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terça-feira, 5 de julho de 2016

Entenda por que os últimos três tesoureiros do PT estão na mira da Justiça

Responsáveis pelo caixa do partido nos últimos anos, alvos de operações de combate à corrupção, têm tido o mesmo destino: cadeia. Vaccari e Delúbio não falaram. Ferreira ainda é dúvida

Marcola foi convidado para assumir a tesouraria do PT - precisa apenas de autorização judicial

A 31ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de “Abismo” tem como alvo principal o ex-tesoureiro do partido Paulo Ferreira — mais um na lista de tesoureiros petistas enrolados com a Justiça. Contra ele, foi emitido um mandato de prisão preventiva e outro de busca e apreensão. Mas ele já está detido por conta da Operação Custo Brasil, que investiga fraudes em empréstimos consignados elaborados pela empresa Consist, em parceria com o Ministério do Planejamento. O juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de R$ 5 milhões do ex-tesoureiro do PT.

A operação foi deflagrada ontem pela Polícia Federal para investigar contratos da Petrobras com o centro de pesquisas (Cenpes) que geraram novos repasses de recursos ao PT. A nova ação derruba qualquer esperança, inclusive no PT, de que Ferreira pudesse conseguir um habeas corpus para deixar a cadeia. Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Antônio Dias Toffoli mandou soltar o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo e o empresário Dercio Guedes de Souza. A alegação era de que os motivos alegados para as prisões preventivas eram frágeis. Por isso, havia a expectativa de que Ferreira também fosse libertado.

As coisas mudam agora de figura. Com outro mandado de prisão emitido contra ele, em uma outra fase da Operação Lava-Jato, fica muito difícil para a defesa conseguir que o ex-tesoureiro do PT responda em liberdade às acusações que pesam contra ele. Além disso, existe um outro temor entre os correligionários de Ferreira: que ele não seja tão resiliente como outros petistas que exerceram a mesma função e acabe por ceder à pressão para negociar uma delação premiada. Ferreira tem dado sinais explícitos, nos últimos dias, de que está magoado com o partido, sentindo-se abandonado por seus pares.

 A situação é diferente, pelo menos por enquanto, em relação aos demais tesoureiros do PT que respondem à Justiça. João Vaccari Neto tem se mantido calado, impassível, apesar de duas condenações, até o momento, que somam quase 30 anos de detenção. O antecessor de Ferreira no posto, Delúbio Soares, já cumpriu, inclusive, pena de prisão após ser condenado no esquema do mensalão. Ambos ficaram calados e se recusaram a entregar possíveis operações escusas praticadas pela legenda. O que chama a atenção é que o novo mandado de prisão contra Paulo Ferreira reforça o modus operandi de captação irregular de recursos, com base em contratos fraudulentos e cobranças de propinas, praticados pelos tesoureiros do PT desde que a legenda chegou ao poder.

O primeiro
O primeiro deles foi Delúbio Soares, que comandava as finanças do partido quando estourou o escândalo do mensalão. Ele seria, segundo a acusação apreciada pelo STF, o elo entre o “núcleo político” e o “núcleo operacional”, formado pelo publicitário Marcos Valério, pelo Banco Rural e BMG. Delúbio foi condenado mas acabou tendo sua pena extinta pelo STF. Voltou ao foco na Operação batizada de Carbono 14, que investiga um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões obtido por José Carlos Bumlai no banco Schahin, em 2004. Vaccari é réu pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Tem penas que totalizam 26 anos e 4 meses de cadeia e ainda está para ser julgado em outras três ações criminais da Lava-Jato.

Embora não tenha sido tesoureiro do PT, mas da campanha presidencial de 2014, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Edinho Silva também é investigado pela Lava-Jato. Candidato a prefeito de Araraquara pelo PT, ele quer, inclusive, antecipar a própria defesa à Justiça. Ele é acusado de pressionar empreiteiras a contribuir com a campanha da petista em troca da manutenção de contratos com a Petrobras.

Fonte: Correio Braziliense

 

domingo, 12 de junho de 2016

Edinho, o cobrador, o tesoureiro do achaque

O cobrador

Único tesoureiro petista que ainda não foi preso, Edinho Silva pode ter seus planos políticos frustrados após entrar na mira da Lava Jato. Delatores são unânimes em afirmar que era ele quem cobrava o caixa 2

Nas próximas semanas, mais um tesoureiro petista pode estar sob a batuta do juiz Sérgio Moro. Trata-se do ex-ministro Edinho Silva. Sua recorrente prática, adotada nas últimas campanhas de Dilma Rousseff, de não só gerenciar como cobrar, em tom impositivo, recursos para o caixa dois foi denunciada por pelo menos três empreiteiros: Ricardo Pessoa, da UTC, Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht. 

Ricardo Pessoa, da UTC, narrou ter sido pressionado por ele em 2014 a doar mais do que fora combinado e feito dentro da lei. Otávio de Azevedo,  da Andrade Gutierrez, revelou que o tesoureiro de Dilma esperava arrecadar R$ 700 milhões das maiores construtoras. Marcelo Odebrecht, conforme antecipou ISTOÉ em sua última edição, disse em acordo de delação que Edinho exigiu R$ 12 milhões por fora para a campanha de Dilma em 2014: R$ 6 milhões para o marqueteiro João Santana e R$ 6 milhões para o PMDB. Odebrecht disse que procuraria a presidente Dilma para confirmar a necessidade do pagamento. Foi aí que veio a surpresa que lhe obrigou a abrir a carteira. A presidente teve conhecimento do pedido e mandou que atendesse.

Desde que chegou à presidência da República, a figura do tesoureiro virou uma das principais fontes de dor de cabeça dos petistas. Delúbio Soares cumpriu pena no Mensalão. João Vaccari Neto está preso no Petrolão. Agora, sem o privilégio de foro desde o afastamento da presidente Dilma, é grande o risco de Edinho vir a se tornar o terceiro tesoureiro ligado ao PT preso.

A sanha em captar recursos para a campanha presidencial de 2014 foi tamanha que fez surgir um episódio insólito: o chamado duplo bote. Empresários chegaram a reclamar de sofrerem um assédio com as mesmas exigências por Edinho Silva e pelo tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Na ocasião, ficaram em dúvida para qual deles acertariam a ajuda a Dilma. Em delação premiada, Otavio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, disse que, após doar R$ 60 milhões via Vaccari, teve de desembolsar mais R$ 40 milhões por meio de Edinho. O valor está bem acima do que o Partido dos Trabalhadores declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter recebido da empreiteira. Otavio Azevedo foi além em seus depoimentos. Afirmou aos procuradores que o ex-ministro da Comunicação Social de Dilma lhe disse que as sete empreiteiras com mais obras com o governo federal precisariam contribuir com um total de R$ 700 milhões para reeleger a candidata petista.

Em pelo menos um caso, Vaccari e Edinho teriam agido em dobradinha. Em um dos primeiros acordos de delação premiada selados por empreiteiros, Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou que Vaccari mandou que ele procurasse Edinho para acertar contribuições para a campanha. Segundo Pessoa, ocorreram três encontros entre eles. Dois deles aconteceram no comitê central do Partido dos Trabalhadores, em Brasília. Outra na sede da UTC, na capital paulista. Nas reuniões, Edinho deixou clara a ligação entre as doações e os acordos firmados pela construtora com estatais. Em uma das ocasiões, o petista disse: “O senhor tem obras no governo e na Petrobras, então o senhor tem que contribuir. O senhor quer continuar tendo?” Foi acertada uma doação de R$ 5 milhões a ser paga em duas parcelas. Mas, logo após a UTC quitar o acordo, Edinho pediu mais. Queria outros R$ 5 milhões. Metade foi pago. A outra parcela acabou suspensa com a prisão de Ricardo Pessoa pela força-tarefa que investiga o Petrolão. Era um dos primeiros sinais que a Lava Jato atrapalharia a vida de Dilma e de Edinho.

As acusações são um duro golpe às pretensões políticas do petista Edinho Silva. Podem comprometer a sua tentativa de voltar ao comando da prefeitura de Araraquara nas eleições deste ano. Foi na cidade do interior de estado de São Paulo que ele ganhou projeção dentro do partido. Tornou-se vereador e prefeito. Em 2010, elegeu-se deputado estadual, conciliando o mandato com a presidência estadual do PT. Forte na burocracia petista, Edinho foi escolhido para cuidar do caixa da campanha à reeleição de Dilma e, como prêmio, ganhou o ministério da Secretaria de Comunicação Social. No meio político, a nomeação foi encarada como uma tentativa de assegurar-lhe o privilégio de foro, dada a extensão de sua ficha corrida.

Fonte: Isto É

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Janot pede para investigar Lula, Berzoini, Jaques Wagner, Edinho, senadores e deputados

Janot pede que Lula e mais 29 sejam investigados na Lava-Jato

"Novos elementos indicam uma atuação da organização criminosa de forma verticalizada, com um alcance bem mais amplo do que se imagina no início e com uma enorme concentração de poder nos chefes da organização", afirma o procurador-geral da República

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal, no dia 28 de abril, a inclusão do ex-presidente Lula, dos ministros Jaques Wagner, Edinho Silva, e Ricardo Berzoini, no inquérito mãe da Operação Lava Jato perante à Corte.
Além de Lula e dos ministros, são citados os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Delcídio Amaral (ex-PT-MS), e os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Eduardo da Fonte (PP-PE), Aguinaldo Ribeiro, André Moura, Arnaldo Faria de Sá, Altineu Cortês e Manoel Junior, além do ex-ministro Henrique Eduardo Alves, o assessor da Presidência, Giles de Azevedo, a ex-ministra Erenice Guerra, o ex-ministro Antonio Palocci, o pecuarista José Carlos Bumlai, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o banqueiro André Esteves, o ex-ministro Silas Rondeau, o empresário Milton Lyra, o lobista Jorge Luz, o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, o doleiro Lucio Bolonha Funaro, Alexandre Santos, Carlos Willian, João Magalhães, Nelson Bornier e a ex-deputada Solange Almeida, aliada de Eduardo Cunha.

No âmbito dos membros do PT, os novos elementos probatórios indicam uma atuação da organização criminosa de forma verticalizada, com um alcance bem mais amplo do que se imagina no início e com uma enorme concentração de poder nos chefes da organização”,
afirma Janot. 
“As provas apontam para o envolvimento das seguinte autoridades com prerrogativa de foro: Edinho Silva, Ricardo Berzoini, Jaques Wagner e Delcídio Amaral.”
Ainda segundo Janot, integrariam a organização: Luiz Inácio Lula da Silva, Antonio Palocci, Giles de Azevedo, Erenice Guerra, José Carlos Bumlai, Paulo Okamotto e José Gabrielli também tiveram contra si colhidos inúmeros indícios de envolvimento no esquema criminoso objeto desta apuração.”

De acordo com Janot, o esquema de formação de quadrilha investigado no processo jamais poderia ter existido sem o conhecimento do petista. 
“Pelo panorama dos elementos probatórios colhidos até aqui e descritos ao longo desta manifestação, essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”, aponta Janot.
O inquérito conta atualmente com 39 investigados, entre parlamentares e operadores do esquema de corrupção da Petrobrás. Caso o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, aceite o pedido de Janot, o inquérito passará a ter 69 investigados.

Fonte: Isto É  

 

sábado, 9 de abril de 2016

Planalto prevê ofensiva de Moro durante votações - cana dura para a canalha petralha


Interlocutores da presidente Dilma Rousseff apostam que o cenário político será mais uma vez embaralhado na próxima semana por causa de novas revelações da Operação Lava Jato. Entre os ocupantes do Palácio do Planalto há a certeza de que o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações sobre o escândalo da Petrobrás na primeira instância, prepara uma ofensiva para atingir o governo na semana em que o impeachment deve ser votado no plenário da Câmara. 


Pelo cronograma estabelecido, o processo deverá ser apreciado pelo plenário da Câmara no dia 17, um domingo. Além de vazamentos relacionados a delações premiadas, há o temor de que Moro deflagre uma nova fase da operação e decrete a prisão de dois nomes que já tiveram bastante proximidade com a presidente: os ex-ministros da Casa Civil Antonio Palocci e Erenice Guerra. Segundo a delação premiada dos executivos da empreiteira Andrade Gutierrez que veio à tona esta semana, Palocci e de Erenice teriam ajudado a estruturar o esquema de propina na obra da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

Os empresários apontaram uma pagamento de cerca de R$ 150 milhões em propina. O valor seria referente a um acerto de 1% sobre contratos. O dinheiro teria como destino o PT e o PMDB e agentes públicos ligados aos dois partidos. Palocci foi o coordenador da campanha de Dilma em 2010. Erenice, por sua vez, era braço direito da presidente e assumiu a Casa Civil quando Dilma deixou o ministério para se candidatar à Presidência pela primeira vez.

Os empresários da Andrade também afirmaram que o dinheiro doado legalmente às campanhas de Dilma em 2010 e 2014 teve origem em contratos superfaturados que foram fechados com empresas estatais, como a Petrobrás.

Placar 

Apesar de rebater a acusação, integrantes do Planalto admitem que o conteúdo da delação reverteu o clima favorável a Dilma na Câmara. No início da semana, o governo contava 200 votos contra o impeachment. Hoje esse número estaria em 180. Para os próximos dias, a ideia do governo vai ser tentar criar uma "vacina" para proteger a presidente de novas revelações negativas que envolvam o seu nome. A estratégia passa por agir rápido e não deixar nenhuma suspeita que surgir sem uma resposta.

Uma mostra de como o Planalto vai agir começou a ser esboçada esta semana. Anteontem, Dilma fez um duro discurso contra o que chamou de "vazamentos oportunistas e seletivos". Ela afirmou ter certeza de que haveria novos vazamentos na próxima semana e que essa situação criava "um ambiente propício ao golpe".

A presidente também acionou o Ministério da Justiça para apurar e tomar as medidas cabíveis contra quem vazar informações de depoimentos da Lava Jato. Já o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, foi escalado para fazer um apelo para que o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário impedissem que investigações que correm sob sigilo fossem repassadas à imprensa neste momento que antecede a votação do impeachment na Câmara. Ontem, a presidente reforçou a mensagem de que está disposta a fazer um pacto pela governabilidade ao entregar moradias do programa Minha Casa Minha Vida, no Rio de Janeiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Vazamentos têm ‘objetivo de criar ambiente propício ao golpe’, diz Dilma



Presidente afirmou ainda que pediu ao ministro da Justiça apuração da responsabilidade do vazamento
Após a divulgação da delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira que o vazamento “premeditado e direcionado” tem “o claro objetivo de criar ambiente propício ao golpe”. 

 O vazamento acontece às vésperas da votação do impeachment na comissão especial, prevista para segunda-feira. Segundo o executivo, a empreiteira fez doações legais às campanhas de Dilma e de seus aliados em 2010 e 2014, utilizando propinas vindas de obras superfaturadas da Petrobras e da Usina de Belo Monte.
— Na trama golpista, eu gostaria de destacar, também, o uso de vazamentos seletivos. A nossa Constituição, que garante a privacidade, mas, sobretudo, a legislação vigente, proíbem vazamentos que hoje, na verdade, constituem vazamentos premeditados, vazamentos direcionados, com o claro objetivo de criar ambiente propício ao golpe. Vazar porque não é necessário provar, basta noticiar, basta acusar, basta usar de testemunhos falsos; basta, repito, vazar. Nada disso é problema porque sempre se aposta na impunidade. Isto não transforma o Brasil em um país que respeita instituições, respeita a liberdade de informação, nem tampouco respeita a democracia — disse a presidente em discurso durante ato de “mulheres em defesa da democracia”, no Palácio do Planalto. 

Delação de Andrade Gutierrez apressa afastamento de Dilma, diz oposição
A presidente também ressaltou que, nos próximos dias, poderá haver “muitos vazamentos oportunistas e seletivos”. E que pediu ao Ministério da Justiça para tomar todas as medidas cabíveis para punir os responsáveis. — Queria destacar que nós poderemos ter, nos próximos dias, muitos vazamentos oportunistas e seletivos. Eu determinei ao senhor ministro da Justiça a rigorosa apuração de responsabilidades por vazamento recentes, bem como tomar todas as medidas judiciais cabíveis. Passou de todos os limites a seleção muito clara de vazamentos em nosso país. 

Também nesta quinta-feira, o ministro da Comunicação Social Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, disse que é mentira ou manipulação as declarações divulgadas da delação de executivos da Andrade Gutierrez. Também segundo Edinho, o vazamento seletivo dessas informações tem como único objetivo agravar a situação de Dilma às vésperas da votação do impeachment na comissão especial. [percebam: o ministro não contesta a existência do fato criminoso que foi vazado e sim o vazamento.
Na filosofia petralha, o erro não é do criminoso e sim de quem deixou o fato criminoso se tornar público. Aos que não lembrar o ministro Edinho Silva extorquia as empreiteiras no estilo que os agiotas usam para amedrontar seus devedores.]

ATAQUES MACHISTAS
Em um discurso direcionado à plateia feminina e durante o qual chegou a se emocionar, a presidente Dilma disse que é vítima de ataques machistas e que não é "descontrolada ou autista". Dilma voltou a falar em "golpe de Estado", propôs um pacto para sair da crise política e afirmou que espera ter a "honra" de ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro. — É muito interessante notar que em relação à pressão há duas hipóteses que eles levantam contra mim. A primeira é que eu sou autista. Autista porque eu não reajo à pressão perdendo o controle. A segunda hipótese é essa que a revista levantou: que eu reajo com descontrole. Então a mulher só tem duas hipóteses: ou ela é autista ou ela é descontrolada. Acho que é um desconhecimento imenso da capacidade da mulher resistir à pressão, às dificuldades, às dores, enfrentar os desafios — discursou, sob fortes aplausos e gritos de apoio. 

Dilma citou o câncer linfático que sofreu em 2010, lembrou que foi torturada durante os três anos que passou na prisão durante a ditadura e condenou a reportagem da revista IstoÉ”. Segundo ela, a revista vem sistematicamente "mentindo, inventando, incitando o ódio". Em sua última edição, a publicação fez uma matéria dizendo que a presidente está à beira de um ataque de nervos e tem, inclusive, avariado móveis em ataques de fúria. Segundo Dilma, trata-se de "uma peça de ficção com o propósito" de ofendê-la por ser mulher. Ela defendeu que a revista “Isto É” seja processada . 

— Enfrentei, como muitas mulheres nesse Brasil nosso enfrentam, uma doença difícil. Eu enfrentei um câncer que me debilitou no início. Mas eu sempre dizia: "Enfrenta que você supera". Mantive o controle, o eixo e a esperança. Eu estou enfrentando desde a reeleição a sabotagem de forças contrárias e mantenho o controle, o eixo e a esperança. [parece que ocorreu no Palácio do Planalto um encontro de lésbicas e não de autodeclaradas feministas.]

A presidente foi interrompida várias vezes por gritos de apoio da plateia, quase toda feminina. "Dilma, eu te amo", "Dilma guerreira da pátria brasileira" e "No meu país eu boto fé, porque ele é comandado por mulher" foram os mais recorrentes. Eduardo Cunha, presidente da Câmara, o vice-presidente, Michel Temer, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e a imprensa foram alvos de duras críticas da plateia. 

'GOSTARIA DE TER A HONRA DE TER LULA COMO MINISTRO'
Antes de Dilma discursar, quando convidadas falavam, o mestre de cerimônias solicitou que a plateia tivesse "calma" para dar seguimento à cerimônia. Foi fortemente vaiado e chamado de "machista". No começo do seu discurso, Dilma relembrou o episódio e disse que não iria "cometer" o ato novamente. Ela pediu "muita calma" à equipe do protocolo. — Eu não vou cometer aquela frasezinha que os nossos companheiros do protocolo cometeram contra nós. Eu vou pedir pros nossos companheiros do protocolo que eles fiquem muito calmos — disse Dilma ao iniciar seu discurso. 

A plateia respondeu com muitos gritos de apoio. Em sua fala, a presidente frisou que quer entregar um Brasil melhor para seu sucessor, mas apenas no dia 1º de janeiro de 2019. Ela também afirmou que todas as suas ações têm a redução das desigualdades como marca e que isso vem sendo feito desde a gestão do ex-presidente Lula. Disse que teve a honra de servi-lo como ministra e que gostaria de ter a honra de tê-lo como ministro.
— Eu tive a honra de servir o presidente Lula como ministra e espero também ter a honra de tê-lo como meu ministro - disse Dilma, completando: - Essa questão da construção e redução das desigualdades foi uma das prioridades e eu tenho a honra de ter sucedido também um presidente que foi o presidente Lula, que também deu ênfase a esse caminho — afirmou. 

Ela voltou a condenar o ambiente de intolerância, afirmando que o comportamento está na origem de todas as formas de violência, inclusive o estupro e o assassinato. Para uma plateia extremamente apoiadora, ela construiu mais uma vez a narrativa de que o processo de impeachment não é amparado pela lei, pois ela não cometeu crime de responsabilidade e se trata, portando de um golpe, um "golpe dissimulado".  — Não está escrito na nossa Constituição que o presidente eleito pode sofrer impeachment porque o país passa por dificuldades na economia ou porque parte dos cidadãos não gosta dele por qualquer razão. Podem tirar um presidente se ele cometeu crime de responsabilidade. Num regime presidencialista como o nosso, é necessário ter base política e jurídica para tirar um presidente. Submeter-me ao impeachment ou exigir-me a renúncia ou tentar quaisquer expedientes que comprometam o mandato que me foi conferido é um golpe de Estado, sim. Um golpe dissimulado, com pretenso verniz de legalidade, mas um golpe — discursou.

Fonte: Dilma Rousseff em ato de "mulheres em defesa da democracia" - Andres Coelho / Agência O Globo

sábado, 9 de janeiro de 2016

Acusações a Jaques Wagner preocupam o Planalto - OAS = Obras Arranjadas pelo Sogro

Cerveró delatou desvio de recursos para campanha ao governo da Bahia

 
Causaram constrangimento no Palácio do Planalto os vazamentos, no âmbito da Operação Lava-Jato, que atingiram o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Há uma avaliação no governo que, do ponto de vista investigativo, o que foi divulgado até o momento é insuficiente para sustentar a abertura de um inquérito contra o ministro. No entanto, há preocupação com a repercussão política dos vazamentos no momento em que o Planalto acredita estar retomando o protagonismo e saindo de um estado de crise permanente.
 Para interlocutores do governo, os vazamentos contra Wagner têm maior potencial de dano que os contra o ministro da Comunicação, Edinho Silva. Isso porque Wagner, junto à presidente Dilma Rousseff, capitaneia o novo momento do governo, com o esfriamento do processo de impeachment e da temperatura política, graças, em parte, ao recesso do Legislativo.

O passe livre de Léo Pinheiro 

O livro “Adelmário Pinheiro de Tremedal da Bahia”, editado pelo instituto mantido pelos filhos do ex-deputado estadual e secretário de Fazenda, morto em 1963, traz uma homenagem: “Soube como poucos cultivar a ética, hoje tão relegada, até mesmo desprezada na predominante cultura politica, a parecer que os princípios éticos tornaram-se incompatíveis com o exercício da politica, em grande parte, crescentemente dominada pela hipocrisia, encenação, manipulação, farsa e corrupção”. Um dos 13 filhos do homenageado, o executivo José Adelmário Pinheiro Filho fez da intimidade com o mundo político matéria-prima de sua atuação — até ser tragado pela Operação Lava-Jato. Léo Pinheiro, como é conhecido o ex-presidente da construtora OAS, está preso em Curitiba, condenado a 16 anos e 4 meses de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Léo Pinheiro depõe na CPI da Petrobras: Entre 2008 e 2014, o Grupo OAS desembolsou R$ 197 milhões em campanhas eleitorais. - Luis Macedo / 26-5-2015

Léo Pinheiro nasceu em 1951, mesmo ano em que o pai foi eleito pela primeira vez para a Assembleia Legislativa da Bahia. Ao contrário de um dos irmãos, Luiz Umberto Ferraz Pinheiro, que também optou por cargos no Legislativo e no Executivo, Léo Pinheiro não seguiu estritamente os passos do pai. Engenheiro, dispensou as funções como homem público, mas manteve a política como companheira fiel. O que sempre se soube nos bastidores agora ficou explícito com o vazamento das conversas: o executivo mantinha relação muito próxima com políticos dos mais variados partidos.

Em troca de mensagens com outros executivos da OAS, referiu-se ao ex-presidente Lula por um apelido: “Brahma”. Com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tratou de doações eleitorais. O mesmo assunto foi discutido com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Já com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, Léo Pinheiro pediu ajuda: queria a intervenção do então governador da Bahia para a liberação de uma verba retida pelo Ministério dos Transportes. Entre 2008 e 2014, o Grupo OAS formado pela construtora e por empresas de outros setores — desembolsou R$ 197 milhões em campanhas eleitorais. Hoje, após realizar diversas obras públicas — como as do Porto Maravilha, no Rio, e de três estádios da Copa do Mundo —, o grupo enfrenta um processo de recuperação judicial.

A carreira levou Léo Pinheiro ao posto de acionista da OAS, e a proximidade com o controlador da empresa, César Mata Pires, fez com que firmassem sociedade em outra companhia: a LP Participações e Engenharia. Tido como um homem ponderado além de apreciador de bons vinhos e charutos —, atuou como bombeiro quando a família de Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, brigava por seu espólio. Mata Pires é casado com Tereza, uma das filhas de ACM, o que proporcionou um apelido jocoso para a OAS, que ganhou fôlego na época em que ACM foi governador da Bahia: “Obras Arranjadas pelo Sogro”.

O leque de contatos da OAS e de Léo Pinheiro se estendeu para além das fronteiras do carlismo. Em 2013, na inauguração da Via Expressa Baía de Todos os Santos, em Salvador, o executivo foi saudado pela presidente Dilma Rousseff: “(Queria) cumprimentar uma outra pessoa essencial para a conclusão dessa obra, o empresário Léo Pinheiro, presidente da construtora OAS, que é a responsável por essa obra de engenharia, que merece nossa admiração. Obrigada, Léo”.

Ex-ministro e atual presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima diz que todos os políticos da Bahia “têm absoluta relação” com ele. — Eu sou amigo de Léo Pinheiro. É uma figura extremamente agradável, de bom trato — diz.


Desvios para campanha
Na quinta-feira, foram divulgadas mensagens de texto mostrando que Wagner prometeu, em 2014, ao empreiteiro Léo Pinheiro, ligar para o então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para ajudar na liberação de recursos de um convênio. Em outras mensagens, Pinheiro trata com executivos da OAS sobre pedidos de doações de Wagner para a campanha eleitoral à prefeitura de Salvador.

Já o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou em delação que recursos desviados da Petrobras podem ter abastecido o caixa da campanha de Wagner ao governo da Bahia, em 2006. As doações teriam saído de contratos da construção de um prédio da estatal em Salvador. Cerveró disse aos investigadores que os pagamentos eram “de conhecimento notório de todos os diretores da Petrobras”, e que o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, teria direcionado as doações à campanha. Após sair da estatal, em 2012, Gabrielli assumiu uma secretaria no governo de Wagner.  “Na campanha para o governo do estado da Bahia, em 2006, houve um grande aporte de recursos para o candidato do PT, Jaques Wagner, dirigida por Gabrielli. Nessa época, o presidente Gabrielli decidiu realocar a parte operacional da parte financeira em Salvador, sem nenhuma justificativa, pois havia espaço para referida área no Rio de Janeiro”, disse o ex-diretor.

Fonte: O Globo


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Maior “erro” do governo é uma das maiores mentiras de Dilma Rousseff

Ela sempre soube de tudo

A repórter Andréia Sadi, da Globonews, perguntou a Dilma Rousseff na quinta-feira (7), em um café da manhã da suposta presidente com jornalistas no Palácio do Planalto, qual foi o maior erro do governo, já que as críticas apontam a dificuldade de seus integrantes em fazer mea culpa.


Dilma Rousseff e seu arrecadador de campanha, o hoje ministro Edinho Silva: mesa farta, ao contrário do café da manhã dos brasileiros

“Maior erro foi não ter percebido o tamanho da desaceleração da economia em 2014, que refletiu em 2015″, respondeu Dilma, entre um pãozinho e outro.

Essa mentira descarada, que insulta a inteligência dos brasileiros, não é nova, mas precisa ser registrada como uma das maiores da história deste governo, até porque confirma um método – um modus operandi dos petistas.
 Vai um pãozinho aí?
 
2014 foi um ano eleitoral.
Dilma sabia da desaceleração da economia, mas, para se reeleger, negou à população a existência do problemainclusive maquiando as contas públicas com o crime das pedaladas fiscais -, enquanto todos os analistas econômicos e até seu adversário tucano Aécio Neves o apontavam insistentemente.

O método Dilma é contar mentiras para manter o poder e depois dourá-las como meros erros de avaliação, amenizando a própria responsabilidade com a terceirização da culpa para fatores externos (“queda brutal dos preços das commodities”) e internos (“a pior seca desde o momento que nós começamos a registrar” e a crise política atribuída à oposição).

Se a inflação fechou 2015 em 10,67%, a maior desde 2002, é porque o maior erro (de grande parte) do Brasil foi não ter percebido a tempo o tamanho desse embuste.

Fonte:  Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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domingo, 11 de outubro de 2015

Dilma sob ataque = um presidente sem poder = uma presidente fantoche

As derrotas desta semana passada ensinam que a presidente está sem poder exatamente onde não poderia: no Congresso, para onde convergem as ameaças a seu mandato 


Pim! A mensagem via WhatsApp espoucou no celular do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, na quinta-feira, pouco antes das 11 horas da manhã. “É o Eduardo”, disse. 

Picciani estava abatido, dormira pouco. Na noite anterior reunira apenas um punhado de partidários em uma mesa sob um ombrelone na área externa de um restaurante para fumar um charuto e bebericar doses de licor. Embora revestida de cordialidade, a mensagem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, informava a Picciani que ele fora desidratado pelo próprio partido e era também uma sinalização ao Palácio do Planalto de que o centro de irradiação da crise no Congresso não fora neutralizado. Cunha avisava ao correligionário que em minutos negaria publicamente qualquer envolvimento com a ação de partidos que debandaram da liderança do PMDB no dia anterior, implodindo o maior bloco parlamentar da Casa.

Por volta das 11 horas, de      fato, Cunha usou sua conta no Twitter: “Bom dia a todos. Quero desmentir que tenha participado da dissolução do bloco do PMDB. O bloco foi feito para a eleição da mesa e não tinha qualquer compromisso de se manter por toda a legislatura. DEM, PRB e SDD (Solidariedade) já haviam saído”, disse, em três posts sucessivos. A política algumas vezes é uma novilíngua: quando se nega, se está afirmando. 


Cunha fora o articulador da dissolução do bloco, que resultou no esvaziamento de Picciani, expôs a fracassada iniciativa da presidente Dilma Rousseff de formar uma nova maioria na Câmara e resultou em mais uma dura derrota para o governo na semana passada. O PMDB é uma arena para mestres, não para amadores – e Picciani havia se revelado um amador.

 RECORDE
A presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Três derrotas significativas na mesma semana (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Nesta semana, Dilma conheceu novo fracasso na tentativa de operar nessa seara de profissionais. Sua nova base de apoio, construída ao custo de uma reforma ministerial que substituiu seus homens de confiança pelos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que deu sete ministérios ao PMDB – inclusive o da Saúde, uma das arcas de Orçamento mais cobiçadas da Esplanada –, falhou. Sua nova coalizão não conseguiu nem levar um número suficiente de parlamentares ao plenário para garantir a votação que manteria os vetos presidenciais à “pauta-bomba”, o conjunto de medidas que pode explodir o caixa da União. Foi a pior de suas derrotas – e elas foram muitas.

Dilma perdeu também no Tribunal de Contas da União (TCU), que desaprovou suas contas do ano passado, adulteradas pelas pedaladas e por trapaças na contabilidade. Não foi apenas uma derrota histórica – a última vez em que o TCU rejeitara contas fora em 1937, com Getúlio Vargas. Foi uma derrota feia, pelo fato de o governo ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal para afastar o relator do caso e brecar o julgamento – sem sucesso. Perdera também um dia antes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que considerou, diante das evidências, necessário investigar se em sua campanha houve abuso de poder econômico e político. Mas é do Congresso que Dilma vai precisar para escapar da análise de suas contas e dos pedidos de impeachment que a circulam. O Congresso, um terreno com o qual Dilma nunca se importou muito, está dominado por seus adversários e armadilhas que seus aliados já demonstraram ter pouca habilidade para contornar. O Congresso decidirá o futuro de Dilma. 


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está ameaçado na presidência da Câmara pela Operação Lava Jato. Na semana passada, investigadores revelaram que ele possui pelo menos US$ 2,4 milhões guardados em contas secretas na Suíça. Em condições normais, seria um adversário menos perigoso. Na gestão Dilma, no entanto, é um problema. Dentro de sua estratégia de atacar o governo para ofuscar sua difícil situação jurídica, Cunha agiu diretamente para implodir a nova e frágil base do governo. Nem precisou de muito esforço. Dilma contava que Picciani garantiria a presença do PMDB no plenário para preservar os vetos. O cálculo se mostrou um desastre. Picciani caíra em desgraça com parte do PMDB, que o acusa de usar a posição de líder para obter ministérios apenas para sua turma. Assim, ele não conseguiu entregar ao Planalto mais do que uma bancada rachada: apenas 37 dos 66 deputados do PMDB marcaram presença na sessão da quarta-feira.

Picciani ficou mal também com os partidos aliados, pois estes não ganharam ministérios. Siglas como PP, PTB, PSD e PR passaram a bombardear o Planalto por considerar que a reforma não levou em conta seus interesses. Eduardo Cunha vinha pessoalmente articulando o desmembramento do bloco que antes tinha Picciani como líder. Na semana passada, terminou o trabalho. A implosão fez com que o PMDB passasse a ser a segunda força política da Casa; antes à frente de um bloco de quase 150 deputados, Picciani amanheceu a quinta-feira como líder de 68 parlamentares – e longe de conseguir coesão mesmo dentro desse grupo. Instigada por Eduardo Cunha, em conjunto a turma fez corpo mole para mostrar sua força. Embora o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), tenha convocado sessões para terça e quarta-feira, as votações não ocorreram pela falta de comparecimento de deputados da base. Cinicamente, dezenas deles circularam pelo plenário, mas não registraram presença para forçar o fim da sessão. Maior manifestação de má vontade não há.

O Palácio do Planalto reconhece as falhas da reforma ministerial,
que foi arquitetada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e era considerada por alguns a última cartada da qual dispunha Dilma para conseguir alguma estabilidade política para seu mandato. O governo novamente tentou isolar Cunha, desta vez ao negociar diretamente com Picciani, mas se viu obrigado a recuar. “É impensável fazer qualquer movimento na Câmara sem o Eduardo Cunha”, diz o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Eduardo Cunha construiu em volta de si um arco de alianças com setores rebelados da base e com a oposição, muitos dos quais defendem o impeachment de Dilma. Parte dessa turma sabe que precisa dele para emplacar o impeachment; parte quer retaliar.

Na terça-feira à noite, quando o governo já havia sofrido o primeiro revés no Congresso, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), se reuniu com Eduardo Cunha na residência oficial da presidência da Câmara, em Brasília. Wagner ouviu de Cunha que quem tem de garantir apoio ao governo são os líderes. “Eu cumpri meu papel institucional”, disse. De pouco adiantou a conversa, como se viu no dia seguinte. Na quinta-feira de manhã, após a segunda derrota, foi o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, quem levou a Cunha apelos por uma trégua, num ritual de submissão simbólico que incluiu se deslocar às 8 horas da manhã até a residência da presidência da Câmara. De novo em vão. “O governo tem o que para oferecer ao Eduardo?”, afirma um aliado de Cunha. E, mesmo que Cunha se enfraqueça mais, Dilma tem poucas chances de recuperar o controle do Congresso. Não adianta: nada se faz na Câmara sem o apoio de  Cunha e de seus aliados, espalhados por todos os partidos.


Fonte:  Versão reduzida da reportagem de capa de ÉPOCA

sábado, 3 de outubro de 2015

PF investiga campanha de Dilma e apreende mensagens de Pessôa


PF apreende mensagens de Ricardo Pessôa e investiga campanha de Dilma


A partir do Whatsapp de empreiteiro da UTC, polícia suspeita que dinheiro da Petrobras possa ter irrigado a campanha da petista 

Entre os milhões de dados captados pela investigação da Operação Lava Jato, a Polícia Federal deparou com um conjunto de diálogos mantidos pelo empreiteiro Ricardo Pessôa, da UTC, por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp. Trata-se de uma conversa de trabalho que, para os investigadores, aponta para um possível depósito de dinheiro saído da Petrobras para o caixa da campanha presidencial de Dilma Rousseff, no ano passado.
Datas e valores coincidem com doações declaradas ao TSE (Foto: reprodução)
Um dos diálogos aconteceu pouco antes das 13 horas de 29 de julho do ano passado pouco depois, segundo a PF, de Ricardo Pessôa ter participado de uma reunião no comitê de campanha de Dilma, em Brasília. Àquela altura, o ex-­diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa já estava preso em Curitiba. Mas o que preocupava Pessôa não era a possibilidade de ir parar em uma cela – ele só seria preso quatro meses depois. Pelo teor das mensagens, a PF suspeita que Pessôa estivesse angustiado com outra coisa. Que o fluxo de seus repasses para o PT coincidisse com o dinheiro desviado da Petrobras, para que ele não tivesse de mexer no próprio caixa.


Após o encontro no comitê, Pessôa acionou o diretor financeiro da UTC, Walmir Santana, pelo WhatsApp. “A pessoa que você tem que ligar é Manoel Araujo. Acertado 2.5 dia 5/8 (ate) e 2.5 ate 30/8”, disse Pessôa. Manoel Araújo era auxiliar do então tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva - saiba mais sobre Manoel Araújo, lendo RENUNCIE DILMA -  atualmente ministro da Secretaria de Comunicação Social. Hoje, Manoel tem uma sala no 2º andar do Palácio do Planalto e é o chefe de gabinete de Edinho. Na resposta, Manoel lembrou Pessôa sobre o atraso no recebimento de “um valor da PB” e sugeriu uma forma de equilibrar os repasses. “RP, posso resgatar o que fizemos de doações esta semana? Tá pesado e não entrou um valor da PB que estava previsto para hoje, mais ou menos 5 milhões.” O chefe autorizou: “Ok pode. Você não resgatou nada ainda certo?”, disse Pessôa. Para os investigadores da Lava Jato, “PB” é uma abreviação para Petrobras e “RP” é Ricardo Pessôa.  O número “2.5”, segundo a PF, coincide com o valor das doações – R$ 2,5 milhões.

Em seus depoimentos colhidos no acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, Ricardo Pessôa disse que gastou parte do dinheiro desviado da Petrobras em doações à campanha de Dilma. Afirmou que o então tesoureiro Edinho Silva cobrou essas doações com base nos contratos mantidos pela empreiteira com a estatal. Segundo Pessôa, o comitê petista exigiu R$ 20 milhões. Ele diz, no entanto, que reduziu o repasse para R$ 10 milhões – R$ 5 milhões em cada turno, em duas parcelas de R$ 2,5 milhões cada. As exigências relatadas na conversa por WhatsApp coincidem com as doações da UTC registradas no Tribunal Superior Eleitoral: entraram R$ 2,5 milhões no comitê da presidente em 5 de agosto, R$ 2,5 milhões em 27 de agosto e R$ 2,5 milhões em 22 de outubro. Como foi preso em 14 de novembro, Pessôa ficou devendo R$ 2,5 milhões. O coordenador jurídico da campanha presidencial, Flávio Caetano, disse em nota que “os dados do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, sobre as datas das doações feitas pela UTC à campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014 revelam que se trata de ilação interpretar o teor dos diálogos como vínculos da campanha com esquemas sob investigação”.


Conforme as investigações e as delações da Lava Jato avançam, enfileiram-se relatos e indícios de que o dinheiro do petrolão abasteceu campanhas eleitorais do PT desde 2006. Técnicos da Justiça Eleitoral calculam que empresas envolvidas no petrolão doaram R$ 172 milhões ao PT entre 2010 e 2014. No ano passado, a campanha presidencial recebeu R$ 47,5 milhões diretamente dessas companhias.

A primeira evidência dessa ligação descoberta pela Lava Jato veio do empresário Augusto Mendonça, sócio do grupo Toyo Setal. Após acordo de delação, ele comprovou o repasse de R$ 4,2 milhões a diretórios do PT em sincronia com a transferência de pagamentos da Petrobras. O doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Baiano disseram que o ex-ministro Antonio Palocci cobrou e recebeu R$ 2 milhões para a disputa presidencial de 2010. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco afirmou que a holandesa SBM Offshore repassou US$ 300 mil para a campanha de Dilma naquele ano. 

Uma proposta de delação premiada feita pelo ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, em análise no Ministério Público, menciona ainda o repasse de R$ 4 milhões pela Odebrecht para a campanha do presidente Lula em 2006, como revelou ÉPOCA. Pessôa também diz que repassou, em doações clandestinas por uma conta na Suíça, cerca de R$ 2,4 milhões para o caixa dois da campanha de Lula. O lobista João Augusto Henriques, segundo reportagem de ÉPOCA publicada em 2013, disse que a Odebrecht doou US$ 8 milhões desviados de um contrato com a Petrobras para a primeira campanha de Dilma.


Suspeitas de ligação entre o petrolão e doações eleitorais fazem parte de  uma das quatro ações apresentadas pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Nessa ação,  quatro ministros votaram pela abertura de um processo que, em última instância, pode levar à impugnação da chapa Dilma-Temer. O andamento do processo foi interrompido desde que a ministra Luciana Lóssio pediu vista no fim de agosto. A ação pode voltar ao plenário nesta terça-feira. [Luciana Lóssio é ex-advogada do PT; só que agora ministra do TSE esquece que é ex e ex = não é mais, já foi.]