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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Diplomacia pode pôr em risco o acesso a mercados árabes

Não faz sentido Brasil entrar em conflito distante de seus interesses e perder espaço no comércio

O período de transição de governo, em dezembro, já demonstrou ao presidente Jair Bolsonaro que declarações suas e de membros da equipe passaram a ter um grande peso. Mexem com mercados, repercutem no exterior. E o país pode pagar um preço por isso. Um exemplo claro é Bolsonaro no caso da mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, desnecessária provocação aos palestinos em particular e aos árabes em geral. Uma juvenil demonstração de que pode repetir os EUA neste movimento. Não pode. [vamos atribuir que foi uma empolgação momentânea - o que não a torna menos inconveniente - do nosso presidente, e que foi devidamente corrigida indo para o balcão de assuntos menores e não urgentes e mostrando a todos que o Brasil vai pautar sua diplomacia interna pela defesa dos seus interesses e não por simpatias políticas.]
O presidente ainda estava em Davos, na terça, quando a Arábia Saudita anunciou a suspensão de importações de cinco frigoríficos brasileiros, sob alegações técnicas. Mas o recado foi evidente: confirmar a mudança da embaixada, o que significa reconhecer toda a Jerusalém como capital de Israel, levará a retaliações no comércio. E o país tem muito a perder bilhões de dólares em exportações e em milhares de empregos no agronegócio e seus segmentos. O Brasil é o maior exportador de carne halal, [uma série de medidas são necessárias para que a carne seja considerada halal e uma delas é que, sempre que possível, o animal steja posicionado na direção de Meca.] termo que significa “lícito”. Os frangos são abatidos conforme ritual, o que também acontece com alimentos kosher, para judeus. Também se exporta carne bovina da mesma forma.

Essas exportações são de US$ 4,5 bilhões anuais e sustentam 150 mil empregos diretos em pequenas cidades do Sul. Concorrentes do Brasil acompanham esperançosos a possibilidade de ganhar espaço neste promissor mercado. Um caso emblemático é o de Palotina, cidade do Oeste do Paraná, em que a cooperativa C. Vale conta com uma unidade halal de abate de frangos. Exporta, por mês, 3,2 mil toneladas. Fatura US$ 3,4 milhões, mantendo 5,2 mil empregos.
Há inúmeros exemplos como este, que ajudam o Brasil a ser um dos maiores exportadores de proteína animal do planeta. Posto que estará ameaçado, se o clima de campanha preponderar em decisões importantes de governo. Neste caso, não afetará apenas o setor de carnes, mas também 135 empresas certificadas para processar produtos halal. Oito exportam açaí para a Ásia e os Estados Unidos, açúcar orgânico para Japão, Coreia do Sul e também para o mercado americano. Até pão de queijo halal consta da lista de exportações.
Ao todo, para nações árabes, as vendas brasileiras passaram de US$ 9,8 bilhões para US$ 13,6 bilhões, em 2017, um aumento de 38%. Se, em algum momento, viera ser resgatado na política externa, em sua integralidade, o pragmatismo que sempre marcou a diplomacia brasileira, é certo que informações como estas serão levadas em conta.
 
Editorial - O Globo
 

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