Luiz Inácio Lula da
Silva desembarcou em Brasília para, vamos dizer,
botar ordem no PT — a ordem
lulista, naturalmente. Ninguém como este
senhor entende com precisão a ética do troca-troca político, do “faz pra mim que faço pra você”, do toma-lá-dá-cá. Lula é professor onde qualquer outro é amador.
E não é de hoje. Desde os tempos em que era sindicalista e negociava uma coisa com os empresários e
outra com os trabalhadores — para prevalecer depois o que tinha combinado
com os patrões —, ele não tem limites.
Sua ética têm franjas a perder de vista. Isso lhe vale a fama de gênio
político. Não! Ele não é gênio. É só um
homem sem princípios.
Lula se encontrou com
12 deputados graduados do PT nesta quinta. Deu a orientação: o objetivo número um é
barrar o impeachment, e, pois, a ordem é manter, e não depor, Eduardo Cunha. Ele demonstrou clara insatisfação com os 34
deputados petistas (inicialmente, 32;
depois, outros dois se juntaram), de um total de 62, que resolveram
endossar a denúncia contra Cunha enviada ao Conselho de Ética. Lula não quer saber dessa conversa. Ele tem
um objetivo estratégico: impedir que o presidente da Câmara aceite a
denúncia contra Dilma. E, em nome disso, tudo é
permitido.
Lula deixa pruridos
morais para a oposição. Ele sabe que, ainda que Cunha se livre de um
processo de cassação na Câmara, a sua situação no STF será muito difícil caso
se comprovem as acusações de que mantém contas na Suíça. Os petistas não precisam aparecer derrubando Cunha — os ministros do
Supremo, um dia, poderão fazê-lo. Então, por quê?
O ex-presidente certamente sabe que a
tendência é que o STF mantenha a liminar que proíbe a oposição de recorrer ao
plenário da Câmara para que se instale a comissão especial que vai avaliar a denúncia
contra Dilma. Tudo, assim, depende de
Cunha. Então por que brigar com o deputado? Isso, pondera o chefão petista, é para a oposição…
Lula não leu o livro, porque não lê nada, “Moral e Revolução”, de Trotsky, mas ele
o conhece na prática. Desenvolveu aquela deformação na luta política. Tivesse
recebido a lição literal, o Apedeuta diria, como Trotsky, que não existem normas
morais universalmente válidas. Ou, para ser literal, conforme ensina o
revolucionário socialista: “Em todas as
circunstâncias importantes, os homens têm um senso muito mais imediato e
profundo de seu pertencer a uma classe do que de seu pertencer à sociedade. As
normas morais obrigatórias para todos adquirem, dentro da realidade, um
conteúdo de classe”.
Lula não pensa
exatamente em termos de classe porque ele nem sabe direito o que é
isso. Pensa no PT. Assim, ele tem claro
que as normas morais que empurraram
os oposicionistas para se manifestar contra Cunha, para cobrar que se afaste da
presidência da Câmara, não devem valer
para o PT.
Para Trostky, evocar uma norma moral
abstrata era só uma das tramoias a que recorria a burguesa para garantir seus
privilégios na luta de classes. O Babalorixá de Banânia pensa a mesma coisa em
relação a seu partido: não existe um
Cunha bom nem um Cunha mau; existe o que interessa e o que não
interessa ao PT.
Para Lula, é fácil evocar esse amoralismo porque sabe que a moral de seus
adversários é outra. É um clássico do
esquerdismo
contar com os pruridos dos adversários e inimigos para, então, não ter prurido nenhum.
Lula, em suma, se esforça para que os petistas possam oferecer a Cunha aquilo que as
oposições, constrangidas, já não podem fazê-lo, vendo-se, inclusive, compelidas — em nome do tal “moralismo abstrato” —
a dar declarações contra Cunha. Não ele!
O chefão petista mediu a realidade e
viu que, tudo o mais constante, com a colaboração de
ministros do STF, o impeachment, para prosperar, depende de um ato inaugural. E esse ato inaugural é de Cunha, que tem de aceitar a denúncia. Sem
isso, nada feito!
O chefão petista, em suma, desembarcou
em Brasília para lembrar que a vantagem
do PT está em não ter limites. E é isso que distingue
a sua moral da alheia.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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