Cidade de Deus não recebeu obras de infraestrutura necessárias e, aos poucos, deslizou para o abandono pelo Estado. Já o Leblon…
Madame
Natasha concedeu sua primeira bolsa de estudos multilíngue para todos
aqueles que usaram a palavra “favela” para designar o bairro de Cidade
de Deus, berço de Rafaela Silva. Cidade de Deus nunca foi uma
favela. É o contrário. Ela foi construída em 1965, no auge da política
de remoções. Era um dos símbolos do progresso da alvenaria, triunfando
sobre os barracos e a miséria. Em 1969 misteriosas mãos higienistas
tocaram fogo na favela da Praia do Pinto, à beira da Lagoa Rodrigo de
Freitas, desabrigando nove mil pessoas. Os favelados foram para Cidade
de Deus, e o terreno desocupado deu lugar a um conjunto de edifícios
para a boa classe média, conhecido como Selva de Pedra. E assim o Leblon
mudou de cara.
Cidade de Deus não recebeu obras de infraestrutura necessárias e, aos poucos, deslizou para o abandono pelo Estado. Já o Leblon… A palavra favela tem um componente de anomalia, voluntarismo e exclusão. Favela é obra e moradia de pobres. Cidade de Deus foi um símbolo do planejamento estatal com suas promessas de inclusão social. A joia da coroa da política de remoções, que até hoje alimenta a demofobia das cidades brasileiras, chamava-se Vila Kennedy, na região de Bangu, inaugurada em 1964, um ano antes do início das obras de Cidade de Deus. Era a menina dos olhos do governador Carlos Lacerda e do embaixador americano Lincoln Gordon, que despejou no projeto verbas da Aliança para o Progresso. Para lá foram moradores da favela do morro do Pasmado, por dentro do qual passa o primeiro túnel que leva a Copacabana. Tinha tudo para dar certo, mas o Estado sumiu e, quando a Vila Kennedy comemorou seu décimo aniversário, foi chamada de “fracasso”. No vigésimo, de “pesadelo”. No trigésimo, esqueceram-na. A essa altura, com 150 mil moradores, ela só era notícia quando a tropa do BOPE disputava o controle de algumas áreas com o Comando Vermelho. A Vila ganhou Unidade de Polícia Pacificadora e, entre 2013 e 2015, as denúncias de abuso de autoridade de policiais subiram de 4% para 30% na contabilidade do Disque Denúncia.
Houve época em que diversos bairros do Rio degradaram-se. Ninguém chamou a Lapa da primeira metade do século passado de favela. Se Cidade de Deus é uma favela, a palavra serviria para designar moradores e não moradias. Nesse tipo de classificação, favela é o lugar onde vive gente negra e pobre, como Rafaela Silva, a moça da medalha de ouro.
Querem criar a Bolsa Caixa Dois
A repórter Maria Cristina Fernandes mostrou que circula em Brasília a ideia de uma anistia para partidos e políticos beneficiados em suas campanhas por doações ilegais vindas de caixas dois de empresas. Um advogado que não gosta da ideia e conhece o mundo das doações ilegais sugere: “Tudo bem, desde que a anistia dependa da confissão do partido e/ou do cidadão. Feita a confissão, o interessado deverá pagar uma multa. Para começar a conversa poderíamos fixá-la em 10% do valor recebido. Achou pouco? 20%. Sem a iniciativa da confissão e sem multa, não será anistia, mas passe livre.”
A História do Brasil foi iluminada por mais de uma dezena de anistias e nenhuma equivaleu a um passe livre. A maior delas foi assinada pelo presidente João Figueiredo em 1979, beneficiando cerca de 5 mil pessoas. Todos os anistiados haviam sofrido alguma forma de violência ou constrangimento. A anistia que se articula equivaleria a uma Bolsa Caixa Dois, destinada a beneficiar os beneficiados.
Delírio de Lula
Em março, quando cozinhava sua nomeação para a chefia da Casa Civil de Dilma, Lula investiu-se da condição de regente da República e começou a formar seu ministério.
Apostou alto e convidou o empresário Jorge Paulo Lemann para uma pasta da área econômica. Como o bilionário estava na China, a conversa foi por telefone. Lemann tem uma fortuna que lhe permitiria rasgar dinheiro, mas não pode beber água fervendo. Não sendo doido, recusou.
Fica a suspeita de que Henrique Meirelles também tenha sido convidado por Lula.
O homem-chave
Os mais experimentados procuradores da Operação Lava-Jato dão a Alberto Youssef a medalha do mérito da colaboração. Sem ele, muita coisa não teria saído do lugar, pois seus depoimentos serviram também para ensinar o caminho das pedras aos investigadores.
Youssef está preso em regime fechado desde 2014 e deve ser solto no ano que vem.
Fonte: Elio Gaspari - O GloboCidade de Deus não recebeu obras de infraestrutura necessárias e, aos poucos, deslizou para o abandono pelo Estado. Já o Leblon… A palavra favela tem um componente de anomalia, voluntarismo e exclusão. Favela é obra e moradia de pobres. Cidade de Deus foi um símbolo do planejamento estatal com suas promessas de inclusão social. A joia da coroa da política de remoções, que até hoje alimenta a demofobia das cidades brasileiras, chamava-se Vila Kennedy, na região de Bangu, inaugurada em 1964, um ano antes do início das obras de Cidade de Deus. Era a menina dos olhos do governador Carlos Lacerda e do embaixador americano Lincoln Gordon, que despejou no projeto verbas da Aliança para o Progresso. Para lá foram moradores da favela do morro do Pasmado, por dentro do qual passa o primeiro túnel que leva a Copacabana. Tinha tudo para dar certo, mas o Estado sumiu e, quando a Vila Kennedy comemorou seu décimo aniversário, foi chamada de “fracasso”. No vigésimo, de “pesadelo”. No trigésimo, esqueceram-na. A essa altura, com 150 mil moradores, ela só era notícia quando a tropa do BOPE disputava o controle de algumas áreas com o Comando Vermelho. A Vila ganhou Unidade de Polícia Pacificadora e, entre 2013 e 2015, as denúncias de abuso de autoridade de policiais subiram de 4% para 30% na contabilidade do Disque Denúncia.
Houve época em que diversos bairros do Rio degradaram-se. Ninguém chamou a Lapa da primeira metade do século passado de favela. Se Cidade de Deus é uma favela, a palavra serviria para designar moradores e não moradias. Nesse tipo de classificação, favela é o lugar onde vive gente negra e pobre, como Rafaela Silva, a moça da medalha de ouro.
Querem criar a Bolsa Caixa Dois
A repórter Maria Cristina Fernandes mostrou que circula em Brasília a ideia de uma anistia para partidos e políticos beneficiados em suas campanhas por doações ilegais vindas de caixas dois de empresas. Um advogado que não gosta da ideia e conhece o mundo das doações ilegais sugere: “Tudo bem, desde que a anistia dependa da confissão do partido e/ou do cidadão. Feita a confissão, o interessado deverá pagar uma multa. Para começar a conversa poderíamos fixá-la em 10% do valor recebido. Achou pouco? 20%. Sem a iniciativa da confissão e sem multa, não será anistia, mas passe livre.”
A História do Brasil foi iluminada por mais de uma dezena de anistias e nenhuma equivaleu a um passe livre. A maior delas foi assinada pelo presidente João Figueiredo em 1979, beneficiando cerca de 5 mil pessoas. Todos os anistiados haviam sofrido alguma forma de violência ou constrangimento. A anistia que se articula equivaleria a uma Bolsa Caixa Dois, destinada a beneficiar os beneficiados.
Delírio de Lula
Em março, quando cozinhava sua nomeação para a chefia da Casa Civil de Dilma, Lula investiu-se da condição de regente da República e começou a formar seu ministério.
Apostou alto e convidou o empresário Jorge Paulo Lemann para uma pasta da área econômica. Como o bilionário estava na China, a conversa foi por telefone. Lemann tem uma fortuna que lhe permitiria rasgar dinheiro, mas não pode beber água fervendo. Não sendo doido, recusou.
Fica a suspeita de que Henrique Meirelles também tenha sido convidado por Lula.
O homem-chave
Os mais experimentados procuradores da Operação Lava-Jato dão a Alberto Youssef a medalha do mérito da colaboração. Sem ele, muita coisa não teria saído do lugar, pois seus depoimentos serviram também para ensinar o caminho das pedras aos investigadores.
Youssef está preso em regime fechado desde 2014 e deve ser solto no ano que vem.
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