Quando se trata de economia, o presidente Jair Bolsonaro pode ser tudo, menos ingênuo
[o nosso presidente Bolsonaro pode até parecer, pode até desejar deixar a impressão de ingenuidade, mas, não convence: ele é apenas firme em suas ideias, firmeza que as vezes o qualifica como extremamente teimoso.]
Entre vários dos dirigentes partidários e do Congresso existe hoje o
entendimento de que as relações com Jair Bolsonaro vão piorar muito no
segundo semestre. Acham que o presidente começará a sentir seu poder
pessoal aumentar, principalmente depois de demitir um nome respeitado
como o do general Santos Cruz, esperar algum ruído da ala militar e
perceber que ele não veio. Ou participar de uma reunião do G-20,
responder com pedras às pedradas que poderia receber da chanceler alemã
Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron, e ver que não
houve reação.
Pelo contrário. Bolsonaro saiu da reunião com um acordo assinado entre
Mercosul e União Europeia, acordo cujas conversações tiveram início em
1999, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, mas que só veio a
ser fechado no atual governo. Então, por que não atribuir a si tão
grande feito? Finalmente, dizem líderes partidários, Bolsonaro tenderá a
dizer que outros tentaram, mas só ele conseguiu uma reforma da
Previdência abrangente como a atual. E sem negociar cargos com os
partidos, estabelecendo o presidencialismo sem coalizão, para usar uma
expressão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Pode ser que as lideranças estejam certas e as relações entre Congresso e
presidente entrem mesmo num campo de choque. Afinal, quem é que pode
dizer alguma coisa sobre o futuro? Mas é pouco provável que um choque
forte ocorra. Mesmo que seja chamado de “ingênuo” pelo ministro da
Economia, Paulo Guedes, e admita que é mesmo, quando se trata de
economia, Bolsonaro pode ser tudo, menos ingênuo.
Ele sabe, e Rodrigo Maia também sabe, tanto é que já admitiu isso
publicamente, que no presidencialismo sem coalizão a tendência é de que
lideranças do Parlamento sejam fortalecidas. Ninguém pode dizer que Maia
não se fortaleceu muito nestes seis meses de governo de Jair Bolsonaro.
Maia tem hoje a seu lado líderes partidários como Baleia Rossi (MDB),
Arthur Lira (PP), Elmar Nascimento (DEM), Wellington Roberto (PL), André
de Paula (PSD), Paulo Pimenta (PT), Carlos Sampaio (PSDB) e Tadeu
Alencar (PSB), para citar alguns. Em resumo, a influência de Maia vai da
direita à esquerda, sendo muito forte no centro. O presidente do
Senado, Davi Alcolumbre(DEM-AP), também não faz nada sem conversar antes
com Maia. O fato de serem do mesmo partido facilita as coisas. Mas não é
só isso. Maia empresta a Alcolumbre a experiência que o presidente do
Senado não tem. [quando Maia cair, Alcolumbre vai junto, essa é a vantagem desse empréstimo de experiência; e quem vai emprestar votos aos dois?]
Quanto a Bolsonaro, mesmo que ele venha a se sentir o dono do mundo por
causa do acordo Mercosul/União Europeia, por ter enfrentado Macron e
Merkel, ou pela afinidade ideológica com Donald Trump, é o Brasil que
ele preside. Pode demitir um ministro forte como Santos Cruz sem maiores
problemas. Ele é o presidente. E num presidencialismo sem coalizão.
Mas, quando se trata da relação com o Congresso, não tem outra opção a
não ser negociar. Melhor: não tem outra opção a não ser negociar com
Maia.
Foi o que ocorreu em relação aos decretos que facilitavam a posse de
armas. Se Bolsonaro não tivesse recuado, seriam todos derrubados, assim
como foi derrubado o decreto que aumentava o número de pessoas aptas a
dizer o que era documento secreto e ultrassecreto. Em relação à reforma da Previdência, ela só andou tão bem porque o
Congresso a adotou como parte de sua agenda positiva. Se tivesse ficado
na dependência da articulação do governo, talvez hoje ainda estivesse
esperando pelo exame de admissibilidade da Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara a não já pronta para ir ao plenário. Bolsonaro, como dito acima, não é ingênuo. Ele depende do Congresso para
governar. Mesmo que na cadeira presidencial se sinta muito forte.
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