Exclusivo: Um (quase) café com o presidente
"Pode ter certeza que alguém do PT vai vazar a prova (do Enem)."
Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro
pontuou sua primeira conversa na manhã desta quarta-feira, 23, em
Davos, permeada ainda por críticas à imprensa, comentários sobre o poder
das redes, futebol, dólar, a situação da Venezuela e até mesmo
perguntas sobre a ortografia de palavras.
Quando um dos assessores de Bolsonaro chegou para o café, o presidente comentou: "Viu os pobretões que estavam na minha mesa ontem?", provocando risada geral. Ele se referia ao fato de que, na noite de terça-feira, 22, o jantar de abertura do Fórum incluiu em sua mesa o presidente da Suíça, Ueli Maurer, a rainha Rania, da Jordânia, o fundador do Fórum, Klaus Schwab, o presidente da Apple, Tim Cook, a rainha da Bélgica e o presidente da Microsoft, Satya Nadella. Parte do debate se concentrou na reação dos mercados e da imprensa sobre seu discurso em Davos, feito na terça-feira e que foi o mais curto já pronunciado por um presidente brasileiro no evento.
Mas, entre os assessores e mesmo o presidente, não foram poucas as críticas à imprensa e à interpretação publicada de que houve uma relação entre a queda do real e o conteúdo de seu discurso. "Tem cinco dias de alta e da uma baixadinha e dizem que é o discurso", se queixou Bolsonaro, em referência à moeda. Araújo destacou, de forma elogiosa, como dois jornais estrangeiros tinham dado destaque a certos trechos da fala do presidente, enquanto o resto da comitiva reclamava de que, no Brasil, foram as críticas que dominaram no que se refere aos trechos do discurso sobre meio ambiente. "E no Brasil dizem que eu me equivoquei ao falar das florestas", protestou o presidente. [no Brasil grande parte da Imprensa não aceitou a eleição de Bolsonaro;
e, agora, já que vão ter que aceitar, querem pautar o Governo Bolsonaro.]
Eduardo Bolsonaro dava uma atenção especial à cobertura do discurso realizado pelo jornal espanhol El País, que tem uma versão em português. Uma das pessoas na mesa chegou a qualificar o jornal de "vagabundo". "Um jornal vagabundo", insistiu. O deputado se surpreendia como, segundo ele, havia uma manchete no jornal espanhol diferente do título que o mesmo jornal havia dado para o discurso de Bolsonaro no Brasil. Eduardo, repetindo o que um grupo de jornalistas brasileiros tinha explicado um dia antes, tentou contar para o restante da mesa como ele ficou sabendo que, de fato, quem faz os títulos das matérias nem sempre são os repórteres, mas sim os editores.
Conspiração no Enem
A
conversa então migrou para a situação do Enem. "Pode ter certeza que
alguém do PT vai vazar a prova", disse Bolsonaro, num dos trechos da
conversa que está gravado. "Vai vazar", repetiu, insistindo para a
facilidade que seria "tirar uma foto". Nesta semana, o governo
Jair Bolsonaro tornou sem efeito a nomeação de Murilo Resende, que
assumiria a coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e o
nomeou para o cargo de assessor da Secretaria de Educação Superior do
Ministério da Educação (MEC). Durante o café, não faltaram comparações ao futebol e mesmo comentários sobre os times do São Paulo e Vasco, que disputam a final da Copinha nesta sexta-feira. "O sr. vai ter de entrar para dar parabéns", sugeriu uma das pessoas à mesa. Ao longo da conversa, um dos pontos centrais foi o poder das redes sociais e comentários sobre como o governo deve se comportar nesses meios. "É outro idioma", insistiu um dos assessores. A mesa também confirmou como Olavo de Carvalho é mesmo uma referência para o grupo. Num dos momentos da conversa, o brasileiro que vive no exterior foi citado como exemplo do que se deve fazer ao gravar vídeos para as redes sociais. "Você viu como ele faz?", perguntou uma das pessoas.
Eduardo, porém, alertava para o fato de que "muita gente nem lê o que postamos". "Olham a foto e já comentam, sem nem ler. Acho que apenas 5% das pessoas de fato leem o que se escreve", disse. Instantes depois, ele perguntou ao grupo: "Trilionário e bilionário têm (a letra) H?". "Não, né?". Ao terminar o café da manhã, a reportagem se aproximou do presidente, ainda que a segurança tentasse evitar. Ao ouvir que o repórter era do Estado, Bolsonaro disse que já trabalhou no jornal. "Eu entregava jornal."
Questionado se comentaria a situação de seu filho, Flávio Bolsonaro, o presidente virou as costas e, entrando em um elevador, apenas repetia: "Não, não".
O dia estava apenas começando em Davos.
Economia & Negócios - O Estado de S. Paulo
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