Ameaças anônimas aos juízes de Lula no julgamento
do dia 24 são inaceitáveis e confirmam o descaso do lulopetismo com as
instituições que atuam no combate à corrupção
Os sinais
de que o PT dá pouca ou nenhuma importância às instituições republicanas já
haviam aparecido no julgamento do mensalão, e se tornaram mais fortes ainda no
desmantelamento do petrolão pela Lava-Jato, em particular na reação às
denúncias contra o principal líder do partido, o ex-presidente Lula. Das quais
já resultou uma condenação, em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, com
pena de nove anos e meio de prisão, por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá, cujo recurso será julgado pelo
Tribunal Regional Federal da 4ª região, TRF-4, no dia 24, em Porto Alegre. Se
confirmada a condenação pelos três desembargadores do tribunal, Lula deverá
ficar inelegível por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa.
É
coerente com esta postura de descaso por parte do PT o fato de a linha da
defesa do ex-presidente ser basicamente política, como se os advogados subissem
no palanque a cada argumentação em favor do cliente. Não se tenta responder de
forma direta e objetiva às acusações. E, quando
isso é feito, como no caso da apresentação de supostos recibos do alegado
aluguel pago pelo imóvel vizinho ao de Lula, em São Bernardo, que provariam não
ser dele o apartamento, as provas ficam sob suspeita. O Ministério Público
considera falsos os recibos.
A linha
básica da defesa de Lula é o discurso de que tudo não passa de uma manobra para
afastar o ex-presidente das urnas de outubro. É a mesma tática usada no caso do
impeachment de Dilma: foi um “golpe”, diz o PT, sem qualquer preocupação em
refutar com argumentos substantivos os crimes cometidos segundo a Lei de
Responsabilidade Fiscal, passíveis de perda de mandato. Como aconteceu. Assim, a
convocação que o partido e organizações ditas sociais fazem para militantes
estarem em Porto Alegre no dia 24 é pressão política, indevida, sobre os
desembargadores do TRF-4.
O
presidente do tribunal, Carlos Eduardo Thompson Flores, revelou no domingo que
os três juízes sofrem ameaças anônimas, assunto que o desembargador tratou
ontem, em Brasília, com a presidente do Supremo e do Conselho Nacional de
Justiça, ministra Cármen Lúcia, e a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge. Há algum tempo, o presidente do TRF-4 pediu providências às autoridades
da área de segurança. A julgar
pelo que aconteceu quando Lula, pela segunda vez, foi prestar depoimento ao
juiz Sergio Moro, em Curitiba, em setembro, sobre a acusação de receber
propinas da Odebrecht, incluindo o apartamento de que é vizinho, e tudo
transcorreu dentro da ordem, não se deve esperar nada diferente no dia 24.
Havia militantes nas ruas, mas o sistema de segurança funcionou bem na capital
do Paraná, e tudo indica que acontecerá o mesmo em Porto Alegre.
Mas a
responsabilidade pelo que poderá acontecer de problemas na cidade será do PT,
pela clara intenção já demonstrada de pressionar os juízes. Atitude que
confirma o clássico descaso lulopetista com a atuação da Justiça e do MP na
repressão histórica à corrupção na política, da qual o partido é protagonista
de primeira grandeza.
Editorial - O Globo