Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
O verdadeiro teor da conversa privada entre os dois em Moscou é
um iceberg, não ficou restrita à venda de carne e à compra de
fertilizantes
Todos os homens do Kremlin — os bastidores do poder na Rússia de
Vladimir Putin, de Mikhail Zygar (Vestígio), é um livro-reportagem com
detalhes reveladores sobre o círculo íntimo de Putin e sua longa
permanência no poder. É a história de um líder ardiloso e perigoso, mas
também de um grupo que assumiu o controle da Federação Russa. Putin "se
tornou rei por acaso", levado ao poder por oligarcas e políticos
regionais, que o acolheram ao mesmo tempo em que manipulavam seus medos e
ambições. Com o tempo, demonstrou uma habilidade incomum para se manter
no poder e assumir o controle do grupo com mão de ferro, em meio a
intrigas, conspirações e muita corrupção.
Putin assumiu com apoio do grupo de Boris Yeltsin, que
promoveu reformas liberalizantes radicais, contra os comunistas,que
ainda eram fortes no Parlamento, cujo candidato era Ievgeni Primakov, um
antiamericano radical e revanchista. Ataques terroristas em Moscou e o
conflito na Chechênia catapultaram a candidatura do ex-diretor da FSB, a
antiga KGB.
A imagem de líder jovem e modernizador, que seduziu o
público doméstico, não convenceu o Ocidente.
Seu projeto inicial de
integração da Federação Russa à União Europeia, inclusive à Organização
do Tratado do Atlântico Norte (Otan), foi rejeitado pelo presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, e pela primeira-ministra da Alemanha,
Angela Merkel.
Essa rejeição, que considerou uma humilhação, e a
ambição de se perpetuar no poderlevaram Putin à guinada nacionalista e
autoritária que vem marcando sua trajetória, inicialmente alternando a
Presidência e o cargo de primeiro-ministro com Dmitry Medvedev, que
presidiu a Rússia entre 2008 e 2012. A consolidação de seu poder se deu
em razão do apoio popular à ideia de restabelecer o status de potência
mundial da Rússiae àagenda conservadora dos costumes, da aliança com
os militares e com a Igreja Ortodoxa, e do controle dos meios de
comunicação, dos órgãos de segurança, do Ministério Público e do
Judiciário.
É aí que nasce a empatia entre Putin e Jair Bolsonaro,
que ficou evidente na recente visita do presidente brasileiro à Rússia.
Há um terreno fértil para essa aliança política pessoal.
Bolsonaro não
tinha um projeto político claro quando foi eleito, bafejado muito mais
pela sorte do que em razão de suas virtudes. Tem o mesmo discurso
nacionalista, a agenda conservadora, uma aliança religiosa
fundamentalista, o apoio de setores militares e do sistema de segurança,
porém não controla os meios de comunicação e o Judiciário. [apesar de estar efetuando uma narrativa adaptada aos interesses dos inimigos do presidente Bolsonaro + establishment = inimigos do Brasil, o ilustre articulista continua merecendo nossa admiração e respeito.
Lamentamos que siga, a exemplo de todos que seguem os preceitos da mídia militante, o preceito "NÃO SEI DO QUE SE TRATA, MAS O CULPADO É BOLSONARO" -ainda que sob um tema que não envolvendo nações soberanas e que não dizem respeito ao Brasil.
Paciência, que qualquer forma já perderam. Quanto às cinco linhas que iniciam o próximo parágrafo, trazem uma boa notícia "... em litígio com os principais líderes mundiais,
inclusive o presidente norte-americano, Joe Biden..." é melhor um conflito com Biden e os tais líderes mundiais, o francês deve estar entre os tais, do que ser apresentado como amigo deles.]
O isolamento de Bolsonaro no Ocidente, antipatizado
pela opinião pública e em litígio com os principais líderes mundiais,
inclusive o presidente norte-americano, Joe Biden, faria de Putin um
parceiro natural de Bolsonaro na cena mundial, após a viagem a Moscou,
não fosse a crise da Ucrânia ter virado uma guerra quente. O verdadeiro
teor da conversa privada entre Bolsonaro e Putin é um iceberg ainda, não
ficou restrita à venda de carne e à compra de fertilizantes,
estratégica para os dois países. Houve conversas no âmbito da cooperação
tecnológica e militar, na qual a Rússia, sim, pode vir a fazer
diferença.[o que confere tanta certeza ao articulista? algum esquimó entrou na conversa que ele classifica como iceberg?] E, para a oposição, existe o fantasma da interferência de
hackers russos nas eleições. [o Brasil tem oposição: sendo a resposta afirmativa devem estar classificando como opositores o luladrão, ex-presidente descondenado, o Doria, ex-bolsodoria, agora, alcunhado pelo presidente Bolsonaro de 'calcinha apertada', temos também o ex-juiz, que tem tantos títulos iniciados pelo prefixo EX que se tornou ex-tudo e outros do mesmo quilate.]
(...)
No Conselho de Segurança da ONU, o Brasil votou a favor da condenação.[notório que o resultado da votação naquele Conselho tem o mesmo valor de 14x0]
Na viagem a Moscou, Bolsonaro havia agradecido a Putin
pela histórica oposição da Rússia à internacionalização da Amazônia.Esse é um tema sensível para as Forças Armadas, principalmente o
Exército. Mas qual a razão de o vice-presidente Hamilton Mourão ter sido
tão enfático na condenação à invasão da Ucrânia, mesmo correndo risco
de ser desautorizado, como foi, pelo presidente Bolsonaro? Sem dúvida,
devido ao alinhamento do Alto Comando do Exército com o Ocidente nesta
crise da Ucrânia. Entretanto, existe outra fronteira de cooperação entre
os dois países no âmbito militar: a venda de equipamentos e
transferência de tecnologia em áreas estratégicas para a nossa indústria
de Defesa.
Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA
Crédito, Marcos Corrêa/PR - Putin e Bolsonaro já se encontraram anteriormente, em novembro de 2019
Presentes eróticos para comemorar o aniversário de Putin, no poder na
Rússia há mais de duas décadas, são apenas um elemento da exaltação
pública costumeira a uma característica central na personalidade do
líder russo. Putin se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a
inspirar políticos ao redor do mundo, como o americano Donald Trump, o
húngaro Viktor Orban e o brasileiro Jair Bolsonaro, que embarcou nesta
segunda-feira (14/2) para Moscou com objetivo de se reunir com o chefe
de Estado russo.
Além
do episódio do helicóptero dos bombeiros, Putin já se deixou fotografar
em uma série de situações másculas. Derrubou adversários num tatame em
lutas de judô. Examinou os dentes de um urso polar no Ártico e de um
tigre na Sibéria, ambos anestesiados. Pilotou um submarino e um barco e
voou em uma espécie de asa delta motorizada.
Posou de rifle em punho (e
sem camisa) durante caçada na Sibéria. Surgiu de dorso nu em cavalgadas e
pescarias. Preparou um churrasco. Exibiu-se com uma pistola em um
estande de tiro ao alvo. Ou apenas apareceu em roupas esportivas
enquanto treinava os músculos do peitoral, na academia.
Nenhum dos registros foi fortuito, fruto do trabalho de fotógrafos paparazzi.
"É um trabalho de imagem pensado e executado pelo Kremlin. E, como a
internet ainda é largamente livre na Rússia, se algo escapa ao controle e
ofende ou desagrada, o governo russo pune", disse à BBC News Brasil
Valerie Sperling, professora da Clark University, em Massachussets, e
autora do livro Sex, Politics and Putin (Sexo, Política e Putin, em tradução livre).
Com
altas taxas de popularidade, mesmo quando descontada a possível coerção
sobre a população em um regime crescentemente autoritário,
especialistas argumentam que Putin deve ao menos em parte ao perfil
"machão" a admiração que inspira nos russos.
Putin já se deixou fotografar em uma série de situações másculas- Getty Images
Ao
chegar ao poder, no fim dos anos 1990, Putin passou a comandar um país
que tentava se reerguer dos escombros da União Soviética. O bloco
soviético implodira em 1991, e os russos se viam diante de
questionamentos de identidade profundos, tendo que se acostumar ao
capitalismo, lidar com o fracionamento do território e com a perda do
status de potência global.
"Havia
uma sensação de derrota generalizada, uma instabilidade econômica
forte, com a desvalorização da moeda russa, e a derrota na Guerra Fria. A
fragilidade era ainda mais evidente entre os pais de família russos,
gente em seus 30, 40 e 50 anos que tinha perdido suas economias e seus
empregos, que já não conseguia mais sustentar a família enquanto via
jovens enriquecendo em novos negócios, e que era alvo de abertas
críticas, por sua ausência na vida familiar, por violência doméstica e
por problemas como o alcoolismo", afirma Amy Randall, professora de
História da Santa Clara University, na Califórnia, e organizadora da
edição especial "Masculinidades soviéticas", da publicação acadêmica
Estudos Russos em História.
De
acordo com Randall, a humilhação e o constrangimento russos perante o
mundo nos anos 90 acabaram personificados pelo então líder do país,
Boris Yeltsin, flagrado bêbado e em atitudes embaraçosas em eventos
internacionais. Ele chegou a fingir que regia uma orquestra em uma
solenidade militar e deu declarações sobre o desejo de desarmamento
nuclear russo depois de passar da conta na bebida, tendo que ser
desmentido por seus auxiliares.
Relativamente
desconhecido do grande público, Putin surge no cenário político russo
pelas mãos de Yeltsin, a quem viria a suceder. "Putin oferece aos russos
essa imagem sóbria de agente durão, das artes marciais, egresso da KGB
(o serviço secreto soviético). Se apresenta como o homem que iria
levantar a Rússia, então de joelhos, e reestabelecer sua força no
cenário internacional", diz Sperling.
É
claro que não só de imagem se construiu a trajetória de Putin. Sob seu
comando, o Exército russo retomou o controle da Chechênia, invadiu a
Geórgia e anexou a Crimeia. Agora, o país vive às voltas com a
possibilidade de um conflito armado com a Ucrânia. Desde o fim do ano
passado, Putin mantém mais de cem mil soldados na fronteira entre os
dois países e exige que a Ucrânia não seja admitida na Organização do
Tratado do Atlântico Norte, a OTAN, uma aliança militar liderada por EUA
e Europa Ocidental que Putin vê como ameaça à segurança de seu país.Segundo professora Amy Randall, Trump tomou seu slogan ("fazer os EUA grandes outra vez)de empréstimo de Putin
"Sob
a liderança de Putin, a Rússia tem se estabelecido como uma potência
masculina mundial, exibindo sua virilidade política, sua independência
econômica e seu poderio tecnológico e militar. Putin deve sua
popularidade -e sua habilidade de se manter por tanto tempo no poder - a
mecanismos como seu nacionalismo masculinizado, à ambição de fazer a
Rússia grande outra vez, ao seu uso de ideais patriarcais e à noção das
diferenças de papéis sociais entre gêneros, além da aberta homofobia".
'Melhores qualidades masculinas' Foi a partir dessa
perspectiva que Putin disse, em novembro de 2020, que Jair Bolsonaro
apresentava "as melhores qualidades masculinas" no comando do Brasil. O
elogio aconteceu durante o discurso do mandatário russo no encontro dos
BRICS, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e
fazia referência ao modo como Bolsonaro lidou com a pandemia de
covid-19.
"Você
até foi pessoalmente infectado por essa doença e resistiu à provação
com muita coragem. Sei que aquele momento não deve ter sido fácil, mas
você o encarou como um verdadeiro homem e mostrou as melhores qualidades
masculinas, como força e força de vontade", disse Putin, segundo
transcrição que o próprio governo brasileiro postou.
No
léxico de Putin, esse é um elogio típico de quem pretende agradar e
conhece bem o interlocutor. Bolsonaro já repetiu a performance de Putin
em situações altamente fotografáveis: ele nadou em mar aberto, comandou
motociatas, praticou tiro ao alvo, pilotou uma churrascada, jogou
futebol, deu cavalo de pau em carro de competição. Quando a covid
surgiu, disse que, no seu caso, uma eventual infecção seria leve "graças
ao seu histórico de atleta".
Mas,
de acordo com Sperling, "apenas mostrar que é durão não esgota as
possibilidades de obter legitimidade política a partir da
masculinidade".Ela
afirma que as demonstrações públicas de tais habilidades costumam se
somar também com questionamentos sobre a masculinidade dos oponentes. "E
isso é feito, por exemplo, sugerindo que seu adversário não é homem o
suficiente, ou é gay, ou ainda dizendo que a mulher dele é feia, não
desejável", diz Sterling, que mapeou o comportamento masculino em
diferentes líderes mundiais.
Há
uma semana, Putin chamou a atenção do mundo com uma declaração em que
censurava o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, crítico dos acordos
de paz de Minsk. "Goste ou não, minha linda, você tem que aturar",
disse Putin, usando uma expressão em feminino para se dirigir ao líder
da Ucrânia.
Já Bolsonaro, no auge de suas discussões com o presidente
Emmanuel Macron acerca das queimadas na Amazônia, em 2020, republicou
uma postagem que comparava a primeira-dama Michelle Bolsonaro, de 39
anos, com Brigitte Macron, de 68. A postagem dizia: "entende agora por
que Macron persegue Bolsonaro?". E o próprio presidente comentava "Não
humilha, cara Kkkkkk".
Outra
tática comum é fazer "piadas" com estupro e misoginia. Em 2014, em
discussão com a colega Maria do Rosário, do PT, o então deputado Jair
Bolsonaro afirmou que"Jamais estupraria você, porque você não merece." Bolsonaro explicou que Rosário seria feia demais para seu gosto. Já
Putin, em 2006, teria dito a um repórter israelense, a propósito de
acusações de estupro contra o então presidente de Israel Moshé Katsav:
"Diga olá a seu presidente. Ele se mostrou um sujeito muito poderoso.
Estuprou dez mulheres. Estamos todos surpresos. Todos o invejamos".
Depois da repercussão negativa do episódio, o Kremlin culpou uma falha
na tradução pelo teor do comentário.
Em
2014, quando a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton,
comparou a invasão da Crimeia ao assalto do alemão Adolf Hitler sobre a
Polônia, Putin foi sucinto: "Melhor nem discutir com mulheres". Disse
ainda que o comentário de Hillary revelava "fraqueza". E que "fraqueza
não é algo necessariamente ruim em mulheres". Já Bolsonaro, em 2017,
afirmou sobre sua filha Laura: ""Eu tenho cinco filhos. Foram quatro
homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".
Sperling
nota que esse tipo de recurso à masculinidade para legitimar - ou
deslegitimar - políticos não é uma exclusividade da direita. Mas que
talvez fique mais evidente entre políticos direitistas cuja pauta é
socialmente conservadora, categoria em que tanto Bolsonaro quanto Putin
se enquadram.
Crédito, EPA - Putin
se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a inspirar políticos
ao redor do mundocomo Donald Trump, Viktor Orban (foto) e Jair Bolsonaro
Putin
se coloca como feroz defensor da família nuclear tradicional. "Quanto a
esse papo de 'pai número 1' e 'pai número 2', já falei publicamente
sobre isso e vou repetir novamente: enquanto eu for presidente isso não
vai acontecer. Haverá papai e mamãe",disse Putin, em 2020. Em 1997,
quando era deputado, Bolsonaro afirmou: "ninguém gosta de gay. A gente
suporta".
Ao
contrário do Brasil, no entanto, na Rússia o casamento homossexual é
ilegal. Casais homoafetivos também não podem adotar crianças em
conjunto. Se feita, a adoção é registrada apenas no nome de um dos pais.
Quanto
à questão da violência doméstica, no Brasil, a Lei Maria da Penha
completou 15 anos. Já na Rússia, a agressão de companheiros contra
mulheres foi descriminalizada em 2017. A partir de então, apenas agressões dos maridos que provoquem graves lesões corporais nas esposas são passíveis de punição legal.
A mudança legislativa representou um ganho do governo Putin, que tem ficado cada vez mais conservador com o passar dos anos.
"Putin e Bolsonaro se admiram e juntos reforçam esse senso de orgulho
em relação à masculinidade. Bolsonaro tem claramente tentado emular
Putin em suas posturas misóginas e homofóbicas, e em sua confrontação de
lideranças europeias e multilaterais. Ele claramente vê em Putin um
homem forte. E essa imagem do homem forte tem se tornado mais e mais
popular e prevalente no mundo atual", diz Randall.
Em dezembro de 1991, a mais poderosa ditadura do mundo
começou a se desmanchar de vez. E caiu sem praticamente nenhum tiro
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS) surgiu em outubro de 1917, a partir da implantação pioneira de
uma ideologia — o comunismo. Fundada por Vladimir Ilich Lenin no fim da
Primeira Guerra Mundial, cresceu até somar uma centena de nacionalidades
vivendo em 15 repúblicas. Ocupava as terras do Leste Europeu até o
Oceano Pacífico e do Círculo Polar Ártico até os desertos do sul da
Ásia, cobrindo 22,4 milhões de quilômetros quadrados — o equivalente a
2,6 vezes o tamanho do Brasil.
A União Soviética ocupava um sexto da superfície terrestre. Com o fim
da Segunda Guerra Mundial, o poder da URSS cresceu ainda mais. Sete
países da Europa Oriental foram transformados em seus satélites no bloco
comunista — Albânia, Hungria, Bulgária, Checoslováquia, Alemanha
Oriental, Polônia e Romênia (a Albânia se descolou do grupo em 1968).
Uma máquina poderosa de propaganda internacional transformou esse
bloco soviético no “paraíso do proletariado”. Lá, todos teriam os mesmos
direitos, garantidos pelo sistema socialista. Os êxitos da URSS eram
divulgados com orgulho por seus seguidores mundo afora — as conquistas
esportivas, a bomba nuclear mais devastadora de todos os tempos, o
primeiro satélite artificial, o primeiro astronauta em órbita, etc. Tudo
indicava que o domínio do resto do mundo pelo comunismo soviético era
apenas questão de tempo.
E, no entanto, o paraíso não era tão perfeito quanto os militantes da
causa declaravam. O primeiro-ministro Nikita Khrushchev (entre 1958 e
1964) foi quem denunciou os crimes cometidos por seu antecessor, Josef
Stalin, que deixou um rastro de 20 milhões de mortes.
O paraíso dos trabalhadores era na verdade um inferno de
incompetência e repressão. Quem reclamasse era mandado para os campos de
concentração da Sibéria, chamados gulags. A KGB, polícia de
Estado comandada pelo Partido Comunista, dominava cada detalhe da vida.
Os desfiles militares e as medalhas olímpicas escondiam a realidade de
um império paralisado pela própria inépcia. Pior: não havia esperança. A
população vivia num estado de penúria e medo permanentes. E os figurões
do PC tinham direito a uma vida de luxo e poderes absolutos.a
Glasnost & perestroika Khrushchev foi substituído por outros burocratas carrancudos. Mas nada funcionava, a não ser para os altos funcionários do PCUS. Nos anos 1980, a URSS estava paralisada. O modelo centralizador comunista não conseguia tirar o império do ponto morto. Para piorar as coisas, seu grande rival, os EUA, vivia um momento econômico especialmente exuberante. Desde 1981, era presidido por um republicano convicto, o ex-ator Ronald Reagan.
Reagan percebeu que a URSS estava desabando. E resolveu acelerar o
processo. Apostou numa série de avanços no campo do armamento nuclear e
num improvável projeto de mísseis no espaço que ficou conhecido como
Star Wars. A União Soviética não tinha fôlego para responder a mais esse
desafio estratégico.
A catástrofe da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, havia mostrado
quanto o regime estava apodrecido em todos os detalhes. O próprio
Partido Comunista parecia ter reconhecido isso e permitiu que, em 1990, o
reformista Mikhail Gorbachev virasse o líder máximo do império.
Gorbachev, que sempre foi um comunista convicto, implantou no
esclerosado aparelho de Estado duas palavras russas que logo se
tornariam conhecidas no resto do mundo: glasnost e perestroika.
Glasnost quer dizer “abertura” e representava uma tentativa de dar um
fôlego de liberdade de expressão e informação ao regime. Perestroika
(“reestruturação”) ofereceu aos cidadãos alguma liberdade política, além
de traços de livre mercado. Eram mudanças ousadas, mas limitadas. Mesmo
assim foram boicotadas pelos burocratas do Partido Comunista, que
temiam perder seus privilégios estatais.
Mikhail Gorbachev - Foto: Reprodução/Facebook
A coragem de Gorbachev possibilitou que, em 1989, os países-satélites
da Europa Oriental derrubassem suas ditaduras comunistas, uma após a
outra. Sem sua visão de estadista, o Muro de Berlim não seria derrubado
em 9 de novembro de 1989. Em 1990, Gorbachev não só aceitou que as
Alemanhas Oriental e Ocidental se reunissem num só país como não se opôs
a que a Alemanha reunida fizesse parte da organização militar
antissoviética, a Otan. Propôs a extinção das armas nucleares até 2000 e
anunciou profundos cortes na máquina militar soviética. Seus atos foram
tão ousados que Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
Dezembro de 1991 As repúblicas que formavam a URSS também começaram a se revoltar. A ordem rígida implantada por Lenin se diluía. E, quanto mais a realidade ficava exposta, mais os comunistas temiam perder o poder. Bateu o desespero.
Durante três dias de agosto de 1991, Gorbachev e sua família foram aprisionados por golpistas da linha dura do PC em sua “dacha” (casa de veraneio) na Crimeia. O império soviético havia se transformado numa república das bananas. O golpe, patético em sua execução, saiu pela culatra. Uma sensação surda de “basta” se espalhou pela maior nação do mundo. O comunismo estava sendo derrotado em seu berço.
A essa altura, o presidente da Rússia já era Boris Yeltsin (Gorbachev teoricamente tinha mais poder, pois era o presidente de toda a União Soviética). Yeltsin, rompido com o PC, era um político conhecido por: 1) não acreditar em nenhuma tentativa de ressuscitar o Partido Comunista; 2) ser corajoso o suficiente para criticar os privilégios da elite do partido; e 3) beber além da conta, mesmo para os padrões russos. Criou uma cena histórica ao enfrentar tanques nas ruas de Moscou e libertar Gorbachev.
Ao enfrentar os golpistas, Yeltsin ficou mais forte. Passou, na
prática, a dividir o poder com Gorbachev, que se aferrou em sua
concepção de que a URSS poderia viver para sempre, com alguns ajustes. A
derrubada de um sistema político encastelado no poder do maior país do
mundo havia sete décadas já seria difícil e perigosa. Mas havia um fator
complicador: 27 mil armas nucleares prontas para lançamento. E ninguém
sabia exatamente quem estava controlando o arsenal.
Esse xadrez se resolveu no mês em que o mundo virou de cabeça para
baixo. Em dezembro de 1991, a mais poderosa ditadura do mundo começou a
se desmanchar de vez. E caiu sem praticamente nenhum tiro. O mundo viveu
durante um mês a sensação de que tudo era possível — o desastre e o
sonho. Entre o caos e a possibilidade de uma convivência pacífica,
livre, construtiva entre as maiores potências do mundo na época. Assim
foi o mês mágico de dezembro de 1991, no distante mundo de 30 anos
atrás:
(...)
4 dezembro 1991
Mikhail Gorbachev alerta: com a partida da Ucrânia, “a pátria (URSS) está ameaçada e o maior perigo é a crise de Estado”. O que ele diz já não importa muito.
6 dezembro 1991
O Pentágono declara que as 27 mil ogivas nucleares soviéticas
aparentemente estão em mãos do governo central (chefiado por Mikhail
Gorbachev). Mas a situação não está tão clara na recém-independente
Ucrânia, que armazena 4 mil ogivas da URSS em seu território. O governo
americano teme que, com o aparente caos político, armas soviéticas
possam cair em mãos de “terroristas, ladrões ou países em guerra”.
9 dezembro 1991
Os governos da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia declaram o fim oficial da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. E o nascimento de uma nova
“Comunidade de Estados Independentes”, mantendo ação coordenada em
assuntos de defesa, relações internacionais e economia. “A URSS, como
sujeito do direito internacional e da realidade geopolítica, está
deixando de existir”, declaram os três governos nacionais. Mikhail
Gorbachev afirma em entrevista a uma TV francesa que as consequências do
desmantelamento da União Soviética vão fazer a sangrenta guerra civil
na Iugoslávia parecer uma “piada”. “Neste fim de semana”, notou
Celestine Bohlen, comentarista do New York Times, “três das
repúblicas da União Soviética provaram que, ao contrário das repúblicas
da Iugoslávia, estão dispostas e podem se encontrar e negociar sobre o
futuro comum”.
(...)
18 dezembro 1991
Yeltsin declara ao jornal italiano Repubblica que espera a
renúncia de Gorbachev do cargo de presidente da URSS. O Parlamento
Soviético, já sem poder, se “reúne” com um único orador presente, um
comunista linha-dura chamado Viktor Alksnis. E existe uma única pessoa
ouvindo seu discurso: ele mesmo. Os comunistas passaram o dia bravos com
o fato de Gorbachev ter arrumado tempo para tirar fotos com a banda de
rock alemã Scorpions, e não para ressuscitar o comunismo.
19 dezembro 1991
Boris Yeltsin faz todos os gestos para evitar uma dualidade de poder na
nova Rússia. Toma o controle do Ministério das Relações Exteriores, do
Parlamento e até do escritório presidencial, ocupado por Mikhail
Gorbachev. Com um decreto, institui a MSB, nova sigla que substitui a
velha e temida KGB. E levanta a possibilidade impensável até então: que a
Federação Russa aderisse à Otan. Justamente a organização militar
criada para combater a União Soviética. Outros países, especialmente a
Hungria e a Checoslováquia, querem seguir o mesmo caminho.
25 dezembro 1991
No Kremlin, às 19h32, a bandeira vermelha com a foice e o martelo da
URSS é recolhida pela última vez. Mikhail Gorbachev renuncia a seu posto
de presidente da URSS. Entrega os códigos de disparo dos mísseis
nucleares a Boris Yeltsin.Gorbachev deixa o governo aos 60 anos, com
direito a uma aposentadoria de 48 mil rublos por ano. Ironicamente, por
causa do fracasso econômico de seu próprio governo, esse dinheiro
equivale a meros US$ 40 mensais. Recebe também um apartamento em Moscou,
uma dacha de férias, dois carros, 20 guarda-costas e acesso gratuito à
rede de saúde.
26 dezembro 1991
No Kremlin, é hasteada pela primeira vez a bandeira branca, azul e
vermelha da nova Federação Russa. Gorbachev sugere que vai descansar um
tempo e ressurgir para a vida pública por meio de uma ONG, a Green Cross, fundada dois anos depois.
“As exportações pelos estados setentrionais do
Brasil tendem a crescer regularmente, com a ferrovia norte-sul e o
chamado Arco Norte, incluindo portos da Bahia, de Pernambuco, do
Maranhão e do Amazonas”
Em 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1, Yuri Gagarin se tornou o
primeiro homem a ser lançado no espaço. A nave media apenas 4,4 metros
de comprimento por 2,4m de diâmetro, e pesava 4.725 quilos, com dois
módulos, um para acomodar os equipamentos e tanque de combustível, e o
outro era a cápsula onde o cosmonauta realizou a proeza de ser o
primeiro humano a ver que o nosso planeta é redondo: “A Terra é azul!
Como é maravilhosa. Ela é incrível!”, exclamou Gagarin, durante a única
volta que deu em órbita. Aos 27 anos, ele havia sido selecionado entre
19 pilotos submetidos a testes físicos e psicológicos rigorosíssimos.
Tinha somente 1,57m de altura e pesava 69kg, ou seja, seu porte físico
acabou sendo um diferencial para a seleção, como acontece com
submarinistas e jóqueis.
Quando entrou na nave, fez um comentário como se fosse o último: “Em
poucos minutos, possivelmente, uma nave espacial irá me levar para o
espaço sideral. O que posso dizer sobre estes últimos minutos? Toda a
minha vida parece se condensar neste momento único e belo. Tudo o que eu
fiz e vivi foi para isso!” Naquele mesmo ano, ainda criança, levado por
minha mãe ao Monumento dos Pracinhas, no Rio de Janeiro, tive a
oportunidade de ver o Gagarin. A imagem que trago na memória não é a do
seu porte físico, é a da multidão, e não a do seu sorriso cativante, que
aparece em todas as fotos, classificado pelo poeta russo Evguêni
Evtuchenko (1932-2017) como o mais bonito do mundo.
Isso é conversa de comunista, dirão os terraplanistas, numa dupla
demonstração de ignorância: Evtuchenko e o então presidente da Rússia,
Boris Yeltsin, lideraram os protestos que resultaram no fim da União
Soviética e do chamado “socialismo real” no Leste Europeu. Não morra
antes de morrer, seu livro em prosa publicado no Brasil pela Record, em
1999, relata a crise que levou ao colapso o sistema soviético, depois do
sequestro de Mikhail Gorbatchov pelos militares, que tentaram dar um
golpe de Estado contra a perestroica. Foi um tiro pela culatra. Seu
poema Babi Yar, nome de um desfiladeiro nas imediações de Kiev, que
relata o massacre de 35 mil judeus peCazaquistãolos nazistas, em setembro de 1941,
serviu de inspiração para a 13ª Sinfonia de Chostakóvitch, cuja força
lírica também foi uma crítica ao antissemitismo soviético.
O voo de Gagarin durou exatos 108 minutos, a uma altura de 315km a
partir da superfície, em uma velocidade de 28 mil km/h. O cosmonauta se
manteve em contato com a Terra por rádio e telégrafo. Na volta ao
planeta, os cientistas soviéticos erraram o cálculo da trajetória de
aterrissagem da nave, fazendo com que Gagarin caísse no Cazaquistão— a
mais de 320km do local previsto. Depois da aterrissagem, sozinho,
precisou esperar que a equipe o resgatasse. O erro acabou sendo mais uma
prova do sucesso pleno da primeira missão espacial humana.
Lembrei-me de Gagarin por causa de um vídeo do físico norte-americano
Carl Sagan, que circulou nas redes às vésperas do ano novo, numa dessas
recidivas virais da internet, pois trata-se de um programa de tevê de
1980, de divulgação científica, intitulado Cosmos. O físico morreu em
1996, aos 62 anos. Nele, explica como alguns gregos antigos já haviam
descoberto, através da simples observação, que a Terra é uma esfera.
Eratóstenes, um estudioso grego, que dirigiu a famosa Biblioteca de
Alexandria, viveu entre os anos de 276 a.C. e 195 a.C. Utilizando apenas
“varas, olhos, pés, cérebro e o prazer de experimentar”, observou a
sombra de duas colunas, uma colocada em Siena e outra em Alexandria,
ambas no Egito.
Complexidade
Ele notou que em Siena, no dia do solstício de verão, ao meio-dia, o Sol
ficava em seu ponto mais alto e a coluna lá instalada não projetava
nenhuma sombra. Diferente daquela de Alexandria, que produzia uma
pequena mancha no chão. Sagan explica então que, se a Terra fosse
achatada, ambas estruturas produziriam sombras iguais. Mas, como o
planeta é esférico, o sombreamento varia. Sagan mostra como o estudioso
descobriu a angulagem entre as duas colunas a partir de suas sombras. O
valor aproximado foi de sete graus. Com esse valor em mãos, o matemático
fez um cálculo de equivalência, já que sabia a distância entre as duas
cidades: quase 800 quilômetros. Fazendo as contas, ele chegou à medida
de 40 mil quilômetros como a circunferência do planeta. Errou
aproximadamente por 75 quilômetros, distância 4,4 vezes menor do que o
erro de cálculo sobre o local de aterrissagem de Gagarin.
Ontem, ao se despedir como comentarista da Folha de S. Paulo, o
historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Universidade de
Paris — Sorbonne e da Fundação Getulio Vargas, chamava a atenção para a
força gravitacional da economia chinesa sobre os eixos de logística e
territoriais brasileiros. Ao reduzir de 48 para 35 dias a viagem entre
os portos do nordeste da China e Roterdã, a navegação comercial entre a
Europa e o Extremo Oriente pelo Oceano Ártico, iniciada em 2013, levou à
modernização do Canal de Suez (2015) e do Canal do Panamá (2016). Por
essa razão, as exportações pelos estados setentrionais do Brasil tendem a
crescer regularmente, sobretudo quando for concluída a ferrovia
norte-sul e o chamado Arco Norte, incluindo portos fluviais e marítimos
da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão e do Amazonas.
“Pela primeira vez, desde a criação do Estado do Grão Pará e
Maranhão, concebido em 1621 como entidade autônoma da América
Portuguesa, no contexto da política filipina envolvendo as quatro partes
do mundo, o comércio externo, e, essencialmente, o comércio marítimo,
rearticula a geografia econômica da totalidade do território nacional”,
destaca Alencastro. Detalhe:desde a circunavegação do globo por Fernão
de Magalhães, já se sabia que a Terra é redonda e interligada pelos
oceanos. Há duas consequências práticas do deslocamento do eixo do nosso
comércio do Ocidente para o Oriente: primeiro, a relação comercial do
Brasil com a China, que já é o nosso principal parceiro comercial,
aumentará ainda mais de importância; segundo, como resultado, pode haver
mais apreciação do câmbio, aumento das importações de bens industriais e
desindustrialização. Ou seja, o Brasil precisa de uma política de
comércio exterior que aumente a complexidade da nossa economia, isto é, a
diversidade e a sofisticação da estrutura produtiva brasileira.