A eleição de Jair Bolsonaro propagou o vírus da anarquia militar. Aqui e
ali ouve-se falar em “núcleo militar” influindo no governo e
“desconforto” fora dele. Desde que o presidente disse ao ex-comandante
do Exército que “o que nós já conversamos morrerá aqui”, disseminou-se a
curiosidade em torno do que conversaram. [os insatisfeitos com a eleição do capitão Jair Messias Bolsonaro para a presidência da República e que buscam divulgar a existência de um vírus, que insistem em semear (quando o vírus que existia era representado pelo governo do maldito pt = perda total), resta um consolo:
- na Venezuela tem uma cópia do vírus do perda total que existia no Brasil;
- também na Coreia do Norte, hoje esquecida, existe vírus idêntico.] O fato da vida é que, para
impedir-se a eleição de um candidato do PT, com suas obras e suas
pompas, levou-se ao Planalto um capitão de pouca disciplina que, em
1988, baldeou-se para a atividade parlamentar. Ele levou na vice um
general de quatro estrelas (da reserva) que anos antes perdera o comando
das tropas do Sul por ter feito um discurso político.
O general tal acha isso, o general qual acha aquilo. Falta registrar que
todos os militares que ocupam cargos civis estão na reserva e comandam
apenas poderosas mesas. Chefe militar acha, mas não fala. Ninguém ouviu
uma só palavra do general Enzo Peri, que comandou o Exército de 2007 a
2015. O mesmo se pode dizer de Gleuber Vieira, comandante de 1999 a
2003. Ambos tipificam o general calado. Não falavam antes de assumir o
comando, nem falaram depois. O general calado é um enigma em si mesmo.
Move-se dentro das normas da corporação. Manda, mas não fala, mesmo em
épocas em que falam generais que não mandam ou, pelo menos, não mandam
tanto quanto se pensa. Olhando-se para trás, é fácil ver o peso do
general calado. [o que mais angustia os insatisfeitos com a eleição de Bolsonaro é que um general com poder, com comando - não de uma mesa e sim de tropas - falou e escolher falar com o presidente Bolsonaro e a conversa teve sua morte decretada na única vez em que sua existência foi ventilada.]
Castelo Branco só falou em março de 1964, dias antes da deposição do
presidente João Goulart. Emílio Médici foi o silêncio da orquestra e
chegou à Presidência sem dizer uma palavra fora das reuniões de
generais. Os irmãos Geisel, Orlando e Ernesto, nunca falaram. O general Euler Bentes, que em 1978 foi candidato a presidente pelo MDB
(o de Ulysses e Franco Montoro, não o que está aí) nunca falou enquanto
esteve na ativa. Derrotado, retirou-se no seu “Sítio do Pica Pau
Amarelo” e morreu em 2002. Seu curto necrológio foi publicado abaixo da
notícia da morte de “Mocinha”, a inesquecível porta-bandeira da
Mangueira.
No ocaso da ditadura e da anarquia militar, [que coincidiu com o surgimento da chamada Nova República na qual foi institucionalizado no Brasil tudo que não presta, passando pela corrupção, incompetência, desvalorização da FAMÍLIA, MORAL e BONS COSTUMES, ascensão de analfabetos ao cargo máximo da República, projeto de poder bancado por partido político cuja única função era disfarçar uma organização criminosa] havia alguns generais
falantes, mas ninguém se lembra, por exemplo, de Ademar Costa Machado e
de Jorge de Sá Pinho. Estavam no Alto Comando que barrou as bruxarias da
anarquia e garantiu a eleição de Tancredo Neves (pode ser verdadeira a
história segundo a qual Tancredo pediu para conversar com Costa Machado,
a quem queria colocar no governo. Ele pediu que se encaminhasse a
solicitação ao Ministério do Exército). Para dançar um tango e para
alimentar a anarquia, não basta um militar, mesmo que seja da reserva. É
indispensável uma vivandeira paisana. Durante a campanha eleitoral do
ano passado, um general organizou uma reunião para ouvir uma palestra de
paisano sobre obras de infraestrutura. Na sessão de perguntas, um
oficial quis saber qual dos dois candidatos a presidente teria mais
qualificações para tocar o assunto. O comandante da guarnição pediu que a
pergunta fosse ignorada e que o oficial saísse da sala.
Ouvir o silêncio do general calado é tarefa impossível, mas uma coisa é
certa: ouvir as falas dos generais da reserva em funções civis ou mesmo
fora delas, como se falassem pelos quartéis, estimula a anarquia,
embaralha os problemas e confunde a audiência. dos movimentos do
“Mestre” também conhecido como “Cardeal”.Nos últimos meses de 1963, teve pelo menos três conversas com o
embaixador americano Lincoln Gordon, que via nele um conselheiro e
redator de discursos do presidente João Goulart. Serpa testemunhou o
ocaso de Jango na madrugada de 1ª de abril de 1964. Em julho,
encontrou-se com o general Golbery do Couto e Silva, estrela da ditadura
nascente. Anos depois, frequentava o gabinete de um coronel da
confiança do general Emílio Médici. Em 1969, ao ser nomeado para a
Presidência, o general fez um discurso oferecendo-se para praticar um
“jogo da verdade” e restabelecer a democracia. Quem escreveu? Jorge
Serpa (mais tarde, Médici defenestrou o coronel para liquidar a
influência daquilo que o SNI chamava de “Grupo Serpa”).
O poderoso Jorge Serpa baixou à sepultura no cemitério São João Batista na terça-feira. Havia menos de dez pessoas na cena.
(...)
TRÍPLICE TEM TRÊS
Até as pedras sabem que o governo Bolsonaro tem um encontro marcado com inquietações nas universidades.
A retórica obscurantista do capitão levava a crer que dele partissem
medidas provocadoras. Deu o contrário. Há professores inquietos diante
da possibilidade de serem indicados para as reitorias mestres que não
encabeçam as listas tríplices encaminhadas pelos conselhos
universitários ao Ministério da Educação.
Como diz o nome, lista tríplice tem três nomes. Em 2009, o governador
José Serra nomeou para a reitoria da Universidade de São Paulo o segundo
nome da lista. A qualidade da reitoria do professor João Grandino Rodas
é outra história.
Elio Gaspari, Folha de S. Paulo
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