Sites oferecem aos clientes, em média, R$ 200 a cada dez mil milhas
O mercado de compra e venda de milhas ou pontos de programas de fidelidade ligados a companhias aéreas decolou no Brasil e já movimenta mais de R$ 500 milhões por ano, segundo estimativas de empresas do segmento. Funcionando como um mercado secundário para negociação de milhas, permite ganhar dinheiro com a venda de milhagem ou economizar na compra de passagens com preço reduzido. As transações, como em uma Bolsa, são feitas com base em cotações diárias calculadas considerando a oferta e a demanda por lotes de pontos registrados em programas ligados a aéreas brasileiras e agora também de estrangeiras como TAP.
As empresas desse segmento atuam como intermediárias de duas
operações. Numa ponta, compram milhas vendidas pelo consumidor — o
valor médio para cada dez mil milhas, na semana passada, era de R$ 200.
Na outra, utilizam o estoque de milhagem acumulado nessas transações
para emitir bilhetes aéreos que podem custar menos que os vendidos pelas
companhias, afirmam os sites especializados. O ganho deles vem de uma
taxa cobrada sobre a intermediação. Ou seja, a cotação para definir um
preço às passagens vendidas inclui um percentual de 15% a 25%, no caso
da Central Milhas, por exemplo, sobre o valor investido pela empresa na
compra da milhagem.
Como as milhas são um ativo de valor, o voo desses sites — como Elo Milhas, Central Milhas, MaxMilhas e Bank Milhas, dentre outros — não está livre de turbulências. Pela lei vigente, a negociação de milhagem nesse mercado secundário não é ilegal, embora proibida pelos programas de fidelidade. Mas o modelo da operação dos sites, que pede login e senha do cliente dos programa de milhagem para fazer o resgate dos pontos adquiridos, expõe o consumidor ao risco.
Para se ter uma ideia do tamanho do mercado, os gastos com programas de recompensas pelos emissores de cartões de crédito no país — sem incluir o acumulado diretamente em companhias aéreas — totalizaram estoque de 137,6 bilhões de pontos no fim de 2016, contra 253,9 bilhões um ano antes, de acordo com dados do Banco Central. Nesse período, o volume de pontos convertidos em produtos e benefícios saltou de 148,7 bilhões em 2015 para 174,5 bilhões no ano passado. — A queda no saldo de pontos se explica por um movimento duplo: a crise retraiu o consumo, restringindo o uso do cartão. Além disso, pesou a valorização do dólar frente ao real, referência na conversão dos pontos, o que ajuda a reduzir o saldo — diz Roberto Kanter, professor dos MBAs da FGV. — De outro lado, devido à crise, houve maior consumo de pontos pelos participantes dos programas de fidelidade.
O crescimento da demanda pelo uso dos pontos acumulados nesses programas, continua ele, colabora para a criação desse comércio paralelo de milhagem: — A milha funciona como uma moeda, com cotação. Os sites compram milhas por um preço x. Depois, aplicam um percentual sobre o valor na hora de precificar o bilhete que emitiram usando as milhas.
Vale destacar que, somente em 2016, 50,4 bilhões de milhas acumuladas pelo uso de cartão de crédito no país expiraram. Considerando valor médio de R$ 200 para cada dez mil milhas, seria o equivalente a ao menos R$ 1 bilhão jogado fora.
— Se acumulo milhas com a opção de transformar o saldo em um ativo e passo a poder vendê-las, surge uma opção interessante para o consumidor e um mercado secundário, que traz dinamismo ao segmento. Mas é preciso entender melhor a legalidade da prática. As regras precisam ser claras, principalmente em informar os detentores de pontos sobre como usar o benefício — pondera Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, lembrando que muitos não fazem ideia de como usar pontos acumulados no cartão de crédito.
Roberto Medeiros, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (Abemf) e presidente da Multiplus, responsável pelo programa de fidelidade da Latam, afirma que é possível identificar se uma pessoa está vendendo pontos ou milhas porque as empresas têm o histórico do perfil de uso dos clientes e sistemas de prevenção de fraudes: — Nossa maior preocupação é com as fraudes. Além disso, consideramos que a venda (da pontuação) é um mal negócio porque o cliente perde a oportunidade de resgatar seus pontos em promoções.
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A solução financeira e o preço reduzido das passagens vendidas pelos sites de compra de milhas, porém, atraem não apenas o consumidor final. Há sites com páginas específicas para atender a empresas e agências de viagens, como o da Elo Milhas ou da Bank Milhas. — Temos uma ferramenta que garante ao agente de viagens entregar a passagem com um preço melhor ao passageiro, incluindo a taxa de remuneração que avaliar mais conveniente — explica Paulo Santos, sócio-diretor da Bank Milhas, site de compra de milhas, e do Ideal Milhas, de venda de bilhetes para agências de viagens. — É um mercado que nasceu de uma decisão das empresas aéreas, que deixaram de remunerar os agentes pela emissão de bilhetes. Assim, esses profissionais tiveram de buscar outros caminhos.
As passagens emitidas usando milhagem, afirma ele, custam menos que o vendido pelas companhias aéreas: — O mecanismo de busca mostra quando vale a pena comprar o bilhete de milhagem. Às vezes, o preço direto na empresa aérea é melhor. Os sites de milhas funcionam muito para quem não pode pagar o alto preço de um bilhete de última hora ou para o viajante que mora em regiões mais remotas do país, onde as passagens são mais caras.
COMPRAR BILHETE NEM SEMPRE É VANTAGEM
Algumas empresas concentram a compra de milhagem e a venda de passagens numa só plataforma. Outros, oferecem sites diferentes para as operações. Em linhas gerais, todos atuam comprando milhas em lotes. O número mínimo pode chegar a apenas 6.000 pontos, mas isso depende do programa de fidelidade e da oferta e demanda, medida diariamente. Quanto maior o lote de milhas oferecido pelo vendedor, maior o valor da cotação. — O lote mínimo depende do programa em que as milhas estão inseridas, mas também do mercado. Os valores variam conforme a quantidade que o cliente está oferecendo para vender. Hoje (quarta-feira), por exemplo, dez mil milhas da Latam custam R$ 240. Se a pessoa oferece a partir de cem mil, esse valor pelas dez mil milhas sobe para até R$ 280 — explica Tiago Chaves, sócio-gerente o Central Milhas.
Em levantamento de tarifas, a redução de preço na comparação com as companhias aéreas varia. E pode nem mesmo ocorrer. Um bilhete do Rio para Miami no dia 23 de outubro e retorno no dia 30 do mesmo mês custava no fechamento desta edição R$ 2.994,86 pelo PSV Turismo, voando com a Latam. No site da empresa aérea, a passagem custa R$ 2.580.
No MaxMilhas, ida e volta entre Rio e Lisboa, de 12 a 21 de março de 2018, sai a R$ 2.954,88, com a TAP. No site da aérea, o bilhete sai por R$ 4.278,72. Em linhas gerais, o uso dos sites funciona da seguinte forma:
- o cliente envia um e-mail oferecendo um número de milhas para vender. Ele recebe uma resposta com a cotação do dia para aquele lote. Se estiver de acordo, vai passar por uma análise cadastral até que o negócio possa ser fechado. Em um deles, o MaxMilhas, o cliente propõe quanto gostaria de receber pelos pontos. O site informa uma margem de valor máximo e mínimo disponíveis. A maior parte deles faz depósito antecipado em conta como pagamento. Todos usam login e senha do consumidor junto ao programa de milhagem para emitir bilhetes. Por segurança, recomendam que, após a emissão, o cliente altere a senha, embora afirmem que a plataforma é segura.
— Temos sites diferentes para cada operação justamente para garantir a segurança das transações e a privacidade — explica Tatiane Chaves, gerente do Elo Milhas, que mantém o Busca Aéreo, para venda de bilhetes para empresas e agências de viagens, e o PSV Turismo, que vende passagens ao consumidor final.
O MaxMilhas, que emite 50 mil passagens por mês, teve
receita de R$ 100 milhões em 2016 e quer triplicar o faturamento este
ano. Em julho, começou a vender passagens com milhas da TAP. — A crise está nos ajudando, porque quem quer viajar e está
com orçamento apertado busca outras alternativas para comprar a passagem
— diz Max Oliveira, cofundador da MaxMilhas. A Central Milhas vende o equivalente a R$ 800 mil em
passagens e compra 40 milhões de milhas mensalmente, enquanto a Ideal
emite 12 mil bilhetes e adquire 160 milhões de pontos. A Elo Milhas não
abre dados. Até o fim do ano, vai incluir a TAP na venda de bilhetes e,
em 2018, a americana American Airlines
Como as milhas são um ativo de valor, o voo desses sites — como Elo Milhas, Central Milhas, MaxMilhas e Bank Milhas, dentre outros — não está livre de turbulências. Pela lei vigente, a negociação de milhagem nesse mercado secundário não é ilegal, embora proibida pelos programas de fidelidade. Mas o modelo da operação dos sites, que pede login e senha do cliente dos programa de milhagem para fazer o resgate dos pontos adquiridos, expõe o consumidor ao risco.
Para se ter uma ideia do tamanho do mercado, os gastos com programas de recompensas pelos emissores de cartões de crédito no país — sem incluir o acumulado diretamente em companhias aéreas — totalizaram estoque de 137,6 bilhões de pontos no fim de 2016, contra 253,9 bilhões um ano antes, de acordo com dados do Banco Central. Nesse período, o volume de pontos convertidos em produtos e benefícios saltou de 148,7 bilhões em 2015 para 174,5 bilhões no ano passado. — A queda no saldo de pontos se explica por um movimento duplo: a crise retraiu o consumo, restringindo o uso do cartão. Além disso, pesou a valorização do dólar frente ao real, referência na conversão dos pontos, o que ajuda a reduzir o saldo — diz Roberto Kanter, professor dos MBAs da FGV. — De outro lado, devido à crise, houve maior consumo de pontos pelos participantes dos programas de fidelidade.
O crescimento da demanda pelo uso dos pontos acumulados nesses programas, continua ele, colabora para a criação desse comércio paralelo de milhagem: — A milha funciona como uma moeda, com cotação. Os sites compram milhas por um preço x. Depois, aplicam um percentual sobre o valor na hora de precificar o bilhete que emitiram usando as milhas.
Vale destacar que, somente em 2016, 50,4 bilhões de milhas acumuladas pelo uso de cartão de crédito no país expiraram. Considerando valor médio de R$ 200 para cada dez mil milhas, seria o equivalente a ao menos R$ 1 bilhão jogado fora.
— Se acumulo milhas com a opção de transformar o saldo em um ativo e passo a poder vendê-las, surge uma opção interessante para o consumidor e um mercado secundário, que traz dinamismo ao segmento. Mas é preciso entender melhor a legalidade da prática. As regras precisam ser claras, principalmente em informar os detentores de pontos sobre como usar o benefício — pondera Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, lembrando que muitos não fazem ideia de como usar pontos acumulados no cartão de crédito.
Roberto Medeiros, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (Abemf) e presidente da Multiplus, responsável pelo programa de fidelidade da Latam, afirma que é possível identificar se uma pessoa está vendendo pontos ou milhas porque as empresas têm o histórico do perfil de uso dos clientes e sistemas de prevenção de fraudes: — Nossa maior preocupação é com as fraudes. Além disso, consideramos que a venda (da pontuação) é um mal negócio porque o cliente perde a oportunidade de resgatar seus pontos em promoções.
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A solução financeira e o preço reduzido das passagens vendidas pelos sites de compra de milhas, porém, atraem não apenas o consumidor final. Há sites com páginas específicas para atender a empresas e agências de viagens, como o da Elo Milhas ou da Bank Milhas. — Temos uma ferramenta que garante ao agente de viagens entregar a passagem com um preço melhor ao passageiro, incluindo a taxa de remuneração que avaliar mais conveniente — explica Paulo Santos, sócio-diretor da Bank Milhas, site de compra de milhas, e do Ideal Milhas, de venda de bilhetes para agências de viagens. — É um mercado que nasceu de uma decisão das empresas aéreas, que deixaram de remunerar os agentes pela emissão de bilhetes. Assim, esses profissionais tiveram de buscar outros caminhos.
As passagens emitidas usando milhagem, afirma ele, custam menos que o vendido pelas companhias aéreas: — O mecanismo de busca mostra quando vale a pena comprar o bilhete de milhagem. Às vezes, o preço direto na empresa aérea é melhor. Os sites de milhas funcionam muito para quem não pode pagar o alto preço de um bilhete de última hora ou para o viajante que mora em regiões mais remotas do país, onde as passagens são mais caras.
COMPRAR BILHETE NEM SEMPRE É VANTAGEM
Algumas empresas concentram a compra de milhagem e a venda de passagens numa só plataforma. Outros, oferecem sites diferentes para as operações. Em linhas gerais, todos atuam comprando milhas em lotes. O número mínimo pode chegar a apenas 6.000 pontos, mas isso depende do programa de fidelidade e da oferta e demanda, medida diariamente. Quanto maior o lote de milhas oferecido pelo vendedor, maior o valor da cotação. — O lote mínimo depende do programa em que as milhas estão inseridas, mas também do mercado. Os valores variam conforme a quantidade que o cliente está oferecendo para vender. Hoje (quarta-feira), por exemplo, dez mil milhas da Latam custam R$ 240. Se a pessoa oferece a partir de cem mil, esse valor pelas dez mil milhas sobe para até R$ 280 — explica Tiago Chaves, sócio-gerente o Central Milhas.
Em levantamento de tarifas, a redução de preço na comparação com as companhias aéreas varia. E pode nem mesmo ocorrer. Um bilhete do Rio para Miami no dia 23 de outubro e retorno no dia 30 do mesmo mês custava no fechamento desta edição R$ 2.994,86 pelo PSV Turismo, voando com a Latam. No site da empresa aérea, a passagem custa R$ 2.580.
No MaxMilhas, ida e volta entre Rio e Lisboa, de 12 a 21 de março de 2018, sai a R$ 2.954,88, com a TAP. No site da aérea, o bilhete sai por R$ 4.278,72. Em linhas gerais, o uso dos sites funciona da seguinte forma:
- o cliente envia um e-mail oferecendo um número de milhas para vender. Ele recebe uma resposta com a cotação do dia para aquele lote. Se estiver de acordo, vai passar por uma análise cadastral até que o negócio possa ser fechado. Em um deles, o MaxMilhas, o cliente propõe quanto gostaria de receber pelos pontos. O site informa uma margem de valor máximo e mínimo disponíveis. A maior parte deles faz depósito antecipado em conta como pagamento. Todos usam login e senha do consumidor junto ao programa de milhagem para emitir bilhetes. Por segurança, recomendam que, após a emissão, o cliente altere a senha, embora afirmem que a plataforma é segura.
— Temos sites diferentes para cada operação justamente para garantir a segurança das transações e a privacidade — explica Tatiane Chaves, gerente do Elo Milhas, que mantém o Busca Aéreo, para venda de bilhetes para empresas e agências de viagens, e o PSV Turismo, que vende passagens ao consumidor final.
Fonte: O Globo
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