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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"A palavra 'direita' é aceita de novo no Brasil", afirma Bolsonaro ao "Washington Post."



"Até meses atrás, 'direita' era palavrão", diz Jair Bolsonaro ao "Washington Post". "De repente, a palavra 'direita' é aceita de novo no Brasil." 

Sob o título "Político tipo Trump pode levar o apoio de grupo religioso poderoso, os evangélicos", o jornal ouve, além de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, que o descreve como presidenciável "mais próximo daquilo em que os evangélicos acreditam". 

O "WP" anota que "Bolsonaro, que é católico, se casou na igreja da Malafaia, frequentada por sua mulher". E que, apoiados em redes de televisão e estrelas de futebol, "os evangélicos desafiam a presença imponente do Cristo Redentor sobre o país". 

Já o diário tradicional da esquerda no México, "La Jornada", publicou coluna do uruguaio Raúl Zibechi, "Brasil, reserva regional de conservadorismo". Citando "tendências" como o pentecostalismo na televisão e episódios como o ataque [merecido e bem menos intenso do que o necessário.] à filósofa Judith Butler, diz que o país poderá "influenciar toda a região —como há uma década, mas na direção oposta. 

Folha de S. Paulo 



 

Guedes, o sábio de Bolsonaro




Bolsonaro e seu guia econômico têm em comum visão apocalíptica da crise

[Bolsonaro presidente, situação irreversível - quanto mais sua candidatura for espancada mais cresce e se consolida.]


No mesmo dia em que Luciano Huck deixou seus bruxos a pé, o deputado Jair Bolsonaro anunciou que, eleito, convidaria o economista Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda. Eles tiveram dois encontros, somando seis horas de conversas: “Ainda não existe um noivado entre nós, mas um namoro”.  Um eventual noivado do economista liberal com Bolsonaro remete à resposta que o escritor Bernard Shaw deu à atriz Isadora Duncan quando soube que ela queria que tivessem um filho com sua beleza e a inteligência dele: “Devo recusar sua oferta, pois a criança poderia ter a minha beleza e a sua inteligência”.

O deputado, que combateu todas as reformas de Fernando Henrique Cardoso e chegou a sugerir que fosse fuzilado, disse, na mesma palestra em que se referiu ao namoro, que “a China não está comprando no Brasil, mas sim o Brasil.”  No mesmo dia, num artigo, Paulo Guedes dizia que “o caminho para a recuperação da dinâmica de crescimento econômico e a regeneração da classe política passa pelo aperfeiçoamento das instituições republicanas e pelo aprofundamento das reformas”.

Guedes e Bolsonaro têm em comum uma visão apocalíptica da crise nacional. O deputado arrancou risos de sua plateia perguntando:Se o Kim Jong-un jogasse uma bomba H em Brasília, e só atingisse o Parlamento, você acha que alguém ia chorar? (Ele está lá desde 1991, mas deixa pra lá.)  Menos beligerante, Guedes escreveu há uma semana que “só um reboot mental poderá nos salvar”. Seria um “reboot liberal-democrata”, mas como se faz isso, não explicou.

A piada de Shaw não esgota o namoro de Bolsonaro com Guedes. Em outubro, o deputado teve 33% de preferências numa pesquisa estimulada do Datafolha para um cenário de disputa de segundo turno com Lula (47%). Os candidatos da ordem política vigente não chegaram perto disso.  Um pedaço da desordem vigente precisa de um nome que, como uma esponja, absorva suas ideias. Parece fantasia, mas o temível Lula, que se proclamou uma “metamorfose ambulante”, entrou no Planalto em 2003 com a planilha de uma “Agenda Perdida” que originalmente havia sido encomendada a Ciro Gomes.

A ela se deveu o encanto da banca por Antonio Palocci. Deu no que deu. (Desde seu tempo como prefeito de Ribeirão Preto, Palocci tinha outros projetos na agenda. Ele está na cadeia, e Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro por corrupção.)  A esponja é esperta, absorve apenas o que lhe interessa, depois se enxágua. Ideias chegam ao poder pelo voto, como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso.

Paulo Guedes é um economista com passagem bem-sucedida pela academia e pela banca. Fez melhor que Roberto Campos, o corifeu do liberalismo nacional, que fracassou no mercado financeiro. Em 1964, ele foi nomeado ministro do Planejamento pelo marechal Castelo Branco.  A esponja da ditadura absorveu suas ideias durante três anos. Depois, como laranja chupada, ele foi para escanteio.

Em janeiro de 1974, querendo se aproximar do governo, mandou ao poderoso general Golbery um artigo em que expunha suas ideias a respeito da crise do petróleo. Ele disse o seguinte ao intermediário: “Para começo de conversa, qualquer coisa partindo dele será inoportuna. Se ele propõe uma ideia boa, vai pichar a ideia. A ideia é boa, mas se partir dele vai ser ruim. (...) É uma tristeza, mas é a verdade”.

Elio Gaspari, jornalista - Folha de S. Paulo

 

Governo aponta indícios de fraudes em 64 marcas de azeite

Ministério da Agricultura retirou do mercado 800 mil litros do produto

O Ministério da Agricultura retirou do mercado 800 mil litros de azeite de oliva impróprio para o consumo, envolvendo 64 marcas e 84 empresas brasileiras que apresentaram indícios de fraude. Foi confirmada a presença de azeite lampante (não refinado) e outros óleos, como a soja, não permitidos pela legislação. Além disso, em 311 amostras coletadas em todo o país, constatou-se também erros de informação nos rótulos.


A auditora fiscal federal agropecuária Fátima Parizzi, coordenadora geral de Qualidade Vegetal do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (DIPOV), informou que no período de abril a novembro de 2017 foram fiscalizadas 76 marcas comercializadas e realizadas 240 ações fiscais em todo o país. Cento e vinte profissionais auditaram empresas envasilhadoras, assim como o comércio atacadista e varejista.

Segundo a auditora, do total de amostras coletadas e encaminhadas ao Rio Grande do Sul para o Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGRO), laboratório oficial do MAPA, 33 apresentaram “resultados conformes”, ou seja, estavam dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pelo órgão. Para o azeite de oliva, em 43 amostras, os exames laboratoriais resultaram “não conformes”, por se enquadrarem como ”fora do tipo”, ou ”desclassificado”. A comercialização foi suspensa e os produtos retirados do mercado”.

Além das disparidades qualitativas relacionadas ao produto foram identificadas ainda irregularidades na rotulagem, contendo informações incorretas ou dúbias quanto à composição do produto envasilhado. Isso resultou na retirada de 380 mil litros do mercado.
Fátima Parizzi enfatizou que, para coibir as fraudes, o Ministério da Agricultura adotou medidas complementares de controle da entrada do azeite lampante no Brasil, reduzindo significativamente a importação. É um dos principais produtos utilizados para fraudes na industrialização do azeite.

De outubro de 2016 a fevereiro de 2017 o Brasil importou 650 mil litros de azeite lampante. A partir de março de 2017, quando se intensificaram as ações de fiscalização e o acompanhamento técnico dos lotes, desde a origem até o processamento, reduziu-se sua importação a 84 mil litros, os quais ainda se encontram em processo de internacionalização, aguardando o refino.  — Além das medidas punitivas aplicadas pelo MAPA, as informações sobre as empresas fraudadoras foram repassadas aos Ministérios Públicos Estaduais e também ao Federal. Até o momento foram assinados quatro Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) no Paraná. Nos outros estados estão em andamento processos de investigação que com certeza demandarão novas ações corretivas e consequentes punições — disse ela.

A auditora Parizzi alerta os consumidores sobre a origem do azeite.
— Praticamente 100% das marcas envasilhadas no Brasil apresentaram problemas, enquanto que nas marcas envasilhadas no país de origem são mínimos os índices de não conformidade.

O Ministério orienta os consumidores a ficarem atentos à denominação de venda do produto, descrito no rótulo frontal, uma vez que as empresas induzem o consumidor a erro. O termo “azeite de oliva” aparece em destaque, mas em letras miúdas constam as expressões “óleo misto ou composto, temperos e molhos”. É preciso atentar para as promoções, pois um frasco de azeite de oliva contendo 500 ml raramente será comercializado com preços inferiores a R$ 10,00.

As informações relativas à qualidade do azeite de oliva virgem devem constar na vista principal do rótulo, lembrando que poderá ser também virgem ou extra virgem. Para o azeite de oliva, quando descrito como um produto composto, devido a mistura de azeite de oliva virgem com o azeite de oliva refinado, deverá ter a informação qualitativa no rótulo de” tipo único”.

O Globo

Cabeças pretas do PSDB exigem privilégio para os servidores. O samba-do-tucano doido 1

Ala do partido faz três exigências para, quem sabe!, votar em favor da reforma da Previdência: uma aceita, uma inaceitável e outra indecorosa

Eu tenho alguns problemas que são, admito, também de fundo moral com o que se chama habitualmente de “gente fingida”. A ala tucana que quer romper com o governo alega, intramuros, que o partido não pode arcar com o peso da impopularidade da gestão Michel Temer. Sei… Será que os números serão os mesmos no ano que vem? Mas deixemos isso pra lá agora. Havia outro elemento silencioso a pressionar em favor da retirada: os tais “cabeças pretas” não queriam e não querem se comprometer com a reforma da Previdência. E aquele conversa de “votaremos a favor do Brasil, mas não precisamos, para isso, de cargos?” Neste blog, escrevi faz tempo: isso aí é medinho não-declarado da reforma. E isso agora está claro.


O partido, ou  fatia considerável dele, faz três exigências para votar a favor das mudanças. E olhem que Ricardo Trípoli (SP), o líder da legenda na Câmara, ainda assim, não garante os 46 votos, não. Os tucanos querem: a: integralidade no benefício por invalidez, não importa o local do acidente, se no trabalho ou não; b: que a pessoa possa acumular benefícios, como aposentadoria e pensão, desde que não ultrapasse o teto de R$ 5.531;
c: que os servidores que ingressaram na carreira até 2003 tenham aposentadoria integral (igual ao último salário) e que não valha para eles a regra da idade mínima; para tanto, teriam de pagar um pedágio.

Passo por cada uma rapidamente, destacando que as três propostas elevam os gastos em vez de diminuir: – a primeira, a da invalidez, pode ser considerada aceitável.  Afinal, estamos a falar de pessoas que, em tese ao menos, têm mais dificuldades para encontrar fontes alternativas de renda; – a segunda, a do acúmulo, já é inaceitável porque, como se nota, não vincula o teto do recebimento ao valor da contribuição ou ao tempo. O estabelecimento do teto não elimina o fato da acumulação de vencimentos; – a terceira, a dos servidores, além de inaceitável, é indecorosa.
[uma pergunta sobre uma situação hipotética, mas que existe aos milhares: um servidor ingressou no serviço público em 2002 e desde então tem contribuído sobre o salário integral - vamos supor R$15.000,00, alíquota de 11% - e por ter apenas 45 anos, tem que trabalhar no mínimo mais 17 anos.
Óbvio que seu salário de quinze mil reais não pode ser reduzido. 
Mesmo que passe a contribuir sobre apenas o teto do INSS - quase R$ 6.000,00 - e com alíquotas que começam em 8%, atingindo os 11%  apenas sobre o valor acima de quatro mil e poucos reais, ele contribuiu durante mais de quinze anos  com um valor quase quatro vezes o máximo que o trabalhador da iniciativa privada contribuiu (o máximo atual do INSS, iniciativa privada, fica abaixo dos seis mil reais).
É justo que quando este camarada que hoje contribui com R$1.650,00 - situação que perdura há quinze anos - ao se aposentar, receba no máximo R$5.800,00 (valor aproximado do teto do INSS)?
NÃO. É necessário que haja uma regra de transição, que permita que sejam consideradas as duas situações.] 


Cadê o partido que votaria a favor do Brasil, estando ou não no governo? É admissível que sejam os tucanos a abrir uma brecha como essa, numa reforma que, convenha-se, já é mitigada? Observem que a alteração mexeria com duas questões essenciais de uma proposta que já é bastante suave e aquém das necessidades: idade mínima e vencimentos integrais para servidores.


Nesta terça, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que fala com entonação de Torquemada contra os gastos quando dialoga com os tais mercados, resolveu dar piscadelas para as propostas dos tucanos. Sim, de forma realista, admitiu que já é difícil aprovar a reforma com os votos do PSDB; sem eles, ficaria praticamente impossível. Daí ter dito que talvez conviesse ao governo ceder às ditas sugestões, que sugestões não são. Aécio Neves, presidente licenciado, defende o apoio à proposta do governo e quer que o partido feche questão. Mas parece que isso não acontecerá.


A verdade é que o PSDB não tem ideia nenhuma para a Previdência que não seja tentar garantir alguns privilégios que a já mitigada reforma do governo não prevê. A carta de intenções do partido, tornada pública nesta terça, deixa isso muito claro pelo caminho da omissão.

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Procuradora-geral da República é, por enquanto, mera caudatária dos métodos heterodoxos postos em prática por seu antecessor