Um teste de
ferro para o Governo Dilma foi armado através das pressões visando a
derrubada do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Setores do PT,
liderados por Lula, deixaram clara sua insatisfação com o ministro
devido aos rumos das investigações da PF, que correm soltas e apontam os
filhos do ex-presidente como intermediários de negócios suspeitos.
Cardozo tem a convicção de que ninguém está acima da lei.
Expressou isso
claramente na entrevista exclusiva que concedeu a ISTOÉ e, sutilmente, convocado a barrar tais “abusos” disse não.
Os partidários do lulopetismo consideram que a justiça está passando dos
limites e exigem a interferência do Governo. Nessa contenda está em
jogo o poder da presidente Dilma de continuar a dar as cartas. Se ceder
aos apelos mais uma vez entrega a mesa. O movimento da eventual saída de
Cardozo neste momento dá margem a duas interpretações, ambas perigosas.
A primeira: de que Lula e o PT pretendem mesmo interferir nos trabalhos
de apuração da polícia e até alterar suas conclusões, ferindo assim um
dos principais instrumentos garantidores da democracia.
Nesse caso se
estabelece um contrassenso, dado que o próprio PT vangloriava-se até aqui
de ter viabilizado as condições para que os escândalos fossem apurados
“como nunca antes na história do País”. Outra dedução, igualmente grave,
decorrente de um afastamento abrupto de Cardozo, seria a de que Dilma
entregou em definitivo o comando político do segundo mandato ao seu
mentor. Na prática – todos sabem! – esse movimento já foi feito.
A troca
de Mercadante na Casa Civil sinalizou a mexida maior nessa direção.
Lula quis e Dilma, a contragosto, atendeu. É voz corrente no Planalto,
na Esplanada e em qualquer gabinete de Brasília: ela não possui o
controle, muito menos a interlocução adequada, seja no Congresso, muito
menos com o Partido que lhe dá base. A insatisfação vem principalmente
de lá. Por objetivos e atitudes, Lula e Dilma estão hoje em direções
opostas. O tempo de permanência da presidente no poder é inversamente
proporcional às chances de reeleição de Lula. Quanto mais ela ficar a
frente do cargo, com a impopularidade recorde e decisões equivocadas
aqui e ali, maior será o desgaste de Lula. As pesquisas já registram o
estrago.
No último levantamento da CNT, Lula perde implacavelmente para
todos os opositores tucanos, em especial para Aécio Neves (32% contra
21%) na consulta sobre uma possível disputa eleitoral. Lula culpa Dilma
e, por tabela, seu preposto na Justiça, Cardozo, pela queda de
prestígio. Exige reparação. Ensaia nomeações e nos bastidores veicula
versões de que não confia mais na pupila. Com o bombardeio do aparato de
Cardozo sobre seus filhos arranjou um pretexto para uma separação
litigiosa de criador com a criatura.
Fonte:
Carlos José Marques, diretor editorial - IstoÉ
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