A crise brasileira ganhou uma pequena trégua neste início de ano. Os
indicadores de confiança subiram, a bolsa se recuperou, e economistas
que tinham uma visão mais cautelosa para o ano estão um pouco mais
otimistas. Mais de R$ 6 bilhões de recursos estrangeiros entraram na
Bovespa em janeiro, impulsionada pela alta dos preços das commodities e
pela expectativa de que a recessão esteja próxima do fim.
A produção industrial divulgada ontem mostrou uma forte alta em
dezembro, de 2,3%. Em meados do ano passado, houve cinco meses seguidos
de crescimento da indústria e depois ela voltou a cair. Não é uma
tendência, portanto, e já há previsões de queda nos dados de janeiro.
Mas nas estimativas para o ano os economistas estão com dados positivos.
O Bradesco, por exemplo, projeta um crescimento de 1% da produção
industrial em 2017. No final do ano passado, vários indicadores vieram
pior do que o esperado. Temeu-se que a recessão estivesse novamente se
aprofundando, mas agora esse temor está passando.
O mercado financeiro tenta antecipar os ciclos econômicos, e a
recuperação do Ibovespa é um sinal de maior confiança no futuro. A queda
da Selic provoca um movimento de realocação nos investimentos, com
saída da renda fixa para a renda variável. Deixar o dinheiro parado em
títulos do Tesouro vai render menos, e a perspectiva de aceleração da
atividade vai aumentar o lucro das empresas, explica o economista Álvaro
Bandeira, do Home Broker Modalmais. — A crise fiscal ainda é forte, mas já está mais claro que o país
conseguiu se ajustar em várias áreas. Caiu a inflação, os juros estão em
queda, o risco-país também diminuiu, assim como o dólar. O setor
externo reduziu bastante o déficit em conta-corrente. A inadimplência
está mais baixa, apesar do desemprego, e isso favorece o setor
financeiro e facilita o destravamento do crédito — explicou Bandeira.
A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, admite que está um pouco mais
aliviada, depois do susto com os números ruins da economia no final do
ano passado. Pelas estimativas do Ibre, o país pode voltar ao azul já
neste primeiro trimestre, em relação ao quarto, mas com um crescimento
mínimo, de apenas 0,1%, e sustentado pela agropecuária. Silvia prefere
olhar para o segundo trimestre, quando espera números positivos
espalhados por vários setores: indústria, serviços, consumo e
investimentos. — Eu estava preocupada com o risco de uma nova recessão este ano, mas
isso diminuiu bastante. A gente mantém a estimativa de alta de 0,3%
para o PIB de 2017, mas com viés de alta. O ano começa fraco, mas vai
acelerando, para chegar no quarto trimestre em um ritmo mais forte —
afirmou.
O Ibovespa deu um salto de 7,37% em janeiro. As ações de alguns
bancos subiram. A Vale saltou 30%, por causa da forte recuperação dos
preços do minério de ferro. Álvaro Bandeira explica que isso puxou os
papéis do setor siderúrgico e da área de mineração. A China anunciou o
fechamento de siderúrgicas mais poluentes, e isso deve resultar numa
produção menor de aço para competir com a produção local, no caso, a
brasileira.
O índice americano Dow Jones chegou a bater recorde histórico, mas o
cenário externo está incerto com toda a crise provocada pelas primeiras
decisões do presidente Donald Trump.
— Duas coisas me preocupam este ano. A primeira é o cenário externo
com o governo Trump, que vai provocar volatilidade. A segunda é a classe
política brasileira se acomodar a partir do momento em que a economia
voltar para o azul. É preciso manter o esforço contínuo de reformas. A
Previdência precisa ser aprovada — disse Silvia Matos.
Os indicadores mostram que este ano é de pequena melhora, depois da
grande hecatombe que foram os últimos dois anos. Há dois pontos de aguda
incerteza. Aqui dentro, a crise política pode se agravar muito com
todas as revelações da Lava-Jato. No exterior, os Estados Unidos viraram
o grande ponto de interrogação com as decisões radicais do novo
presidente. Será preciso ir retomando lentamente o ritmo de atividade
econômica, apesar desses dois pontos de instabilidade.
Fonte: Blog da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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