Políticas de fechamento de fronteiras aos fluxos de pessoas, capital e comércio crescem em todo o mundo, alimentadas por um irracionalismo preocupante
[protecionismo = um mal necessário; imigrantes = prejuízos e problemas para o país que os recebe.]
A atual onda política marcada por nacionalismos populistas e
xenófobos tem sua expressão econômica no crescente protecionismo e
resistência à celebração de acordos comerciais multilaterais, como a
Parceria Transpacífica. Além de travar o comércio internacional, esse
processo vem retardando de forma perigosa a recuperação da economia da
crise global de 2008.
Relatório de Monitoramento do Comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgado em julho, na reunião de cúpula da entidade, revelou que, entre meados de outubro de 2015 e meados de maio deste ano, foram apresentadas em média 22 medidas restritivas por mês pelos países-membros, a mais elevada desde 2011. É um aumento significativo, considerando-se o período anterior, quando a média, já alta, foi de 15 medidas por mês. O relatório conclui afirmando, com acerto, que a “melhor garantia contra o protecionismo é um robusto sistema multilateral de comércio”.
No mesmo período, os países-membros da OMC aprovaram 19 medidas por mês para facilitar o comércio, um pequeno aumento em relação ao período anterior. O número de ações protecionistas avançou 11% no período avaliado. O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse que “o relatório mostra um preocupante crescimento de medidas restritivas ao comércio postas em vigor mensalmente”. Ele lembrou que, das 2.800 medidas protecionistas adotadas desde outubro de 2008, apenas 25% foram removidas, acrescentando que “na atual conjuntura, um aumento das restrições ao comércio é a última coisa de que a economia global precisa. Esse aumento poderia ter um efeito nocivo adicional de esfriamento dos fluxos comerciais, com impacto desastroso para o crescimento econômico e a geração de empregos”.
Neste ano, o volume global de comércio não cresceu no primeiro trimestre e caiu 0,8%, no segundo, segundo analistas ouvidos pelo “New York Times”. Os EUA não foram exceção: o volume total de importações e exportações caiu mais de US$ 200 bilhões no ano passado. E nos primeiros nove meses de 2016 recuou outros US$ 470 bilhões. Foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o intercâmbio comercial entre os países caiu num período de expansão econômica.
As políticas contrárias aos fluxos globais de pessoas, capital e mercadorias são um retrocesso óbvio. E, no entanto, tem defensores. O Brexit — a saída do Reino Unido da UE — é talvez o exemplo mais dramático dessa mentalidade retrógrada. Seu impacto no país, no bloco europeu e na economia mundial ainda não foi totalmente quantificado. Nos EUA, por outro lado, o protecionismo comercial é, estranhamente, um ponto comum entre Donald Trump e Hillary Clinton, com o argumento falacioso da defesa do mercado de trabalho local. Trata-se, em resumo, de um irracionalismo que se alimenta da desconfiança generalizada no sistema político e oferece como resposta o risco de um obscurantismo perigoso.
Fonte: O Globo - Editorial
Relatório de Monitoramento do Comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgado em julho, na reunião de cúpula da entidade, revelou que, entre meados de outubro de 2015 e meados de maio deste ano, foram apresentadas em média 22 medidas restritivas por mês pelos países-membros, a mais elevada desde 2011. É um aumento significativo, considerando-se o período anterior, quando a média, já alta, foi de 15 medidas por mês. O relatório conclui afirmando, com acerto, que a “melhor garantia contra o protecionismo é um robusto sistema multilateral de comércio”.
No mesmo período, os países-membros da OMC aprovaram 19 medidas por mês para facilitar o comércio, um pequeno aumento em relação ao período anterior. O número de ações protecionistas avançou 11% no período avaliado. O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse que “o relatório mostra um preocupante crescimento de medidas restritivas ao comércio postas em vigor mensalmente”. Ele lembrou que, das 2.800 medidas protecionistas adotadas desde outubro de 2008, apenas 25% foram removidas, acrescentando que “na atual conjuntura, um aumento das restrições ao comércio é a última coisa de que a economia global precisa. Esse aumento poderia ter um efeito nocivo adicional de esfriamento dos fluxos comerciais, com impacto desastroso para o crescimento econômico e a geração de empregos”.
Neste ano, o volume global de comércio não cresceu no primeiro trimestre e caiu 0,8%, no segundo, segundo analistas ouvidos pelo “New York Times”. Os EUA não foram exceção: o volume total de importações e exportações caiu mais de US$ 200 bilhões no ano passado. E nos primeiros nove meses de 2016 recuou outros US$ 470 bilhões. Foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o intercâmbio comercial entre os países caiu num período de expansão econômica.
As políticas contrárias aos fluxos globais de pessoas, capital e mercadorias são um retrocesso óbvio. E, no entanto, tem defensores. O Brexit — a saída do Reino Unido da UE — é talvez o exemplo mais dramático dessa mentalidade retrógrada. Seu impacto no país, no bloco europeu e na economia mundial ainda não foi totalmente quantificado. Nos EUA, por outro lado, o protecionismo comercial é, estranhamente, um ponto comum entre Donald Trump e Hillary Clinton, com o argumento falacioso da defesa do mercado de trabalho local. Trata-se, em resumo, de um irracionalismo que se alimenta da desconfiança generalizada no sistema político e oferece como resposta o risco de um obscurantismo perigoso.
Fonte: O Globo - Editorial
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