Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
A receita: ideias tradicionais e propostas “esquerdizoides”
Reindexar as aposentadorias à inflação, reverter a privatização das estradas para diminuir a tarifa dos pedágios(e como são caros na França!) e ter um estado indutor do crescimento econômico são algumas das propostas que levaram Marine Le Pen ao segundo turno da eleição presidencial, com uma projeção de conseguir inéditos 45% dos votos. Nenhuma delas evidentemente constaria do programa de qualquer político conservador no sentido tradicional, de defesa do estado menor e menos interventor.
Orbán ganhou no começo do mês uma quarta vitória na Hungria, “tão grande que pode ser vista da lua”. A ironia vai na conta dos prognósticos insistentemente repetidos de que a oposição unida, a afinidade com Putin em plena guerra na Ucrânia e uma poderosa expressão de desejos progressistas bastariam para encerrar a carreira do primeiro-ministro.Seis de cada dez húngaros têm uma ideia diferente: gostam da política de direita não tradicional, que mistura impostos baixos para as empresas e remunerações reduzidas para os desempregados com controles das tarifas de energia e incentivos às indústrias locais nos setores onde podem ser competitivas. Laissez-faire e protecionismo, uma combinação esquizofrênica, criaram um coquetel húngaro que não tem similar no panorama político atual. Marine Le Pen provou dessa mistura.
A direita partidária do protecionismo e do Estado interventor não é exatamente uma novidade, em especial no Brasil, onde estes foram fundamentos constitutivos da ala dominante do regime militar. O toque de populismo do século XXI é a preocupação zero com a clonagem de propostas tiradas do ideário esquerdista tradicional. Outro componente fundamental é o apelo a pulsões nacionais em sociedades que se sentem ameaçadas pela imigração em massa. Foi assim com Donald Trump nos Estados Unidos, com a ideia do muro que nunca foi construído na fronteira com o México, onde o descontrole atual é um dos fatores que podem custar uma derrota catastrófica para o Partido Democrata em novembro próximo. Foi assim com Viktor Orbán, quando grandes massas humanas vindas de países orientais ameaçaram a estabilidade da Europa.
E está sendo assim com Marine Le Pen, cujo clã se ergueu com base na rejeição aos imigrantes muçulmanos não integrados à sociedade francesa. Agora, com as consequências econômicas da pandemia e a pancada do aumento de preços no bolso das camadas onde o salário acaba antes do mês, ela reajustou o foco. Numa de suas tiradas famosas, Charles de Gaulle dizia que“a pior calamidade depois de um general burro é um general inteligente”. A candidata precisar demonstrar até o dia 24 se ganhou inteligência política para conquistar os poucos pontos que fazem a diferença entra derrota honrosa e vitória espantosa junto a um eleitorado onde o nome Le Pen tem sido visto, majoritariamente, como uma calamidade sem tamanho.
Crédito, Marcos Corrêa/PR - Putin e Bolsonaro já se encontraram anteriormente, em novembro de 2019
Presentes eróticos para comemorar o aniversário de Putin, no poder na
Rússia há mais de duas décadas, são apenas um elemento da exaltação
pública costumeira a uma característica central na personalidade do
líder russo. Putin se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a
inspirar políticos ao redor do mundo, como o americano Donald Trump, o
húngaro Viktor Orban e o brasileiro Jair Bolsonaro, que embarcou nesta
segunda-feira (14/2) para Moscou com objetivo de se reunir com o chefe
de Estado russo.
Além
do episódio do helicóptero dos bombeiros, Putin já se deixou fotografar
em uma série de situações másculas. Derrubou adversários num tatame em
lutas de judô. Examinou os dentes de um urso polar no Ártico e de um
tigre na Sibéria, ambos anestesiados. Pilotou um submarino e um barco e
voou em uma espécie de asa delta motorizada.
Posou de rifle em punho (e
sem camisa) durante caçada na Sibéria. Surgiu de dorso nu em cavalgadas e
pescarias. Preparou um churrasco. Exibiu-se com uma pistola em um
estande de tiro ao alvo. Ou apenas apareceu em roupas esportivas
enquanto treinava os músculos do peitoral, na academia.
Nenhum dos registros foi fortuito, fruto do trabalho de fotógrafos paparazzi.
"É um trabalho de imagem pensado e executado pelo Kremlin. E, como a
internet ainda é largamente livre na Rússia, se algo escapa ao controle e
ofende ou desagrada, o governo russo pune", disse à BBC News Brasil
Valerie Sperling, professora da Clark University, em Massachussets, e
autora do livro Sex, Politics and Putin (Sexo, Política e Putin, em tradução livre).
Com
altas taxas de popularidade, mesmo quando descontada a possível coerção
sobre a população em um regime crescentemente autoritário,
especialistas argumentam que Putin deve ao menos em parte ao perfil
"machão" a admiração que inspira nos russos.
Putin já se deixou fotografar em uma série de situações másculas- Getty Images
Ao
chegar ao poder, no fim dos anos 1990, Putin passou a comandar um país
que tentava se reerguer dos escombros da União Soviética. O bloco
soviético implodira em 1991, e os russos se viam diante de
questionamentos de identidade profundos, tendo que se acostumar ao
capitalismo, lidar com o fracionamento do território e com a perda do
status de potência global.
"Havia
uma sensação de derrota generalizada, uma instabilidade econômica
forte, com a desvalorização da moeda russa, e a derrota na Guerra Fria. A
fragilidade era ainda mais evidente entre os pais de família russos,
gente em seus 30, 40 e 50 anos que tinha perdido suas economias e seus
empregos, que já não conseguia mais sustentar a família enquanto via
jovens enriquecendo em novos negócios, e que era alvo de abertas
críticas, por sua ausência na vida familiar, por violência doméstica e
por problemas como o alcoolismo", afirma Amy Randall, professora de
História da Santa Clara University, na Califórnia, e organizadora da
edição especial "Masculinidades soviéticas", da publicação acadêmica
Estudos Russos em História.
De
acordo com Randall, a humilhação e o constrangimento russos perante o
mundo nos anos 90 acabaram personificados pelo então líder do país,
Boris Yeltsin, flagrado bêbado e em atitudes embaraçosas em eventos
internacionais. Ele chegou a fingir que regia uma orquestra em uma
solenidade militar e deu declarações sobre o desejo de desarmamento
nuclear russo depois de passar da conta na bebida, tendo que ser
desmentido por seus auxiliares.
Relativamente
desconhecido do grande público, Putin surge no cenário político russo
pelas mãos de Yeltsin, a quem viria a suceder. "Putin oferece aos russos
essa imagem sóbria de agente durão, das artes marciais, egresso da KGB
(o serviço secreto soviético). Se apresenta como o homem que iria
levantar a Rússia, então de joelhos, e reestabelecer sua força no
cenário internacional", diz Sperling.
É
claro que não só de imagem se construiu a trajetória de Putin. Sob seu
comando, o Exército russo retomou o controle da Chechênia, invadiu a
Geórgia e anexou a Crimeia. Agora, o país vive às voltas com a
possibilidade de um conflito armado com a Ucrânia. Desde o fim do ano
passado, Putin mantém mais de cem mil soldados na fronteira entre os
dois países e exige que a Ucrânia não seja admitida na Organização do
Tratado do Atlântico Norte, a OTAN, uma aliança militar liderada por EUA
e Europa Ocidental que Putin vê como ameaça à segurança de seu país.Segundo professora Amy Randall, Trump tomou seu slogan ("fazer os EUA grandes outra vez)de empréstimo de Putin
"Sob
a liderança de Putin, a Rússia tem se estabelecido como uma potência
masculina mundial, exibindo sua virilidade política, sua independência
econômica e seu poderio tecnológico e militar. Putin deve sua
popularidade -e sua habilidade de se manter por tanto tempo no poder - a
mecanismos como seu nacionalismo masculinizado, à ambição de fazer a
Rússia grande outra vez, ao seu uso de ideais patriarcais e à noção das
diferenças de papéis sociais entre gêneros, além da aberta homofobia".
'Melhores qualidades masculinas' Foi a partir dessa
perspectiva que Putin disse, em novembro de 2020, que Jair Bolsonaro
apresentava "as melhores qualidades masculinas" no comando do Brasil. O
elogio aconteceu durante o discurso do mandatário russo no encontro dos
BRICS, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e
fazia referência ao modo como Bolsonaro lidou com a pandemia de
covid-19.
"Você
até foi pessoalmente infectado por essa doença e resistiu à provação
com muita coragem. Sei que aquele momento não deve ter sido fácil, mas
você o encarou como um verdadeiro homem e mostrou as melhores qualidades
masculinas, como força e força de vontade", disse Putin, segundo
transcrição que o próprio governo brasileiro postou.
No
léxico de Putin, esse é um elogio típico de quem pretende agradar e
conhece bem o interlocutor. Bolsonaro já repetiu a performance de Putin
em situações altamente fotografáveis: ele nadou em mar aberto, comandou
motociatas, praticou tiro ao alvo, pilotou uma churrascada, jogou
futebol, deu cavalo de pau em carro de competição. Quando a covid
surgiu, disse que, no seu caso, uma eventual infecção seria leve "graças
ao seu histórico de atleta".
Mas,
de acordo com Sperling, "apenas mostrar que é durão não esgota as
possibilidades de obter legitimidade política a partir da
masculinidade".Ela
afirma que as demonstrações públicas de tais habilidades costumam se
somar também com questionamentos sobre a masculinidade dos oponentes. "E
isso é feito, por exemplo, sugerindo que seu adversário não é homem o
suficiente, ou é gay, ou ainda dizendo que a mulher dele é feia, não
desejável", diz Sterling, que mapeou o comportamento masculino em
diferentes líderes mundiais.
Há
uma semana, Putin chamou a atenção do mundo com uma declaração em que
censurava o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, crítico dos acordos
de paz de Minsk. "Goste ou não, minha linda, você tem que aturar",
disse Putin, usando uma expressão em feminino para se dirigir ao líder
da Ucrânia.
Já Bolsonaro, no auge de suas discussões com o presidente
Emmanuel Macron acerca das queimadas na Amazônia, em 2020, republicou
uma postagem que comparava a primeira-dama Michelle Bolsonaro, de 39
anos, com Brigitte Macron, de 68. A postagem dizia: "entende agora por
que Macron persegue Bolsonaro?". E o próprio presidente comentava "Não
humilha, cara Kkkkkk".
Outra
tática comum é fazer "piadas" com estupro e misoginia. Em 2014, em
discussão com a colega Maria do Rosário, do PT, o então deputado Jair
Bolsonaro afirmou que"Jamais estupraria você, porque você não merece." Bolsonaro explicou que Rosário seria feia demais para seu gosto. Já
Putin, em 2006, teria dito a um repórter israelense, a propósito de
acusações de estupro contra o então presidente de Israel Moshé Katsav:
"Diga olá a seu presidente. Ele se mostrou um sujeito muito poderoso.
Estuprou dez mulheres. Estamos todos surpresos. Todos o invejamos".
Depois da repercussão negativa do episódio, o Kremlin culpou uma falha
na tradução pelo teor do comentário.
Em
2014, quando a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton,
comparou a invasão da Crimeia ao assalto do alemão Adolf Hitler sobre a
Polônia, Putin foi sucinto: "Melhor nem discutir com mulheres". Disse
ainda que o comentário de Hillary revelava "fraqueza". E que "fraqueza
não é algo necessariamente ruim em mulheres". Já Bolsonaro, em 2017,
afirmou sobre sua filha Laura: ""Eu tenho cinco filhos. Foram quatro
homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".
Sperling
nota que esse tipo de recurso à masculinidade para legitimar - ou
deslegitimar - políticos não é uma exclusividade da direita. Mas que
talvez fique mais evidente entre políticos direitistas cuja pauta é
socialmente conservadora, categoria em que tanto Bolsonaro quanto Putin
se enquadram.
Crédito, EPA - Putin
se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a inspirar políticos
ao redor do mundocomo Donald Trump, Viktor Orban (foto) e Jair Bolsonaro
Putin
se coloca como feroz defensor da família nuclear tradicional. "Quanto a
esse papo de 'pai número 1' e 'pai número 2', já falei publicamente
sobre isso e vou repetir novamente: enquanto eu for presidente isso não
vai acontecer. Haverá papai e mamãe",disse Putin, em 2020. Em 1997,
quando era deputado, Bolsonaro afirmou: "ninguém gosta de gay. A gente
suporta".
Ao
contrário do Brasil, no entanto, na Rússia o casamento homossexual é
ilegal. Casais homoafetivos também não podem adotar crianças em
conjunto. Se feita, a adoção é registrada apenas no nome de um dos pais.
Quanto
à questão da violência doméstica, no Brasil, a Lei Maria da Penha
completou 15 anos. Já na Rússia, a agressão de companheiros contra
mulheres foi descriminalizada em 2017. A partir de então, apenas agressões dos maridos que provoquem graves lesões corporais nas esposas são passíveis de punição legal.
A mudança legislativa representou um ganho do governo Putin, que tem ficado cada vez mais conservador com o passar dos anos.
"Putin e Bolsonaro se admiram e juntos reforçam esse senso de orgulho
em relação à masculinidade. Bolsonaro tem claramente tentado emular
Putin em suas posturas misóginas e homofóbicas, e em sua confrontação de
lideranças europeias e multilaterais. Ele claramente vê em Putin um
homem forte. E essa imagem do homem forte tem se tornado mais e mais
popular e prevalente no mundo atual", diz Randall.
Um levantamento exclusivo feito por Oeste
mostra que, em 2020, mais de 100 organizações brasileiras (ou
estrangeiras com projetos no Brasil)receberam dinheiro da Fundação Open
Society
Um levantamento exclusivo feito por Oeste mostra que,
em 2020,mais de 100 organizações brasileiras (ou estrangeiras com
projetos no Brasil) receberam dinheiro da Fundação Open Society
Em agosto de 2020, o Supremo Tribunal Federal determinou que a polícia do Estado do Rio de Janeironão poderia realizar operações policiais em favelas enquanto durasse a pandemia.
O argumento dos ministros (com a exceção de Luiz Fux e Alexandre de Moraes, que foram voto vencido) era umamistura incompreensível de alegações que iam do combate à covid-19 ao “racismo estrutural”. A decisão, por sua vez, atendia a uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) impetrada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
O número de entidades que podem apresentar uma ADPF é muito restrito — além de autoridades da República, apenas sindicatos, o Conselho Federal da OAB e, por fim, partidos políticos com parlamentares no Congresso. Por isso, o PSB foi quem assinou a ação. Por trás do partido, entretanto, havia uma coalizão de entidades não governamentais, o que dava a impressão de que diversos setores da sociedade apoiavam a medida. Até mesmo um site especial (www.adpfdasfavelas.org) foi lançado para pressionar pela proibição das ações policiais. Mas a maior parte das organizações apresentadas como apoiadoras da iniciativa tem algo em comum. Das 15 entidades não governamentais que aparecem como responsáveis pelo movimento, 11 receberam, naquele ano, dinheiro da Open Society Foundations,organização do megabilionário húngaro George Soros. São elas:Conecta Direitos Humanos, Fogo Cruzado, CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), Justiça Global, Coletivo Papo Reto, Instituto Marielle Franco, Observatório de Favelas, Iser (Instituto de Estudos da Religião), Redes da Maré e a Iniciativa Direito Memória e Justiça Racial.
Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes ainda citou um relatório da Anistia Internacional Brasil que apontava para o suposto racismo da polícia carioca, cujas vítimas seriam majoritariamente jovens negros. A organização também obteve recursos da Open Society naquele ano. Juntas, essas 13 entidades receberam, só em 2020, US$ 7,5 milhões (R$ 38,7 milhões) da Fundação de George Soros. E a lista completa é muito maior.
Um levantamento exclusivo feito por Oeste mostra que, naquele ano, 109 organizações brasileiras(ou estrangeiras com projetos no Brasil) receberam repasses da Open Society.
Os dados de 2021 ainda não estão disponíveis.
Origem na Hungria A Open Society (Sociedade Aberta, em português) foi criada em 1984, em uma Hungria ainda dominada pelo comunismo. Hoje, tem sua sede à Rua 57, em Nova Iorque, a dois quarteirões do Central Park. Os funcionários se espalham por estações de trabalho modernas e sem divisórias. Lá, são tomadas as decisões que influenciam a vida de pessoas que nunca saberão quem é George Soros. Somente em 2020, a entidade distribuiu US$ 1,35 bilhão (R$ 6,95 bilhões) a organizações parceiras ao redor do mundo.
E a agenda da Open Society é clara. Embora não defenda abertamente pautas da velha esquerda (Soros foi um opositor do regime comunista em sua terra natal), a fundação promove toda a agenda da nova esquerda radical. Isso inclui a liberação das drogas, o desencarceramento de presos, a restrição ao trabalho da polícia e a promoção da “identidade de gênero”, além de outros itens que podem afetar diretamente o tecido social e a economia de um país. No caso do Brasil, a entidade também beneficia organizações que se apresentam como defensoras do meio ambiente e dos povos indígenas.
A organização mais beneficiada pela Open Society em 2020 no Brasil foi a Conectas Direitos Humanos, que recebeu US$ 5 milhões
Em suapágina na internet, a organização se orgulha de que parte de seus recursos se destina à“liberação de presos não violentos” (embora a definição de “não violento” não seja apresentada). O grupo também quer pôr fim a leis que punam usuários de drogas. “Nós trabalhamos com autoridades locais e a polícia para promover uma abordagem às drogas que priorize a segurança e a saúde dos usuários, em vez da repressão”, explica a Open Society. Já em 1994, Soros lançou uma organização (O Centro Lindesmith)para defender a legalização das drogas ao redor do globo. Ele incentiva ainda políticas que protegem as minorias de “verificações de identidade, revistas e outras formas de intimidação por parte da polícia”. No campo da sexualidade, a fundação financia organizações que “promovem direitos em áreas como o reconhecimento legal da fluidez de gênero” — seja lá o que isso signifique.
Em tese, o financiamento de organizações brasileiras pela Open Society não é ilegal. Mas o volume maciço de dinheiro vindo do exterior cria a sensação de que certas organizações de fato representam os desejos e as opiniões da sociedade — quando na verdade sua influência no debate público é fruto, em grande parte, das decisões tomadas no prédio da Rua 57, em Manhattan.
O ciclo tem se repetido há anos: a Open Society decide financiar uma organização no Brasil, e essa organização ganha uma aparência de legitimidade desproporcional ao seu tamanho real.
Com essa influência inflada por dinheiro estrangeiro, ela tem maior capacidade de influenciar o debate público — nos meios de comunicação e, sobretudo, no diálogo com autoridades. A decisão do STF sobre as ações policiais na favela é um bom exemplo disso.
Os principais beneficiados A organização mais beneficiada pela Open Society em 2020 no Brasil foi a Associação Direitos Humanos em Rede, que se apresenta em sua página como Conectas Direitos Humanos. O repasse foi de US$ 5 milhões (R$ 25,7 milhões). A aplicação exata dos recursos é uma incógnita. A descrição no site da Open Society fala apenas no apoio a “ações de caridade e educacionais”. A entidade brasileira tem uma postura hostil ao trabalho da polícia e, recentemente, atuou contra a realização de audiências de custódia remotas (que reduzem custos e aumentam a agilidade do sistema prisional). O argumento era que a medida tornaria mais difícil averiguar potenciais casos de tortura a presos. A atual diretora-executiva da entidade, Juana Kweitel, divulgou a campanha do “Ele Não”, contra Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018.
Em segundo lugar, aparece o Instituto Clima e Sociedade, que obteve US$ 1,4 milhão (R$ 7,2 milhões). A diretora-executiva da entidade, Ana Toni, foi presidente do Conselho do Greenpeace Internacional por sete anos. O instituto tem como objetivo “fortalecer as condições que alavanquem práticas duradouras de mitigação e resiliência das mudanças climáticas”.
Em terceiro, com US$ 1,1 milhão (R$ 5,7 milhões), está o CESeC, ligado à Universidade Cândido Mendes. A organização promove a liberação das drogas e a agenda mais radical do movimento LGBT. Em quarto lugar, aparece a Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares. A Open Society destinou US$ 1 milhão (R$ 5,1 milhões à época)para apoiar hospitais do Maranhão durante a pandemia de covid-19.
O mesmo valor foi repassado para a ParáPaz, uma agência do governo paraense. De acordo com a Open Society, o objetivo foi ajudar o governo do Pará a atuar nos “aspectos socioeconômicos da pandemia”.A lista de beneficiados ainda inclui organizações como a Ponte Jornalismo, a Escola de Comunicação da UFRJ, a Fundação Getulio Vargas, a página Quebrando o Tabu, a ONG Viva Rio e o Instituto Igarapé.
O Brasil ganha importância A Open Society aumentou consideravelmente o volume de recursos aplicados no Brasil. Entre 2016 e 2019, a organização repassou em média US$ 8,2 milhões por ano. Apenas em 2020, foram US$ 22 milhões, o equivalente a mais de R$ 113 milhões, considerando o câmbio médio do ano. O número de organizações beneficiadas também cresceu significativamente: de 48, entre 2016 e 2019, para 109, em 2020. Entre 2016 e 2019, o Brasil recebeu, em média, 0,82% dos recursos globais da entidade. Em 2020, o valor dobrou para 1,56%. Ou seja: embora continue recebendo uma parcela pequena do volume total da Open Society, o Brasil tem ganhado relevância.
Ironicamente, Soros, que fez fortuna no mercado financeiro e já foi definido como um especulador internacional,não é bem-visto em sua terra natal. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Urbano,acusa o bilionário e sua fundação de atacarem a identidade nacional dos húngaros em diversos fronts. Por exemplo, ao pressionar o país pela abertura de suas fronteiras a imigrantes vindos do Oriente Médio e da África, e que muitas vezes entram na Europa pelo Leste, passando pela Hungria. Em 2018, a Open Society fechou seu escritório na Hungria, depois que o Parlamento local, já sob o comando dos aliados de Orban, aprovou um pacote de legislação que, dentre outras medidas, tornava crime a promoção da imigração ilegal no país.
O governo de Viktor Orbán tem o maior atrito com a direção da União Europeia por causa de lei que proíbe falar em homossexualidade nas escolas
Não teve bandeira do arco-íris na iluminação do estádio Allianz Arena, embora as cores do movimento LBGTI tenham pipocado por toda a Alemanha. Também não teve vitória da Hungria, com grande torcida contra o time por causa da decisão da Uefa de não acatar o pedido do prefeito de Munique, Dieter Reiter, de iluminar o estádio com as listas multicoloridas. [Agiu certo o prefeito de Munique: futebol é futebol, não pode,nem deve se envolver em discussões políticas.]Como explicação, a Uefa disse que não poderia agir movida por “uma decisão política”.
Apesar das antipatias despertadas, teve uma dose de razão: a iniciativa do prefeito foi feita em resposta a uma lei aprovada esmagadoramente – 157 votos a um – pelo Parlamento da Hungria na semana passada que proíbe falar sobre homossexualidade e questões de gênero nas escolas frequentadas por menores de 18 anos e em programas infantis de televisão. [também agiu corretamente o Parlamento húngaro: não é aceitável que questões como homossexualidade e de gênero sejam tratadas em escolas para menores de 18 anos e em programas infantis; são assuntos que devem ser discutidos entre adultos.São assuntos complexos e que só devem ser tratados por pessoas com um grau de amadurecimento não encontrado no público infantil,nem adolescência.]
O tema é, obviamente, incendiário, pois não existe consenso entre as diferentes camadas da sociedade sobre como deve ser tratado. Simplesmente ignorá-lo, abordá-lo de maneira neutra ou usar a influência da escola para promover a aceitação de diferentes comportamentos sexuais?
Qual o limite entre combater o preconceito, atitude tão desejável e necessária, e o incentivo com selo oficial à experimentação sexual heterodoxa?
Os extratos mais conservadores ou apenas não antenados com comportamentos alternativos têm grande repúdio a que isso seja tratado na escola, por receio justamente de que a terceira opção seja a mais influente. É uma atitude refletida, inclusive, na última eleição no Brasil. E é um debate no qual Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro que encarna como nenhum outro político em atividade o conservadorismo mais assumido e articulado, se jogou de cabeça, sabendo muito bem que criaria mais um – talvez o maior de todos – ponto de atrito com a União Europeia.
“Esta lei húngara é uma vergonha”, fulminou Ursula von der Leyen, a alemã que preside a União Europeia, acusando a Hungria de “violar os valores fundamentais da União Europeia: a dignidade humana, a igualdade e o respeito pelos direitos humanos”. Ela também desencadeou o burocrático processo da instituição para tentar cancelar a lei, com apelos ao governo húngaro. As duas partes têm pleno conhecimento de que isso não vai acontecer. A próxima etapa, como pediram 14 dos 27 países europeus, pode ser levar a Hungria ao Tribunal de Justiça da UE. Parecer um guerreiro solitário que enfrenta potestades superiores para defender os valores tradicionais é um dos motivos da popularidade de Orbán. Na Assembleia Nacional, seu partido, o Fidesz, e um partido aliado têm 133 deputados do total de 199.
Orbán é primeiro-ministro desde 2010 e não parece minimamente ameaçado, apesar – ou por causa – das antipatias que acirra entre progressistas, dentro e fora da Hungria, e dos muitos atritos com a União Europeia, inclusive por interferir na composição do judiciário. [os mandatos sucessivo a serem cumpridos pelo presidente Bolsonaro o levará, com as bênçãos de DEUS, a superar a longevidade de Viktor Órban.]Os adversários mais inflamados do político húngaro dizem que ele gostaria de instaurar uma “ditadura putinesca”. Ele realmente cultiva uma relação especial com Vladimir Putin, embora muitos de seus discursos formidáveis se ancorem do espírito de resistência dos húngaros ao comunismo soviético.
Ao contrário de Putin, ele tem estofo intelectual sólido e conhece melhor a Europa Ocidental. Chegou a ganhar uma bolsa para estudar ciências políticas em Oxford – ironicamente, a bolsa foi dada pela Fundação Soros. George Soros, o multibilionário nascido na Hungria e radicado nos Estados Unidos, se tornou o mais conhecido inimigo ideológico de Orbán.
A batalha da bandeira gay torna o político húngaro mais conhecido, talvez pelos motivos errados. Orbán iria assistir o jogo com a Alemanha, mas cancelou a viagem. Poupou-se de ver o empate que desclassificou a Hungria – e talvez de ser vaiado, dependendo dos humores da plebe. A Hungria e a Polônia são hoje os dois países da União Europeia que mais assumem um papel combativo em relação às chamadasbatalhas identitárias ou pautas sociais,insurgindo-se contra o casamento gay, a mudança oficial de gênero, o aborto, o progressivismo que grassa no mundo acadêmico e nas ONGs e a abertura de fronteiras para imigrantes de fora da Europa.
Ganharam a denominação de “democracias iliberais”. O nacionalismo sem nenhuma atenuante, fortemente alimentado pelos períodos de perda de autonomia no passado distante ou recente, é a coluna de sustentação dessa linha. É claro que isso entra diretamente em confronto com as tendências dominantes. “A maior ameaça para a Europa não está nos que querem vir viver aqui, mas nas nossas próprias elites políticas, econômicas e intelectuais, obcecadas por transformar a Europa contra o próprio desejo dos povos europeus”, já disse Orbán. “Os partidos no governo na Polônia e na Hungria buscam o que consideram uma ruptura mais autêntica com a miragem da transição de 1989”, escreveu no Guardian o historiador americano Nicholas Mulder, referindo-se ao período atribulado do pós-comunismo. “O nacionalismo antiliberal na Europa oriental é mais do que uma explosão de paixões incontroláveis. Têm em comum a crença de que receberam uma missão histórica e que o fim do comunismo foi apenas o começo do trajeto para a libertação nacional. O fato de que estas ideias tenham sido moldadas durante a década de transição também sugere que a democracia liberal é um projeto propositivo – não apenas algo reativo, mas sim dotado de seus próprios objetivos ideológicos”.
Dá para perceber que o assunto vai muito além da iluminação com a bandeira gay num estádio. E que o conflito com a direção da União Europeia vai esquentar.
“Bolsonaro mira não apenas a balança comercial com os
países asiáticos, abalada pela mudança de nossa política externa, mas
atrair investidores para o seu programa de privatizações”
O presidente Jair Bolsonaro embarcou ontem para a Ásia. Sua viagem
deve durar duas semanas e inclui Japão, China, Emirados Árabes, Catar e
Arábia Saudita, países com os quais o Brasil pretende intensificar
relações comerciais. As más-línguas dirão que a crise viajou no mesmo
avião, como costumava falar o então senador Fernando Henrique Cardoso
numa de suas maiores maledicências em relação ao ex-presidente José
Sarney (o que lhe custou sua inimizade), mas isso é uma tremenda
bobagem: Bolsonaro tenta reposicionar geopoliticamente o Brasil, para
melhorar o relacionamento com esses países, abalado por causa do seu
alinhamento automático com o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump. O retorno a Brasília está previsto para o dia 31.
Além disso, com os mercados conectados on-line e a comunicação
instantânea nas redes sociais, o que pode acontecer é o Brasil amanhecer
com o mercado reagindo às declarações e tuitadas do presidente da
República da mesma forma como a Bovespa reage às bolsas de valores de
Xangai, Tóquio e Hong Kong. Crises já não viajam com o presidente da
República, elas se instalam e se propagam a partir de qualquer ponto,
pelas redes sociais. A viagem é muito importante porque a lógica
ideológica que levou Bolsonaro ao alinhamento com Trump e outros líderes
de direita no mundo, como o húngaro Viktor Orban, não é mais forte do
que os fundamentos da geopolítica. O fato objetivo é que o principal
parceiro comercial do Brasil hoje é a China; e os demais países a serem
visitados, são grandes compradores de nossas commodities. Todos fazemos
parte do que os chineses chamam de a nova Rota da Seda.
A Rota da Seda era uma série de rotas interconectadas pelo sul da
Ásia pelas quais se fazia o comércio da seda entre o Oriente e a Europa,
mas não somente: toda sorte de produtos e especiarias circulavam por
ali, por meio de caravanas de camelos e embarcações oceânicas. Surgiu a
partir do comércio entre as regiões de Chang’an, na China, e a
Antióquia, na Ásia Menor, região disputada por mongóis, turcos e
bizantinos na Idade Média, chegando à Coreia e ao Japão. Era o eixo de
comércio que fomentou a formação de impérios: Egito antigo, Mesopotâmia,
China, Pérsia, Índia e Roma.
De certa forma, teve um papel fundamental para expansão portuguesa e o
Descobrimento. Na Idade Média, o comércio entre Oriente e Ocidente
passava pela Rota de Champagne, que foi interrompida pela Guerra dos 100
anos (1337-1453), entre a Inglaterra e a França. Isso fomentou o
comércio por via marítima entre o Atlântico Norte e o Mediterrâneo, o
que possibilitou o desenvolvimento da indústria naval e do comércio em
Portugal. O resto da história todos conhecem: a expansão marítima
portuguesa, após a Revolução de Avis, com ascensão de sua burguesia
mercantil, levou os portugueses ao Brasil; por meio do périplo africano,
à Ásia: China, Pérsia, Japão e Índia. Veneza e outras cidades italianas
perderam o monopólio do comércio entre nações mercantilistas europeias e
o Oriente.
Infraestrutura Se comércio entre os países do Atlântico, desde então, foi o eixo da
economia mundial até o final do século passado, seu controle levou a
duas guerras mundiais, provocadas pela disputa entre uma potência
continental, a Alemanha, e uma marítima, a Inglaterra. Hoje, esse eixo
se deslocou para o Pacífico e provoca uma guerra comercial entre os
Estados Unidos, a maior potência marítima da atualidade, e a China, a
potência continental que emerge como segunda maior economia do mundo. Do
ponto de vista geoeconômico, o Brasil está no meio dessa disputa, com
um posicionamento robusto do ponto de vista da produção agrícola e
mineral, mas muito frágil em termos logísticos, porque nossa
infraestrutura é voltada para o Atlântico e está sucateada.
Nesse sentido, a viagem de Bolsonaro e sua comitiva mira não apenas
manter e expandir a nossa balança comercial com os países asiáticos,
abalada pela mudança disruptiva de nossa política externa, mas atrair
investidores desses países para o programa de concessões e privatizações
do governo. Os países asiáticos são grandes compradores de nossos
produtos agrícolas e siderúrgicos, além de equipamentos de defesa, como
carros blindados, lança-foguetes e aviões de combate e treinamento, sem
falar no interesse que o novo avião cargueiro multiúso KC-390 da Embraer
desperta entre esses países. Mas o que realmente pode fazer diferença
são os investimentos pesados em infraestrutura, principalmente na
modernização de portos, hidrovias e ferrovias.
“Há que separar os setores tradicionais que sempre
defenderam o caráter laico do Estado daqueles que ambicionam uma espécie
de nova teocracia”
No contexto da participação do Brasil na cena internacional, cujo
ponto crucial será o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no próximo dia 24 de
setembro, um sinal preocupante foi a participação do governo brasileiro
na Cúpula da Demografia, em Budapeste, na qual o primeiro-ministro
húngaro Viktor Orbán, sugeriu uma espécie de cruzada antiglobalização e
em defesa do cristianismo mais conservador. O Brasil foi representado
pela ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, que reiterou a
disposição de o governo brasileiro liderar um bloco ultra-conservador na
ONU. [O Brasil precisa acabar com a valorização sem motivo desse discurso de abertura da assembleia-geral da ONU. A ONU é o exemplo mais perfeito de ditadura da minoria.]
Como se sabe, as cruzadas foram movimentos militares que partiram da
Europa Ocidental com objetivo de conquistar a Palestina e tomar
Jerusalém, que estava sob controle dos turcos muçulmanos. Foram nove
cruzadas, um movimento quase permanente, que mobilizou a nobreza,
camponeses e desocupados por mais de 200 anos, e se transformou numa
alternativa de ascensão política, econômica e social. Ironicamente,
ajudaram a acabar com o isolamento das sociedades feudais e fortalecer o
comércio entre Oriente e Ocidente, principalmente no mar Mediterrâneo. Hoje, a expressão tem significado mais político e ideológico do que
militar.
Em Portugal, que liderou uma das cruzadas, a morte do jovem rei Dom
Sebastião, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir, deu origem ao
sebastianismo, um movimento místico-secular que ocorreu durante a
segunda metade do séc. XVI. Como não possuía herdeiros, o trono de
Portugal ficou sob o manto do poderoso rei Filipe II, da Espanha.
Criou-se uma lenda de que o Rei ainda estaria vivo, esperando o momento
certo para retomar o trono e afastar o rei estrangeiro. O mito
sebastianista nada mais é do que a esperança de chegada de um salvador,
mesmo que fosse necessário um verdadeiro milagre, como a ressurreição do
rei morto, D. Sebastião, o Desejado.
No Brasil, o sebastianismo popular se manifestou na crença de chegada
de um “rei bom” e até hoje está presente em manifestações folclóricas,
como a Folia de Reis. Influenciou movimentos populares de Norte a Sul,
sendo o mais significativo o de Canudos, no sertão da Bahia, no qual
Antonio Conselheiro pregava que D. Sebastião retornaria dos mortos para
restaurar a monarquia no Brasil, o que foi motivo para a intervenção do
Exército. Foram necessárias quatro campanhas militares para derrotar os
jagunços de Canudos. O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, narra em
detalhes essa tragédia nacional.
Neopentecostais O mito sebastianista se manifesta de diferentes formas, mas todas têm
como ponto de referência o surgimento de um “salvador da pátria”. Por
isso mesmo, serve de caldo de cultura para o nosso velho populismo. Não à
toa, o presidente Jair Bolsonaro é chamado de “Mito” por seus
seguidores mais apaixonados. A facada que recebeu em plena campanha
eleitoral e as quatro cirurgias dela decorrentes reforçam essa ideia no
imaginário de seus seguidores. A forte relação de Bolsonaro com as
igrejas neopentecostais também alimenta seu carisma, ainda mais por
causa do forte engajamento político dessas correntes na política, que
ultrapassou a fronteira entre o desejo de reconhecimento e o efetivo
exercício do poder.
Há que separar, porém, os setores tradicionais que sempre defenderam o
caráter laico do Estado, até por causa dos antigos vínculos entre a
Igreja Católica e o Estado, daqueles que ambicionam uma espécie de nova
teocracia. Depois do fracasso dos calvinistas franceses, nas invasões do
Rio de Janeiro (1555) e Maranhão (1594), o protestantismo chegou ao
Brasil no começo do século XIX, com os anglicanos (1816), devido à
presença inglesa após a Abertura dos Portos(1808) por Dom João VI.
Graças à liberdade religiosa, depois vieram congregacionistas (1855),
presbiterianos (1859), metodistas (1867), batistas (1881), episcopais
(1889) e luteranos (1900).
Mesmo com a Congregação Cristã do Brasil (1910) e a Assembléia de
Deus (1911), somente na década de 1950, o movimento pentecostal
brasileiro se fragmentou, com o surgimento das igrejas Evangelho
Quadrangular (1954), Igreja do Nazareno (1958) e Cristã de Nova Vida
(1960). A cisão desses movimentos deu origem às organizações
pentecostais brasileiras: Brasil para Cristo (1955), do missionário
Manoel de Mello e Silva; Deus é Amor (1962), de David M Miranda; e Casa
da Bênção (1964), de Doriel de Oliveira.
O movimento que dá mais sustentação a Bolsonaro, porém, é formado por
igrejas pentecostais que fazem uso intensivo dos meios de comunicação,
com ênfase em milagres, curas e prosperidade pessoal: Igreja Universal
do Reino de Deus (1977), de Edir Macedo; Igreja da Graça de Deus (1980),
de R.R. Soares; a Renascer em Cristo (1986), de Estevam e Sônia
Ernandes; Sara Nossa Terra (1992), de Robson Rodovalho; e Poder de Deus
(1998), de Valdemiro Santiago. [em todas essas igrejas pentecostais, o que mais se observa é a abundância de denominações e que cada igreja é propriedade de alguém - os fiéis podem até não receberem milagres, curas e prosperidade pessoal, mas, os proprietários com certeza recebem e muito, especialmente, prosperidade pessoal em suas finanças.
Os tempos em que havia vínculos sólidos entre a Igreja Católica Apostólica Romana - que não se dividiu, por estar amparada no DECRETO DIVINO:."E eu te declaro: tu és Pedro, e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não
prevalecerão contra ela.19.
Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra
será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado
nos céus”.Evangelho de São Mateus 16,18-19 - as situações eram mais definidas.]
Hoje, devido à nova legislação eleitoral,
se transformaram em poderosas forças políticas, que vão disputar as
prefeituras nas próximas eleições municipais, como no Rio de Janeiro, em
razão da facilidade de montar chapas de vereadores e levantar recursos
financeiros, ao lado do desgaste dos partidos.
Orbán nasceu da derrubada de um muro e transformou-se no principal arauto da construção de muros
Há 30 anos, entre a noite de 10 de setembro de 1989 e a manhã seguinte, o
êxodo começou. Milhares de alemães do leste com vistos de turismo
cruzaram a fronteira entre Hungria e Áustria. Na passagem, cada
motorista recebeu pouco mais de US$ 25 doados pela Cruz Vermelha para
pagar o combustível até a Alemanha Ocidental. Ali, começou a ruir o Muro
de Berlim, que desabaria dois meses depois, no 9 de novembro. A
história inteira, relida hoje, é um conto sobre a indignidade e o
declínio de valores.
O ponto de partida situa-se pouco antes, no 27 de agosto, quando o
governo comunista húngaro cedeu à pressão e cortou a cerca erguida na
fronteira com a Áustria. Vivia-se o ocaso de uma era. Da capital da
Tchecoslováquia, vinham os ecos de uma grande manifestação em memória do
21º aniversário da invasão soviética que arrasou a Primavera de Praga.
Dos países bálticos, as imagens de uma corrente humana de dois milhões
de letões, estonianos e lituanos que exigiam liberdade e independência.
Mas a ruptura física da cerca húngara de arame farpado, um ato simbólico
protagonizado pelos ministros do Exterior da Hungria e da Áustria,
assinalou a quebra da Cortina de Ferro.
No 27 de agosto, um estudante húngaro acompanhava as notícias de longe,
na Universidade de Oxford. Chamava-se Viktor Orbán, tinha 26 anos e
beneficiava-se de uma bolsa concedida pela Fundação Soros. No ano
anterior, ele tinha ajudado a fundar o Fidesz, um partido oposicionista
ilegal, democrático e liberal. De volta a seu país, fez carreira
política meteórica, elegendo-se primeiro-ministro em 1998. Hoje, o líder
que nasceu da derrubada de um muro converteu-se no principal arauto da
construção de muros. Orbán é a face icônica da Europa xenófoba que
invoca o direito do sangue para implantar barreiras de arame farpado
diante de refugiados do Oriente Médio e do norte da África.
São dois capítulos distintos. No seu mandato original, até 2002, Orbán
conservou-se fiel aos princípios liberal-democráticos, conduzindo as
negociações de acesso da Hungria à União Europeia. Já no segundo
mandato, iniciado em 2010, vestiu as roupagens de um nacionalista
conservador, armando os canhões paralelos da islamofobia e do
antissemitismo. Então, a pólvora da “civilização cristã” passou a
impulsionar seus obuses dirigidos contra dois alvos: os imigrantes e a
globalização.
Os imigrantes são os refugiados sem rosto que vêm de terras devastadas
pela violência. A globalização tem, na propaganda estatal emanada de
Orbán, o rosto do investidor George Soros, seu antigo patrono, retratado
como o “judeu errante”, o “judeu sem pátria”, o manipulador
inescrupuloso dos destinos do mundo. A direita nacionalista atual(inclusive a brasileira) oculta suas raízes antissemitas atrás de um
alinhamento completo com o governo israelense de Benjamin Netanyahu. Mas
o líder húngaro fala tudo, expondo o lado oculto da lua.
“Democracia iliberal” — eis o rótulo de Orbán para o sistema de governo
que instalou. “Conhecendo o presidente por bons 25 ou 30 anos, posso
dizer-lhe que ele adoraria ter a situação que tem Orbán”, confessou
David Cornstein, velho amigo de Donald Trump e embaixador americano em
Budapeste. O chefe do governo húngaro manietou a imprensa, subordinou o
Judiciário e enfrentou, com sucesso, a política de abertura aos
refugiados ensaiada pela alemã Angela Merkel em 2015. Nesse percurso,
transformou-se no farol dos partidos da direita nacionalista europeia.
A Praça do Parlamento, em Budapeste, perdeu a estátua de Imre Nagy, o
líder da revolução democrática húngara de 1956, erguida em 1996 e
removida em 2018 por uma ordem de Orbán destinada a agradar a seu aliado
Vladimir Putin. A Universidade Centro-Europeia, melhor instituição de
ensino superior da Hungria, financiada pela Fundação Soros, está sendo
expulsa do país por injunções do governo. De certo modo, a Hungria
restabelece a cerca de arame farpado cortada há 30 anos. Orbán não economiza elogios ao governo de um país distante:
“A mais apta
definição da democracia cristã moderna pode ser vista no Brasil, não na
Europa”.