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domingo, 22 de novembro de 2015

Abu Bakr al-Baghdadi se diz o sucessor de Maomé

A figura oculta que comanda o exército extremista do EI e o front digital do califado do Estado Islâmico

Enquanto muitos de seus seguidores não se importam de postar selfies para propagar a mensagem do Estado Islâmico, o líder do grupo aparece o mínimo possível, por questões de segurança e para aumentar a mística em torno daquele que se diz o sucessor de Maomé. Abu Bakr al-Baghdadi anunciou a criação do califado em julho de 2014, instaurando um regime que promove execuções em massa, estupros e escravidão. Só foi visto em vídeo uma vez, durante um sermão em Mossul (Iraque). Para espalhar sua biografia, como parte da propaganda do EI, ele conta com um exército de mídia montado por Ahmed Abousamra, um sírio que se formou em Tecnologia da Informação em Boston (EUA) e teria sido morto em julho, durante um bombardeio.

 Baghdadi: califa só foi visto em vídeo uma vez, em missa no Iraque, - AP / 5-7-2014
A máquina que Abousamra formou também dissemina o culto à personalidade de Baghdadi. Sites jihadistas examinados pelo jornalista Abdel Bari Atwan informam que o “califa Ibrahim”, como o líder quer ser chamado, vem de uma família iraquiana com vários imãs e teria mestrado e doutorado em História e Cultura Islâmica pela Universidade de Bagdá. São informações que visam a legitimar suas credenciais religiosas para que não seja visto apenas como um líder militar.

Em seu livro, Atwan narra as impressões de um aliado que passou dois anos ao lado de Baghdadi numa prisão militar americana no Iraque, a partir de 2004. Segundo essa fonte, o líder do EI é um homem carismático e controlado, que carregava um permanente sorriso no rosto. Ao ser libertado, ameaçou o soldado americano que guardava os portões de saída: “Nós vamos encontrá-lo de novo nas ruas, em algum lugar, algum dia.”

Grupo jihadista expande uso das redes sociais para recrutar e disseminar terror

Uma britânica que vive no território ocupado pelo Estado Islâmico (EI) postou há alguns meses em sua conta no Twitter a foto de uma sobremesa de creme com pedaços de chocolate feita em casa, repetindo o que milhões de pessoas fazem o tempo todo nas redes sociais. A diferença é que poucas horas depois, com o mesmo tom banal, ela usou o microblog para dizer que a “alma” de seu marido acabara de fazer a melhor “transição” possível e pediu que os céus o recebessem como mártir, sugerindo que ele morrera numa missão suicida. Não há como saber a verdadeira história da internauta identificada como Al-Britaniya e cujos posts, assim como muitos outros, foram examinados pelo jornalista palestino Abdel Bari Atwan numa investigação sobre a ascensão do EI. 


 
O que Atwan pode afirmar com certeza é que nenhum outro grupo terrorista jamais soube explorar a tecnologia com tanta eficácia quanto os jihadistas que levaram o horror a Paris no último dia 13. Nas redes, eles não apenas recrutam integrantes e divulgam sua barbárie, como também vendem a imagem ilusória da guerra santa como se fosse um estilo de vida. 
 Para Atwan — um editor que ficou conhecido por ter entrevistado Osama bin Laden duas vezes na década de 1990 e que teve acesso a lideranças do EI —, a arma mais poderosa do grupo que ocupa parte da Síria e do Iraque é sua máquina de tecnologia da informação. É um arsenal que mescla o discurso fanático com a linguagem e a estética das redes sociais, como imagens no Instagram de extremistas islâmicos ao lado de gatinhos ou de mães com crianças armadas com Kalashnikov.   No recém-lançado livro “Islamic State: the Digital Caliphate” (“O Estado Islâmico: o califado digital”, ainda sem tradução para o português), o jornalista descreve uma impressionante estrutura que inclui jovens programadores, hackers, videomakers, jornalistas, editores e desenvolvedores de aplicativos. 

A missão é pintar assassinos como heróis e recrutar mais integrantes, paradoxalmente usando os instrumentos do século XXI para pregar a volta ao modo de vida adotado pela primeira geração de muçulmanos no século VII, de acordo com sua visão totalitária do Islã.
‘Jihadista cool’

Nessa batalha virtual, eles já criaram uma versão própria e fechada do Facebook; lançaram games em que a meta é massacrar soldados americanos; editam a revista digital “Dabiq”; e compartilham vídeos feitos com câmeras GoPro, portáteis e de alta resolução, que permitem a produção de diários visuais. “O fluxo incessante de informações dos extremistas também é usado para construir a imagem de um lugar emocionalmente atraente ao qual as pessoas acreditam ‘pertencer’, onde todo mundo é ‘irmão’ ou ‘irmã’. Uma espécie de gíria, fundindo adaptações ou abreviações de termos islâmicos com a linguagem de rua, está em evolução entre a fraternidade de língua inglesa nas plataformas de mídia social, em uma tentativa de criar um ‘jihadista cool’”, escreve Atwan. Baseado em Londres, ele é o editor do site de notícias árabe Ray al-Youm. 

Para escrever o livro, entrevistou centenas de pessoas na fronteira entre a Turquia e a Síria e se comunicou com informantes do EI.  — Eles estão ganhando a guerra digital. Agentes do mundo todo estão trabalhando contra os extremistas e, ainda assim, eles conseguem postar milhares de tuítes diariamente. Manipulam a jihad cibernética com ajuda de especialistas. Para essas pessoas não se trata de um emprego, mas de uma missão — explica Atwan.

Os atentados em Paris voltaram a mostrar como os terroristas estão deixando as agências de inteligência para trás. Eles usaram o aplicativo Telegram, que permite a troca instantânea de vídeos, textos e mensagens de voz, para reivindicar os ataques, já que o Twitter e outras plataformas mais populares vêm redobrando os esforços para bloquear extremistas. O principal apelo do serviço, criado há dois anos por dois exilados russos que se opõem ao governo de Vladimir Putin, é o envio gratuito de mensagens criptografadas.

 As contas usadas pelos radicais em diferentes plataformas acabam sendo bloqueadas, como aconteceu nos últimos dias com o Telegram, que anunciou ter suspendido 78 canais ligados ao EI. Segundo Atwan, em 2014 o governo americano removeu 45 mil sites ou contas em redes sociais relacionados ao EI, enquanto a polícia britânica deleta 1.100 itens por semana. Porém, na vertiginosa rotina digital de uma geração que não sabe o que é a vida sem internet, as mensagens sempre encontram um caminho virtual para atingir seu público.

Propaganda viral
Pesquisas feitas pelo Centro Internacional para Estudos da Radicalização, da universidade King’s College de Londres, indicam que não são apenas os combatentes que se dedicam a viralizar a propaganda do terror. A guerra virtual conta com o que os especialistas definem como uma crucial comunidade de disseminadores: internautas que não estão nos campos de batalha na Síria ou no Iraque e se dedicam a agregar uma imensa quantidade de informações vindas de diferentes fontes para distribuir o brutal discurso do EI, alimentando o conflito à distância. 

Assim, imagens de operações militares no Oriente Médio e de execuções, que são prática comum entre as brigadas fanáticas, acabam nas telas de smartphones do mundo inteiro em tempo real. Uma parte dos simpatizantes vai muito além do apoio virtual, deixando suas casas em cidades como Londres e Paris para se juntar aos fundamentalistas. 

Prometendo o paraíso e a salvação, com a ajuda de um conteúdo cuidadosamente produzido para influenciar os jovens, os extremistas seduzem os que não se identificam com os valores ocidentais, manipulando as mensagens do Alcorão. — Os terroristas exploram narrativas que todos os muçulmanos conhecem, como a da invasão das Cruzadas. Para piorar a situação, governos árabes autoritários, para desviar a atenção de sua própria responsabilidade para com os desafios de seus países, fazem propaganda contra o Ocidente dia e noite, acusando países ocidentais por toda a humilhação e alienação que alguns muçulmanos sentem — analisa Nadia Oweidat, PhD em Estudos Orientais pela Universidade de Oxford, que pesquisa o uso da internet pela juventude árabe.

Especialista em terrorismo islâmico, Atwan passou três dias em 1996 nas cavernas afegãs de Tora Bora, onde Bin Laden, que cinco anos depois comandaria os atentados de 11 de Setembro, se escondia. Uma das diferenças entre a al-Qaeda e o EI, diz ele, é que o grupo comandado pelo terrorista saudita enfatizava a vingança contra os EUA e seus aliados, enquanto a nova geração de terroristas, que se fortaleceu com o vácuo de poder na Síria, acredita que pode espalhar o caos entre a maior quantidade possível de “infiéis” para expandir o Islã sob sua ótica radical. Para isso, contam com a tecnologia.


— Eles têm especialistas que serviam ao ditador Saddam Hussein e, além disso, recrutam militantes no Ocidente que têm um alto nível de instrução e dominam as mídias sociais. Não estamos falando de amadores — diz Atwan, lembrando que, se Bin Laden dependia de veículos como a TV Al-Jazeera para divulgar suas mensagens, o EI explora o imediatismo de canais como o YouTube com muito mais liberdade.

A capacidade tecnológica do EI também facilita a manipulação de fundos. A imprensa britânica informou que o grupo já teria juntado uma fortuna em bitcoins, moeda virtual que pode ser negociada sem instituições financeiras. O próximo passo dessa guerra on-line, teme Atwan, poderia ser um ataque cibernético para atingir alvos como o Pentágono.
— Eu não ficaria surpreso — resume.


Fonte: O Globo

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