Segundo a polícia legislativa, sim
Um grupo
de cinco pessoas que participou de uma performance com lama em corredores do
Congresso, na tarde desta quarta-feira, foi preso em
flagrante sob alegação de crime ambiental.
De quem é a culpa? De todos nós que nos acomodamos
quando atos de indignação, se transformam em crimes ambientais, ou quando "O gigante acorda" e sua
liberdade de expressão, de respostas, se "transformam"
em vandalismo e libertinagem. Óbvio que não se deve combater "violência com violência", mas mostrar a outra face sem fazer nada, está nos custando a
vida. Até onde iremos? A lama já está sendo posta sob nossos corpos, nos
afundando dia após dia num mar de toxicidade imensurável, junto a ela vem toda
onda de corrupção, ganância e poder. Vamos derrubar mais árvores, poluir rios,
tapar as vistas pra toda lama de horror, e ficar sentadinhos olhando as
notícias no nosso confortável sofá?
Notícia
O auto de
prisão feito pela Polícia Legislativa, ao qual a BBC
Brasil teve acesso, diz que os manifestantes foram detidos com base na lei de crimes ambientais
(9.605/98). O documento oficial cita o artigo 65 ("pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento
urbano"), além dos artigos 140 (injúria)
e 329 (resistência) do Código Penal.
Segundo o
texto assinado por Roberto Rocha Peixoto, diretor da Polícia Legislativa da
Câmara dos Deputados, um dos jovens foi "flagrado
pichando algumas paredes e piso da Câmara dos Deputados, sujando as pessoas que
transitavam no local, bem como ter resistido à prisão".
O
protesto aconteceu no anexo 2 da Câmara, próximo ao Departamento de
Taquigrafia. Os manifestantes seguravam cartazes com os dizeres "Terrorista é a Vale" e "Código de Mineracao + Mariana +
Morte". O alvo era a controladora da mineradora Samarco, dona da
barreira de rejeitos de mineração que estourou há 20 dias, espalhando o
equivalente a 25 mil piscinas olímpicas de resíduos químicos em Minas Gerais e
no Espírito Santo.
À
reportagem, a presidência da Câmara afirmou, em nota, que "jovens que teriam entrado na Câmara como visitantes picharam
o local com uma substância que se assemelha a lama". A nota prossegue: "a palavra 'morte' foi identificada entre as pichações, o que pode
significar uma referência à tragédia ambiental em Mariana (MG)".
'Paradoxo'
Logo
após a prisão dos cinco manifestantes, os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB),
Chico Alencar e Ivan Valente (ambos do PSOL) pediram a liberação imediata dos
detidos. À BBC Brasil, Alencar classificou como "paradoxo" a prisão por crime ambiental de manifestantes
que criticavam o derramamento de lama. [ não se trata de paradoxo; a tragédia de Mariana deve ser investigada e os culpados exemplarmente punidos - de preferência com prisão, já que as multas não serão pagas.
O erro dos manifestantes foi a forma utilizada para protestar. Tinham o direito de protestar mas sem cometer crimes.
O Código Penal tipifica o delito cometido, incluindo no aspecto 'exercício arbitrário das próprias razões'.
Para evitar alongar sobre o assunto, encerro com uma pergunta: é lícito que alguém abalroe seu carro e você se arme com uma marreta e quebre o carro que bateu no seu?]
O erro dos manifestantes foi a forma utilizada para protestar. Tinham o direito de protestar mas sem cometer crimes.
O Código Penal tipifica o delito cometido, incluindo no aspecto 'exercício arbitrário das próprias razões'.
Para evitar alongar sobre o assunto, encerro com uma pergunta: é lícito que alguém abalroe seu carro e você se arme com uma marreta e quebre o carro que bateu no seu?]
"A gente vive na Câmara dos
Deputados do Brasil um tempo de inversão absoluta de valores", diz.
"Que paradoxo total é esse? Quem vem se manifestar na casa do povo acaba sendo
detido sob acusação de crime ambiental. Mas os responsáveis pelo mar de lama da
Samarco e da Vale, que vitimou diretamente 22 pessoas, incluindo os 11
desaparecidos, e os todos os danos ao rio Doce, chegando ao oceano Atlântico,
continuam soltos."
"Qual é o real crime
ambiental?", questiona
o deputado, afirmando que a liderança do PSOL na Câmara foi cercada pela
Polícia Legislativa durante quatro horas. Parte dos manifestantes procuraram
representantes do partido em busca de defesa. Sobre as alegações de crime
ambiental, a Samarco tem dito que "não
há confirmação das causas e a completa extensão do ocorrido" e que "investigações e estudos apontarão as
reais causas".
Outra
manifestação de repúdio à mineradora, envolvendo lama, aconteceu na sede da
Vale, no Rio de Janeiro, logo após o derramamento em Mariana. "Naquela ocasião ninguém foi
preso", diz Alencar. Segundo a BBC Brasil apurou, parte dos manifestantes desta tarde
Brasília faz parte do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), enquanto outros participam de movimentos
sociais que criticam os impactos sociais e ambientais da atividade mineradora.
Detenção
À
reportagem, a Câmara dos Deputados disse que as pessoas envolvidas no protesto
foram "detidas e encaminhadas ao Departamento
de Polícia Legislativa, onde seguem prestando depoimento sobre o
ocorrido".
O
advogado Fernando Prioste, que defende os presos, disse que eles devem passar a
noite detidos. "Foram presos por
fazer um protesto lícito contra as violações de direitos humanos perpetrados
pela Vale", disse. [o que
conta é a ocorrência de uma transgressão da legislação vigente e os seus
autores devem ser devidamente identificados,
os crimes que praticaram devidamente tipificados e processados na forma
da lei.
Cabe ao juiz que receber a denúncia
do MP analisar a existência de eventuais circunstâncias atenuantes e/ou
agravantes e proferir a sentença.
O advogado dos acusados tem o direito
de entender que não houve crime e apresentar as razões do seu entendimento
quando da defesa dos réus.]
Fonte: BBC
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