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terça-feira, 12 de outubro de 2021

O azarão que pode se beneficiar da resistência a André Mendonça no STF- Bela Megale

O Globo

Indicação ao STF

Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que cresce a chance de um azarão se beneficiar da resistência que André Mendonça enfrenta para compor o Supremo Tribunal Federal (STF). Para auxiliares do presidente Bolsonaro, a vaga pode acabar no colo do deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP). 

Pereira é presidente do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal e que tem Carlos Bolsonaro entre seus filiados. Desde o início do ano, o deputado se mobiliza para ocupar a vaga da corte, mas ainda não apareceu como um nome competitivo. O parlamentar ganha força entre auxiliares do presidente num momento em que quadros do Centrão que integram o governo trabalham para rifar André Mendonça sob o argumento de que ele é lavajatista. 

Com o ex-advogado-geral da União em baixa e outras opções de Bolsonaro descartadas, ministros e auxiliares do presidente acreditam que as chances do deputado podem crescer, caso o atual indicado de Bolsonaro seja rejeitado na sabatina do Senado. 

Apesar do apoio ao nome do deputado entre integrantes do primeiro escalão do governo ligados ao Centrão, Bolsonaro segue fechado com Mendonça e afirma que acredita que sua primeira opção será aprovada. Pereira preenche dois requisitos que Bolsonaro não abre mão: é evangélico e ficaria mais de 20 anos na corte. [a midia militante se alia aos inimigos do presidente Bolsonaro no esforço para inviabilizar o nome de André Mendonça para ocupar uma cadeira no STF;

Mais uma que vai perder - aliás, sempre que se alia aos inimigos do presidente Bolsonaro = que são necessariamente inimigos do Brasil = a mídia militante contra o capitão perde; um outro exemplo de derrota e decepção que já estão passando decorrente do apoio dado à CPI Covidão - que empurra os militantes para um dos maiores fracassos. 
Fracassar tem se torna uma constante para a mídia desde que o capitão foi eleito em 2018.  
Ocorre uma refrega que , aparentemente o presidente perdeu, seus inimigos computam no rol das derrotas, só que logo após o capitão ressurge triunfante e ditando o ritmo da dança. Confiram.Voltando à indicação ao nome de André Mendonça para o STF.

"Constituição Federal
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal." 

A regra é clara. Só o presidente da República - que para desespero de muito é JAIR MESSIAS BOLSONARO, com chances de mais quatro anos - indica e só o Senado Federal aprova ou rejeita o nome indicado.]

 Bela Megale, colunista - O Globo


terça-feira, 27 de julho de 2021

Sem um vice General, Bolsonaro cai? - Jorge Serrão

O Presidente do PTB, Roberto Jefferson, aconselhou o Presidente Jair Bolsonaro a definir que seu candidato a vice-Presidente na quase certa reeleição seja o General de Exército na reserva Braga Netto - atual ministro da Defesa. 
Jefferson justificou que um militar de alta patente como vice é garantia de lealdade, além de blindar o titular do Palácio do Planalto de eventuais tentativas de golpe político. A sugestão de Jefferson foi dada ao final do programa Direto ao Ponto, apresentado por Augusto Nunes na Rede Jovem Pan, ao responder, criticamente, a uma pergunta sobre o fato de Bolsonaro ter rompido com seu vice. Bolsonaro comparou Hamilton Mourão a um “cunhado”.
 

 
Bolsonaro fala sobre relacionamento com Mourão e eleições 2022
 

Indiretamente, Jefferson advertiu que Bolsonaro fica vulnerável politicamente sem a sustentação de um militar de peso, como vice-Presidente. O estrategista Jefferson foi claro sobre o vice: “As Forças Armadas, em especial o Exército, mão amiga, braço forte, permeia na sociedade uma credibilidade muito grande. Eu acho que o grande aval do Presidente Bolsonaro é o Vice (Mourão). Vai colocar quem? O ministro da Casa Civil do PP, lá do Piauí? Eu? Cheio de problema no passado, cheio de lutas, de conflitos, cicatrizes… Não... Vai escolher quem? Tem de ser um homem acima de todas as suspeitas. Eu colocaria o General Braga Netto. Se sou ele, eu não optaria por um vice (civil). Até porque, o militar é leal”.

Jefferson defendeu o papel do atual vice de Bolsonaro: “Por pior que seja a relação do Mourão com Bolsonaro, e é ruim, ele não conspira contra o Presidente. O Itamar (Franco) conspirou abertamente contra o Collor. Abertamente… E o Temer conspirou abertamente contra a Dilma. Político não tem essa lealdade do militar.  [minha honra é lealdade.]
Essa lealdade de pegar o companheiro ferido e trazer nas costas. 
Não deixa o companheiro sangrando no campo de batalha, que não é comum à classe política. Militar tem essa honra, essa lealdade, essa dignidade. Eu faria do General Braga o meu vice, para ter certeza de uma vice-Presidência amiga, aliada, que vai proteger sua retaguarda, as suas costas”.

Ontem à tarde, em entrevista à Rádio Arapuan, na Paraíba, Bolsonaro fez uma crítica pesada e desnecessária ao seu vice-Mourão, ao comentar a indagação de que não deveria tê-lo como parceiro na sucessão presidencial de 2022: “A escolha do vice meu foi muito em cima da hora. Assim como a composição da bancada, especial para deputado federal. Muitos parlamentares, depois de ganhar as eleições com nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos nossos”, afirmou. “O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes aí atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né? Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado”.

O “cunhado” viajou ontem à tarde para representar o Brasil e Jair Bolsonaro na posse do Presidente do Peru, socialista Pedro Castillo. Nas redes sociais, Mourão explicou a missão diplomática: “Levamos ao País amigo nossos votos de felicidades. Que prossigamos na amizade e cooperação que sempre uniu o Brasil e o Peru”. O “vice que às vezes atrapalha, mas tem que aturar” (na versão sincera de Bolsonaro) já tinha cumprido outra missão espinhosa que o Presidente não quis encarar, na visita a Angola - país africano que está expulsando seus fiéis aliados da Igreja Universal do Reino de Deus.

Por lealdade a Bolsonaro, Mourão cumpriu o desgaste de defender os perseguidos pelo regime comunista angolano, na reunião com o presidente João Manuel Gonçalves Lourenço. Nota oficial da Vice-Presidência justificou o encontro, muito criticado por adversários de Bolsonaro: “Foi solicitado ao presidente Lourenço que o assunto fosse tratado com base nos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório a todas as partes da controvérsia, sempre á luz do direito angolano”.

Nesta terça, Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira finalmente se reúnem para os acertos finais que definirão os rumos do governo. Ontem, a reunião precisou ser adiada por uma falha mecânica no avião que traria Ciro do México para o Brasil. Ciro parece mais incômodo que um cunhado chato. Ainda mais para Bolsonaro que se elegeu com a bandeira da anticorrupção - que pretende usar na campanha para o segundo mandato contra Lula. O futuro ministro da Casa Civil é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava-Jato. Na entrevista à emissora paraibana, Bolsonaro justificou a escolha de Ciro para o cargo, minimizando o desgaste com a base aliada: “Centrão é o nome pejorativo para muitos partidos de centro que têm sido úteis para a gente aprovar muita coisa. A gente tem que governar com o que o povo mandou para cá”.

Alguns pontos devem complicar e tensionar a indigesta conversa com Ciro Nogueira. O partido dele, o PP, foi um dos que já se colocou, publicamente, contra a aprovação da impressão do voto pela urna eletrônica - a principal bandeira imediata do bolsonarismo. Outro ponto problemático é que a maioria dos parlamentares do Progressistas não deseja fechar apoio à reeleição de Bolsonaro. Eles sentem saudades dos “bons tempos” com o mensalão e petrolão de Luiz Inácio Lula da Silva. A grande dúvida é se Ciro Nogueira, como coordenador político do Palácio do Planalto, conseguirá mudar de posição sobre a PEC 135 e recuperar o rebanho rebelde do PP. Na prática, Bolsonaro tenta “roubar” o PP de Lula. Se vai conseguir, são outros “quinhentos” ou “milhares”.

Bolsonaristas mais precipitados (ou desconfiados) e a oposição avaliam que Bolsonaro selará sua “venda de alma” ao Centrão. No entanto, o que vale é o pragmatismo. Bolsonaro traz Ciro para a Casa Civil, a fim de dar uma enquadrada final na base aliada. A reafirmação do acordo é fortalecer a blindagem a qualquer ameaça de impeachment mas, principalmente, garantir que as propostas do governo sejam aprovadas no Congresso - o que não vem ocorrendo, apesar de tudo que Bolsonaro já cedeu aos aliados. Bolsonaro só precisa deixar clara qual será a pauta que precisa do Centrão para aprovar. Do contrário, vai arcar com um insano desgaste político.

Todo o jogo vai depender muito da famosa caneta azul (esferográfica) de Jair Bolsonaro. Sem a assinatura publicada no Diário Oficial da União (não por coincidência conhecido pela sigla “DOU”, do verbo “dar”) nada acontece. O nada franciscano princípio do “É dando que se recebe” é uma das tragédias do Presidencialismo de Coalizão previsto na Constituição de 1988 - feita para um modelo parlamentarista ou semipresidencialista. O Centrão quer Poder e Dinheiro. Haja negociação e muita reza forte para tudo não acabar em negociatas.

Alerta Total - Jorge Serrão


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Meia-volta, volta e meia, os militares no Brasil - Fernando Gabeira

In Blog

Civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa garantem que as Forças Armadas não embarcam numa aventura golpista. Eles sabem mais do que eu. No entanto tenho algumas dúvidas. 

Não são dúvidas turbinadas pelo preconceito ou pelo ressentimento. Como jornalista, sempre destaquei ações positivas dos militares; no Congresso, mantive as melhores relações com assessores parlamentares das Forças Armadas, entre eles o general Villas Bôas. Os fatos abalam qualquer certeza. Desde a não punição do general Pazuello até as recentes notícias sobre ameaças do ministro da Defesa, o curso dos acontecimentos nos leva à desconfiança. É difícil imaginar como uma sucessão de pequenas atitudes autoritárias pode conduzir a uma firme decisão democrática, no dia D e na hora H, como diz Pazuello.
[Nenhum dos civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa, possuem credenciais para opinar sobre ações que se e quando pensadas não se destacam pela publicidade. 
Aliás, o currículo dos ex-ministro da Defesa não os credencia para dissertar sobre o tema = os cinco primeiros e do sexto ao décimo, nem eles nem os presidentes que os nomearam sabem as razões e motivação da nomeação;
o sexto quem o nomeou não possui credencial que justifique a nomeação de uma fusão de jurista, político, para ocupar um cargo que no seu entendimento leigo no assunto, era tão militar, que autorizava ao titular da pasta o uso de uniforme de General de Exército; 
O décimo primeiro, oficial general, foi nomeado por Temer, corrigindo o erro que cometeu ao manter Jungmann; 
O décimo terceiro foi uma nomeação adequada e oportuna do presidente Bolsonaro e o atual outra  de excelente nomeação do capitão.]

Outro dia, um general ficou bravo comigo porque critiquei Pazuello por sua audácia ao assumir um cargo para o qual não tinha a mínima competência. Mencionei sua obediência cega a Bolsonaro, e o general entendeu minha crítica como uma tentativa de minar o conceito de disciplina dos militares. E disse que era capaz de matar ou morrer pela pátria. Na verdade, peço muito menos que matar ou morrer: simplesmente pensar. Bolsonaro não merece uma obediência cega. Ninguém merece. O que está em jogo é uma noção de dignidade dos militares, discussão importante, pois, do seu prestígio, depende parcialmente a consistência da defesa nacional. [o ilustre jornalista, possui um passado, ainda que distante, não muito favorável à democracia = integrou o MR-8, movimento terrorista, que tentou combater o Governo Militar - nem ele, nem o movimento foram exitosos. O ilustre Gabeira sofreu graves ferimentos durante uma fuga, foi preso, foi banido do Brasil em função de uma troca dele e mais 39  pela embaixador alemão covardemente sequestrado; participou do sequestro do embaixador americano e como consequência foi proibido até 2009 de ingressar em território dos Estados Unidos; apesar de ser apresentado como elemento operacional do grupo terrorista, ele não participou das ações  de maior risco. Voltou ao Brasil em 1979 e com a Anistia voltou à condição de brasileiro. Essa longa memória sobre Fernando Gabeira é mais como consequência de em vários de seus escritos deixar, ainda que de forma sutil, sua propensão a incitar uma reação belicosa contra o governo Bolsonaro. Como sempre, a qualidade literária do que produz é excelente e não será este humilde escriba que ousar apresentar reparos à mesma.]

O perigoso esporte de humilhar generais, título do artigo que provocou a ira dos generais, continua a ser praticado. O general Ramos soube de sua saída da chefia da Casa Civil pela imprensa e confessou que se sentiu atropelado por um trem. O general Mourão é enviado numa missão a Angola para defender, em nome do Brasil, a política da Igreja Universal do Reino de Deus. Isso não é política de Estado, e a tarefa não deveria ser aceita por um general. [até que uma interpretação com viés crítico ao presidente Bolsonaro pode deixar a impressão de que um oficial general está sendo 'humilhado' ao receber certas missões; no caso do general Ramos entendemos que não ocorreu humilhação e sim uma troca de função; o general Mourão é o vice-presidente da República e tem o direito de recusar qualquer encargo que lhe seja atribuído pelo presidente da República, por não existir subordinação do vice-presidente ao presidente.]

Tenho muita tranquilidade em discutir o conceito de obediência na política. Não acho que seja uma extensão do conceito de disciplina militar. Nisso, sempre discordarei dos generais da direita, assim como discordei dos generais da esquerda nos longos debates sobre o chamado centralismo democrático. O melhor instrumento que a sociedade tem para tratar da questão militar que aparece volta e meia é precisamente determinar uma meia-volta: aprovar o projeto que impede militares da ativa de ocupar cargos civis no governo. Votar logo essa proposta de voto impresso, decidir democraticamente se o teremos ou não. [parabéns ao articulista poder defender que a proposta seja votada pelo Congresso Nacional - a quem cabe discutir, analisar e votar as leis. Discutir a conveniência das leis, criar ou revogar leis = legislar = é competência exclusiva do Poder Legislativo.]

Isso não basta. Concordo com o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann: o Congresso é omisso ao não discutir os grandes temas da defesa nacional. A omissão dos parlamentares passa aos militares uma sensação de irresponsabilidade ou mesmo de ignorância em relação à dimensão do tema. Impede que a variável ambiental tenha a importância estratégica que merece, atrasa uma solução negociada para o futuro da Amazônia.

A fragilidade da representação política contribui também para que os militares tenham uma visão resignada do Congresso. Nos Anos de Chumbo, seus aliados eram da Arena, partido dos coronéis nordestinos; na eleição indireta à Presidência, o candidato dos militares era Paulo Maluf. Não me espanta que o governo atual tenha se transformado numa associação entre militares e o Centrão. A escolha ideológica sempre foi mais importante que uma sempre anunciada recusa à corrupção.

Durante a Guerra Fria, a ideia de se unir com qualquer um para evitar o comunismo tinha um poder maior de atração. De lá para cá, a sociedade brasileira evoluiu, o comunismo fracassou, apesar da sobrevivência autoritária do PC chinês. Resistir aos impulsos autoritários de Bolsonaro dará à sociedade brasileira mais força contra qualquer nova ameaça aos fundamentos da democracia. O argumento ganha um peso maior se for aceito pelos militares. Ele é a base real da conciliação.

Artigo publicado no jornal O Globo em 26/07/2021

 Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A farra dos privilégios - Carlos Alberto Sardenberg

Estava pensando em dar à Fiocruz o prêmio “Republicano de 2020”.   Melhor não. Republicanos é o nome do partido de Crivella/Igreja Universal, cujo comportamento não corresponde ao nome.

Assim, vamos dizer que a Fiocruz é merecedora do prêmio de responsabilidade social e política, ao se negar a reservar doses de vacina aos tribunais superiores. Inversamente, o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho merecem o prêmio vexame do ano. Os egrégios tribunais solicitaram oficialmente à Fiocruz a reserva de doses da vacina (7 mil no caso do STF) para aplicação nos ministros e seus funcionários.

Em ofício, o diretor do STF, Edmundo Verdas dos Santos Filho, chegou a dizer que a vacinação de ministros e funcionários contribuiria “com o país” já que garantiria a “utilização dos recursos humanos e materiais disponíveis no Tribunal para ajudar a desafogar outras estruturas de saúde”.

É ridículo ter que argumentar contra isso, mas considerada a fonte, vamos lá. Há muitas outras categorias cuja vacinação contribuiria mais com o país. E é justamente essa regra que se utiliza em qualquer lugar do mundo quando se organiza a fila da vacinação. E é óbvio que a reserva das primeiras doses vai para o pessoal da saúde e para a sua turma de apoio, o que inclui, por exemplo, maqueiros e motoristas de ambulâncias.

O diretor do STF lembrou, en passant, que muitos membros do tribunal estão no grupo de risco. Desnecessário. Os grupos de risco vão para os primeiros lugares. Mas na fila comum, para todos, e não para uma eventual fila exclusiva de 7 mil membros do STF, a serem vacinados em locais da Corte, especiais e separados do povão.[Não será surpresa se algum dos ministros supremos - especialmente os plantonistas extraordinários - determinar que as atividades dos beneficiados com a vacina que pediram à Fiocruz (pedido já negado) - ministros e servidores são essenciais = caso isso ocorra ficará a dúvida se a atividade dos servidores encarregados de afastar as cadeiras dos ministros, quando em plenário, para que se sentem, será considerada também essencial.???]

Dirão alguns leitores: mas por que se preocupa com questão tão pequena? Ocorre que não é só isso. Os privilégios não se limitam a isso. São os salários acima do teto constitucional, são as férias de dois meses, sem contar os recessos, são as mordomias. Isso se refere não apenas ao STF, mas à alta cúpula do serviço público que acha natural ter essas vantagens.

Refere-se também a uma elite política que, por exemplo, acha um absurdo que um prefeito, um deputado, um senador ou um ministro possam ser presos. A demanda por privilégios vai assim do pedido de reserva de vacinas aos esforços para abafar o combate à corrupção. Isto inclui, por exemplo: o engavetamento da lei de prisão em segunda instância, a decisão do ministro Marques de encurtar o tempo de inelegibilidade dos fichas-suja, o desmantelamento da Lava Jato.

E mais: o fato da elite política de Brasília considerar absolutamente normal que um réu por corrupção, o deputado Arthur Lira, seja candidato a presidente da Câmara dos Deputados. [um lembrete: importante destacar que um réu não é necessariamente culpado = no popular: qualquer denunciado por prática criminosa e que tem a denúncia aceita (sem julgamento, apenas com um exame preliminar do teor da denúncia) se torna réu. O réu se torna culpado quando, após o julgamento, é condenado.

A mais recente manifestação do Poder Judiciário sobre o deputado citado - que não goza de nossa simpatia nem antipatia - foi no sentido de arquivar um processo contra o mesmo = fosse réu no processo, deixou de ser.]

O que nos traz ao tema corrupção, outro assunto movimentado nestes dias com a prisão do prefeito Marcelo Crivella. Isso num estado em que seis ex-governadores foram apanhados por corrupção e lavagem de dinheiro. Dinheiro público e da saúde. Até algum tempo se dizia que a corrupção era pequena e apenas um problema moral. Errado. Primeiro, porque a Lava Jato mostrou o tamanho da corrupção aqui no Brasil e no exterior. Segundo, porque há uma estreita relação entre corrupção e ineficiência econômica.

Num ambiente corrupto, empresas que trabalham para governo corrupto – via contratos ou concessões – sabem que se ganha uma concorrência não por qualidade técnica, mas pelo valor da propina. Empresas sérias se afastam desses ambientes, como é o caso de muitas companhias e Organizações Sociais que desistiram de trabalhar no Rio e muitas que simplesmente desistiram do que têm a receber, por trabalhos legítimos, porque não querem entrar na fila da propina.

Trata-se do “capitalismo de amigos”, revelado pela Lava Jato e tão resistente a ponto de conseguir abafar a própria Lava Jato. Portanto, um prêmio para a Fiocruz que deu uma lição ao STF: as vacinas vão todas para o programa nacional de imunização, não podendo ser reservadas nem para os funcionários da Fiocruz. Até o fechamento desta coluna, ontem à tarde, apenas um ministro do STF havia se manifestado, Marco Aurélio: “peço desculpas”. E os outros?

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Economia 24 de dezembro de 2020

 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A politização da polícia - Folha de S. Paulo

 Pablo Ortellado 


Policiais estão sendo assediados de todos os lados
Um dos mais perigosos sinais da deterioração das instituições é a politização das polícias. Forças políticas estão doutrinando e disputando a lealdade das polícias para utilizá-las como salvaguarda do poder, ameaçando, no limite, a rotatividade conferida por mecanismos eleitorais. A história dos nossos vizinhos sul-americanos deveria servir de alerta.

Na Venezuela, o controle político dos militares e das forças policiais e a constituição de uma retaguarda civil armada não apenas deram respaldo à progressiva ingerência do Executivo sobre o Judiciário, o Legislativo e a imprensa como impediram a tomada do poder por forças adversárias —de um lado, garantiram o crescente autoritarismo do regime bolivariano, e, de outro, impediram um novo golpe como o que havia acontecido em 2002.

Na Bolívia, uma polícia politizada se aliou à revolta popular contra Evo Morales e garantiu que a insurreição desse posse a um governo de transição de extrema direita que perseguiu os apoiadores do regime anterior e talvez não entregue o poder para o MAS caso ganhe as próximas eleições. Evo, por seu lado, demonstrou arrependimento por não ter seguido os passos de Chávez e armado os movimentos civis que eram seus aliados.

Aqui no Brasil, policiais estão sendo assediados de todos os lados.  Bolsonaro professa uma ideologia abertamente punitivista e a combinou com uma postura corporativista pró-polícia que quer reduzir o controle pelas corregedorias e pela Justiça e conceder reajustes salariais extraordinários, além de conferir privilégios como aposentadorias especiais. [Imagine o que é umser humano, com filhos, família, passar 30 anos, saindo diariamente de casa, sem saber se volta ou morre atacado por bandidos.
Grande parte deles fardado, o que os torna um alvo facilmente identificável.] Isso tem servido de base para uma ativa cooptação de policiais para seu projeto político.  Já a Igreja Universal, que controla o PRB, criou um programa de orientação espiritual para policiais que alegadamente alcançou 980 mil pessoas, entre agentes e familiares.

O principal intelectual do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, também tenta ampliar sua ascendência sobre a Polícia Militar com um programa de bolsas gratuitas para seu infame curso online de filosofia. Até mesmo a esquerda brasileira, que já teve penetração em associações de praças, tenta agora uma politização menos disfarçada com a formação do movimento de policiais antifascismoEssa disputa tem uma dimensão mais ou menos legítima, que é a expressão de diferentes concepções sobre a política de segurança pública; mas, em momentos de profunda crise política e diante da experiência internacional na região, seria ingênuo não vê-la também como uma iminente ameaça à democracia.

Pablo Ortellado, professor da USP - Folha de S. Paulo


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

A revolta dos fiéis da África contra a Igreja Universal - VEJA

A IURD vive crise com um levante de suas lideranças em Angola, a depredação de templos em São Tomé e a prisão de um pastor na Costa do Marfim


Os frutos do plano de expansão para o exterior da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) não se multiplicaram por milagre. Eles foram resultado de um planejamento cuidadoso, posto em prática a partir da década de 80 pelo bispo Edir Macedo, que exportou o modelo de atuação da Iurd para cinco continentes. 

Atualmente, a instituição tem cerca de 2 800 templos espalhados por mais de 100 países. A África se revelou o terreno mais fértil para esse crescimento formidável, concentrando hoje a maior parte da operação internacional. Ali, não faltam pessoas privadas dos bens mais básicos, assoladas por doenças e ávidas pelos dois principais “produtos” oferecidos pela instituição neopentecostal, prosperidade e cura. Nos últimos meses, no entanto, a grande presença dos religiosos brasileiros começou a ser posta em xeque em algumas nações da região e o quadro evoluiu para uma grande crise internacional. Os focos de problemas incluem a prisão de um pastor na Costa do Marfim, a depredação de seis templos em São Tomé e Príncipe e um manifesto assinado por 330 pastores de Angola contra a cúpula da Universal.


O estopim da confusão foi aceso em 9 de setembro, quando ocorreu a prisão na Costa do Marfim do pastor são-tomense Ludmilo da Costa Veloso, de 37 anos, que faz parte dos quadros da Universal há duas décadas. Segundo ele, a própria igreja o denunciou por difamação, atribuindo-lhe a autoria de um perfil no Facebook que fazia denúncias contra as lideranças brasileiras da Iurd por discriminação e humilhação de pastores africanos, por obrigá-los a esterilizar-se para se dedicarem integralmente à causa de Edir Macedo e por enviarem ilegalmente ao Brasil dinheiro de dízimos e doações levantado em países africanos. Em menos de duas semanas, o pastor foi julgado e condenado, sem direito a defesa. Acabou indo para uma das piores prisões da Costa do Marfim, Maca, em Abidjan. Lá, ficou numa cela com mais de 100 detentos, pegou malária e foi ameaçado de morte. “Não existe nada pior no mundo, e olha que já vivi no meio da pobreza e da guerra. Estava cercado por drogados e assassinos. Fui agredido três vezes por prisioneiros que queriam roubar o meu dinheiro. Quando nos deitávamos, só tinha espaço para encostar um lado do corpo. Eu pensava a todo tempo que não iria escapar daquele inferno”, disse Ludmilo a VEJA. Ele saiu da prisão há uma semana, depois de uma forte campanha popular em seu país.
(.....)

Em respostas enviadas pela Universal após a publicação da matéria, a instituição esclarece o seguinte: 
Sobre a carta-manifesto em Angola, “oito pastores, que foram desligados, organizaram o movimento e coletaram as assinaturas para a carta a partir de uma fraude: aqueles que a assinaram, denunciaram que foi apresentado um papel em branco, cujo teor anexado não teria qualquer relação ao que foi apresentado posteriormente”.
.................


Em VEJA - ReligiãoMATÉRIA COMPLETA




quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Liberdade de imprensa incomoda autoritários - Merval Pereira

O Globo

Estamos assistindo no país, já há algum tempo, a um desfile sistemático de ataques a órgãos de imprensa que não é coisa nossa apenas, mas de variados países com governos populistas, de esquerda ou de direita, que não convivem bem com a imprensa independente.  Essa nova onda da direita autoritária segue-se a outra, da esquerda também autoritária, que dominou a América Latina durante anos. Na Argentina dos Kirchners, na Venezuela de Chavez e Maduro, na Bolívia e no Equador, no Brasil de Lula, sempre a tal da “midia” virava o bode expiatório de governantes que não querem ver seus segredos e desvios revelados.

Ataques aos órgãos de imprensa acontecem quando a democracia não é um regime respeitado por quem está no poder. Quando na oposição, esses mesmos políticos adoram ver seus adversários sob críticas, as mesmas que rejeitam quando governo. É o caso de agora com o presidente Bolsonaro, que investe contra os meios de comunicação quando lhe são críticos, como a Rede Globo, o jornal O Globo, a Folha de S. Paulo, e distribui benesses para aqueles que abdicam da missão jornalística de fiscalizar os governos para bajulá-los, em troca de vantagens indevidas.

Logo ao sair da cadeia, o ex-presidente Lula fez acusações irresponsáveis à Rede Globo, culpando o mensageiro pelas condenações da Justiça. A radicalização que estamos vivendo leva os dois pólos extremos da política brasileira a atacar os mesmos alvos, que defendem a democracia e mostram o estado dela no país.  Ao desagradar ambas as partes nos extremos, a imprensa profissional e independente mostra que está no caminho certo, defendendo um país que seja governado por pessoas sensatas, com visão de Estado. Não é o caso, também, do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, misto de político e bispo da Igreja Universal, numa clara ameaça ao Estado laico definido pela Constituição.

 Crivella, num movimento autoritário que lhe é peculiar, teve o desplante de afirmar que não responderia mais às demandas do Globo, como se isso lhe fosse permitido como funcionário público pago pelos impostos dos cariocas.

Ao impedir que repórteres do Globo participassem da coletiva de imprensa que anunciava ontem a programação do Revéillon do Rio, uma das festas mais importantes da cidade, com repercussão no mundo, atacou não somente a liberdade de imprensa, como seus próprios contribuintes.   Diante das críticas que ontem eu e Carlos Alberto Sardenberg fizemos no nosso programa da CBN, o prefeito enviou uma nota oficial em que diz que o Globo é um “panfleto político, sempre interessado em trocar notícia por verba de publicidade”, numa contradição evidente, pois o que incomoda a Prefeitura são as críticas que recebe.

Dinheiro público não sustenta grandes empresas jornalísticas como o grupo Globo ou a Folha, mas sustenta muitos jornais e rádios pelo Brasil afora, no interior do país, e o governo não pode usar dinheiro público para obrigá-los a serem a seu favor. Isso é perversão da democracia e abuso de poder, e é o que está acontecendo.   Isso acontece quando a democracia não é um sistema político respeitado por quem está no poder. Os obstáculos que governos autoritários cada vez mais colocam no caminho da livre expressão, com embargos de diversos feitios, tentam inviabilizar, até economicamente, os meios de comunicação, que enfrentam também a violência como arma de intimidação da liberdade de expressão, tendo sido registrados diversos casos de assassinatos e agressões a jornalistas nos últimos anos.

É disseminada pelos adeptos de governos autoritários uma tentativa de desacreditar os meios de comunicação, na suposição de que a “opinião pública” representa apenas a elite da sociedade, e não os cidadãos de maneira geral. A origem da “opinião pública”, no fim do século XVIII, deve-se à difusão da imprensa, meio de a sociedade civil nascente se contrapor à força do Estado absolutista e legitimar suas reivindicações no campo político, com o surgimento do Estado moderno.  É o jornalismo profissional e independente, seja em que plataforma se apresente, que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático, avesso aos populistas de plantão.

Merval Pereira, colunista - O Globo
 
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

País pária - Merval Pereira

O Globo
Isolamento no plano externo traz prejuízos econômicos concretos e nos põe à margem do Ocidente, com exceção dos EUA

Sim, Bolsonaro sempre foi assim. Mas está a cada dia mais Bolsonaro, menos presidente da República.  Raramente seus arroubos autoritários tinham repercussão na vida política do país,  eram inócuos. Seu desassombro deixa de ser uma qualidade quando coloca o país em situação embaraçosa diante do mundo civilizado, ou defende teses que, na pessoa física, poderiam causar apenas revolta, mas, na jurídica, criam crises políticas que vão se avolumando.

Cometeu a mesma afronta contra a ex-presidente do Chile, Michele Bachelet, atual Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, que já cometera anteriormente com o presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Além da gravidade em si, de desrespeito a líderes de instituições reconhecidamente representativas, demonstra um desprezo alarmante pela vida humana. [O atual presidente do Chile, por razões políticas, não pode corroborar o entendimento do presidente Jair Bolsonaro, mas, sem nenhuma dúvida possui a convicção de que só é presidente do Chile atualmente, graças a corajosa ação do general Augusto José Ramón Pinochet Ugarte, que neutralizou a ameaça comunista na nação irmã.]

Respondeu a críticas políticas não com argumentos e fatos, mas com a apologia ao extermínio dos adversários de sua ideologia. No caso de Bachelet, ainda demonstrou uma visão enviesada, pois creditou a seu pai uma ideologia revolucionária que os historiadores negam.  Essa divisão rasa de amigos e adversários, que são todos comunistas, assim como o PT tacha de direitistas os seus críticos, só demonstra visão política deturpada, que torna impossível uma composição mais ampla com a sociedade. A inviabilidade de uma coalizão não restrita à direita radical coloca o governo no isolamento interno, da mesma maneira que, no plano externo, estamos nos tornando párias com os controversos posicionamentos sobre o meio ambiente e os direitos humanos.

Para os interesses políticos imediatos de Bolsonaro, o isolamento no plano interno não é mau negócio, já que ele estimula o choque contra o PT. Mas, no externo, traz prejuízos econômicos concretos e nos coloca à margem do mundo ocidental, com exceção dos Estados Unidos. [a tentativa do presidente francês de jogar o mundo contra o presidente Bolsoanro, contra o Brasil, foi um enorme fracasso, que se o francês certamente se arrepende.
Além de não ter obtido apoio do mundo, foi advertido pela chanceler Merkel, por Boris Johnson e Trump.] Suas atitudes cada vez mais desabridas o levam a situações extremas com freqüência. Quando recebeu aquela desazada benção do bispo Macedo, da Igreja Universal, Bolsonaro chorou. [Bolsonaro, é forçoso reconhecer, porém, inevitável, também - mesmo sendo o 'mito' é humano -  pisou feio na bola quando se dizendo católico foi ser 'batizado' no Rio Jordão e agora ao aceitar ser 'abençoado' por um 'bispo'.
A Igreja Católica Apostólica Romana considera o batismo - ao se declarar católico, Bolsonaro ratifica sua condição de batizado segundos os ritos católicos - um Sacramento que é administrado uma única vez.
E, qualquer igreja evangélica séria, assim como a Igreja Católica Romana, considera inaceitável servir a dois senhores = no caso, pertencer a mais de uma igreja. ]
Recentemente, repetiu que às vezes acorda à noite, angustiado, como já fizera anteriormente, ao lembrar-se da facada que levou na campanha presidencial. O fantasma do drama vivido naqueles dias não abandona o presidente que, como já escrevi aqui, pode estar sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que ocorre em pessoas que sofrem situações com risco de morrer.   Como decorrência do TEPT a literatura médica registra transtornos de ansiedade, de humor, anorexia nervosa, paranóia, narcisismo. Muitos desses fatores estão presentes no cotidiano de Bolsonaro. A paranoia vem marcando a ação cotidiana do presidente. Os limites que lhe são impostos pela democracia o estão irritando, descobriu que não pode tudo.

Ameaçou não passar a Presidência para o vice-presidente Hamilton Mourão enquanto estivesse no hospital, mas teve que recuar. Disse que poderia deixar um interino na Procuradoria-Geral da República (PGR), mas vai anunciar o substituto de Raquel Dodge nos próximos dias, alertado de que poderia cometer um ato de improbidade administrativa se se mitisse. 
Os permanentes atritos internos e externos podem ser atribuídos a transtornos de humor. Descobriu que sua caneta Bic (que agora abandonou por ser francesa) tinha muito poder. Anunciou em altos brados que quem manda é ele, mais ninguém. Comparou-se ao Rei no jogo de xadrez. Disse que elegeu sozinho boa parte do PSL, partido pelo qual disputou a eleição, e que pode deixar a sigla a qualquer momento. Um narcisismo que cultiva cada vez mais.

Ameaça ultrajante
O curta-metragem "Operação Lula Livre", publicado no YouTube, é ultrajante. - [clique a assista.] Propaganda vulgar pela libertação do ex-presidente, conta a história de um grupo guerrilheiro que sequestra a filha do ministro Sérgio Moro, no filme chamado de Mauro, para exigir a libertação de Lula.
O ex-presidente aparece no papel de bom moço, e manda soltar a menina. Trata-se, segundo os autores, de "uma elocubração fabulatória relativa à progressiva iminência desta eventualidade histórica". A Polícia Federal está investigando, e os autores podem ser acusados de incentivo ao crime.


Merval Pereira, jornalista - O Globo 


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A casta de toga

Nada mudou. A Liga da Justiça traja toga cinza. Austeridade, só para os demais.

No início de fevereiro, a revista "Isto é" festejou "o novo tom da justiça". Para a revista, "o Supremo não se dobra a pressões" e rejeita "acomodações". Posando com caras de durões e trajando capas, os Ministros foram retratados como heróis, membros da Liga da Justiça.

Na abertura do ano judiciário, 'Os Onze Supremos' foram recepcionados pela FRENTAS (Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público). Os juízes e promotores não saudavam o estrelato de seus líderes. Estavam ali para pressionar, defender o seu. De lá para cá, a pressão só cresceu e, no final dessa semana, circularam rumores de que magistrados estariam dispostos a entrar em greve.  Não é a primeira vez que juízes pressionam o Supremo e ameaçam paralisar atividades. Fizeram o mesmo em 2000, ano da aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e da imposição de tetos salariais. Cortes e austeridade fiscal para todos, menos para os magistrados.

Nelson Jobim, em seu depoimento à História Oral do Supremo, desce aos detalhes, narrando peripécias de fazer inveja a Pedro Malasartes. Jobim manipulou pauta do Supremo, blefou, ameaçou, fez acordos com líderes do movimento grevista e muito mais. Tudo para escapar dos limites impostos pelo teto constitucional sem parecer que o Supremo cedera ao 'sindicato'. Para tanto, contou com a anuência do Presidente Fernando Henrique e fez tabelinha com o então Ministro Chefe da Casa Civil, Pedro Parente --a quem define como um 'craque' -- e com Gilmar Mendes, à época na Advocacia Geral da União.

Eis o resumo da ópera: "Aí você via as coisas mais malucas.(...) Tinha gratificação por... curso superior [risos]. Sabe disso? Tinha gratificação não sei do quê...,tinha o diabo de gratificação. (...) Eu absorvi tudo isso dentro do valor, então legalizei... E o Pedro Parente teve uma figura muito importante. (...) Todos aqueles penduricalhos que tinham, tudo ficou legalizado (...). Percebeu a lógica? Em vez de dizer que era ilegal, eu dizia que aquilo ali que tu recebeu passou a ser legalizado, porque passou a ser integrante do salário."

Não há quem não perceba a lógica. Jobim, Ministro do Supremo, guardião da Constituição, desenhou e implementou uma operação para 'legalizar' 'gratificações malucas'. Montou uma lavanderia, não de dinheiro, mas de penduricalhos. A operação foi longa e só se completou no governo Lula, em negociações diretas com o ministro Palocci e membros do STJ, para garantir que abono não fosse taxado. A íntegra do depoimento é de tirar o fôlego e vale o acesso ao portal do projeto. Assim, quando afirmam que não há nada de ilegal em seus contracheques, que seus salários acima do teto não ferem a lei, os juízes não estão faltando inteiramente com a verdade. Está tudo 'legalizado'.

Mas os magistrados voltaram a inventar novos 'adicionais malucos'. O para moradia, garantido por Luís Fux em 2014, é só um deles. Isto para não falar das ações cobrando dívidas e adicionais não pagos no passado. Por isto, os contracheques chegam à estratosfera. Tudo legal. Tudo decidido e autorizado pelo próprio judiciário que julga as ações que move contra o Estado.  A desculpa que recebem o que a lei autoriza é esfarrapada. A lei em questão fere lei maior. Os subterfúgios encontrados agora não passam de modos espertos de contornar a legislação em benefício próprio. São reedições da lavanderia do Jobim. Como observou Ribamar Oliveira (Valor, 8/02/2018), a Lei de Diretrizes Orçamentárias em vigor veda explicitamente o pagamento do auxílio-moradia para o agente público que possui imóvel no município em que exerce o cargo. Bretas, Moro e Gilmar Mendes e tantos outros, portanto, desrespeitam a lei. Simples assim.

Os magistrados estão dispostos a tudo para preservar e justificar seus privilégios
. O exemplo mais acabado ocorreu no início de 2016, significativamente, no Paraná. A Gazeta do Povo noticiou que juízes e promotores do estado recebiam salários acima do teto constitucional. A corporação recorreu à tática introduzida pela Igreja Universal: abrir processos individuais contra os jornalistas em 40 municípios espalhados pelo Estado. Eram citados em Curitiba em um dia, Maringá em outro e assim por diante, forçados a viajar pelo Estado para responder as citações, impedidos de trabalhar e arcando com os custos da defesa e as despesas dos deslocamentos. Que outra organização recorreria a uma estratégia tão requintada de vingança?

Ainda assim, em uma primeira decisão, a Ministra Rosa Weber não viu nada de errado na retaliação coletiva orquestrada pelos paranaenses. Demorou meses para se convencer do óbvio e acatar a medida cautelar do jornal.  O mais incrível é que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) não se deu por vencida e entrou com pedido para que a ministra revisse sua decisão, alegando que "não houve abuso do direito de ação por parte dos magistrados paranaenses, pelo simples motivo de que a Associação de Classe não tem legitimação para propor ação coletiva visando à obtenção de indenização que decorre da violação de direito personalíssimo (ofensa à honra e intimidade)." Quando a questão é garantir seus salários, os membros da casta se comportam como intocáveis.

Desde a aprovação da LRF, juízes e promotores defendem seus privilégios com voracidade incomum, sem respeito à ética e à lei. Nada justifica os privilégios com que contam e só querem fazer crescer. Austeridade, só para os outros. Pode faltar dinheiro para educação e para a saúde, mas não para o Judiciário.  Não por acaso, na Lava Jato, não é segredo, delações envolvendo os membros da Liga foram evitadas. Moro e Dallagnol sabem das retaliações de que seus pares seriam capazes, afinal moram no Paraná e, no frigir dos ovos, são beneficiários dos penduricalhos 'lavados' por Jobim. Os castos predam o erário que dizem defender.

Nada mudou. A Liga da Justiça traja toga cinza. Austeridade, só para os demais.



Fernando Limongi - Valor Econômico

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Guardar R$ 51 mi em dinheiro, comprar joias e gado ou ter conta na Suíça?

Quando a Polícia Federal estourou um ”cativeiro” em Salvador, libertando mais de R$ 51 milhões (R$ 42.643,500,00 e US$ 2.688.000,00) que estavam presos em caixas e malas, nesta terça (5), veio à tona uma preocupação importante destes tempos insanos: como manter a salvo o dinheirinho pelo qual muito político vendeu a alma, rifou o país e até suou a camisa?
 Foto - Divulgação
Foto: Divulgação... - Veja mais em https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/09/06/guardar-r-51-mi-em-dinheiro-comprar-joias-e-gado-ou-ter-conta-na-suica/?cmpid=copiaecola%20.&cmpid=copiaecola

A pergunta, claro, não tem uma resposta única. Depende do perfil do envolvido. O imóvel onde ocorreu a maior apreensão de dinheiro na história do país seria usado, segundo investigação da Polícia Federal, por Geddel Vieira Lima. Acusado de corrupção e cumprindo prisão domiciliar, foi ministro de Temer e de Lula. Ele faz o estilo ”cara-de-pau”, do tipo que nem pisca quando vai a um protesto gritar contra a corrupção, mas há opções para todos os gostos. Umas mais cômodas que outras, outras mais fáceis de esconder.

Manter dinheiro em espécie: Não é tão simples, uma vez que o valor máximo de uma nota no Brasil é de R$ 100,00. Pode ser, portanto, um trabalho hercúleo transportar a carga se ela estiver na casa dos milhões. Cuidado: pilhas de garoupas e onças-pintadas sempre rendem boas fotos para estampar a primeira página de um jornal de circulação nacional. Ou pior: a escalada de notícias do Jornal Nacional. João Batista Ramos (R$ 10,2 milhões), então deputado federal e bispo da Igreja Universal, e Roseana Sarney (R$ 1,3 milhão), então governadora do Maranhão, que o digam.

Guardar joias e ouro: Mais prático, é uma das principais opções do naco da elite brasileira que quer mandar riqueza para fora ou trazê-la para dentro sem despertar muitas suspeitas. Como existe um comércio ilegal desses produtos, há uma certa liquidez do ”investimento” – no que pese ele perder muito o seu valor assim que é retirado da loja. É a opção do coração de Sérgio Cabral, que teria gasto R$ 11 milhões com a aquisição de 189 joias. O ex-governador do Rio de Janeiro refuta a tese de lavagem de dinheiro e diz que os mimos foram comprados com sobras de campanha. O problema é que sempre tem uma H.Stern pronta para bater com a língua nos dentes e confirmar que vendeu sem nota fiscal.

Comprar gado: Bois têm sido, há muito, uma excelente saída para quem quer guardar dinheiro sujo. Primeiro, porque nosso sistema de controle de comércio de animais permite fraudes na compra e venda de animais. Além do mais, o boi é uma lavanderia de dinheiro ambulante, ou seja, dá para transferir para uma fazenda vizinha se ocorrer uma fiscalização ou tocar o investimento até outra cidade. Um exemplo de fã de explicações bovinas é o senador Renan Calheiros. Em 2007, para justificar-se diante das denúncias de que recebia recursos de um lobista de empreiteira para pagar a pensão a uma filha, ele apresentou documentos frios de que havia recebido esse valor através da venda de gado. O suposto comprador disse, contudo, que isso era história para boi dormir. O risco é, durante a engorda do gado, acabar sendo pego por usar trabalho escravo ou desmatamento ilegal.

Contas na Suíça: É muito mais fácil e prático passar um cartão, emitir um cheque ou fazer um DOC/TED do que buscar dinheiro em apartamentos e vender bois ou joias. Mas é preciso ressaltar que o país do chocolate, dos picos nevados e dos escritórios da ONU já não é mais tão seguro para isso – o Ministério Público de lá tem sido menos tolerante com recursos de origem criminosa. O grande exemplo de usufrutuário desse modelo é o ex-presidente da Câmara dos Deputados e hoje presidiário Eduardo Cunha que, um dia após ter dito que não possuía contas no exterior, recebeu um passa-moleque do MP suíço que mostrou que mentira tinha perna curta.

Mas comparado com o montante que o eterno Paulo Maluf mandou para contas na Suíça e na Ilha de Jersey, desviado da Prefeitura de São Paulo, as cadernetas de Cunha, as caixinhas de Geddel, as joiazinhas de Cabral e a vaquinhas de Renan são pó. Estima-se em mais de US$ 1 bilhão degredados e que esperam, um dia, poder voltar para casa. Assim também esperamos nós, paulistanos, que estamos com saudades deles.

Enfim, não precisa se preocupar. Para quem deseja privacidade a fim de curtir uns momentos íntimos com seu dinheiro, há várias formas de guarda-lo longe do olho gordo do povo. Se ele estivesse beneficiando seus devidos proprietários, o povo, estaria sendo torrado em loucuras, como garantir leite para crianças, pagar salários atrasados de professores, adquirir remédios para postos de saúde ou manter as bolsas de pesquisadoras que fazem nossa ciência.

Melhor que fique, portanto, bem guardadinho, nas mãos de quem vai transformá-lo em luxo, usá-lo para fazer mais dinheiro ou comprar algo que realmente importa, ou seja, outro político.



sábado, 4 de fevereiro de 2017

Crivella cuida do filho Marcelinho



O prefeito invisível do Rio nomeia filho para Casa Civil. Seu vice deve R$ 580 mil em impostos 

"Chegou a hora de cuidar das pessoas", dizia o pastor Marcelo Crivella na campanha para a prefeitura do Rio de Janeiro. Ninguém pode acusá-lo de não cuidar do filho, Marcelinho Crivella, nomeado agora, para orgulho do papai, secretário da Casa Civil. O salário polpudo é o que menos conta. Marcelinho começa a ser preparado para ser eleito senador em 2018.

Tem cara de nepotismo, tem cheiro de nepotismo, é nepotismo por definição e semântica. É imoral, neste momento do país. Mas não é ilegal. O Supremo Tribunal Federal, numa súmula 13 que considero equivocada, autoriza nomear parentes para os mais altos escalões políticos, como ministros e secretários estaduais ou municipais. Soa como inversão de valores: quanto mais alto o escalão, mais censurável deveria ser a nomeação de um parente.

Nepotismo (do latim nepos, neto ou descendente) é o termo que designa favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais qualificadas. Marcelinho só está na posição-chave da Casa Civil por ser filho do homem. Nunca ocupou um cargo na gestão pública. Será responsável pela nomeação de 10 mil cargos comissionados. É um escândalo. Alguém da oposição deveria entrar com recurso, porque toda lei tem interpretações subjetivas. Não podemos apelar para um algoritmo salvador? Não há competência técnica comprovada de Marcelinho para essa função.

Crivella jurou “proteger a família” ao tomar posse. Está cumprindo a promessa: “Você precisa entender que ninguém conhece melhor meu filho. E quem nomeia sou eu”. Pouco sabemos sobre as qualidades de Marcelinho para o cargo. Mora nos Estados Unidos, é formado em psicologia cristã na Califórnia, casado desde 2011, e abriu uma rede de escolas de computação gráfica, Seven, que foi rebatizada de Red Zero. Uma palestra sua ensina como ganhar sempre numa negociação. Ah, e Marcelinho também gosta de pizza com rúcula. 

A reação da sociedade teria sido mais branda se Crivella tivesse, de fato, assumido o desafiador papel de prefeito de um Rio em crise aguda pós-Olimpíada, nas finanças e na segurança. Onde está Wally? Crivella é invisível como prefeito. Começou mudando a logomarca da prefeitura, substituindo o azul de Eduardo Paes pelo “verde” no brasão e trocando as palavras de lugar. Gastar dinheiro com isso? É essa a austeridade prometida?
São mais de 30 dias de mandato e o que fez o prefeito do Rio além de decretar um mutirão de cirurgias? Até agora, não sei se Crivella vai mesmo cortar à metade as despesas com cargos comissionados e gratificações. Ninguém sabe, talvez nem ele. Quem está na prefeitura não sabe se vai continuar. Ao tomar posse, prometeu reduzir de 26 para 12 as secretarias, mas não consegue finalizar nada. Crivella não divulga balanço de um mês de administração. Não se pode denunciar uma obra irregular, porque não há diretores no Urbanismo. As praias estão mais bem patrulhadas? Sim, era o mínimo no verão carioca.

Crivella recuou de cinco nomeações após revelar os nomes. Nomeou e exonerou em 24 horas. Todos tinham problemas com a Justiça. Deveria cair em si e exonerar o vice-prefeito e secretário de Transportes Fernando Mac Dowell, dono de mansão que deve R$ 215 mil de IPTU e dono de empresa que deve quase R$ 235 mil de ISS à prefeitura e R$ 137.300 à União. Crivella diz que todo contribuinte tem direito de negociar sua dívida. Verdade. Mas um endividado compulsivo não pode ser vice-prefeito nem comandar o setor turbulento e carente do transporte. Não pode. Nem rezando para o bispo. Repetindo: Mac Dowell não tem ficha fiscal compatível com o cargo.

É óbvio que, como o PRB é um braço ou uma fachada política legal para a Igreja Universal, falta “corpo técnico”. Difícil governar somente em nome do pai, do filho e do espírito santo. Funcionários da prefeitura me disseram em off que Crivella faz uma gestão amadora, como se administrasse uma paróquia. E que acalenta planos como criar o Rio 10, a Saúde 10, a Segurança 10. Usando sempre seu número, que tentou até enfiar no brasão da prefeitura. Não sei se Crivella é adepto da numerologia, mas assumir a prefeitura seria um bom começo para o Rio acéfalo.

Quanto ao “Marcelinho”, Crivella padece do mesmo problema de muitos machos brasileiros, públicos ou privados. Primeiro, anseiam por ter filho varão. Depois, fazem questão de colocar seu próprio nome no bebê. E aí temos o Michelzinho (Temer), o Rodriguinho (Maia) e tantos outros. Muitos exibem os garotinhos como troféus de masculinidade. Querem  cena mais deslocada e surreal que a do peemedebista Rodrigo Maia erguendo o Rodriguinho na mesa da Câmara em Brasília, após ser reeleito presidente? Não há fronteira entre público e privado em nosso país. Falta compostura.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época
 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

PT é o principal derrotado do primeiro turno


Levantamento preliminar indica que tucanos e PRB apresentaram crescimento nesta eleição.

Os resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já indicam a tendência de vencedores e perdedores nesta eleição municipal de 2016. Entre os partidos brasileiros, o PSDB e PRB tiveram até agora crescimento significativo. Os tucanos já conquistaram 782 municípios, crescimento de 13% em relação a 2012. Entre os partidos médios, o PRB, ligado à Igreja Universal, foi outro a ter um crescimento significativo, de 32%. Em 2012, elegeu 76 e agora assumirá pelo menos cem prefeituras a partir de 2017. 

O PMDB, partido conhecido por sua capilaridade municipal, voltou a ser o partido com maior número de prefeitos eleitos no país. Foram pelo menos 1006 prefeitos eleitos pelo país.

A principal derrota, como esperado desde o início da eleição, foi o PT que elegeu até agora apenas 38% do total da eleição passada.  Em 2012, o partido foi o terceiro com o maior número de prefeitos eleitos. Neste ano, caiu para a décima colocação no ranking.  Parte dos votos da esquerda podem ter imigrado para o PCdoB, partido que obteve um crescimento de 45% em relação a 2012.


Fonte: VEJA