Passado o estresse da contagem dos votos, quando o início apontava para
uma vantagem do presidente e, pouco depois, uma inversão de posições
fazendo lembrar 2014, eu não tenho dúvidas de que o PT saiu derrotado e
Bolsonaro foi o exitoso desta primeira etapa. Vi isso nas expressões
fisionômicas de apresentadores da Globo e da CNN em cujas reações andei
dando uma olhada.
Cheguei à mesma conclusão observando a ausência de
comemorações petistas ao resultado das urnas.
O PT não sentiu que
venceu, nem que está à beira de uma vitória. Percebi preocupação em
alguns semblantes togados.
Diferente do
que apontavam as urnas, o resultado fez a bolsa de valores subir mais de
5% num único dia e a cotação do dólar despencar 4%, revelando que o
verdadeiro mercado (não o dos banqueiros da av. Faria Lima) tem
justificado receio de uma volta do bandido ao local do crime. É tudo
muito racional, compreensível e aponta para um horizonte favorável.
Por outro
lado – celebre-se! – o PT virou um partido do Nordeste brasileiro, como
outrora foi o PFL.
Nenhum partido vai longe se perder raízes nos centros
econômicos e nos grandes centros urbanos de um país que se urbaniza.
Depender dos grotões e suas demandas não é o sonho de nenhum intelectual
da USP, de nenhum “intelectual orgânico” ou inorgânico.
De uma situação
assim não vem hegemonia com perfume revolucionário capaz de agradar as
hostes petistas.
Tem mais. Os
partidos de esquerda encolheram! O PSDB sumiu da Câmara dos Deputados e
apenas no Rio Grande do Sul disputa um governo estadual.
Os ministros de
Bolsonaro que buscaram vaga no Senado foram eleitos, o presidente fez
99 deputados federais em seu PL e a sociedade escolheu um Congresso com
perfil amplamente conservador.
O leque de alianças a ele acessível é
muito superior ao de Lula.
Os partidos de esquerda conseguiram apenas
138 deputados, enquanto a direita elegeu 273 (o dobro). Esse grupo se
mobilizará em favor do presidente.
Onde buscar
votos adicionais para vencer a eleição para buscar a vitória no 2º
turno? Sobra trabalho. A abstenção alcançou 32 milhões de eleitores
(21%)! Entre os que votaram nulo ou branco há outros 5,4 milhões de
votos.
A soma dos candidatos fora do segundo turno envolve mais 10
milhões de sufrágios a serem trabalhados nas próximas quatro semanas.
Em
síntese, há quase 50 milhões de eleitores a serem conquistados para
alcançarmos uma confortável diferença sobre o ex-presidiário.
Essa tarefa começou anteontem. Ora et labora!
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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