Como todo o país já sabe, a crise política chegou a um ponto sem volta:
tanto o Poder Executivo quanto o Poder Legislativo encontram-se
acuados, paralisados e incapazes de cumprir seus papeis. O país está à
matroca.
Em dois dos três poderes essenciais do governo não se vêem lideranças
capazes de indicar um rumo, uma saída para o beco onde nos metemos. O
Poder Judiciário, por outro lado, ou mais especificamente o STF, mantém
alguma ordem e coerência, com a bela e firme fala da Ministra Cármen
Lúcia, na quarta feira, a apontar uma direção clara em uma questão
capital: o crime não vencerá a Justiça.
Mas os Poderes que devem enfrentar diariamente as tarefas de governar
são os outros dois e a maioria dos seus integrantes só se ocupa da
tarefa de, na melhor das hipóteses, sobreviver. Enquanto isso, o país afunda na recessão, a corrupção continua a
campear e a inflação se expande apesar da estratosférica taxa de juros
que o Banco Central determina, enquanto o PIB ameaça recuar dez por
cento entre 2015 e 2017 e não há investimentos na economia produtiva.
A ausência de um caminho, de um vestígio de consenso no Congresso, de
alguém que nos diga algo sobre o futuro causa perplexidade na sociedade
civil e um clima de salve-se quem puder e de vale tudo na sociedade
política. Em síntese, trata-se de uma situação perigosa em que a continuação do
presente é inaceitável, além de virtualmente impossível, e não há planos
para a construção do futuro. Não se fala em um modelo político
alternativo.
Os analistas vão até esse ponto e aí se paralisam. Algumas pessoas,
como eu, frisam que a situação, embora careça de uma solução visível,
fácil e tranquila do ponto de vista institucional, não se presta a um
tipo de saída que implique entregar às Forças Armadas a condução do
País. Nem os próprios militares desejam que isso aconteça.
Além desse ponto não temos coragem de avançar ou conjecturar. Mas a
consequência natural de que o Executivo e o Legislativo não tenham
qualquer contribuição a dar para a construção do nosso futuro é que essa
missão recai sobre a sociedade civil, em harmonia com a Justiça e com a
Constituição
Cabe à sociedade civil provocar e liderar o debate sobre o nosso futuro
político. A tarefa é difícil e cheia de escolhos. É preciso construir
uma nova legitimidade. É preciso afirmar os objetivos em torno dos quais
nós nos reuniremos. Exemplo:
* Reforma política, renovação completa dos partidos, eleições o mais cedo possível.
* Fiscalização e regulação das atividades públicas e empresariais;
reforço da Procuradoria Geral da República, do Ministério Público, da
Polícia Federal; criação de órgãos de controle da própria sociedade
civil.
* Criação de grupos de articulação política com o propósito de desenvolver o debate propositivo.
* Identificação dos adversários: proto-fascistas, assassinos e
linchadores do povo, “bancada da bala”, articuladores de golpes
anti-democráticos, corruptos em geral.
Acima de tudo, é preciso evitar a violência e mais ainda qualquer
fantasia juvenil de ação armada. Isso é o que os adversários da
renovação querem que aconteça para esmagar o movimento que está por
nascer em nome da justiça democrática.
Fonte: Blog do Noblat - José Viegas
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