde, ciência e segurança, entre outros temas.

De acordo com a lei brasileira, todas as legendas devem criar sua fundação e destinar a ela no mínimo 20% do fundo partidário – para investir em educação, pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas. A realidade, no entanto, mostra que esse montante milionário muitas vezes é utilizado em benefício dos próprios políticos e seus aliados. Especialmente daqueles sem mandato ou cargo público.

No caso do PT, isso fica nítido logo na primeira passeada pelo site da Perseu Abramo (fundada há 27 anos, a organização foi batizada em homenagem ao jornalista, sociólogo, professor e militante sindical morto em 1996). José Dirceu, José Genoino, Guido Mantega, Luiz Eduardo Greenhalgh, Ideli Salvatti, Olívio Dutra, Jorge Bittar, Gilberto Carvalho... Estão todos lá. Ministrando cursos, assinando artigos, participando de debates ou dando depoimentos históricos.

Aloizio Mercadante, sumido desde o impeachment de Dilma Roussef, era o presidente da entidade até o começo deste ano, quando foi chamado para comandar o BNDES. Em seu lugar ficou um dos amigos mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Okamoto [esse individuo era o pagador oficial das contas do atual presidente do Brasil.] que já foi tesoureiro de campanha, esteve à frente do Sebrae entre 2005 e 2010 e atuou na diretoria do Instituto Lula.

Aqui vale um parêntese: no último mês de fevereiro, o ministro do STF Ricardo Lewandowski determinou a suspensão de uma ação penal da Operação Lava Jato contra Okamoto. 
O processo tratava de doações, supostamente ilícitas, feitas pela Odebrecht ao instituto entre 2013 e 2014, no valor de R$ 4 milhões. As provas obtidas foram julgadas inválidas pelo Supremo.

A própria Dilma também ganhou sua boquinha na Fundação Perseu Abramo. Após ser afastada da presidência da República, ela passou a participar, com remuneração, de reuniões do Conselho Curador. Mais tarde, foi conduzida ao posto de superintendente de Relações Institucionais, com salário mensal de mais de R$ 18 mil.

E o auxílio à “companheirada” não se limita aos políticos profissionais. Lembra do Freud Godoy, quebra-galhos geral de Lula acusado de envolvimento no Mensalão? Em 2019, a fundação contratou os serviços de sua empresa de segurança privada por R$ 30 mil mensais.

“Entender para derrotar”
Mas voltemos aos conteúdos formativos oferecidos no site da Perseu Abramo e concebidos por professores universitários, jornalistas e “comunicadores populares” ligados à militância petista – sob a coordenação de Jorge Bittar, ex-vereador e ex-deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro. Nos parágrafos abaixo, elencamos alguns cursos gratuitos disponíveis na plataforma.

“Fascismo ontem e hoje: entender para derrotar”

Objetivo “Apresentar as características do fascismo para refletir sobre o bolsonarismo como um tipo de movimento fascista.”

Destaque da ementa – “Trump, Bolsonaro, Viktor Orban. A nova fase do capitalismo internacional abre espaço em todo o mundo para governos que rompem com a lógica da democracia-liberal. Estamos diante de um movimento global neofascista?”

[com certeza, os dois tópicos não estão entre os que o Genoíno, ex-guerrilheiro de festim, tenha competência para ensinar. Em ambos, ele que sempre foi o derrotado na guerrilha, não pode falar sobre 'derrotar', já sobre 'perder' é mestre.

“Território e luta: o trabalho de base do movimento popular urbano”

Objetivo – “Articular a experiência acumulada pelos movimentos do período de redemocratização com as novas formas de organização que emergem nas comunidades.”

Destaque da ementa – 
“A esquerda deve voltar às bases? 
Como conter o crescimento das ideias de direita nas periferias? 
Como fazer o giro organizativo em direção da atuação no território?”

 “O mundo em que vivemos”

Objetivo – “Discutir diferentes aspectos da situação mundial, começando pela Nova Guerra Fria (e quente) entre EUA e China e a interferência política, econômica e militar do império estadunidense na América Latina e Caribe, ontem e hoje.”

Destaque da ementa – “Módulo 2: O império contra nuestra América, balanço e perspectiva da ofensiva imperial, desde o golpe de Honduras até os dias atuais.”

“Direitos humanos em tempos de barbárie”

Objetivo – “Apresentar a história do PT, de Lula e do Brasil em paralelo com a luta pelos direitos humanos e pela democracia. Dinamismo, empatia e fluidez estruturam cada uma das 15 aulas.”

Destaque da emenda – “Aula 12: ‘Não fizemos a regulação da mídia, mas é possível virar o jogo’, com Juca Kfouri.”

“História e política: formação de lideranças de esquerda”

Objetivo – “Fornecer vivências práticas, acadêmicas e institucionais que delineiam a história e desnudam o valor da política para a manutenção ou transformação da ordem. O desvendar das forças oponentes possibilita a superação do capitalismo e suas iniquidades.”

Destaque da ementa – “Alternando entre ditaduras e democracias liberais, diferentes modelos econômicos, diferentes frações da burguesia se sucederam nos blocos de poder impondo às trabalhadoras e aos trabalhadores processos cujo objetivo era a exploração do trabalho e das riquezas nacionais.”

Para terminar, selecionamos amostras do Reconexão Periferias, projeto “jovem” e urbano da Fundação Perseu Abramo. Conheça a seguir alguns temas discutidos com os convidados dos programas – todos pagos, sempre bom lembrar, com verba pública repassada ao partido:

“Comunicação popular e autoestima na comunidade Tururu”

 “Uma artista traduz o olhar pataxó”

“Participação política também é terapia“

Carandiru 30 anos depois e a democracia dos massacres”

Raça, sexualidade, ocupação drag e política”

“A dança como estratégia antigordofóbica e antirracista”

Uma vereadora trans e negra na terra de Getúlio e Jango”

“Veganismo popular e as periferias”


Omar Godoy,  colunista - Ideias - Gazeta do Povo

 


segunda-feira, 8 de agosto de 2022

“Eu sou o Bem” - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Barroso é um iluminista racional, um defensor da tolerância, das minorias, do progresso, da democracia, das liberdades — desde que todos esses conceitos sejam definidos por ele

O ministro Barroso, do STF, disse nesta semana que enfrentar conteúdos ilegítimos e inautênticos na internet demandam algum tipo de regulação das plataformas digitais. 

Afirmou também que redes sociais muitas vezes amplificam o ódio e a mentira porque trazem mais engajamento. “Há uma contradição entre o bem e o mal, porque é o mal que traz mais lucro e, portanto, é preciso dar incentivos para que as plataformas não tenham essa intenção de amplificar o que seja ruim.”

Luís Roberto Barroso, ministro do STF | Foto: Montagem Revista Oeste/STF/SCO
Luís Roberto Barroso, ministro do STF | Foto: Montagem Revista Oeste/STF/SCO

A declaração foi feita durante palestra “Fake news e liberdade de expressão”, promovida pela Corte. “A grande preocupação que precisamos ter é o fato de que as pesquisas documentam que a mentira, o ódio e sensacionalismos rendem muito mais engajamento do que o discurso equilibrado, razoável, verdadeiro”, disse o ministro. Barroso afirmou que a questão da regulamentação “passou ao largo” das discussões sobre o PL das Fake News. “Quando se fala nisso há uma grande preocupação das plataformas, mas evidentemente que esse tema tem que vir a debate, e um debate transparente e claro, de maneira bem aberta, ouvindo todos os lados da questão.”

Nossos ministros supremos demonstram muito tempo disponível para debates políticos, mas não conseguem comparecer ao Senado quando convidados pelos representantes do povo para discutir ativismo judicial. 
 Sobra tempo até para “lives” com youtubers bobocas, e impressiona como esses ministros tentam influenciar no papel legislador, sendo que não tiveram um único voto. Em especial Barroso, que já confessou desejar “empurrar a história” no sentido que considera progresso.

Barroso gosta de acusar os outros, de apontar dedos, mas olha pouco para o próprio espelho com um olhar crítico

Não foi a primeira vez que Barroso se colocou como o Bem incorporado contra o Mal. Quando participou de evento nos Estados Unidos, bancado pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, Barroso falou em nome da democracia e do Bem. Respondendo a uma pergunta da deputada Tabata Amaral, que recentemente declarou apoio a Lula, sobre o risco de Jair Bolsonaro ganhar as eleições, na visão dela, em decorrência do uso de fake news, Barroso afirmou que “é preciso não supervalorizar o inimigo”. Ele acrescentou: “Nós somos muito poderosos, nós somos a democracia, nós somos os poderes do bem”.

Barroso tem fala mansa, mas nem sempre conteúdo moderado. No debate protagonizado entre os ministros Barroso e Gilmar Mendes, sobre doação e campanha eleitoral, um intenso bate-boca ocorreu após Gilmar Mendes criticar julgamento da 1ª Turma em que se decidiu sobre o aborto, com voto vencedor do ministro Barroso.
 Acuado pela acusação de ativismo do colega, Barroso rebateu: “Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia”.

Podemos notar um padrão aqui: Barroso fala sempre em nome do Bem, enquanto os outros, se discordam dele, só podem fazê-lo por maldade, por estarem repletos de más intenções. Barroso é um iluminista racional, um ungido, um defensor da tolerância, da diversidade, das minorias, do progresso, da democracia, das liberdades desde que todos esses conceitos sejam definidos por ele.  
Há um grupo político, revolucionário na verdade, conhecido por tal postura fanática: os jacobinos, que lideraram a Revolução Francesa, e que instauraram o Terror da guilhotina e deixaram como legado a ditadura napoleônica.
 
Chesterton dizia não se preocupar com a falta de crença em Deus numa pessoa, mas, sim, com o que ela colocaria nesse lugar. 
Somos seres religiosos por essência, e mesmo o mais cético dos agnósticos costuma canalizar esse sentimento religioso para algum destino. 
A imensa quantidade de seitas modernas, como o veganismo e o ambientalismo, atesta isso. 
E a maior “religião secular”, sem dúvida, é a ideologia, ou o socialismo, agora redefinido como progressismo, para ser mais específico.

O maior experimento dessa “religião política” foi, certamente, a Revolução Francesa. Os jacobinos não queriam apenas melhorar as coisas, emplacar reformas necessárias; eles desejavam criar um mundo totalmente novo, do zero, com base apenas na “razão”, seguindo o Zeitgeist do Iluminismo, que via avanços concretos nas ciências naturais com a aplicação do conhecimento objetivo.

Na América, os revolucionários também se encantaram com as ideias abstratas, mas havia o contraponto das tradições conservadoras. Se Thomas Paine se inspirava nos caminhos franceses, havia um John Adams para oferecer resistência e impedir o radicalismo. Paine flertou com a mesma “religião” dos jacobinos, e chegou a escrever: “Está em nosso poder começar o mundo outra vez. Uma situação similar à presente não acontece desde os dias de Noé até agora”. Esse idealismo messiânico, que ansiava por um milênio social e uma nova humanidade, não saiu pela tangente na América, ao contrário do caso francês.

Esse clima francês de refundar a humanidade acabou saindo do controle, e a “vontade geral” se mostrou um aríete capaz de destruir tudo que encontrasse pela frente. A Revolução Francesa inaugurou a era dos totalitarismos, com uma “religião cívica” servindo de pretexto para a submissão plena ao Estado. As turbas não reagiram conforme o esperado pelos iludidos democratas seculares. A religião dos jacobinos era dogmática, tinha suas escrituras sagradas, seus profetas, rituais, e, como o cristianismo, era uma religião da salvação humana.

O rio de sangue derramado pelos revolucionários seria purificador, pensavam os crentes, que olhavam para locais elevados demais a ponto de reparar nesse sangue todo. Era a “pureza fatal” da ideologia jacobina, que guilhotinou inclusive seus principais idealizadores e executores, que se mostraram imperfeitos demais.

Voltemos a Barroso: ele já considerou Cesare Battisti um inocente, sendo que o comunista confessou seus crimes depois. Ele já considerou João de Deus alguém com poderes transcendentais, sendo que o médium foi acusado de abuso sexual em lote.  
Ele já espalhou que os bolsonaristas desejam a volta do voto em papel, sendo que o próprio site do TSE explica didaticamente que o voto impresso não tem nada a ver com a volta da cédula de papel. E por aí vai…

Barroso gosta de acusar os outros, de apontar dedos, mas olha pouco para o próprio espelho com um olhar crítico. Falta-lhe humildade, para dizer o mínimo. 
Se Barroso é apenas um oportunista hipócrita, não sei dizer. 
Mas há uma alternativa mais assustadora, sombria: ele acreditar ser mesmo uma alma incrível com a missão de purificar o mundo e salvar a democracia.  
Um ministro jacobino é simplesmente algo temerário!

Leia também “O resgate do juiz”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste