Só
haverá esperança de salvação para quem conseguir afinar-se com a voz das ruas
Na
madrugada desta quinta-feira, na abertura do programa que trataria do iminente
despejo da inquilina do Planalto, Jô Soares fez de
conta que o que lhe tirava o sono não é o que Dilma Rousseff faz há mais de
cinco anos, mas o que poderia fazer Eduardo
Cunha em dois ou três dias de interinidade caso o titular Michel Temer tivesse
de viajar. “Já imaginaram o Cunha presidente?”, alarmou-se o apresentador. A cara de patriota aflito avisou aos gritos que o programa
fora gravado horas antes ─ e envelhecera irremediavelmente. Quando foi
para o ar, o ministro Teori Zavascki já
havia mandado para o espaço o motivo da insônia de Jô.
A
decisão, que deverá ser aprovada nesta tarde pelo plenário do Supremo Tribunal
Federal, reafirma que maio será um mês especialmente generoso com o país que
presta. O fim do reinado de Eduardo Cunha é mais que
uma ótima notícia para quem não tem bandidos de estimação. É também uma
chance oferecida à Câmara dos Deputados para ficar menos parecida com um clube
de cafajestes cujos sócios se absolvem mutuamente e, quando o camburão se
aproxima, escapam pela trilha do foro privilegiado. Enfim, o STF arriou outra bandeira malandra dos milicianos do PT, dispensados desde hoje
de saírem por aí berrando “Fora Cunha!”
Agora será mais fácil enxergar as
coisas como as coisas são. Por exemplo: os crimes que colocaram Cunha na mira da Lava Jato foram
praticados durante o governo Lula, que lhe entregou as chaves dos porões de
Furnas. E o parlamentar do PMDB
fluminense foi até outro dia um bom companheiro dos
poderosos patifes que avançam rumo ao penhasco.
Se é improvável que outro
parlamentar tocasse o processo de impedimento de Dilma com tanta celeridade e
eficácia, também é certo que um presidente da Câmara com mais apreço
pela lei teria endossado sem tanta demora a ação de despejo. Convém
lembrar, enfim, que os brasileiros decentes jamais acreditaram na inocência de
Cunha. Fez-se a vontade dos homens de bem.
O impeachment que será formalizado
pelo Congresso, não custa lembrar, nasceu nas ruas, cresceu nas ruas e ganhou
musculatura nas ruas. Já era
uma imposição nacional quando foi encampado pelos partidos de oposição e,
depois, pelos governistas que pressentiram o fim. A Câmara fez o que quis o povo, representado por milhões de
manifestantes. E assim será no Senado.
Michel Temer chegará à
Presidência por determinação constitucional. No próximo programa, Jô Soares talvez se assuste
com a ideia de vê-lo no lugar de Dilma. Alguém
precisa lembrar-lhe dois detalhes relevantes. Primeiro: Temer se elegeu
vice, duas vezes, graças ao PT. Segundo:
Temer só conseguirá governar se conseguir entender-se com a nação que acordou.
Não há chances de salvação para
quem não estiver afinado com a voz das ruas.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes
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