Em nove empresas de pesquisas, nenhuma previa Bolsonaro com 43
pontos. Iam de 31 a 39. Entre as nove principais, apenas duas não
apontaram Lula como vencedor em primeiro turno
A indecisão na eleição presidencial desse domingo frustrou os dois lados
que agora vão para o segundo turno. O lado de Lula, porque acreditou
nas pesquisas que traziam indicação de vitória no primeiro turno. O lado
de Bolsonaro, que viu nas ruas e no oceano verde e amarelo a indicação
de ganhar fácil no primeiro turno. Assim como as ruas deixaram Bolsonaro
com ilusão, as pesquisas iludiram Lula deixando-o confiante a ponto de
ausentar-se das ruas. [Lula não se ausentou des ruas por causa das pesquisas;o que afastou o Luladrão das ruas foi medo de ser vaiado, OVOcionado e outros 'afagos' do tipo.]
As pesquisas reincidiram nos erros graves da eleição de
2018. Em nove empresas de pesquisas, nenhuma previa Bolsonaro com 43
pontos. Iam de 31 a 39. Entre as nove principais, apenas duas não
apontaram Lula como vencedor em primeiro turno. O "agregador de
pesquisas" do Estadão cravou 51 a 36 com a vitória de Lula. Em
São Paulo, maior eleitorado, as pesquisas deram pouca importância a
Tarcísio e ao Astronauta. Pontes elegeu-se senador com mais de 50% dos
votos e Tarcísio liderou o primeiro turno. Aqui em Brasília, as
pesquisas foram surpreendidas com Damares; acertaram no governador, mas
erraram a classificação dos demais.
Deputados e senadores eleitos estão se mobilizando em
busca de uma CPI para apurar se pesquisas tentam manipular o eleitor,
fazendo-o crer num resultado que possa influenciar na decisão do voto.
Sempre achei complicado tirar conclusões com uma amostra milesimal do
eleitorado que não é homogêneo.
Com o sangue humano, o laboratório pode
tirar resultados com uma gota, mas com o cérebro emotivo do eleitor, é
difícil até consultando uma amostra de 1%, que seriam 1.560.000
eleitores — mas entrevistam de 2.000 a 7.000 pessoas.
Amostragem de
0,0013 do todo — um eleitor representa 78 mil?
Ponha-se ciência nisso.
Acompanhei 25 eleições em 62 anos e nunca vi tanta pesquisa como agora.
Noticia-se mais sobre pesquisa do que sobre os candidatos e suas
intenções e programas. Impõem sobre o eleitor uma enxurrada de
pesquisas, como se fossem eleições diárias. Com que objetivo?
Quem acreditou em pesquisa ficou com a impressão de que
o Presidente se fortaleceu, como mostraram as manchetes do day after;
já quem acreditou nas multidões das ruas, ficou desconfiado dos
resultados. Tudo porque apareceu essa adivinhação que oferece uma bola
de cristal diária como revelação do resultado das urnas. Nesta eleição
presidencial, pode ser que as pesquisas tenham querido entregar ao
eleitor um fato consumado, mas o resultado disso nos candidatos pode ter
sido o contrário, pois a consequência foi relaxar os músculos de Lula e
estimular a atividade de Bolsonaro, que já fez maioria aguerrida na
Câmara e no Senado. Formou um Congresso praticamente inviável para seu
adversário.
Esta saturação de pesquisas e de empresas de pesquisa
revela uma atividade rentável, que encontra quem compre e encontra quem
acredite. Mas desvia o eleitor do tema principal, que é não a torcida
numa bolsa de apostas, mas pensar e debater sobre o passado do
candidato, seu caráter, seu desempenho em cargo público, suas ideias e
suas intenções. Muitas pesquisas, na prática e no cotejo com a realidade
das urnas, mais parecem agências de apostas e de propaganda.
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