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terça-feira, 25 de outubro de 2022

Ei, isento! Preciso falar com você. - Valterlucio Bessa Campelo

No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que se omitem em tempos de crise.

(Frase atribuída a Dante Alighieri por John F.Kennedy)

Há poucos dias das eleições de 30 de outubro, quero dirigir-me aos nossos irmãos profissionais liberais, funcionários públicos, jornalistas, youtubers, empresários, influencers, terceirizados, autônomos, donas de casa, enfim, a todos os cidadãos ou cidadãs que a esta altura do campeonato ainda se colocam na posição de indecisos ou isentos, ou seja, “acima” da disputa entre Bolsonaro e Lula. 
Quero lhes dizer algumas coisas que talvez os faça refletir melhor sobre seu voto e o pleito. 
O texto é um pouquinho mais longo do que de costume, pelo que peço desculpas.
 
Não se trata, nessa quadra da vida brasileira, da escolha entre dois homens, não é falar de pessoas e das culpas ou acusações que carregam, mas do Brasil, do seu futuro que, aliás, já no presente, dá mostras inequívocas do rumo lastimoso que poderá seguir se o ex-presidiário voltar.  
Olhe bem para o que está acontecendo e verá os sinais da ditadura, expressos em decisões desarrazoadas, em prisões sem causa definida nem processo legal, em negação do direito de defesa, em cerceamento da livre expressão, em parcialidade fragorosa de decisões sobre o que pode e o que não pode ser dito em na campanha eleitoral, não apenas por um candidato, [o presidente Bolsonaro, - praticamente, nada pode falar, tudo lhe é proibido - tanto que se a campanha durasse mais uns 15 dias seria proibido dela participar, e o descondenado do perda total, teria o direito de avisar em seus discursos no horário eleitoral que o presidente Bolsonaro não era mais candidato - mesmo sendo uma mentira deslavada, ele está isento da obrigação de cumprir as leis. 
Um exemplo: a campanha do presidente Bolsonaro está proibida de veicular vídeo na qual o descondenado petista declara agradece a natureza, por ter criado o vírus da covid-19.] mas por jornalistas e por nós mesmos em nossas redes sociais.
 
Fatos provados e comprovados, cujos autores foram longamente processados, julgados e condenados estão proibidos de serem mencionados sob pena de ferirem a “ordem eleitoral” (na verdade, os interesses de um dos lados). No caso recente da empresa Brasil Paralelo, magnífica plataforma onde se pode ver filmes e documentários e cursos extraordinários, que anunciou para esta semana uma produção sobre a tentativa de assassinato sofrida pelo presidente Bolsonaro, chegaram ao cúmulo de fazerem censura PRÉVIA, quer dizer, antes de algo ser dito, os autores foram proibidos de dizê-lo.  
Ninguém, a não ser os autores sabem o que está dito no vídeo sobre a tentativa de assassinato (alguma dúvida de que é um fato?), mas ainda assim estão proibidos de dizê-lo. Calem-se! Disseram suas excelências antes que os autores abrissem a boca. A empresa se manifestou em nota e dezenas de jornalistas protestaram. Tá na rede.
 
No caso da Jovem Pan, uma empresa com 80 anos de serviços prestados à informação do povo brasileiro, a decisão emanada estabelece limites ao que o jornalista ou comentarista pode ou não referir em seu trabalho.  
Palavras que possam ser tidas como ofensivas por determinado candidato não podem ser pronunciadas. Genocida! Pode. Ditador! Pode. Negacionista! Pode. Mesmo sendo mentiras óbvias, narrativas vãs, se for contra o Bolsonaro, pode.   
Ex-presidiário! Não pode. [mesmo sendo óbvio, vale destacar que o cara esteve preso, foi condenado várias vezes, nove juízes o condenaram, todas as condenações foram confirmadas em três instâncias, mas não pode ser chamado de ex-presidiário que, sob qualquer ângulo, em qualquer dicionário  é o termo mais adequado para definir quem esteve preso = e ELE ESTEVE PRESO.] Corrupto! Não pode. Promotor do petrolão! Não pode. Mesmo sendo verdade, mesmo sendo resultado de anos de investigação e trocentas condenações, não pode porque é contra o Lula. O leitor está me entendendo? Tem a medida do que está acontecendo? Juristas do quilate de Ives Gandra Martins, Modesto Carvalhosa e o próprio ex-Presidente do STF Marco Aurélio de Mello se manifestaram publicamente contra essa obtusidade do TSE
É uma espécie de chicoteamento da Constituição Federal no que refere à liberdade de expressão. Neste caso até a ABERT, controlada pela velha mídia, se obrigou a contestar.
 
Quem pediu essa decisão judicial absurdamente autoritária foi um partido político, o PT, que usa o TSE como se fosse seu braço jurídico e demonstra já no pedido a sua natureza autoritária, controladora e afrontosa à liberdade de expressão
A esquerda mostra assim um pouco de sua face horrenda ao pretender tratar o TSE como um mamulengo, e ainda há quem tenha a desfaçatez de nomear “extremista de direita” quem clama por liberdade. É kafkiano que o censor seja “democrata” e o censurado seja um “autoritário”.
 
Pergunto ao senhor jornalista, senhor médico, senhora professora, senhor músico, senhora poeta, senhora dona de casa... vocês têm a dimensão da gravidade deste momento? Preciso lhes dizer? Pois digo. 
Significa que a representação do SEU pensamento através da linguagem está sob controle antes mesmo que seja expressa.  
Nem a ditadura militar foi capaz disso. 
Naquela época, ao menos o regime esperava conhecer a obra antes de censurá-la
Hoje estamos sendo forçados a segurarmos a “nossa língua” sobre fatos, fatos! O mensalão não existiu? O petrolão não existiu? 
A lavajato foi um sonho? Não há um ex-presidiário concorrendo às eleições? Sim, Existiram, tem culpados, mas a “justiça” proibiu que se falasse no assunto porque o chefe da organização criminosa não gosta.
 
O que estamos vendo agora com a possibilidade da eleição do ex-presidiário é a véspera do parto de um regime historicamente assassino e cruel. 
Nossas liberdades estão por um fiapo, com a conivência de congressistas, de OAB, de intelectuais e até de jornalistas que deveriam se rebelar contra essa ignomínia. 
Onde estão os milhares que assinaram a tal “carta pela democracia”? Cadê os artistas que tanto falam de liberdade? Eu sei. Estão cagando para a democracia, estão omissos achando que do regime autoritário vão tirar proveito, receber migalhas de poder.
 
E nós, os homens e mulheres livres, onde estamos?  
Eles estão nos calando e não estamos fazendo nada. 
Estão prendendo inocentes e não estamos fazendo nada, estão fraudando um processo que deveria ser livre, isonômico e imparcial. 
Estão rasgando a lei à nossa vista e não estamos fazendo nada. 
Os senhores todos acham que poderemos fazer algo depois? 
Pois lhes digo que não. Depois, será tarde e sangrento.  
A hora de fazer algo é no dia 30 de novembro
Se for preciso, tape o nariz, vire o rosto, mas vote na liberdade contra o autoritarismo.
 
Quer conhecer um cisco sobre o que significa o monstro que está sendo parido nessas eleições em que a justiça tem lado? Facilito.  
Numa tarefa simples, sem teorização de doutos, leia “O livro Negro do Comunismo”, de Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné e Andrzej Paczkowski
Recomendo também que conheça os discursos dos líderes socialistas no Foro de São Paulo, prometendo fazer da América Latina uma grande pátria, integrada politicamente, socialmente, economicamente, culturalmente, ou seja, com mais de cem anos de atraso, está para nascer no hemisfério sul uma espécie de União das Repúblicas Socialistas. [criaram até uma sigla: URSAL -  União das Repúblicas Socialistas da América Latina; não desistiram, estão apenas reunindo forças para atacarem; cabe a nós, brasileiros e patriotas, no próximo dia 30, eliminarmos pelo VOTO tão maldita ideia. BOLSONARO, neles.] É como se essa gente tivesse dormido antes da revolução russa e acordasse agora. 
Não viram, ou, não se importam com a tragédia de 100 milhões de mortos que pesam sobre os ombros do comunismo/socialismo, afinal, segundo Trotsky a moral que conhecemos é apenas a moral burguesa e não a moral revolucionária à qual TUDO é permitido.
 
Enquanto muitos estão sendo sacrificados e mortos em países socialistas na vizinhança, por aqui os “isentos” simplesmente pensam que “isso é lá com eles”. Não é não. É com você, é com seus filhos e netos. Outro dia, um jovem universitário me perguntou: “eles governaram durante 14 anos e não fizeram, por que fariam hoje?”. Inocente! Já estão fazendo. Um dos pilares da democracia já foi tomado. 
Vejam aqui o que disse o Lula ao seu amigo Boff e aqui, secundado pelo ex-presidiário Zé Dirceu recentemente. Experimente conversar com os venezuelanos que se mandaram de lá para cá, ouça suas histórias e chore se tiver um coração aí dentro.
 
Bastaria a censura que nos impuseram para denunciar o tipo de institucionalidade que pretendem implantar e, mesmo assim, você vai ficar de biquinho pelas frases ou gestos infelizes do Bolsonaro? Peço que não, amigo. Peço fraternalmente para você sair de casa no dia 30 e, pensando no Brasil de seus filhos e netos, votar em defesa da liberdade, ainda que ela não venha dourada de promessas “politicamente corretas” ou num prato de picanha fictícia. Liberdade apenas para ser livre e, creia, não há nada mais importante a perder. [fechamos mencionando que acabou de ser criado o CRIME DE CONCLUSÃO; o que é: você ler uma matéria sobre determinado assunto e chega a uma conclusão; inadvertidamente, divulga tal conclusão, que o 'ministério da verdade' os 'tribunais da verdade', não consideram certa. Resultado: sua conclusão é errada e você terá que prestar contas pela prática do CRIME DE CONCLUSÃO.]

Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista Navegos de Franklin Jorge e em outros sites.


segunda-feira, 7 de maio de 2018

O inferno de Temer [será que as acusações, baseadas em suspeitas, resistirão quando forem investigadas com isenção?]

Como o presidente da República tenta enfrentar a maior crise de seu governo, ao mesmo tempo em que se dedica a preservar o próprio mandato e a defender a reputação de sua família, em meio à perda de sustentação política

[Temer lembra o caso do ministro Alceni Guerra - ministro da Saúde no governo Collor e acusado no escândalo das bicicletas; tudo conspirava contra ele, quando foi apeado do poder, praticamente preso (só não foi devido naquele tempo só se prendia após condenação, ainda que na primeira instância); com a renúncia de Collor, Alceni foi investigado e declarado inocente.

As suspeitas, os indícios e as ilações, tudo apresentado como provas sólidas, se esfarelaram quando objeto de uma investigação imparcial e que buscava apenas Justiça.

Outro que sofreu todo tipo de acusações e foi inocentando - quando investigado com isenção - foi o deputado Ibsen Pinheiro.] 

O inferno de Dante Alighieri consiste em nove círculos concêntricos que se afunilam conforme mais profundos ficam, até encontrarem o centro da Terra. Para qual deles você é enviado, depende do pecado cometido. Sobre o inferno de Temer não se sabe ainda a duração nem o alcance. O certo é que o presidente da República enfrenta hoje o terceiro círculo, ou terceira onda, como ele mesmo define, pela qual corre o risco de ser irremediavelmente tragado caso não consiga se desvencilhar da enrascada em que entrou. Nos primeiros meses de gestão, o presidente exibiu musculatura política invejável. 


Aprovou o teto dos gastos, a reforma trabalhista, controlou a inflação e os juros e, mesmo paulatinamente, parecia colocar o País na trilha do desenvolvimento. Desde o avanço da Operação Lava Jato sobre ele, porém, Temer deslocou o eixo de sua atuação: abandonou as reformas e passou a se dedicar à preservação do próprio mandato. 

Não tem sido fácil dissipar as labaredas. Enquanto vê seus parentes investigados por lavagem de dinheiro, numa trama capaz de enredá-lo, Temer não consegue conter o desemprego, perde sustentação política, bate recorde de vetos derrubados e assiste à paralisia de projetos de interesse do governo no Congresso, arena que ele demonstrava dominar como poucos.


Sua candidatura à reeleição, antes dada como certa, patina em meio ao esfacelamento das alianças. “Se a história não me reconhecer, nome em ala de hospital terá reconhecido”, contentou-se Temer na última semana. “É…se alguém insiste para que eu pule de um prédio, precisa me garantir primeiro que há água lá embaixo”, afirmou a senadora ruralista Kátia Abreu (MDB-GO). Kátia é hoje uma clara opositora ao presidente e ao seu governo. Mas, ainda assim, provocou profundo silêncio ao se manifestar numa reunião da bancada de seu partido quanto às chances de apoiar a reeleição.

Traições
Explicitava-se ali um sentimento que vai ganhando força no MDB e em outros partidos aliados do governo. Sem conseguir se livrar das denúncias da Polícia Federal e do Ministério Público, Temer vai-se tornando uma opção difícil de ser carregada nos palanques das eleições estaduais. Nos bastidores, emedebistas já falam claramente na hipótese de trair Temer em julho na convenção partidária, quando a escolha de candidaturas ou a opção por não ter candidato à Presidência será decidida por voto secreto. “Desde o ano passado, o presidente vem enfrentando os ataques vindos do Ministério Público e da Polícia Federal e não consegue conter isso”, admite um assessor do presidente.[ataques feitos sem provas, com flagrante armado, são de dificil contenção, além do mais há a clara disposição de aceitação por parte de quem recebe as denúncias.
Mas, a partir de janeiro - considerando que Temer desista da candidatura e possa ser investigado - há grandes chances das acusações desmoronarem.]

Na sua última manifestação sobre as denúncias que enfrenta, o presidente subiu o tom. Declarou-se indignado com o fato de terem vazado informações das investigações contra ele que apontavam para possível lavagem de dinheiro a partir da aquisição e da reforma de imóveis por sua família. Uma das apurações envolve uma casa da filha de Temer, Maristela. E um personagem habitual nas acusações contra o presidente, o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista Lima. As investigações contra Temer apontam para a hipótese de Lima ser um operador de propina. Na quinta-feira 3, Maristela Temer depôs em São Paulo por quase quatro horas sobre a reforma da sua casa no Alto de Pinheiros. 

No caso, investiga-se um repasse de R$ 2 milhões que teria sido feito por Lima para a reforma, que teve como arquiteta a própria mulher de Lima, Maria Rita Fratezi. Em seu depoimento, Maristela disse que Lima deu uma “ajuda de camaradagem, amizade, quase familiar”, por meio de orçamentos com empresas, mas que não recebeu dinheiro do coronel. Valeu-se da contribuição da mãe e de um empréstimo bancário contraído entre 2013 e 2014. “Sabia até onde podia caminhar com as próprias pernas para bancar o empreendimento”, disse. O objetivo, segundo ela, era “dar um tapa” na casa para alugar. Ao fim, se disse aliviada por emitir sua versão. Mas não apresentou comprovantes do que disse. [até recentemente - e continua valendo nos países sérios - quem apresenta comprovantes do que diz, do que acusa, é a acusação.
O ônus da prova cabe ao acusador.
O defensor ter que provar o que não ocorreu, o não fato é praticamente impossível.]

Temer insiste em voltar-se contra o vazamento das informações do inquérito. Parece o caso clássico de alguém que, ao não gostar da mensagem, resolve punir o mensageiro. Em seu partido e entre seus aliados cresce o sentimento de que o presidente não consegue explicações suficientes para conter as denúncias contra ele. Com isso, isola-se. Não se mostra capaz de ver avançar as pautas de seu interesse no Congresso. Abandonou a agenda prioritária do governo. Trocou-a por salvar a própria pele.

Os problemas vividos por Temer dificultam seus planos políticos e os de seu governo. No Senado, o ex-líder do MDB no início do governo Temer, Renan Calheiros (AL), assume claramente o papel de articulador do processo que pode levar à traição do presidente na convenção partidária em julho. [Renan reforça as acusações contra Temer; fica a pergunta: nos próximos meses o Renan vai ser julgado de verdade, será que ele resiste? será que as acusações contra ele serão sem suporte probatório igual as feitas contra Temer?]  Renan esmera-se em provocar seus colegas de partido, perguntando a eles se levariam o presidente a seus palanques nos estados. “Quero ver você sair de mãos dadas com o Temer na 25 de Março”, disse, por exemplo, na semana passada à senadora Marta Suplicy (SP), referindo-se à famosa rua paulistana de comércio popular.

Reunião com FHC
As provocações de Renan fazem algum efeito. Ele tem promovido reuniões com representantes dos diretórios de Santa Catarina, Pará, Sergipe, Minas Gerais, Paraná e Ceará, além de Alagoas, onde o MDB tem maior peso e maiores chances eleitorais, para sugerir que abandonem Temer. Nomes até então mais próximos do presidente já começam a admitir a deserção. Caso, por exemplo, do presidente do Senado, Eunício Oliveira, que tenta a reeleição no Ceará. “Temer tem se precipitado”, disse Eunício, em conversa recente com aliados. “Ele não tem combinado com o partido antes. A candidatura, por exemplo, não foi discutida previamente”, reclamou.

No Congresso, o resultado de tal situação é a paralisia. Temas da pauta do governo, ou que o governo encampou, como a privatização da Eletrobrás, o cadastro positivo de devedores e a criação do Sistema Único de Segurança, vacilam na Câmara e no Senado. Entre março e abril, o plenário passou 22 dias sem votar nenhum projeto. Este ano, apenas quatro medidas provisórias e 17 projetos de lei foram aprovados. Desde que lançou sua pretensão de ser candidato à Presidência, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ) não faz avançar a pauta entre os deputados. Diante da situação, Michel Temer iniciará a próxima semana com uma reunião com os principais líderes do Congresso. O encontro é uma admissão do presidente de que os temas mais importantes para o governo de fato não avançam.
Nos bastidores, o presidente já tem se movimentado. No início da semana passada, ele esteve com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Temer quer a todo custo se reaproximar do PSDB. Por isso, passou a admitir a hipótese de o MDB indicar um nome para vice na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Esse cenário também foi tema de conversa no fim de semana com o governador de São Paulo, Márcio França, do PSB, que também apoia Alckmin. “Há um consenso de que o centro precisa se unir. O problema é que não há clareza quanto a como se unir ou com quem”, comenta um assessor do presidente. Existe outro entrave. Embora precisem reforçar o palanque tucano, Alckmin e seus aliados relutam em celebrar uma aliança com o impopular Temer. Receiam que a parceria vire um abraço de afogados, como se já não bastassem as dificuldades do PSDB em decolar nas pesquisas.

Esse é o drama de Michel Temer. Emparedado por investigações e sem respaldo da população, o presidente reúne dificuldades para conter à debandada de seus aliados, mais preocupados com suas próprias eleições. Caso Temer não consiga reagir, esse tende a ser um caminho sem volta. No Inferno, Dante, guiado pelo poeta Virgílio, percorre locais onde os pecadores enfrentam punições pelo que fizeram em vida. No seu inferno particular, Temer arde em fogo alto e enfrenta desventuras no exercício do mandato, não pelo que fez, mas principalmente pelo que deixou de fazer.

Rudolfo Lago, Ary Filgueira e Tábata Viapiana  - IstoÉ


terça-feira, 1 de março de 2016

Um verão inesquecível



Hoje estão sob investigação a presidente e o vice; três ex-presidentes da República; presidentes do Senado e da Câmara e mais 25% dos deputados e senadores
Nunca houve um fim de verão como este. Na chegada das águas de março, assiste-se à perplexidade da elite política brasileira com o inédito e incômodo desafio de provar sua inocência. 

Neste 1º de março estão sob investigação em tribunais e delegacias de polícia: a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer; três ex-presidentes da República (Lula, Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor de Mello); os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, e mais 25% dos senadores e deputados federais. 

As acusações têm natureza diversa. Assim, não é recomendável comparar os casos de Dilma e Collor, nem o de Lula e Fernando Henrique. Em telas de Botticelli ou Dalí, por exemplo, eles habitariam diferentes círculos, vales e esferas do inferno — da luxúria à fraude, no caos ordenado e bem-humorado de Dante Alighieri em “Divina comédia”. 

Em Brasília, amanhã, o Supremo Tribunal Federal começa a decidir se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, será processado por corrupção e lavagem de dinheiro subtraído dos cofres da Petrobras, a maior entre companhias estatais e de capital aberto no país. 

A tendência é Cunha virar réu e, nesse caso, o Supremo precisará decidir sobre o seu afastamento da presidência da Câmara. Ele é o primeiro na linha de sucessão presidencial, depois do vice-presidente Michel Temer. Se o STF afastar Cunha, haverá eleição imediata do substituto na Câmara, porque “a República não pode ficar banguela na linha sucessória”, lembra o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). 

Também amanhã abre-se uma etapa decisiva em Curitiba, 1.400 quilômetros ao sul do Planalto. O juiz federal Sérgio Moro começa a escrever a sentença sobre o caso de Marcelo Odebrecht, acionista e ex-presidente, e de diretores do Grupo Odebrecht, líder entre as empreiteiras de obras públicas. São acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanhas eleitorais para obter R$ 7 bilhões em contratos com a Petrobras. 

No próximo dia 17, completam-se dois anos de investigação sobre as estranhas transações desse condomínio de poder, que partilhava o Orçamento da União, planos de investimentos das empresas estatais e acesso privilegiado às reservas financeiras líquidas dos fundos de pensão e bancos públicos, como o BNDES. 

O inquérito levou, até agora, 179 pessoas ao banco dos réus. Dissolveu uma era de delírios político-empresariais. E lançou no limbo uma presidente recém-reeleita. Hoje ela anuncia o centésimo ministro em cinco anos. Na melhor hipótese, seu governo deve atravessar o próximo triênio arrastando correntes entre o Palácio da Alvorada e a Praça dos Três Poderes, em Brasília. 

Ironia da história: as 84 sentenças já proferidas, cujas penas somam 825 anos de prisão, foram escritas numa corte da outrora Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, vilarejo formado à volta de um pelourinho plantado três séculos e meio atrás pelo sertanista Gabriel de Lara. Era o símbolo de sua autoridade na defesa dos interesses do Erário português sobre a lavra de ouro.

Fonte: O Globo - José Casado


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Na Pátria do Pixuleco, nem inferno é o limite



Em plena campanha, a candidata à reeleição Dilma Rousseff afirmou, sem medo de ser contrariada, que seria capaz de “fazer o diabo” para ganhar eleições. Foi uma das poucas verdades que disse ao longo de todo o pleito – talvez a única. Prometeu o paraíso nos trópicos e está entregando uma conjunção infernal de crises: política, econômica e, sobretudo, moral.

Mas nenhuma das mentiras que ela contou em palanques e debates na TV é comparável à sua reação aos protestos de 16 de agosto dos revoltados com a corrupção e com seu padim Lula, indignados com seu partido de adoção, o PT, e insatisfeitos com a má gestão de seu desgoverno. Em vez de dar alguma satisfação aos manifestantes, mandou uma trinca de porta-vozes falar por ela. 

Foram eles seu porta-voz, Edinho Silva, acusado na Operação Lava Jato de ter recebido dinheiro sujo para a campanha dela, da qual ele era tesoureiro; e os líderes de seu desgoverno na Câmara, José Guimarães (PT-CE), [também conhecido como 'capitão cueca'.]chamado pelo ex-presidente de Lula de “aloprado” após um assessor ter sido preso no aeroporto com dólares na cueca e irmão de José Genoino, ex-presidente de seu partido e condenado por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal; e no Senado, José Pimentel (PT-CE), que ninguém sabe de onde vem nem para onde vai. O tal trio classificou como manifestações de “intolerância” os protestos pacíficos, dos quais não participaram os anarquistas black blocs de junho de 2013 e em que não se registrou, por isso mesmo, nenhum ato de vandalismo.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, cobrou da presidente o “gesto de grandeza” da renúncia. O apelo serviu de senha para conter o oportunismo em duas mãos da oposição, dividida entre o golpismo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), tentando antecipar a eleição presidencial, e a esperteza de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que prefere deixar o desgoverno dela desabar sobre nossas cabeças descobertas até 2018. “Vamos deixá-la sangrar”, disse o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Mas não provocou nenhuma reação da chefona do governo. Como esperar um “gesto de grandeza” de uma presidente incapaz sequer de reconhecer os próprios erros? Ou de corrigir, de forma satisfatória, a trajetória errática da condução de sua política econômica? Ela deu uma guinada para a direita nomeando Joaquim Levy ministro da Fazenda. E logo em seguida convocou o fantasma da origem da catástrofe, que ela encomendou a Guido Mantega no primeiro mandato, ao distribuir benesses à indústria automobilística, cujos operários têm retribuído o patrocínio do próprio desemprego com índices espetaculares de rejeição, que foi de 84% no ABC na pesquisa do Datafolha com índice nacional de 71%. Posterior à pesquisa, o desemprego do mês passado foi o pior de todos os meses de julho nos anos anteriores.  

Com a perspectiva de chegar o fim do ano com 1 milhão de brasileiros sem emprego, a tendência é seus índices de popularidade desabarem, aumentando em proporção similar a intolerância da cidadania à corrupção, sobre a qual Dilma e seus asseclas calam. Mas os fatos se sucedem de forma espantosa: as notícias de que a Camargo Corrêa devolverá R$ 700 milhões às estatais tungadas e de a UTC ter vencido licitação na BR com um preço 795% maior que o dos concorrentes não levaram Dilma a reconhecer o óbvio.

E agora, ao confessar que não percebeu a dimensão da crise na campanha, insinuando que sofremos aqui o efeito do desabamento chinês, a presidente já merece receber – juntos os Prêmios Nobel da Economia, por gerir uma crise vinda de fora um ano depois; da Física, por ter antecipado o efeito à causa; e da Literatura. Pois superou Jonas, considerado pelo Prêmio Nobel Gabriel García Márquez o inventor da ficção porque contou à mulher que fora engolido e expelido por uma baleia. Comparado com Dilma, o profeta bíblico é um repórter sem imaginação.

Na campanha, o marqueteiro João Santana produziu um vídeo em que mãos peludas de banqueiros furtavam a comida da mesa do trabalhador, referindo-se a Neca Setúbal, assessora da adversária Marina Silva. Um ano depois, tornada a terra prometida o deserto de desesperança geral, Roberto, irmão de Neca e presidente do Itaú-Unibanco, disse à Folha de S.Paulo que a saída da reeleita do poder provocaria “instabilidade”. Com lucro líquido de R$ 20,242 bilhões no ano passado, 29% acima do resultado de R$ 15,696 bilhões de 2013, talvez ele tema que a “instabilidade” que infelicita centenas de milhares de trabalhadores sem holerite, este ano, vá bater às portas do seu banco.

Dilma, que se jacta de ter resistido à tortura na ditadura, adotou na tal campanha o codinome de Coração Valente. Recentemente, ao lado de Barack Obama, na Casa Branca, disse desprezar delatores, referindo-se a colaboradores da Justiça na Operação Lava Jato, o único empreendimento público do Estado brasileiro a merecer respeito da cidadania.
 
E a guerrilheiros que, torturados, deram informações a torturadores que os levaram a companheiros de armas. No entanto, não contestou o coronel Maurício Lopes Lima, que ela havia acusado de ter quebrado seus dentes, no DOI-Codi da Rua Tutoia. Lima negou e até fez blague dizendo em entrevista ao Portal IG, citada pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha no jornal , de Porto Alegre: “Se eu soubesse naquela época que ela seria presidente, eu teria pedido: ‘Anota meu nome aí. Eu sou bonzinho’”. A frei Tito o tal oficial apresentou o DOI-Codi como “a sucursal do inferno”.

Dilma também não contestou o relatório apresentado pelo Exército à Comissão da Verdade, que ela constituiu, assegurando que nada aconteceu de irregular em suas dependências. A ditadura acabou, mas as vítimas das pedaladas e outras artimanhas de seu desgoverno nesta Pátria do Pixuleco vivem um inferno  em cuja porta, ao contrário do de Dante Alighieri, não têm mais esperança nenhuma a deixar.


Fonte: Publicado no Estadão - JOSÉ NÊUMANNE