O grau de perplexidade que toma conta dos brasileiros só aumenta. Como é
possível conceber a ideia de um senador da República, líder do Governo,
destacado quadro do PT, em pleno exercício do mandato, articular a fuga
de um delator de escândalos? E ainda garantir financiamento através de
um banqueiro? Não foi através de intermediários. Ele - em pessoa! -
negociou. Propôs alternativas de rota. Arrotou influência, inclusive no
Supremo Tribunal, e falou do interesse do Governo no caso. Cada passo
gravado e documentado.
E o que dizer de um presidente da Câmara,
denunciado por enriquecimento ilícito, tentando escolher quem pode
conduzir o processo e como ele deve ser investigado por seus crimes? A
mandatária não sabe quando e por que vários de seus assessores diretos
se meteram em maracutaias escabrosas. Nem responde de maneira
convincente a muitas das dúvidas de participação que lhe pesam sobre a
cabeça, de financiamento ilegal em campanha, de crime de
responsabilidade nas pedaladas fiscais entre outras. Seu mentor, e
articulador do projeto de poder que por treze anos vem assaltando os
cofres do País - fazendo “o diabo”! -, alega que as acusações a seus
amigos, filhos, noras e agregados não passam de mera perseguição.
Enquanto o chefe do Partido dos Trabalhadores, no afã de defender
correligionários (muitos atrás das grades), aponta que eles são
“guerreiros do povo” a serviço de missões partidárias, embora pegos em
flagrante nas pilhagens que deram origem ao “mensalão” e ao “petrolão”.
Parece piada. Lamentavelmente não é.
O cinismo desse grupo ultrapassou
as barreiras do aceitável. O tamanho da sujeira que espalham há anos
parece não ter fim. É uma tentativa milimetricamente planejada de
esculhambação geral da República. Surreal! Qualquer cidadão que guarde
um mínimo de caráter, de noção do certo e errado – independente de
opções partidárias – tem que se sentir ultrajado. Deve estar atento e
não temer reagir. Como chegamos a esse ponto? Estão roubando nosso País a
luz do dia! Roubando o futuro, os sonhos, as chances de dar certo, o
dinheiro de cada um que contribui, enquanto afrontam a dignidade
nacional.
Pergunta elementar: onde estão os líderes para frear tamanho
descalabro? O que foi feito dos homens públicos de bem, capazes da
abnegação e luta a favor do interesse comum? Quem vai tomar para si a
bandeira da faxina moral e liderar um basta? Apareçam aqueles que
entraram na vida política por convicção de que poderiam ajudar o
próximo, sem a velada ideia de se locupletar! Hoje as esperanças dos
brasileiros parecem residir nas instituições da Justiça, que funcionam
plenamente e de maneira louvável. Respondem na letra da lei com a
punição que a Carta Magna contempla e a sociedade almeja. Sem receios ou
tergiversações. A frase da ministra do Supremo, Carmem Lúcia, diante
das últimas revelações, foi lapidar do que vem pela frente. Disse a
ministra, para que ninguém se esqueça: “Houve um momento em que a
maioria de nós acreditou que a esperança tinha vencido o medo. Depois
descobrimos que o cinismo tinha vencido a esperança. Agora o escárnio
venceu o cinismo. Mas o crime não vencerá a justiça”.
Fez claramente uma
referência e uma resposta enfática ao já desacreditado slogan de
“esperança” maquinado por Lula do PT. No mesmo tom, o ministro Celso de
Mello alertou: “A captura do Estado e de instituições governamentais por
organizações criminosas é um fato gravíssimo. É preciso esmagar, é
preciso destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos”. Aqui
está posta a reação. Que o Brasil nunca mais tenha de engolir calado
tanta podridão, tantos políticos de má índole e agremiações partidárias
que se transformaram em meras centrais de práticas ilícitas, com
ideologias mafiosas e quadros especializados na arte da ladroagem e
safadeza institucionalizada. Ano que vem, mais uma vez, ocorrerão
eleições municipais, com a volta as urnas. Que o povo dê ali uma
resposta consistente e consciente contra esses maus elementos. E que
eles sejam varridos dos postos que ainda ocupam.
Fonte: Editorial - Carlos José Marques, diretor editorial, Isto É
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