O ministro José Eduardo Cardozo defende que o país faça o debate
sobre os erros econômicos e políticos do governo, mas afirma que nenhum
erro dá base para impeachment. Ele defende que o PT faça uma autocrítica
diante dos casos de corrupção, mas diz que o ideário do partido está
vivo. Se o impeachment for aceito pelo Senado, diz que volta à
prefeitura de São Paulo, onde é funcionário, e a dar aulas.
Em entrevista que me concedeu na GloboNews, o advogado-geral da União
insistiu que não houve crime de responsabilidade e que as pedaladas
fiscais são apenas “atrasos de pagamento em uma prestação de serviço”
que eram aceitas antes pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Perguntei se o fato de a quantia que o governo pagou aos bancos, no
final de 2015, ter sido tão volumosa, R$ 72 bilhões, não provaria que
era operação de crédito. — Não é o volume que muda a tipificação da operação, nem tudo o que é
devido é empréstimo, se eu atrasar o salário de um funcionário não é
uma operação de crédito. Um débito não se origina apenas de um
empréstimo — disse ele.
O ministro afirmou que ingressará com outras ações no Supremo, além
do mandado de segurança apresentado ontem questionando o impeachment: — O processo tem vícios de origem e que se transformaram em
cerceamento de defesa. O desvio de poder do deputado Eduardo Cunha não
houve apenas na abertura, mas no decorrer de todo o processo. O
impeachment de Collor foi aberto depois de um processo de investigação
de uma CPI. No caso atual não houve sequer um ato da presidenta.
Sobre a debandada dos partidos da base, Cardozo diz que é um fenômeno
que pode acontecer em qualquer democracia, de um governo perder sua
base parlamentar. No parlamentarismo o problema é resolvido com a queda
do governo, mas no presidencialismo não se prevê a saída do chefe do
governo por perda de apoio parlamentar ou popular: — O governo pode ter feito muita coisa errada, mas nada que se
enquadre em crime de responsabilidade. No primeiro mandato, a presidente
bateu recorde de popularidade, mas agora caiu. A gente pode repetir a
frase “é a economia, estúpido”. A situação econômica se agravou por uma
série de fatores. E a crise política piorou a situação e criou-se um
círculo vicioso. Não conseguimos evitar a crise política, mas as quedas
de popularidade são episódicas e devem ser absorvidas pela
institucionalidade.
Cardozo era criticado pelo PT por não ter controlado a Polícia
Federal na Lava-Jato e por isso saiu do Ministério da Justiça. Mas na
Advocacia-Geral da União ele tem sido elogiado pelos petistas pelo seu
empenho da defesa do mandato de Dilma. Quando perguntei sobre isso, ele
disse que não foi o partido que o criticou, mas sim alguns integrantes
do PT, e que agora está em outro papel: — Agora eu sou advogado. E advogado tem causa e lado na causa. Eu
acredito no que estou fazendo e quando a gente acredita põe mais paixão
no que faz.
Se o impeachment passar pela Câmara, e o Senado abrir o processo,
começa então o governo Temer, mesmo que provisório. Nesse cenário, eu
perguntei a ele quem defenderia Dilma e o que ele faria, já que
certamente deixaria de ser o Advogado-geral da União: — O AGU defende os servidores públicos, de modo que, se eu não
estiver aqui, a presidenta pode pedir para o novo ocupante do cargo ou
constituir um advogado particular. Eu estarei em São Paulo. Sou
funcionário da prefeitura e sou professor.
O PT já foi o partido que defendia a “ética na política” e agora está
vivendo o impacto do segundo grande caso de corrupção, que levou para a
cadeia dois tesoureiros do partido, o ex-chefe da Casa Civil, entre
vários outros. Eu perguntei a Cardozo se o partido não faria, como é
comum na esquerda, uma autocrítica. — Eu acho que quem cometeu irregularidade tem que pagar seu preço,
nós não podemos alisar a cabeça de quem quer que seja, mas eu não acho
correto generalizar. A corrupção atinge todos os partidos brasileiros.
Eu não vou dizer que todo o PT está contaminado. Acho que o partido deve
fazer uma avaliação crítica. Como petista, defendo que o meu partido
faça análise, reflexão para saber como podemos evitar que casos como
esse ocorram. O ideário partidário está intocado, o sonho permanece
vivo.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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