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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Transição ao passado - Revista Oeste

A equipe chefiada por Geraldo Alckmin reúne antigos aliados do governo petista que também estiveram reunidos na lista do departamento de propinas da Odebrecht 

Da esquerda para direita, Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros, Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Jorge Bittar | Foto: Reprodução/Agência Brasil/Shutterstock

Da esquerda para direita, Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros, Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Jorge Bittar -  Foto: Reprodução/Agência Brasil/Shutterstock 

Ao ser reconduzido pelas urnas à cena do crime, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu Geraldo Alckmin (PSB), vice, ex-rival — e autor da frase que abre esta reportagem — para chefiar a equipe responsável pelo governo de transição. Os integrantes começaram a ser anunciados em 8 de novembro. “Tenho a alegria de fazer, em nome do presidente Lula, os primeiros anúncios do governo de transição”, declarou. Em diversos trechos, a lista remete a outra, revelada durante as investigações do escândalo da Operação Lava Jato, já que muitos integrantes da atual equipe também apareciam NO cadastro feito pelo departamento de operações estruturadas da Odebrecht, responsável pelo pagamento de propinas repassadas pela construtora. A começar pelo próprio Alckmin.

Na época, os codinomes do futuro vice-presidente da República eram “Belém” e “M&M”. Nada menos que R$ 13 milhões teriam saído do cofre da construtora para as campanhas dele em 2010 e 2014 ao governo paulista. Oeste fez um levantamento com 13 nomes de destaque anunciados para o governo de transição, incluindo o do antigo governador. Ao menos dez deles tiveram problemas com a Justiça e sete usaram a CPI da Covid como palanque para atacar o governo, que termina o mandato neste ano.

Alckmin
Geraldo Alckmin (PSB) | Foto: Reprodução
A volta dos comparsas
Gleisi Hoffmann (PT-PR) é um dos casos que se enquadram nos dois quesitos. Coordenadora da equipe de transição responsável pela articulação com os outros partidos, Gleisi foi extremamente atuante durante a CPI. Conhecida pelo codinome “Amante” no departamento de propinas da Odebrecht, foi acusada, junto com o ex-marido Paulo Bernardo em um dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Em parceria com o empresário Ernesto Kugler Rodrigues, a dupla teria levantado R$ 1 milhão para a campanha que levou a parlamentar ao Senado, em 2010.

O Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, absolveu o trio da acusação. Três ministros da Corte decidiram que não existiam provas para a condenação por lavagem de dinheiro e corrupção. Dois deles, Dias Toffoli e Lewandowski, chegaram ao cargo graças à indicação de Lula.

Senadora Gleisi Hoffmann | Foto: Sergio Silva/Agência PT

Ministros com ficha corrida
Conhecido como “Filósofo” na lista da Odebrecht, Paulo Bernardo foi ministro do Planejamento durante os dois mandatos de Lula na Presidência. Foi investigado por um esquema de corrupção implantando quando ele comandava a pasta acusado de desviar R$ 100 milhões.

O ex-marido de Gleisi
chegou a ser detido em 2016, mas passou poucos dias na carceragem. Agora, faz parte do núcleo de Comunicação no grupo de transição. Na escalação atual de ex-ministros de governos do PT também figuram Aloizio Mercadante (Coordenação dos Grupos Técnicos) e Edinho Silva (Esporte), que já foram denunciados pelo Ministério Público Federal. Na relação da construtora, seus apelidos eram “Aracaju” e “Itambé”, respectivamente.

Mercadante foi acusado de oferecer dinheiro pelo silêncio de Delcídio Amaral, ex-senador pelo PT de Mato Grosso do Sul. O ex-petista declinou da proposta e fechou um acordo de delação. Delcídio do Amaral disse que Edinho participou de um esquema para captar dinheiro do laboratório farmacêutico EMS para a campanha de Dilma à Presidência da República. O ex-ministro ainda apareceu no depoimento de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, como pivô do esquema que desviou R$ 20 milhões para o mesmo fim.

Atualmente, Edinho é prefeito de Araraquara, no interior de São Paulo. No comando do município paulista, ele é investigado em um esquema de compras irregulares de respiradores realizadas durante a pandemia de covid-19.

Quanto pior, melhor
A turma que cuidaria da transição, na verdade, começou a ser formada bem antes. Os primeiros nomes foram “anunciados” ainda em 2021. Na ocasião, Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) compuseram a equipe que, nos meses seguintes, trabalharia contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O palanque montado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em abril do ano passado, para investigar a covid foi o prenúncio do novo governo petista. Os discursos promovidos pelo trio e outros aliados durante os meses seguintes serviram de sustentação para a campanha eleitoral do petista para atacar o governo Bolsonaro.

O pujante esforço da senadora, que bradou em inúmeras entrevistas que o PT era o partido do Mensalão e do Petrolão, agora reivindica seu espaço no latifúndio governista

Atualmente, os principais rostos que figuraram durante a CPI são vistos rotineiramente cercando o novo grupo que vai comandar o Executivo a partir de 2023, já de olho em cargos e vantagens. “Essa equipe demonstra a dificuldade política que o governo vai ter para acomodar todas as correntes que deram sustentação à candidatura do Lula e fizeram essa composição”, disse Paulo Eduardo Martins (PL-PR), deputado federal.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado tradicional do PT, foi indicado para o conselho político da equipe de transição. Batizado de “Atleta” na lista da Odebrecht, foi alvo de seis inquéritos no STF, mais de 40 investigações e cinco processos de cassação. É um dos políticos mais influentes no círculo de Lula.

Na campanha eleitoral, o alagoano foi um dos maiores apoiadores do petista dentro do MDB. Ele chegou a se posicionar contra a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS), que hoje também faz parte da equipe de transição.Outra figura que esteve à frente da CPI e agora aparece no Grupo Técnico de Justiça e Segurança Pública é o senador Omar Aziz (PSD-AM). O ex-governador do Amazonas (na fila de investigados no STF por desvios de verbas destinadas à saúde) também já viu a mulher e três irmãos presos pela Polícia Federal, em 2019, por suspeita de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e 
Renan Calheiros (MDB-AL) | Foto: Wikimedia Commons

O senador Jader Barbalho (MDB-PA) foi suplente no circo parlamentar armado no ano passado. Agora, integra o conselho político do grupo de transição. Em 2016, uma delação premiada acusou oJacaré”, como era conhecido na lista da Odebrecht, de receber propina nas obras da Hidrelétrica de Belo Monte. A investigação, no entanto, foi arquivada neste ano pelo STF.

O petista Otto Alencar, da Bahia, foi escolhido para integrar o grupo de Desenvolvimento Regional durante a transição. Na CPI, ele é lembrado pelos ataques à médica Nise Yamaguchi, em junho de 2021. “A senhora não sabe nada de infectologia”, afirmou o senador, para insultar a médica. “A senhora deve saber a diferença entre um protozoário e um vírus. A senhora sabe?”. [esse petista senador e médico é tão defasado que aundo clinicava dava prioridde a uso de sanguessugas para fins terapêuticos.] Rodrigo Constantino, colunista de Oeste, escreveu na época sobre a tentativa de desqualificação da médica. “Foi o ponto mais abjeto desse espetáculo medonho da CPI da Covid”, observou.

Ao lado de Barbalho e Otto Alencar na equipe, Lula terá o midiático Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Vice-presidente da CPI, o parlamentar é um dos especialistas em judicializar o processo legislativo. No grupo da área da Saúde, o novo governo vai contar com o senador Humberto Costa (PT-PE),[conhecido nos círculos do crime, como 'drácula'] que era ministro de Lula quando estourou o caso da “máfia das ambulâncias”, em 2006. Anos mais tarde, o senador também apareceu na lista da Odebrecht, sob o codinome “Drácula”. Ele teria recebido R$ 1 milhão para beneficiar a empreiteira, mas o caso foi arquivado pelo STF no ano passado.

O grupo que atuou contra o governo Bolsonaro ainda conta com Simone Tebet (MDB-MS), ex-candidata ao Planalto e apoiadora de Lula no segundo turno. Na CPI, foi alçada como a voz feminina da patota, mas se calou diante dos ataques a Nise Yamaguchi. O pujante esforço da senadora, que bradou em inúmeras entrevistas que o PT era o partido do Mensalão e do Petrolão, agora reivindica seu espaço no latifúndio governista. E conseguiu: será coordenadora do Desenvolvimento Social.

simone tebet lula
A senadora Simone Tebet e o ex-presidente Lula, durante ato de 
campanha em Juiz de Fora (MG) – 21/10/2022 - 
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O trabalho da Comissão a favor da campanha petista terminou em outubro de 2021, com o indiciamento de quase 80 pessoas. Um ano depois, contudo, não foi elaborada sequer uma denúncia. Mas agora o foco da tropa lulista é outro. Todos querem colher os “frutos” da CPI nos próximos anos.

“O pessoal quer estar perto porque quer ter controle do processo, para não perder o espaço quando o governo assumir”, comentou Martins, sobre a escalação para a equipe de transição. O grupo escolhido mostra a dificuldade que Lula enfrentará para governar. E deixa claro que o futuro governo será uma angustiante transição ao passado.

Leia também “Desastre anunciado”

Artur Piva  e   Guilherme Lopes, colunistas - Revista Oeste

 

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