Quando a Polícia Federal estourou um
”cativeiro” em Salvador, libertando mais de R$ 51 milhões (R$
42.643,500,00 e US$ 2.688.000,00) que estavam presos em caixas e malas,
nesta terça (5), veio à tona uma preocupação importante destes tempos
insanos: como manter a salvo o dinheirinho pelo qual muito político
vendeu a alma, rifou o país e até suou a camisa?
Foto - Divulgação
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A pergunta, claro, não tem uma resposta
única. Depende do perfil do envolvido. O imóvel onde ocorreu a maior
apreensão de dinheiro na história do país seria usado, segundo
investigação da Polícia Federal, por Geddel Vieira Lima. Acusado de
corrupção e cumprindo prisão domiciliar, foi ministro de Temer e de
Lula. Ele faz o estilo ”cara-de-pau”, do tipo que nem pisca quando vai a
um protesto gritar contra a corrupção, mas há opções para todos os
gostos. Umas mais cômodas que outras, outras mais fáceis de esconder.
Manter dinheiro em espécie: Não
é tão simples, uma vez que o valor máximo de uma nota no Brasil é de R$
100,00. Pode ser, portanto, um trabalho hercúleo transportar a carga se
ela estiver na casa dos milhões. Cuidado: pilhas de garoupas e
onças-pintadas sempre rendem boas fotos para estampar a primeira página
de um jornal de circulação nacional. Ou pior: a escalada de notícias do
Jornal Nacional. João Batista Ramos (R$ 10,2 milhões), então deputado
federal e bispo da Igreja Universal, e Roseana Sarney (R$ 1,3 milhão),
então governadora do Maranhão, que o digam.
Guardar joias e ouro: Mais
prático, é uma das principais opções do naco da elite brasileira que
quer mandar riqueza para fora ou trazê-la para dentro sem despertar
muitas suspeitas. Como existe um comércio ilegal desses produtos, há uma
certa liquidez do ”investimento” – no que pese ele perder muito o seu
valor assim que é retirado da loja. É a opção do coração de Sérgio
Cabral, que teria gasto R$ 11 milhões com a aquisição de 189 joias. O
ex-governador do Rio de Janeiro refuta a tese de lavagem de dinheiro e
diz que os mimos foram comprados com sobras de campanha. O problema é
que sempre tem uma H.Stern pronta para bater com a língua nos dentes e
confirmar que vendeu sem nota fiscal.
Comprar gado: Bois têm
sido, há muito, uma excelente saída para quem quer guardar dinheiro
sujo. Primeiro, porque nosso sistema de controle de comércio de animais
permite fraudes na compra e venda de animais. Além do mais, o boi é uma
lavanderia de dinheiro ambulante, ou seja, dá para transferir para uma
fazenda vizinha se ocorrer uma fiscalização ou tocar o investimento até
outra cidade. Um exemplo de fã de explicações bovinas é o senador Renan
Calheiros. Em 2007, para justificar-se diante das denúncias de que
recebia recursos de um lobista de empreiteira para pagar a pensão a uma
filha, ele apresentou documentos frios de que havia recebido esse valor
através da venda de gado. O suposto comprador disse, contudo, que isso
era história para boi dormir. O risco é, durante a engorda do gado,
acabar sendo pego por usar trabalho escravo ou desmatamento ilegal.
Contas na Suíça: É
muito mais fácil e prático passar um cartão, emitir um cheque ou fazer
um DOC/TED do que buscar dinheiro em apartamentos e vender bois ou
joias. Mas é preciso ressaltar que o país do chocolate, dos picos
nevados e dos escritórios da ONU já não é mais tão seguro para isso – o
Ministério Público de lá tem sido menos tolerante com recursos de origem
criminosa. O grande exemplo de usufrutuário desse modelo é o
ex-presidente da Câmara dos Deputados e hoje presidiário Eduardo Cunha
que, um dia após ter dito que não possuía contas no exterior, recebeu um
passa-moleque do MP suíço que mostrou que mentira tinha perna curta.
Mas comparado com o montante que o
eterno Paulo Maluf mandou para contas na Suíça e na Ilha de Jersey,
desviado da Prefeitura de São Paulo, as cadernetas de Cunha, as
caixinhas de Geddel, as joiazinhas de Cabral e a vaquinhas de Renan são
pó. Estima-se em mais de US$ 1 bilhão degredados e que esperam, um dia,
poder voltar para casa. Assim também esperamos nós, paulistanos, que
estamos com saudades deles.
Enfim, não precisa se preocupar. Para
quem deseja privacidade a fim de curtir uns momentos íntimos com seu
dinheiro, há várias formas de guarda-lo longe do olho gordo do povo. Se
ele estivesse beneficiando seus devidos proprietários, o povo, estaria
sendo torrado em loucuras, como garantir leite para crianças, pagar
salários atrasados de professores, adquirir remédios para postos de
saúde ou manter as bolsas de pesquisadoras que fazem nossa ciência.
Melhor que fique, portanto, bem
guardadinho, nas mãos de quem vai transformá-lo em luxo, usá-lo para
fazer mais dinheiro ou comprar algo que realmente importa, ou seja,
outro político.