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domingo, 2 de outubro de 2022

Nunca foi tão fácil escolher - Revista Oeste

Ubiratan Jorge Iorio

A semeadura liberal plantada desde 2019 pela equipe econômica do governo brasileiro começa a mostrar os seus bons frutos

Lula e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/PR/Shutterstock Lula e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/PR/Shutterstock 

As eleições que estão ocorrendo são as mais importantes da nossa história e representam algo muito além de uma simples decisão dominical entre dois nomes. Desta vez, a vitória de um ou de outro candidato definirá a estrutura econômica, o arcabouço ético e moral e o esqueleto político e institucional da sociedade brasileira que serão trilhados por nós e nossos descendentes por um longo caminho.

A enorme importância do pleito deste ano não decorre somente da propalada divisão ou polarização da sociedade — fato que, costumeiramente tratado como algo indesejável, nada mais é do que a expressão salutar de um alargamento do espectro de ideias. A verdade é que, durante anos e até há pouco tempo, o Brasil foi território quase exclusivo de ideias de esquerda, com matizes um tanto diferenciadas, mas todas colocando o Estado como um pai cioso de sua missão de cuidar dos filhos, escolhendo o que acha ser melhor para os cidadãos, estabelecendo o que todos podem e o que não podem fazer.

Até pouco tempo atrás, vivíamos num país em que se dizer de esquerda ou progressista despertava admiração, e em que as pessoas sentiam acanhamento, ou mesmo vergonha, quando eram classificadas como de direita ou conservadoras, palavras que soavam como insultos e atraíam imprecações. Na economia — e sou um dos raros que podem atestar isso — era preciso, muitas vezes e em muitos ambientes, na academia, no bar e no escritório, ter coragem, determinação e bastante convicção para afirmar-se como liberal e defensor da economia de mercado. As reações dos pares, amigos e colegas de trabalho costumavam variar do deboche ao desprezo, do ar de superioridade ao descrédito, da arrogância à indignação.

Felizmente, nos últimos dez anos, graças em boa parte à internet, isso foi mudando e surgiram economistas e outros profissionais liberais sem medo de serem assim chamados, direitistas sem receio de serem identificados como tal e conservadores com a fortaleza necessária para defender valores morais imutáveis — mas que eram negados e ridicularizados em novelas, filmes e universidades. 
Quebrado o monopólio do pensamento, a reação da esquerda foi a de demonizar a “polarização” da sociedade, responsabilizando-a como propagadora de ódio e divisões. A esquerda, cuja essência sempre foi jogar uns contra os outros, só é democrática da boca para fora, porque não admite discordâncias. 
Sim, as coisas mudaram, e Bolsonaro foi e é o catalisador da transformação.

A guerra na Ucrânia vem sugerindo que o comando do mundo pode estar prestes a mudar de mãos rapidamente

Posto esse processo de acirramento de divergências, para entender mais amplamente o tamanho da responsabilidade que pesa sobre os eleitores nestes dias, é necessário pôr em pratos limpos tudo o que está em jogo. Para isso, temos de pesar e sopesar os vários e complicados elementos — internos e externos — que estão influenciando o processo eleitoral.

Três forças externas
Começando pelos componentes externos, é bastante claro que há atualmente no mundo três grandes forças com fortes interesses no resultado que sairá das urnas em 2 de outubro. A primeira é o globalismo, resumido nas proposições da Nova Ordem Mundial (NOM), liderada por megafinancistas, como Soros, as famílias Rothschild e Rockefeller, o Banco Morgan, os bilionários da high tech, entidades como o Fórum Mundial de Davos, palco do lunático Klaus Schwab, a ONU e outros organismos internacionais. Esse grupo poderosíssimo tem interesse na vitória de Lula, mesmo sabendo de seu passado repleto de ilícitos penais, — não tanto por ele, mas, sim, por causa de Geraldo Alckmin, que representa a chamada terceira via. 
Um eventual governo social-democratapara surpresa dos distraídos — lhes permitirá continuar a ditar os rumos do mundo sem os arroubos mofados do lulopetismo e livres dos conservadores e liberais defensores dos costumes e do livre mercado.
 
A segunda força externa é o Partido Comunista Chinês (PCC), que obviamente também apoia a campanha de Lula e da esquerda raivosa. Poder-se-ia cogitar uma união dos globalistas com o PCC, mas é visível que essa combinação é instável, devido às desconfianças de lado a lado, que também prevalecem na aliança entre o petista e o ex-tucano. 
Não há dúvida de que, caso a chapa saia vitoriosa, em alguns dias, traidores de ambos os lados — e não serão poucos — estarão mostrando os dentes, motivados pelas divergências internas ou pelas existentes entre essas duas forças mundiais. 
Na verdade, não existe uma China, mas pelo menos duas: a dos Brics, com Xi Jinping à frente, e a do PCC, em permanente disputa pelo poder. Isso significa que, em termos de China, o grupo que apoia Lula não é o mesmo que apoia Alckmin. As lâminas das tesouras lá de fora são diferentes das tupiniquins.

E a terceira força externa significativa é a dos soberanistas, formada por altas patentes das Forças Armadas dos Estados Unidos e de alguns Estados da Europa, pelos republicanos liderados por Trump e por poucos governos de direita de países europeus, como o da Polônia, o da Hungria e o da Itália — depois da estrondosa vitória de Giorgia Meloni e da coalizão de centro-direita no último domingo. Este terceiro grupo também tem interesse no fortalecimento dos Brics e apoia Bolsonaro. O discurso que o presidente brasileiro fez na ONU há poucos dias foi mais uma confirmação de que o Brasil se alinha a essa força.

O jogo mundial está mudando
A guerra na Ucrânia vem sugerindo que o comando do mundo pode estar prestes a mudar de mãos rapidamente. O boicote imposto à Rússia patrocinado pelo governo medíocre de Joe Biden e pelos europeus foi um tiro que saiu pela culatra: cumprindo as ordens dos seus senhores globalistas, esses governos de fantoches imaginaram punir a Rússia congelando suas reservas em dólares e proibindo suas exportações, especialmente de petróleo e gás
Só que deixaram de considerar o fato elementar de que a Europa, literalmente, depende do petróleo e do gás da Rússia. Cometeram o erro infantil de colocar o dedo na tomada e ainda estão sentindo o choque, que é forte.
A administração de Biden uma espécie de escritório dos globalistas perdeu rapidamente a capacidade de comandar o mundo e, consequentemente, o respeito.  
O resultado dessa péssima escolha é que a NOM — que, além do governo Biden, controla o Reino Unido, a Inglaterra, a França, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, além de outros países — vem perdendo poder e relevância.

Por outro lado, a importância dos Brics vem aumentando. Para começar, é preciso atentar para o fato de que a população total dos seus cinco países representa perto de 42% da população mundial, sua extensão territorial ocupa algo em torno de 25% de todo o planeta e três de seus membros, a saber, Rússia, China e Índia, possuem poderio nuclear.

Além disso, no embalo da questão da Ucrânia — acirrada pelos governos de Biden e de países europeus —, a liderança da Rússia foi crescendo em resposta às sanções que esses governos dominados pelos magnatas autoritários da NOM impuseram. Sobreveio, então, uma espécie de insubordinação internacional, desde que o país de Putin decidiu que apenas continuaria a vender petróleo, óleo e gás para os europeus se as suas exportações fossem pagas em rublos e lastreadas em ouro. Em seguida, intensificaram-se as relações comerciais dos russos com os chineses e com os indianos, fazendo surgir o embrião de um novo sistema internacional de pagamentos. 

Apareceram, então, os primeiros indícios de possíveis ameaças à velha hegemonia do dólar, que, como se sabe, desde 1971, é uma moeda sem lastro. Em adição, a inflação e a recessão nos Estados Unidos e na Europa estão fragilizando, respectivamente, o dólar e o euro e abalando negativamente as bolsas de valores, além de, paralelamente, enfraquecerem suas economias.  

O desastre aumenta com os efeitos catastróficos sobre a produção de alimentos e a oferta de energia decorrentes das sanções à Rússia, das políticas econômicas expansionistas catastróficas adotadas pelos governos dominados pelos globalistas durante a pandemia e do seu culto irresponsável ao “deus-clima”, uma crendice que os acabou levando a reautorizar o carvão a entrar na Europa pelo elevador social.

A economia no Brasil e no mundo
É nesse contexto geopolítico que estamos assistindo a um aumento considerável da importância do Brasil no novo arranjo mundial que parece estar se configurando. E, se olharmos apenas para a economia, o despertar do gigante verde e amarelo torna-se mais evidente, porque a semeadura liberal plantada desde 2019 pela equipe econômica do governo brasileiro começa a mostrar os seus bons frutos, mesmo tendo enfrentado a chuva da pandemia, a seca dos golpes baixos da velha imprensa, as cochonilhas de uma oposição não propositiva e os pulgões de um poderoso grupo de togados com vocação política.

Efetivamente, ao compararmos um a um o desempenho dos indicadores econômicos do Brasil com os mundiais, quando examinamos os dados da nossa economia, sacudimos várias vezes a cabeça para cima e para baixo em sinal de aprovação e, quando olhamos para os outros países, abanamo-la da direita para a esquerda, sinalizando reprovação. Aqui, inflação em queda, lá, em ascensão. Aqui, PIB em alta sustentada, lá, recessão. Aqui, vultosos investimentos privados esperando o resultado da eleição para ingressarem no Brasil, lá, o capital internacional em polvorosa. Aqui, mercado, lá, governo.

Depois de todas essas considerações, percebe-se que a reeleição de Bolsonaro fortalecerá a posição dos soberanistas e enfraquecerá ainda mais os globalistas e o totalitarismo da NOM, uma vez que o decorrente crescimento estrutural da economia brasileira, com baixa inflação, tenderá a fortalecer o real. Se Bolsonaro vencer, teremos de olhar para a possibilidade de sermos protagonistas na formação de um novo desenho financeiro no mundo. Nesse contexto, commodities como petróleo, fertilizantes, soja, minério de ferro, carne, milho, etc., bem como processadores de computadores e semicondutores, seriam comercializados em moedas dos Brics, a saber, o iuane chinês, o rublo russo, a rúpia indiana e o rand sul-africano, além do próprio real, o que tenderá a valorizá-las.

Isso significa maior escassez e inflação nos Estados Unidos e na Europa, quebras de grandes fundos de investimentos e a eventual destruição, para o bem da humanidade, dos illuminati da NOM. A velha lógica pós-Segunda Guerra Mundial, baseada no conflito entre capitalismo e socialismo, assim como a hegemonia norte-americana e o reinado dos petrodólares, poderá ir por água abaixo e naufragar de vez. Acrescentem-se os fatos de que hoje o Brasil supre alimentos para cerca de 20% do mundo, que é um país abundante em recursos naturais e que o poder mundial não é mais uma questão só de ter ou não mais armamentos, mas também de deter matérias-primas.

Exportações do agronegócio
Carregamento de milho no Porto de Paranaguá, no Paraná - 
Foto: Ivan Bueno/APPA
Por tudo issofora outros fatores que a limitação de espaço impõe —, entende-se o desespero dos globalistas.
 Apavorados com a possibilidade de que o Brasil passe a ser efetivamente um líder mundial importante, empenham seus imensos recursos na campanha do principal inimigo de Bolsonaro nas eleições.
E bancam coisas do arco da velha, desde que possam impedir a reeleição do presidente: ataques e mentiras de todos os tipos, manipulação de pesquisas de intenções de votos, dinheiro para o consórcio da velha imprensa e para qualquer um disposto a desempenhar o papel de pica-pau da arca de Noé
 Não é para estranhar que banqueiros e empresários brasileiros estejam tentando furar a barca com seus bicos de ouro. São globalistas. Amigos, nunca foi tão fácil escolher. 

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio

Leia também “Pensando em nossos descendentes”

Ubiratan Jorge Iorio - Revista Oeste


segunda-feira, 20 de junho de 2022

As circunstâncias políticas da inflação - Alon Feuerwerker

Resta pouca dúvida de que a inflação do momento é um fato global. Ela decorre, na origem, de dois acontecimentos centrais: a quebra de cadeias produtivas na Covid-19 e a maciça injeção de liquidez para enfrentar o tranco do breque trazido pela pandemia. A isso se somou, mais recentemente, a guerra na Ucrânia.

Explicar a origem dos fenômenos econômicos é missão para economistas, acadêmicos, jornalistas e curiosos, não necessariamente nessa ordem de prioridade. tarefa central de cada governo é oferecer soluções para os problemas enfrentados pela respectiva população.

De governos, espera-se que tenham convicção e força. Perigoso, para o governo, é quando ele se concentra em tentar justificar-se, em vez de gastar o tempo e os neurônios para apontar os caminhos de saída da encrenca. Tudo piora se o edifício institucional e as circunstâncias políticas funcionam como obstáculos a encontrar alguma solução razoavelmente eficaz. No Brasil, neste momento, os diversos agentes parecem orientados somente pelo interesse eleitoral de curto prazo.

Não é uma crítica, seria até pueril. Afinal, este é nosso sistema político, escolhido e amplamente aceito há mais de quatro décadas.

O debate sobre a inflação, a grande eleitora de outubro próximo, segue Ortega y Gasset: tem sido ele mesmo e suas circunstâncias. O governo diz que não tem culpa, está tentando de tudo, mas outros atores (a situação mundial, a Petrobras, os governadores) atrapalham. A oposição, naturalmente, diz que a culpa é do governo. E assim segue o baile, à espera de quem terá mais garrafas para entregar no dia da urna.

O que ninguém explica, por enquanto, é como fazer para evitar a propagação inflacionária e uma maciça reindexação da economia mantendo, simultaneamente: 1) o teto de gastos, 2) a paridade interna com os preços internacionais do petróleo e 3) a autonomia da Petrobras sem, last but not least, 4) produzir uma forte retração econômica bem no momento em que a atividade e o emprego mostram sinais de querer superar a paralisia.

Porque o Banco Central legalmente autônomo não vai ficar assistindo de camarote. E 5) a lei que garantiu autonomia à autoridade monetária impede o governo de esquentar a chapa sob os pés dela como está fazendo com a Petrobras.

O arcabouço institucional brasileiro obriga qualquer governo a entrar nesse tipo de luta de boxe com uma mão amarrada nas costas. Mas não é só isso. Esta administração foi eleita também com o compromisso de manter e aperfeiçoar a agenda liberal, e cavalos-de-pau programáticos nesse terreno não são nunca indolores, Dilma Rousseff que o diga.

Mas guinadas podem dar certo, como quando o megabilionário auxílio emergencial foi aprovado e unanimemente aplaudido ali na largada da Covid-19. Eram outras as circunstâncias, duas em particular:  
1) o risco de uma maciça quebra empresarial e 
2) a vontade da oposição de enfraquecer a agenda vitoriosa em 2018. 
O primeiro fator sempre relativiza as mais sólidas convicções liberais. Mas o que prevalece agora é a ausência do segundo elemento.

A prioridade de momento da oposição é enfraquecer não a agenda, mas o governo e o incumbente candidato à reeleição. A oposição de centro-direita cobra do governo coerência e manter os fundamentos econômicos prevalentes desde 2015. Até por não se incomodar, ao contrário, com as consequências que isso terá para a recandidatura de Jair Bolsonaro.

E na oposição que se esforça para apresentar-se como centro-esquerda o ideal agora é não aprofundar um debate econômico potencialmente capaz de provocar rachaduras na Arca de Noé.

As oposições tocam a bola de lado e de vez em quando fazem faltas para truncar o jogo, enquanto esperam o apito final. 
Quem está na dependência de fazer gol é o governo. 
Pois reclamar do juiz, do gramado e das vaias da torcida não vai mexer no placar.  
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 
 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Onde foi parar a ‘crise hídrica’? [claro que haveria apagão] O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo
 
Ia faltar água. Ia faltar comida, mas o que aconteceu: choveu, como sempre

E a “crise hídrica”, lembram-se dela? Onde é que foi parar a crise hídrica que o governo não conseguia resolver e que, até muito pouco tempo atrás, ameaçava a sobrevivência física do Brasil? Ia faltar água. Ia faltar luz. Ia faltar comida. A indústria, o comércio e os serviços iriam parar. Os computadores iriam entrar em colapso por falta de energia elétrica. Sem os computadores o resto da atividade humana teria forçosamente de cair morto. Era, outra vez, o “Bug do Milênio”piorado, agora, pela sede, a falta de banho e outras desgraças.

Mas a “crise hídrica”, no corrente momento, está com baixo índice de popularidade no noticiário; parece ter saído do “index” da calamidade nacional permanente que a mídia cultiva com devoção religiosa em suas primeiras páginas e em seus horários nobres. O que aconteceu para a mudança? Choveu. Foi isso: choveu e a falta de água nos reservatórios deixou de ser um problema, como sempre acontece quando chove, desde a Arca de Noé.

O público brasileiro, já há muito tempo, não recebe um conjunto de informações coerentes por parte dos veículos de comunicação. Em lugar disso, dia após dia, hora após hora, recebe um pacote de neuroses. A inflação disparou. (Só no Brasil; no resto do mundo não há inflação.) O desemprego está muito alto. (Só no Brasil; no resto do mundo não há desemprego.) A economia está parada. (Só no Brasil: no resto do mundo a economia está bombando, à toda.) O resultado disso é muito simples. Os jornalistas, dando testemunho da catástrofe, ficam felizes por terem cumprido o que estimam ser o seu “dever político”. O público fica sem saber o que está acontecendo.

Energia elétrica
‘Crise hídrica’ ameaçava a sobrevivência física do Brasil: o que aconteceu para a mudança? Choveu. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters - 29/8/2018

O Brasil está sendo deformado, cada vez mais, pela transformação do debate público num pátio dos milagres em que não há mais o esforço de se raciocinar, nem a observação dos fatos, e nem a presença de vida inteligente. Só existe, como realidade, a ideia fixa de construir miséria – material, moral e política. Se não é desastre, no Brasil de hoje, não existe.

O nível de água nos reservatórios não depende da vontade dos comunicadores, nem dos desejos dos especialistas climáticos ouvidos por eles – ambos na busca perene do fim do mundo que vai, enfim, eliminar a direita” da sociedade brasileira. [a quase totalidade dos especialistas, especializados em NADA, dos que profetizam hoje o que ocorreu, é formada por EX (frustrados pois em algum tempo foram alguma coisa no órgão que hoje criticam e anseiam para voltarem) e de recém formados desesperados devido  no primeiro concurso a que se submeteram, foram reprovados com louvor.] Depende, isto sim, do regime de chuvas, que não é controlado pelas redações, nem por sistemas de ideias. Mas essa, segundo nos asseguram os encarregados de pensar por todos, é uma observação claramente negacionista, terraplanista e genocida. Estão negando a “crise hídrica”? Querem que milhões morram por falta d’água? Não estão vendo a catástrofe da “mudança climática” no “planeta”? É aonde chegamos, em matéria de raciocínio.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo

 

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Enquanto opositores brigam, o presidente alcança novos eleitores - Blog Thomas Traumann

Como Bolsonaro montou sua própria frente ampla  

As oposições têm falado sobre a formação de uma “Frente Ampla”, uma espécie de Arca de Noé onde caberiam todos os animais que rejeitam Jair Bolsonaro. O problema é que a “Frente Ampla” é daquelas expressões bonitas de falar e que na vida real funcionam como no ditado “farinha pouca, o meu pirão primeiro”: só alimenta quem chega antes ao tacho. Enquanto se estapeiam pela comida insuficiente, as oposições poderiam aprender a montar uma “Frente Ampla” com o político que nos últimos dois anos alargou seus laços para além de seus apoiadores originais. Sim, ele mesmo: Jair Bolsonaro.

Eleito por uma pororoca de interesses cujo denominador comum era a ojeriza ao PT, Bolsonaro reforçou os laços com alguns grupos fundamentais para sua vitória em 2018. Ele consolidou a inédita unidade de apoio das várias denominações pentecostais, tornou mais robusto o alinhamento com o Exército e as Polícias Militares e ganhou ainda mais popularidade junto ao agro com o desmonte do Ibama e o projeto de regularização de terras griladas na Amazônia. O mercado financeiro que se enamorou de Bolsonaro sob o pretexto de que estava votando em Paulo Guedes, já descobriu que o presidente é um despreparado, mas não vai abandonar o barco enquanto tiver bônus no fim-do-ano. Em 2020, com todos os solavancos, o bônus foi generoso.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro estendeu seus domínios. Aos miseráveis, ofereceu o Auxílio Emergencial – de longe o maior feito do seu governo. Aos políticos do Centrão, o presidente soltou emendas parlamentares como nenhum antecessor. Nêmesis dos governos petistas, o Ministério Público foi enquadrado pelo novo procurador geral, enquanto a Polícia Federal passou a enxergar erros apenas nos governos adversários.

(..........)

Feitas as contas, Bolsonaro ganhou mais que perdeu. Se a eleição fosse neste ano, o campo bolsonarista seria favorito.

Mas como escrevi aqui, Bolsonaro não foi eleito para enfrentar os problemas da economia ou salvar vidas do coronavírus. Ele foi eleito para “acabar com tudo isso daí”, o desmonte do aparato político e social que sustenta o Estado desde a Constituição de 1988. E isso ele está entregando. [Um pequeno trecho da matéria linkada: "........
A obsessão de Bolsonaro é acabar com o que ele chama de “estado petista”, um misto de direitos liberais que incluem as legislações ambientais e de direitos humanos, a ação das ONGs, o laicismo no serviço público, os sindicatos, a liberdade de imprensa, o movimento LGBTQI+, as universidades, a urna eletrônica, a diplomacia multilateral, as manifestações de rua, enfim “tudo isso daí....... ”. (nem tanto, há alguns exageros)]

O que as oposições podem aprender com Bolsonaro é que falar com quem não votou em você não tira pedaço. É irônico, mas Bolsonaro que perdeu em todo o Nordeste, tem hoje mais acesso - via políticos do Centrãoaos moradores de uma pequena cidade do Piauí do que um candidato de esquerda como Fernando Haddad ou Guilherme Boulos na Savassi, em Belo Horizonte. Assim, como é mais fácil Bolsonaro cruzar aplaudido o calçadão da rua XV de Novembro, em Curitiba, do que João Doria sequer ser notado. Uma Frente Ampla que representa aqueles que já não votam em Bolsonaro não nem frente, nem ampla.

Em VEJA - Blog Thomas Traumann - leia MATÉRIA COMPLETA

 

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

“Deu ruim”

Estamos em plena campanha presidencial e até agora nenhum dos candidatos deu o mais remoto sinal de que pretende apagar o incêndio que está queimando o país


O Brasil vive um desses momentos em que tudo parece acertado para “dar ruim”, como se diz. A economia está doente ─ crescimento perto do nada, desemprego devastador, falta de confiança na responsabilidade do governo, da oposição e de quem mais está fazendo política, atraso apavorante no entendimento e na aplicação de tecnologia. A educação caminha para garantir a permanência de milhões de brasileiros na escuridão; suprime-se cada vez mais a transmissão de conhecimento, substituída pela transmissão das crenças, dos desejos e da pura e simples ignorância de professores e burocratas que mandam no ensino. Foi eliminado no Brasil o trabalho livre: os cidadãos e as empresas são servos da classe que transformou a máquina pública em sua propriedade particular e hoje, na prática, trabalham apenas para sustentar o Estado. Não há mais financiamento; há agiotagem. O Tesouro Nacional está quebrado.

Quando se chega a esse nível de desastre, morre qualquer conversa de “política econômica” ─ e, mais ainda, a costumeira fraude de “discutir com a sociedade” as soluções a tomar. Não tem de conversar nada, e muito menos perguntar para o doente qual o tratamento que ele prefere. A única saída racional é apagar o incêndio que está rolando aí, e para apagar o incêndio utiliza-se os meios conhecidos desde sempre ─ como, por exemplo, jogar água em cima do fogo. Depois, quando não houver mais risco de morte, talvez venha ao caso debater se o melhor é tratar a economia assim ou assado. Mas o que se vê todos os dias no Brasil é a cegueira coletiva diante do fogaréu. Discute-se fórmulas, em vez de se trazer o caminhão pipa. Ou, então, não se discute coisa nenhuma a sério ─ só despejam mais gasolina sobre as chamas.

Estamos em plena campanha presidencial e até agora nenhum dos candidatos, seus partidos e os sistemas que os apoiam deram o mais remoto sinal de que pretendem trazer água para apagar o incêndio que está queimando o país. Ao contrário: falam de tudo, menos disso. Estão diariamente na mídia, mostrando-se escandalizados e indignados com os horrendos problemas à vista de todos, mas não lhes passa pela cabeça comprometer-se com nenhuma das providências mais elementares, todas elas conhecidas desde a Arca de Noé, para enfrentar a emergência. Pior: nem sequer percebem que eles próprios, com a sua maneira de pensar e de praticar política, fazem parte do problema, e não da solução. 

Propor o que, então, se o problema são eles? Ninguém diz que não há nenhuma possibilidade, mas nenhuma mesmo, de se chegar a algum lugar enquanto o Brasil tiver, como tem no momento, mais de 700.000 funcionários públicos que jamais fizeram concurso para ocuparem seus cargos. Ninguém lembra que é inviável, simplesmente, um país onde o Senado tem uma gráfica própria. Ninguém percebe que é impossível melhorar alguma coisa enquanto o governo usar o dinheiro da população para manter no ar um canal de televisão que jamais saiu da casa dos 0% de audiência desde que existe.

O último magnata a falar sobre “projeto econômico” foi o suposto candidato por procuração do PT, Fernando Haddad ─ dos outros minions do ex-presidente Lula é melhor nem dizer nada. As propostas de Haddad, em sua aparente função de Guia Econômico da Esquerda Nacional, seriam ouvidas com algum interesse, talvez, no tempo do faraó Ramsés II. De lá para cá, ele parece não ter adquirido consciência de que surgiram economias modernas e que elas têm elementos mínimos de funcionamento. Não é só que Haddad desconheça a existência do capitalismo; o real problema é que desconhece o que vem acontecendo na economia do mundo nos últimos dez anos. Sua grande ideia: usar o dinheiro das reservas internacionais para “investir” e “criar empregos”. Por que não tentar descobrir uma mina de ouro no semiárido do Nordeste? Por que não trazer professores cubanos para melhorar o ensino da matemática? Por que não mandar uma expedição à Marte?

O Brasil, às vezes, parece que não tem conserto.