A Band
realizou nesta quinta o primeiro debate entre candidatos à Presidência
da República na disputa deste ano. Participaram 8 dos 12 postulantes:
Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT),
Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles
(MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). O ausente da noite, e
sem lamento dos presentes, foi o PT. Apanhou de quase todo mundo e não
pôde se defender. Por que o tal Daciolo estava lá, e João Amoedo (Novo)
não? Já chego lá, Antes, comentarei alguns desempenhos.
No
critério do ridículo, Álvaro Dias só perdeu para Cabo Daciolo. Se este
emendava uma “para honra e glória do Senhor Jesus” a cada bobagem que
dizia, Dias não fazia por menos: “Para honra e glória do senhor Sérgio
Moro”. Prometeu nomear o juiz Ministro da Justiça umas 200 vezes. Vem
fazendo isso há tempos. E não foi desautorizado, até agora, pelo
coruscante magistrado, que chega a competir com os holofotes… No momento
mais engraçado da noite, o destrambelhado Daciolo acusou Ciro Gomes de
ser fundador do “Foro de São Paulo”, o que é mentira, e pediu que o
pedetista explicasse o que é “Ursal”… E Ciro, mal contendo o riso: “O
que é o quê? O que é isso?”
[Nota Blog Prontidão Total:
a URSAL, oficialmente UNASUL, pretendia transformar a América Latina na
UNIÃO DAS REPUBLICAS SOCIALISTAS DA AMÉRICA LATINA - URSAL, seria a
substituta da extinta URSS e localizada na América do Sul.
Com
a consolidação da Rússia e a concretização do desmanche da URSS - União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o plano foi por água abaixo e
hoje é uma fonte de despesas, fadada à implosão.]
O
ex-bombeiro, ora deputado, com gramática peculiar, explicou tratar-se da
“União das Repúblicas Socialistas da América Latina”. Ciro, então,
afirmou: “A democracia é maravilhosa, mas tem seu preço”. Daciolo acabou
sendo útil a Jair Bolsonaro. E nem tanto pela dobradinha que chegaram a
ensaiar. É que, no contraste com o deputado do Patriota, até o
“Bolsomito” assume ares de Schopenhauer… Não! O candidato do PSL não
disse nada de relevante e não explicou uma miserável de suas propostas.
Mas demonstrou que sabe se conter. Conseguiu driblar o despreparo com
generalidades sobre isso e aquilo. Até tentava sorrir. A minha
pegada é psicanalítica: acho que Bolsonaro se via no espelho. Ele
certamente ouvia a própria voz quando o bombeiro falava e, digamos, viu
materializar-se, no desempenho do outro, o seu próprio ridículo.
Guilherme
Boulos cumpriu o papel de “o socialista da turma”: contra os ricos, os
bancos, os demais candidatos, todos eles “tons de Temer”, expressão
repetida à exaustão. Encarnava o Lula de 1989, com a gramática no lugar,
mas não as ideias. A realidade mudou, mas está ali um esquerdista em
construção. Henrique
Meirelles tem o que dizer, mas ainda está pouco à vontade: tentou um tom
um pouco mais agressivo, mas o figurino não se ajusta à sua fala.
Aquele que é, provavelmente, o único verdadeiramente liberal do grupo
apelou mais de uma vez ao governo Lula para exaltar os próprios feitos. Geraldo
Alckmin (PSDB) foi quem vestiu melhor o figurino “presidencial”. De
longe, foi o que adjetivou menos e detalhou mais as propostas. Como é
sereno e fala com desenvoltura, acabou tendo um bom desempenho em meio
às falas desencontradas e à pletora de generalidade da maioria dos
adversários.
Ciro
demonstrou a retórica azeitada de sempre — é quem tem o discurso mais
arrumado, goste-se ou não do que diz —, mas o formato não permitiu que
desenvolvesse o seu melhor. Marina
Silva foi Marina Silva, mas, como já notei, ela anda com menos
clorofila. Parece estar cada vez mais em outra dimensão. Resolveu
assumir o papel de ombudsman dos demais candidatos e se saiu com uma
patetada ao tentar pegar no pé de Alckmin por causa do apoio do centrao:
“A forma como se ganha determina a forma de governar”. É? Bom saber.
Como Marina só se coligou com o PV, se ela ganhar, governará sem
ninguém, como ditadora.
E por que Amoedo não estava? Porque o Artigo 46 da Lei Eleitoral determina:
“Independentemente da veiculação de
propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada
a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as
eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de
candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no
mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais (…).
Emissoras
deveriam ser livres para convidar quem lhes desse na telha. Mas há essa
exigência. E cabo Daciolo se enquadra nas regras. Pela honra e glória do
senhor Jesus.
Que amava também as pessoas ridículas.
Blog do Reinaldo Azevedo
[TESTEMUNHA É OBRIGADA A DIZER TODA A VERDADE, SOMENTE A VERDADE, NADA MAIS QUE A VERDADE.]