Enquanto o Ocidente se suicida, fala-se em 3ª via para a corrida
presidencial de 2022. O retorno dessa estratégia para o teatro das ações
significa desprezar o discernimento da sociedade brasileira. Supõe que
somos desmemoriados e incapacitados para nossas responsabilidades como
cidadãos. A peça exibida no teatro em questão é ruim e a gente
identifica, desde o início, os vilões e as vítimas do roteiro.
Lula e FHC
desfilavam ombro a ombro, braços dados em campanha pelas diretas e pela
anistia. Cochicho a cochicho, levaram ao limite do possível a
esquerdização da Constituição de 1988. Costuraram o Pacto de Princeton,
em 1993, definindo estratégias comuns ao Foro de São Paulo (Lula/PT) e
ao Diálogo Interamericano (FHC/PSDB). Nas seis eleições presidenciais
consecutivas de 1994 até 2014, seus partidos adotaram a estratégia
conhecida como “tesoura”, em que duas esquerdas, operam as lâminas para o
mesmo fim comum. E espicaçaram o país com a direita, sem nome, partido
ou movimento, votando no PSDB na reta final dos pleitos presidenciais.
Tão
prolongada supremacia só ocorrera no início do século passado, durante a
Primeira República, com a política “Café com Leite” das oligarquias de
São Paulo e Minas Gerais. Quase cem anos mais tarde, os dois velhos
amigos mantiveram o país na esquerda durante 24 anos. Nunca o MST foi
tão feliz como durante o governo de FHC;
nunca os banqueiros foram tão
felizes quanto nos governos de Lula e Dilma. Juntos, com mera troca de
manobristas e de retórica, levaram o Brasil para aquela esquerda que se
diz “progressista”. O estrago foi grande. Mas não desanimou os
propósitos, como se vê nos bastidores destes dias.
Aliás, o
nonagenário FHC já se abraçou com Lula jurando amor para a eleição de
2022.
E já se apartou de Lula quando percebeu o amplo apoio da mídia
amiga da esquerda para a proposta de uma 3ª via.
Esse apoio prova que a
ideia é ruim. E é ruim porque seu objetivo é restaurar a situação em
que, durante 24 anos, a direita (aqui entendida como conservadores e
liberais) foi representada por um candidato de esquerda: o vitorioso FHC
e os derrotados José Serra, Geraldo Alckmin, José Serra II e Aécio
Neves. Como resultado, a direita definhou politicamente por mais de duas
décadas.
Como podemos
ter uma terceira via política – porque política não é um candidato! – se
sequer temos uma segunda via política organizada?
A esquerda tem via
própria, ampla, pavimentada por muito trabalho!
Ela opera em toda parte,
onde houver poder público, ensino, cultura, comunicação social e meio
de influência. É uma via política muito mais eficiente do que a
representação dos seus partidos.
Agora querem
retornar. Se isso ocorrer, outras décadas fluirão. Conservadores e
liberais se recolherão, novamente, às catacumbas.
A 3ª via é a
estratégia da esquerda.
Cair nessa é levar-lhe em mãos a minuta de nosso
atestado de óbito.
Não votar em Bolsonaro porque ele é assim ou assado,
ou porque serão mais quatro anos desse ambiente conflituoso, significa
esquecer que tais conflitos são criados e mantidos para produzir esse
raciocínio e obter esse resultado!
Pela direita, leitores, só Bolsonaro vence essa eleição.
Olhem para o
palco. Vejam quem dá apoio a essa ideia que reputo desastrosa por suas
consequências passadas e futuras. O Brasil não pode retornar a quem
tanto mal lhe fez no governo e continua a fazer na oposição. Retomemos o
trabalho suspenso pelas absurdas regras atribuídas à pandemia e
comecemos a organizar a 2ª via política de que o país tanto necessita.
Ao menos aqui, salvemos o Ocidente!
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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