A interpelação judicial que deputados de
diversos partidos da nova base aliada governista – PP, PSDB, DEM, PPS e SD – encaminharam
ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que a presidente afastada Dilma
Rousseff explique porque chama de golpe o processo de impeachment que sofre no
Congresso é um marco importante nessa luta política que está sendo travada pela
correta narrativa do que ocorre neste momento no Brasil.
A ministra Rosa Weber deu
prazo de dez dias para as explicações, mas a presidente afastada não precisa
responder. O silêncio, ou a confirmação, servirão de base para uma ação
em dois níveis: no criminal,
um processo por difamação, e no cível,
uma indenização por danos morais de valor incalculável, pois para os deputados
a acusação é “algo de gravidade ímpar,
sobretudo, ao se levar em consideração a recente história nacional e as
possibilidades de ruptura que declarações desse jaez podem trazer à sociedade
brasileira”.
Fizeram
bem os deputados, e melhor ainda faria o governo se atentasse para o estrago
institucional que tal campanha está causando ao país. O chanceler José Serra já iniciou um
contra-ataque a nível internacional,
respondendo aos governos bolivarianos, mas é preciso um trabalho oficial
para repor a verdade. Não há como
impedir a irresponsabilidade de uma presidente afastada que não se importa de
prejudicar a imagem do país no exterior, ao assumir o mesmo papel de militantes
partidários, que pensam apenas em seus interesses pessoais na luta política que
desencadeiam sem trégua.
Os petistas e assemelhados que
espalham pelo mundo a narrativa do golpe – por
enquanto preponderante – cumprem uma
ação política utilizando-se da democracia para tentar desacreditá-la. Já
uma presidente da República que age como militante demonstra que não tem a
dimensão do cargo. Será interessante acompanhar os acontecimentos para
verificar que, no final, não prevalecerá essa história de um golpe cuja
suposta vítima permanece morando num palácio do governo, com todas as mordomias
do cargo mantidas, até mesmo um avião oficial que, ainda veremos, a levará a
vários cantos do país e até mesmo ao exterior para denunciar às nossas custas
um golpe, que é acompanhado pelo Supremo Tribunal Federal nomeado em sua ampla
maioria pelos governos petistas, e desencadeado por um Congresso que até pouco
tempo fazia parte da base aliada governista.
É inacreditável que, neste primeiro momento, esteja ganhando foros de verdade uma versão estapafúrdia que
não se sustenta nas evidências. Por isso, a ação dos deputados no STF
tem a validade de tentar dar um freio a essa irresponsabilidade, chamando a
atenção da presidente afastada que suas palavras, por causarem danos à imagem
do país, podem ser penalizadas na Justiça.
O que
Dilma chama de “golpe” é, no máximo,
uma divergência de opinião sobre o veredicto de um julgamento. Por enquanto, o tribunal político em que se transformou
o Congresso a está considerando culpada, com base jurídica bastante sólida
ao ver da maioria de seus membros. O ex-Advogado-Geral da União José Eduardo
Cardozo, que acabará sendo investigado por seu sucessor por ter extrapolado de
suas funções, discorda da decisão, o que está no seu direito, mas vai além e
acusa os congressistas de golpistas. Também ele é
merecedor de processo, pois, sendo advogado da União, não poderia atacar
outras instituições da República – como a
Câmara e o Senado – na defesa da ocupante momentânea do Executivo.
Armadilha
O presidente em exercício Michel Temer não conseguiu sair da armadilha que seu passado político lhe armou, e teve que aceitar como seu líder na Câmara o deputado André Moura. Indicado por um grupo de mais de 300 deputados do chamado “centrão”, o deputado é acusado até mesmo de tentativa de assassinato.
Armadilha
O presidente em exercício Michel Temer não conseguiu sair da armadilha que seu passado político lhe armou, e teve que aceitar como seu líder na Câmara o deputado André Moura. Indicado por um grupo de mais de 300 deputados do chamado “centrão”, o deputado é acusado até mesmo de tentativa de assassinato.
Pode ser tudo intriga da oposição, mas enquanto o caso não se
esclarece, seria melhor para o governo uma distância acauteladora de figuras
como essa. Sua indicação é prova de que Temer não tem
muita autonomia diante do baixo clero, controlado sob os panos por Eduardo Cunha. Haja pragmatismo.
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