Análise Política
Os olhares sobre o andamento do Congresso Nacional e sobre as relações
deste com os demais poderes, em particular com o Executivo,
frequentemente deixam-se arrastar pelo viés personalista, desprezando um
elemento-chave para a análise: os presidentes da Câmara dos Deputados e
do Senado são primus inter pares, os primeiros entre seus iguais. [O Lira até pode ter alguma importância, mas o senador que preside o Senado, Pacheco (o omisso) pelo imenso talento que tem = não criar problemas para ninguém, especialmente para ele = estará sempre ao lado do apedeuta petista.]
Os ministros da Esplanada não podem fazer o impeachment do presidente da
República, mas os deputados e senadores têm o poder de cassar o mandato
do comandante da respectiva casa legislativa. Desde a chegada do PT ao
governo em 2003, dois chefes da Câmara caíram pela ação dos colegas:
Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha.
Este último alvejado no ápice do poder, depois de ter comandado a derrubada de uma presidente da República.
Em última instância, os presidentes da Câmara e do Senado precisam dançar conforme a música tocada pela orquestra dos colegas.
A eleição trouxe a Brasília um presidente à esquerda e um Congresso bem à
direita. Não chega a ser uma novidade. Mas a diferença está em dois
fatos. O primeiro: os anteriores governos do PT aconteceram numa época
em que a direita estava aprisionada política e ideologicamente pelo
campo social-liberal não petista, mas não antagônico ao PT.
Isso começou a acabar em 2013. Acabou em 2018.
O segundo é o destino dado às emendas de relator (RP9). O PT queria
eliminar o “orçamento secreto” para reconcentrar poder no presidente da
República. Acabou tirando poder dos presidentes da Câmara e do Senado,
pois boa parte dos recursos passou às emendas individuais impositivas,
portanto de execução obrigatória. Aumentou com isso a independência do
parlamentar.
Nenhum presidente de casa legislativa pode se dar ao luxo de virar
inimigo do governo. Mas hoje em dia, diante principalmente do segundo
fator acima exposto, tem bem menos poder para simplesmente tratorar a
base e impor a vontade. E isso vai exigir do Planalto um ajuste na linha
tradicional da articulação. Vai exigir que o governo, sem abrir mão da
força, enverede pelas negociações programáticas.
E precise ser mais minimalista que maximalista.
Num certo grau, está acontecendo na votação do “arcabouço”.
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