Desapropriação de lote na 207 Sul divide a comunidade e empresários
Desapropriação de lote conhecido como Restaurante de Unidade de Vizinhança na comercial da 207 Sul divide a comunidade e empresários da construção civil. GDF afirma que a situação dos 12 lotes vazios deve ser analisada individualmente
A decisão do governo de desapropriar um lote comercial na 207 Sul
colocou um ponto final no embate com os moradores da quadra, mas não
encerra uma polêmica que se arrasta desde 2005. Os terrenos nas pontas
das quadras comerciais da Asa Sul, conhecidos como Restaurantes de
Unidade de Vizinhança (RUV), fazem parte do projeto original do Plano
Piloto.
Como a
maioria está sem construções, a comunidade se acostumou às áreas verdes e
há reações acaloradas quando os donos das áreas decidem ocupar as
propriedades. Além do imóvel da 207 Sul, que seguirá como parte da
escala bucólica, há 12 lotes vazios na mesma situação. Empresários da
construção civil questionam a medida do governo. Para desapropriar todos
e mantê-los como espaços verdes, o GDF teria de gastar até R$ 100
milhões. [R$ 100 MILHÕES, que são extremamente necessários para diminuir pelo menos um pouco o CASO estabelecido pela má administração Rollemberg, na Saúde Pública.
Para que usar este dinheiro para atender invasores de luxo?]
Na
última quarta-feira, o Executivo local publicou o decreto que declara
como de utilidade pública a área na ponta da comercial da 207 Sul. Esse é
o primeiro passo para a desapropriação do lote, mas ainda não há
consenso sobre o valor a ser pago como indenização aos donos. Segundo o
governo, o pagamento será feito por meio de carta de crédito da
Terracap, para que os empresários usem o valor em licitações futuras da
empresa. Com o decreto da semana passada, a
estatal fica autorizada a começar o processo de avaliação, que ainda
deve suscitar divergências entre as partes. Os proprietários esperam
receber pelo menos R$ 6 milhões para abrir mão do direito de ocupar e
construir na área, comprada havia cinco anos.
O
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informa
que todos os RUVs são legais e previstos no plano de Lucio Costa. “A
maioria é lote ainda ocioso, mas cujo direito de construir futuramente
está assegurado pelo tombamento”, informou, em nota, o órgão. “Ao longo
de 57 anos, acostumamo-nos a ver essas áreas vazias, arborizadas e sem
cercamento, contexto que nos levava a acreditar que se tratava de área
verde pública”, acrescenta a nota do órgão.
Ainda segundo o Iphan, a escala bucólica, que prevê a preservação
das áreas verdes e a proteção de Brasília como cidade-parque, é uma
garantia de manutenção de espaços livres em áreas sem previsão de
edificação. “Logo, a escala bucólica, na qual se impõe a preservação
paisagística por força do tombamento, exclui os terrenos
institucionalmente previstos para edificação ou institucionalmente
destinados à edificação”, frisa o Iphan. Ou seja: lotes registrados em
cartório e previstos no plano de Brasília não precisam, legalmente, ser
mantidos como espaço verde. “Seu formato e sua destinação, bem como a
possibilidade e garantia de ocupação futura, portanto, não mutilam a
proposta original. São, ao contrário, consagrados pelo tombamento”,
conclui o Iphan.
Mas o cercamento desses terrenos gera repercussão na cidade desde 2005, quando foi registrada a primeira polêmica. Em abril deste ano, os proprietários do lote de ponta da comercial da 207 cercaram a área para iniciar um projeto imobiliário. Os tapumes ocuparam parte da calçada e isolaram dezenas de árvores. A medida gerou reação da comunidade, que iniciou uma cruzada contra o empreendimento. “Todo mundo sabe que o lote estava previsto no projeto de Brasília, mas, em quase 60 anos, a realidade da cidade mudou. Hoje, não há mais espaço para carros, e os estacionamentos estão lotados”, argumenta o prefeito comunitário da 207 Sul, Ismar Lobo. “Além disso, garantir a qualidade de vida dos moradores é assegurar a saúde da população. Isso reduz gastos com hospitais, por exemplo”, acrescenta o líder comunitário. [e o DIREITO DE PROPRIEDADE, como fica? Todos sabemos que o GDF não tem dinheiro para pagar a desapropriação; para obter o dinheiro tem que retirar do pouco que é destinado à Saúde, à Educação e a Segurança Pública.
Ou será que os invasores da 207 Sul quer que mais pessoas morram na porta dos hospitais para que eles tenham seu jardim privativo?]
O
secretário de Gestão do Território e Habitação, Thiago de Andrade,
explica que não é intenção do governo fazer a desapropriação massiva de
todos os terrenos das pontas das comerciais das 200. “Não podemos fazer
uma desapropriação de forma universal. É preciso analisar caso a caso.
Pode haver situações em que a ocupação do terreno é bem-vinda pela
comunidade, sem afetar a área consolidada”, explica. Segundo ele, muitos
desses lotes não podem ser ocupados sem que haja uma adequação prévia
dos projetos. Isso porque a concepção dos imóveis foi feita há mais de
cinco décadas.
Thiago
explica que, a partir do decreto declarando a área da 207 como de
utilidade pública, começará o processo de desapropriação. “A nossa
intenção é fazer todo o processo de forma mediada. Não vamos conduzir
isso em uma tacada. Desde o início, mantivemos o diálogo, tanto com
moradores como com os empresários. A consultoria jurídica acompanha o
processo, mas a ideia inicial é trocar o terreno por uma carta de
crédito da Terracap".
A negociação com o governo é conduzida
pela empresa RHC Construções, representante dos proprietários do terreno
que preferem não se identificar. Segundo os empreendedores, a área foi
comprada com o pagamento de R$ 2 milhões, em dinheiro, e mais um terreno
avaliado em R$ 2 milhões, na QI 11 do Lago Sul. Além dos R$ 4 milhões
que eles alegam terem gastado com o imóvel, investiram pelo menos R$ 1
milhão no projeto e em gastos como pagamento de IPTU. Os empresários
aguardam a proposta formal do governo com a avaliação da área.
O
presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon),
Luiz Carlos Botelho, diz que a decisão do governo de desapropriar a
área foi equivocada. “Com essa medida, o GDF atende os moradores da
quadra sem ouvir toda a sociedade. Com o valor desse terreno, o
Executivo poderia construir creches, comprar remédios. Será que, se
consultados, os moradores de outras regiões aprovariam esse investimento
tão alto em momento de crise financeira?”, questiona. “É um precedente
muito grave, capaz de desestabilizar o mercado”, alega.
Para saber mais
Os
lotes RUV fazem parte dos projetos das quadras 100 e 200 da Asa Sul.
Com concepção diferente dos demais prédios das áreas comerciais, esses
terrenos ficam nas pontas das quadras, mais isolados dos edifícios de
lojas, com as quatro fachadas voltadas para o espaço público. À época da
concepção de Brasília, a ideia era separar áreas para estabelecimentos
maiores, como restaurantes — daí a nomenclatura desses terrenos.
Para saber mais
Espaço privilegiado
Os
lotes RUV fazem parte dos projetos das quadras 100 e 200 da Asa Sul.
Com concepção diferente dos demais prédios das áreas comerciais, esses
terrenos ficam nas pontas das quadras, mais isolados dos edifícios de
lojas, com as quatro fachadas voltadas para o espaço público. À época da
concepção de Brasília, a ideia era separar áreas para estabelecimentos
maiores, como restaurantes — daí a nomenclatura desses terrenos.
A
polêmica começou em 2005, quando a construtora dona da RUV da 208 Sul
cercou o terreno. Como acompanhou o Correio em série de reportagens, a
comunidade se uniu para defender a manutenção do espaço vazio e, diante
da pressão, o então governador Joaquim Roriz desapropriou o terreno. No
ano seguinte, o GDF baixou um decreto desapropriando todos os terrenos
de RUVs das quadras 200s da Asa Sul. Mas o governo não pagou os
empresários e, em 2010, a Justiça suspendeu o decreto e anulou a medida.
Assim, os imóveis voltaram à posse de seus antigos donos.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário