O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os EUA
[os dois parágrafos abaixo, mostram que laços de parentesco não significam, necessariamente, competência ou incompetência;
de qualquer forma, não é qualquer embaixador que tem um cacife de mais de 1.800.000 obtidos em 2018, em que foi candidato a deputado federal - é o recorde dos recordes.]
Há o nepotismo das ditaduras e há compadrio das democracias. Bill Clinton mandou Jean Kennedy Smith (irmã do falecido presidente) para a embaixada na Irlanda e Barack Obama mandou Caroline Kennedy, (filha de John) para a do Japão. (Uma meteu-se em encrencas, a outra foi irrelevante.) Isso, para não falar de Pamela Harriman, mandada por Clinton para a França. Seu mérito foi ajudá-lo na campanha. Fora disso, foi uma cortesã, mulher do filho de Winston Churchill e colecionadora de milionários, de Averell Harriman a Gianni Agnelli, passando por Ali Khan, Elie de Rothschild e Stavros Niarchos. Juscelino Kubitschek nomeou Amaral Peixoto embaixador em Washington. Genro de Getulio Vargas, tornara-se um cacique na política nacional. “Alzirão” saiu-se bem no cargo. Como ele, Eduardo Bolsonaro ganhou a embaixada depois de ter chegado ao Congresso pelo voto popular. Amaral Peixoto falava pouco e nunca disse bobagens do tipo “fritei hambúrgueres”.
Os senadores perguntando e o deputado respondendo. Afinal, se “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”, ele vai para Washington tocar chocalho. Nepotismo e trumpismo serão aspectos subsidiários. O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os Estados Unidos. Em 2015 o plenário do Senado rejeitou o embaixador Guilherme Patriota, designado por Dilma Rousseff, mas esse resultado teve mais a ver com a fraqueza do governo do que com a capacidade do diplomata. Pamela Harriman foi aprovada por unanimidade na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, viveu feliz em Paris, teve um derrame na piscina do hotel Ritz e morreu dias depois.
Palocci em 2002 e 2008
O comissário Antonio Palocci prestou 23 depoimentos à Polícia Federal e
agora conhece-se o resumo de suas confissões. Se cada fio da meada
tivesse sido puxado (ou se vier a ser puxado) o efeito dessas revelações
poderia ter sobre o andar de cima de Pindorama a consequência de dez
Lava-Jatos. Nas confissões de Palocci entrou todo mundo. Provas, até agora, nada,
salvo nas traficâncias de sua consultoria de fachada. O juiz Sergio Moro
começou a Operação Lava-Jato puxando um fio que saía de um posto de
gasolina, mas dificilmente a proeza se repetirá. Uma das confissões do
ex-ministro ilustra a resiliência da impunidade do andar de cima.
No seu 13º depoimento, Palocci contou que em 2008 sua empresa embolsou R$ 100 mil por ter ajudado a empresa Parmalat a liberar um crédito no Banco do Brasil.
Seis anos antes, quando Antonio Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, justificou a exigência de latas de “molho de tomate refogado e peneirado com ervilhas” numa licitação para a compra de 40.500 cestas sociais, informando que ele era produzido por uma empresa-companheira, mas também pela Parmalat. Era uma mentira conveniente para quem conduzia uma licitação viciada.
No telhado
Do alto do telhado, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, poderá avaliar o tamanho do tombo que arrisca tomar.
Bolsonaro não poderia ter sido mais claro: “Por enquanto está muito bem.”
(...)
Diplomacia
Em menos de um ano, a diplomacia bolsonariana já arrumou encrencas nos seguintes países, por ordem alfabética:
Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Chile, Cuba, França, Irã, Israel, Paraguai, Noruega e Venezuela.
Folha de S. Paulo - O Globo
Elio Gaspari, jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário