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domingo, 31 de outubro de 2021

A VENEZUELA E SEUS CÃES - Gerhard Erich Boehme

Hoje a Venezuela sobrevive de três fontes, a principal não é mais a proveniente  dos petrodólares, de um país que detém as maiores reservas do mundo, mas sim de recursos do narcotráfico, com destaque ao principal grupo, o Cartel de los Soles. Em terceiro lugar surgem as ajudas internacionais e a ajuda de familiares além-mar, ou, aos poucos, recursos repatriados.

E o povo não tem mais como se alimentar, mesmo os cães sumiram.


 

Além das drogas,  a economia continua sendo mantida com base na principal atividade econômica que é a exploração e refino de petróleo, mas agora ainda mais centralizada, com a PDVSA sendo uma parte da tesouraria do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a versão irmã ou siamesa e venezuelana do nosso Partido dos Trabalhadores (PT). 

A Venezuela é hoje a oitava maior economia da América Latina, depois do Brasil, México, Colômbia, Chile, Peru, Panamá e Argentina.  
Já foi a primeira. Assim também o foi um dia a Argentina
Em 1895 a Argentina era o país mais rico do mundo (mais rica que os EUA em termos de PIB per capita). A Venezuela chegou perto. De um país rico em recursos naturais a realidade da exploração e refino de petróleo chega a algo próximo ao caos, pela primeira vez em um século, são poucas as plataformas de petróleo funcionando na Venezuela. 

Os poços que já exploraram as maiores reservas brutas do mundo estão abandonados ou queimando gases tóxicos, que lançam um brilho laranja sobre as cidades petrolíferas. As refinarias que uma vez processaram petróleo para exportação são gigantes enferrujados, vazando óleo bruto que escurece a costa e dá à água um brilho oleoso. A escassez de combustível paralisou o país. Nos postos de gasolina, as filas chegam a ter quilômetros de extensão.

O colossal setor petrolífero da Venezuela, que moldou o país e o mercado internacional de energia por um século, chegou a uma parada quase total, com a produção reduzida a um gotejamento graças a anos de má gestão e sanções dos EUA. O colapso está gerando uma economia destruída e um ambiente devastado e, segundo muitos analistas, encerrando a era de potência energética da Venezuela.

E os cães?
Entre os anos 50 até o final do Século a Venezuela era o país da América com maior número de cães de raça, a que tinha o maior número de canis e associações, talvez também com a maior população de cães que denominamos de vira-latas.  
Mas veio o Socialismo, na realidade uma espécie de nacional-socialismo bolivariano ou luloPTismo. 
E com ele a cultura da redistribuição de riqueza, adotou-se o estado de bem-estar social, o qual mostrou-se com o tempo um rematado destruidor de riqueza. [Abraham Lincoln acertadamente pregou:      

".........

Você não pode ajudar o pobre, destruindo o rico;
Você não pode elevar o salário, pressionando a quem paga o salário;
Você não pode promover a fraternidade da humanidade, admitindo e incitando o ódio de classes;
......."]

Vale a máxima de Margaret Hilda Thatcher, Baronesa Thatcher de Kesteven:

"O problema do socialismo é que você no fim das contas esgota o dinheiro dos outros" — Em seu último discurso no Parlamento britânico, no dia 22 de novembro de 1990.

Os cães aos poucos foram sendo abandonados pelas famílias, a começar por aqueles que saíram em fuga para os Estados Unidos, Reino de Espanha e Panamá.

O retrato que se via no início deste Século nas ruas de Caracas e quase todas cidades venezuelanas era o de cães disputando o alimento nas lixeiras. Os anos foram se passando e aos poucos a disputa nas lixeiras se dava também com a população mais pobre. E então começaram a surgir as notícias de furtos de animais em zoológicos, parques nacionais e aos poucos os cães sumiram das ruas, repetindo o que ocorreu na China, onde os cães são comercializados como galinhas ou porcos, resultado de uma das piores faces do comunismo como modelo político e o socialismo como econômico. 

Foram 45.000.000 milhões de pessoas mortas de fome, e praticamente todos os cães mortos. Esse é o número de chineses que morreram de fome entre 1958 e 1962. Essa foi uma consequência direta do comunismo e socialismo no país. O programa intitulado "Grande salto para frente", implementado por Mao Tse Tung e o Partido Comunista Chinês tinha o objetivo de acelerar o crescimento econômico da China, mas, apesar disso, causou uma verdadeira tragédia em nome da igualdade. Os resultados não foram diferentes em todos os países onde os cães entraram na dieta alimentar de sobrevivência, como Coreia do Norte, Iêmen e principalmente Cuba.

E vale refletirmos que a domesticação dos cães acompanhou o desenvolvimento da humanidade, sendo o principal referencial de desenvolvimento de um país, região ou família.

Como os cães passaram a "com-viver" com os humanos é uma longa história. O maior crescimento da população canina se deu durante o 1° Reich alemão, o chamado Sacro Império Romano Germânico, de 800 até 1806 na Europa Central e parte do Norte da Europa. No auge, incluía os atuais territórios pertencentes à Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, República Checa, República Eslovaca e parte da Polônia. Há relatos e achados históricos que mostram a convivência com os humanos há mais de 15 mil anos. 

E segundo a Bíblia, há até mesmo relatos que mostram como devemos temer os cães. Há um juízo sobre esse animal e ele muitas vezes é simplesmente uma questão cultural e não é preciso ser fundamentalista, pensando que a vontade de Deus seja excluí-los. O cachorro é uma criatura de Deus e aí de nós se não cuidarmos deles.

Destaco onde o cachorro é apresentado como um animal impuro (veja Salmos 22,17; Salmos 22,21; Isaías 10-11 e 2 Pedro 2,22) e não eram bem vistos nas cidades do mundo Bíblico. É provável que isso foi motivado pelo fato que eram animais quase sempre abandonados, que procuravam comida no lixo, no meio da carniça. Mesmo assim, é provável que existiam cães domésticos também na sociedade daquele tempo, como podemos ver em Tobias 6,1 (texto da Bíbia católica):- Tobias partiu com o anjo, e o cachorro os acompanhou. Caminharam até o anoitecer e acamparam junto ao   Rio Tigre.

O Livro de Tobias faz parte dos livros chamados de deuterocanônicos. Estes livros foram escritos em Grego e não fazem parte da Bíblia Hebraica, que é a base do nosso Antigo Testamento.  A coleção dos deuterocanônicos é composta pelos seguintes livros: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico (ou Ben Sirá), Sabedoria de Salomão e Baruque. 

Triste fim o da Venezuela com a ideologia disseminada pelo "Foro de São Paulo", entidade concebida por Lula com Fidel Castro, e é assim que caminha também a Argentina. Lá também, principalmente em Buenos Aires, a população está caindo.

Temos assim o luloPTismo ou o nacional-socialismo bolivariano contrapondo o capitalismo. Enquanto o capitalismo resulta em ampla propriedade dos meios de produção porque a propriedade privada é a sua característica distintiva, já que somente em uma economia capitalista, em que os direitos de propriedade podem ser subdivididos em ações e livremente comercializados, pode uma ampla propriedade sobre os bens de capital manter inalterado seu caráter de riqueza.  

Nesse arranjo, as pessoas voluntariamente vendem sua propriedade; os novos proprietários adquirem os direitos de propriedade sobre os bens de capital.  Há um genuíno mecanismo capitalista permitindo que isso aconteça.  Quase todo mundo pode comprar ações dos meios de produção sob o capitalismo.  Ninguém tem de morrer.  Nenhum sangue é derramado. E nenhum cão serve de alimento.

Mas o que se produziu na Venezuela foi o contrário, foi assim também em Cuba e é o que começa a ocorrer na Argentina. Mas há esperanças, na Argentina, nas últimas eleições houve a mudança do eleitorado. E o atual regime ou radicaliza ou cai. Na Venezuela uma mudança de governo não está no horizonte de curto prazo, concordam os analistas. Ou seriam "cientistas"?

A verdade é que o regime não se sustenta, embora a Venezuela esteja crescendo como narcoestado, a produção de petróleo, que chegou a 3,3 milhões de barris diários, é atualmente de pouco mais 500.000 barris, de acordo com os números oficiais.  A indústria petroleira se deteriorou gravemente pela falta de investimento, de manutenção e de mão de obra especializada. Agora na crise mundial da Covid-19 a Venezuela, com as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, foi obrigada a importar gasolina do Irã, apesar de ter quase 20 refinarias, a maioria sucateada.

Uma Nação sem liberdade e sem cães.  O PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela é hoje calculado em algo inferior a 45.000.000 Bilhões de Dólares, o que representa uma queda de mais de 80% na comparação com dez anos atrás.

A Venezuela passou do grupo das 30 maiores economias do mundo a algumas posições abaixo da 100ª. No Heritage Index a nação modelo e referencial de Lula está em último lugar na América Latina.

https://www.heritage.org/index/country/venezuela

 A realidade é triste, o tamanho do Estado foi drasticamente reduzido. A Venezuela conta atualmente com mais de 45% da sua população desempregada. E a economia informal é a que mais cresceu e continua a crescer, não apenas com o narcotráfico e a prostituição, mas também com o contrabando. 
Por exemplo, o contrabando de gasolina se expandiu no país, com exceção ainda de Caracas, face ao policiamento e as chamadas de Coletivos, as gangues armadas pró-Maduro que se transformaram em forças ativas contra a oposição e de sustentação ao regime. 
Algo parecido com uma mistura entre MST, MTST e AntiFa's.

Além desta realidade ainda virão os efeitos do Coronavírus.  A segunda onda da Pandemia da Covid-19 começou a afetar a Venezuela quando a economia iniciava a abertura, após meses de confinamento. O surto, que as autoridades chamam de "mais agressivo" e vinculam à variante brasileira do vírus, provocou o colapso de hospitais e clínicas.

O governo reconhece apenas 400.000 mil casos e mais de 5.000 mil mortes provocadas pela Covid-19, mas ONGs e a oposição questionam os números e alegam um elevado nível de subnotificação pela falta de testes de diagnóstico.

Uma triste realidade tão perto de nós.

Transcrito Blog Percival Puggina -  Gerhard Erich Boehme


sábado, 1 de dezembro de 2018

Cenários e receita para o país crescer

Estudo do Ipea mostra que o Brasil tem potencial para crescer o PIB per capita em 50% em 12 anos. Mas será preciso aprovar muitas reformas

O país cresceu no terceiro trimestre e retomou o ponto em que estava em 2012. Esse é o tamanho do atraso provocado pelos erros de política econômica no governo Dilma. Ainda há um caminho a fazer para chegar ao ponto em que a economia estava quando despencou. Os serviços puxaram, o investimento cresceu, mas nada foi suficiente para imprimir um ritmo maior. Desde que parou de encolher, o PIB se expande em ritmo moroso. Os números do terceiro trimestre vieram mais fracos do que o esperado pelo mercado. O crescimento acelerou na comparação com o segundo trimestre, de 0,2% para 0,8%, mas o que houve foi uma recuperação dos efeitos da greve do setor de transportes, que paralisou o país no mês de maio. Quando a comparação é feita com o mesmo trimestre de 2017, a alta foi de apenas 1,3%. No acumulado em 12 meses, subiu 1,4%. No começo do ano o país achou que cresceria 3%. Não vai dar.
 
O Ipea divulgou esta semana, no meu programa na Globonews, os cenários preparados para o país nos próximos 12 anos, até 2030. Bom para quem quer ver o Brasil avançar. “Cenários de longo prazo podem ser uma ferramenta importante para avaliação de custos, benefícios e riscos de alternativas”, alertam os economistas do Ipea.  No cenário “de referência”, o país cresceria em torno de 2,2% ao ano, o que daria 30% ao longo do período. Mesmo para esse ritmo moderado, será preciso fazer a reforma da Previdência. Sem ela, alerta José Ronaldo de Souza, diretor de Macroeconomia do Instituto, as receitas serão engolidas pelos gastos com pensões e aposentadorias. No cenário “década perdida”, o país entra em desequilíbrio fiscal, e o final será o default da dívida interna, ou seja, o Tesouro não conseguirá honrar sua dívida, que é a espinha dorsal da poupança do país. 

Neste filme de terror, que o país viu no Plano Collor, todo mundo perde.  O cenário “transformador” é o mais interessante. Aumentar o crescimento é o desejável. O país cresceria 3,9% já em 2020 e, dois anos depois, 4,8%. Ao longo de 12 anos a taxa acumulada chegaria a 60%. Para isso será preciso fazer as reformas que reequilibrem as contas, mas também uma série de mudanças que aumentem a produtividade da economia. Será preciso ter um sistema tributário mais eficiente e leve, abrir a economia, investir em qualificação de pessoal, ter uma regulação mais lógica, um custo menor de capital, ambiente de negócios mais favorável. São reformas macro e micro para mudar a economia.  — É uma projeção e não uma previsão. O interessante é que temos o potencial, é possível. O país pode aumentar em 50% o PIB per capita — diz José Ronaldo.
— O Brasil só tem três caminhos: reformas, reformas e reformas. Não há um quarto caminho. Temos que resolver gargalos porque sem isso a gente não consegue crescer, gerar emprego, gerar renda para a população que demanda uma retomada depois de anos de recessão — diz a economista Ana Carla Abrão, da Oliver Wyman.

Ele diz que é preciso acrescentar na lista das tarefas a mudança do Estado, que é 40% do PIB, uma máquina inchada, que gasta muito e não presta bons serviços. Ela sugere mudar carreiras e melhorar a qualidade dos serviços públicos. Para essa e outras mudanças, será preciso desagradar os grupos de interesse:  — O Brasil é hoje um país dominado pelas corporações — disse Ana Carla.

Se não optar por reformas vigorosas, o país de qualquer maneira terá que mudar a Previdência, do contrário o teto de gastos não se sustenta. O pior cenário, de não reformar nada, é flertar com o abismo do calote. Os dois economistas se disseram até otimistas, dado que a situação chegou a tal ponto que ou o país terá o pior dos mundos ou enfrentará a lista das grandes tarefas. Uma delas é abrir a economia.  — Essa é uma agenda que ficou abandonada nas últimas décadas e se formos falar de eficiência temos que ter abertura. O país continua muito fechado. Quando se soma exportação e importação o Brasil está abaixo dos países pares — diz Ana Carla Abrão.
— A economia brasileira ainda é voltada até hoje para substituição de importação, escolha feita há várias décadas. Os países só avançam com mais competitividade — afirma José Ronaldo.

A atual equipe econômica tirou o país da recessão, mas o PIB não engrena. A futura equipe diz que fará reformas e a abertura da economia. A receita está certa. Aplicá-la é mais difícil do que pensam alguns dos que assumirão o comando em janeiro.

Blog da Miriam Leitão - O Globo
 

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Donos do Brasil

Quais são as corporações do funcionalismo que mantêm privilégios, recebem salários superiores aos do setor privado e escapam do alvo dos presidenciáveis


Os auditores fiscais da Receita Federal acabam de encerrar uma greve que se arrastava desde novembro do ano passado, com curtos períodos de interrupção. Em vez da paralisação, adotaram o sistema chamado de “meta zero” e “operação padrão”, o que significa trabalhar em ritmo mais lento do que o habitual. Eles reivindicam a regulamentação de um bônus variável por eficiência no cumprimento de metas. Ou seja: querem ser premiados pela função para a qual já são remunerados com um polpudo salário, cujo valor inicial é de 19 200 reais, sem contar um bônus mensal fixo de 3 000 reais. 

Apesar da paralisação, não perderam o emprego e receberam em dia até que uma decisão do STF autorizasse o desconto em folha dos grevistas.

O episódio ilustra de maneira exemplar o abismo do Brasil um abismo entre a esmagadora maioria da população, sujeita ao risco de desemprego e a salários mais baixos, e a minoria que desfruta a estabilidade e os privilégios do setor público. 

Dentro desse país de minoria, existe um grupo mais abastado: é o Brasil das grandes corporações do funcionalismo, cujos salários e benefícios estão muito acima da média dos recebidos pela população e que possuem voz destacada para fazer valer seus interesses, manter regalias e interditar o debate sempre que questionados.

Juízes, procuradores, deputados, senadores e auditores fiscais, entre outros, fazem parte dessa elite dentro do Estado. São os donos do poder público, num país em que a desigualdade é crescente e no qual o Estado enfrenta grave crise fiscal e está perdendo sua capacidade de cumprir suas atribuições mais primordiais, como garantir saúde, educação e segurança. O reajuste de 16,38% concedido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal aos próprios salários, que vai elevar o teto de rendimentos do funcionalismo, é outro exemplo recente desse Brasil desconectado da realidade.

Confortável - Auditores, em greve desde novembro para que tenham direito a bônus: os pagamentos continuam em dia (Sindifisco/Divulgação)

A defesa que juízes e procuradores fazem do direito ao auxílio-moradia, mesmo quando possuem imóvel na cidade onde trabalham, também é um símbolo de privilégio. A legalidade e a moralidade do benefício são questionadas num momento em que o Estado brasileiro está quebrado. A Associação dos Juízes Federais do Brasil divulgou nota em que relaciona a tentativa de acabar com o benefício a uma suposta “perseguição de poderosos” por causa da Lava-Jato. O benefício foi estendido a todos os juízes do país em decisão liminar — e, portanto, unilateral — do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, em 2014. [cuja filha, desembargadora Mariana Fux, recebe o benefício, mesmo exercendo  suas funções no TJ-RJ  e possui dois apartamentos no Leblon.]

O Congresso brasileiro também integra o grupo de privilegiados: cada deputado dispõe de 107 000 reais mensais em verba de gabinete para montar uma equipe de até 25 assessores com salário que chega a 15 000 reais. A soma do salário e das verbas é equivalente a 68 vezes o PIB per capita brasileiro; nos Estados Unidos, um deputado tem a seu dispor um dinheiro que representa 32 vezes o PIB per capita.

Conta pesada - O ministro Fux, do STF, estendeu o auxílio-moradia a todos os juízes (Tony Oliveira/Trilux/Estadão Conteúdo)

A questão é que no Brasil, em média, os salários dos servidores públicos são muito mais altos do que os praticados no mercado. O campeão da remuneração é o Poder Judiciário, que paga em média 236 000 reais por ano a seus funcionários (cerca de 19 700 reais mensais). Em seguida, estão os vencimentos de quem trabalha no Legislativo e no Ministério Público, de 216 000 reais ao ano (18 000 reais mensais) e de 205 000 reais (17 100 reais), respectivamente.

No setor privado, a média é de 26 000 reais anuais, ou pouco menos de 2 200 reais por mês. Essa discrepância salarial coloca o funcionário público na elite brasileira: em cada 100 servidores federais, 94 se enquadram na faixa da população dos 40% mais ricos do país. Isso significa que a política de remuneração do Estado transfere renda para a parcela mais rica da população, o que aprofunda a desigualdade. Os dados constam de um estudo do Banco Mundial que faz uma análise detalhada das carreiras no setor público.

O governo brasileiro costuma oferecer o dobro do valor dos salários do setor privado a trabalhadores com o mesmo nível de experiência, enquanto essa diferença fica em 30% na média internacional. Há fundamento para o fato de o serviço público pagar salários maiores, uma vez que precisa atrair profissionais mais bem qualificados. É uma lógica que se aplica às empresas privadas. Mas, além dos salários mais elevados, a esfera pública federal oferece benefícios significativos, como a estabilidade e um regime generoso de previdência. [pela enésima vez, este Blog se propõe a demonstrar, comprovando, as razões das diferenças salariais e previdenciárias (que muitos chamam de privilégios) entre servidores públicos e trabalhadores em empresas privadas  - é só clicar. Também se desejarem, escrevam questionando e responderemos com prazer e precisão.] Um economista recém-formado, por exemplo, tem um salário médio de 7 000 reais por mês no mercado financeiro, enquanto um analista do Banco Central pode receber inicialmente uma renda mensal de 16 000 reais. [importante lembrar: nada impede que o economista recém formado preste concurso para o serviço público - incluindo o Banco Central - o que atrapalha é que poucos passam.]  O salário de um advogado com experiência média (oito anos) costuma ser 7 000 reais por mês num escritório de advocacia. A Procuradoria do Ministério da Fazenda paga salário de 16 000 reais. Essa diferença é chamada de prêmio salarial. O Brasil paga o maior prêmio entre os 53 países analisados pelo Banco Mundial.

“O alarmante no Brasil não é a quantidade de cargos no setor público, mas a remuneração dos servidores”, afirma o economista-chefe do banco para o Brasil, o italiano Antonio Nucifora. De fato, na contramão do que prega o senso comum, o número de servidores públicos no Brasil é baixo se confrontado com a média dos 37 países integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 2015, o equivalente a 5,6% da população brasileira estava empregado no serviço público em todo o país, enquanto a média entre os membros da OCDE é de 10%. Mas, de forma injustificada, a conta é pesada demais para o Brasil: os gastos com o pagamento de funcionários totalizaram 284 bilhões de reais no ano passado, uma fatia que representou pouco mais de 20% de todas as despesas do governo federal.

Segundo o Banco Mundial, a massa salarial dos servidores públicos brasileiros gira em torno de 13% do PIB, quase o dobro do porcentual despendido por outros países de renda média. A origem da distorção é a Constituição de 1988, que concedeu ao Judiciário e ao Ministério Público autonomia para propor ao Congresso o próprio orçamento. Outro efeito negativo da Carta foi a indexação de salários de magistrados aos dos ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça.

O ano eleitoral deveria servir como rara oportunidade para o debate sobre o papel e o tamanho do Estado e o combate a privilégios. A situação fiscal também deveria estar em discussão: desde 2014, a União encerra o ano com gastos acima das receitas. Com o teto para os gastos, a margem de manobra para o governo será cada vez menor e obrigará a novos cortes nos investimentos e em áreas fundamentais. Mas o tema tem recebido tratamento genérico nos discursos e nos planos dos candidatos à Presidência. Pior para os brasileiros que não fazem parte da elite do funcionalismo.

Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2018, edição nº 2598


domingo, 20 de maio de 2018

Vida sem direitos em Gaza é de terríveis privações




Israel e Egito exercem pressão sobre o território para atingir o Hamas


O que posso escrever sobre Gaza é daquilo que conheço de perto. E o que conheço de perto é a vida de famílias comuns tentando sobreviver em condições terríveis de subsistência, privadas de direitos básicos fundamentais como o de ir e vir, e acesso a nutrição, saúde e segurança. Famílias com a de Ayman e Heba, que celebraram o casamento em seu restaurante israelense favorito “com a melhor cerveja” e, como todos os pais, ainda sonham — uma década depois do bloqueio a Gaza e três guerras mais tarde — em dar às três filhas futuro feliz e próspero.

Ayman e Heba trabalham dia a dia, ele para a ONU e ela vendendo bordados de porta em porta, para que as meninas cresçam saudáveis, tenham boa educação e desfrutem das mesmas oportunidades que outras crianças e jovens têm além das fronteiras controladas de Gaza — embora saibam que isso é impossível.  Gaza tem 41km de comprimento extensão menor do que a orla do Rio, da Marina da Glória ao Recreio e 10km de largura, a distância entre Ipanema e Santa Teresa. Neste território delimitado pelo Mar Mediterrâneo, Israel e Egito vivem quase dois milhões de palestinos, uma das maiores densidades populacionais do mundo. [o absurdo da divisão do território palestino, em 1948 com o apoio da ONU - e a conivência pró Israel de um brasileiro que por infelicidade presidia as Nações Unidas na ocasião - é fácil de se constatar.
Vejamos: quando da partilha,  55% do território palestino foi tomado pela ONU e passado para Israel destinado a 600.000 judeus;  0s 45% que restaram foi destinado aos verdadeiros donos, os palestinos, 1.300.000 pessoas.
Mesmo com divisão tão injusta, Israel não se satisfez e tomou pela força das armas territórios dos países vizinhos, implantou colônias  em território alheio - sendo sempre os palestinos, de forma única e exclusiva, os prejudicados.]

Originalmente ocupada pelo Egito, Gaza foi tomada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Em 2005, Israel retirou tropas e sete mil colonos do território, mas mantém o controle de tudo o que entra e sai, como material de construção, alimentos, remédios, equipamentos de saúde e famílias, como a de Ayman, que há anos tenta, sem sucesso, migrar para um lugar seguro e com melhores condições de vida.

Israel exige permissão especial a palestinos na travessia de Erez de onde podem ir para Jordânia — desde 1997, mas as restrições aumentaram quando o Hamas assumiu Gaza. Menos de 240 palestinos deixaram Gaza via Israel no primeiro semestre de 2017, ultimo dado disponível. Nestas duas décadas, o PIB per capita de Gaza caiu à metade, para US$ 1,8 mil, entre os mais baixos do mundo. A pobreza atinge 40%, segundo o Banco Mundial, apesar da ajuda da ONU a 80% das famílias.

A ONU também administra escolas, onde e quando é possível estudar. Todo dia, as meninas faziam a lição de casa sob a luz de velas porque a única usina elétrica de Gaza foi parcialmente destruída na guerra e só havia eletricidade duas horas ao dia, se tanto. No mar, há um campo de gás que, segundo a ONU, poderia fornecer energia suficiente, mas o mar de Gaza é também controlado por Israel.

Em um passeio à praia, Ayman me falava da indústria pesqueira, capaz de prover proteína (e emprego) suficiente, segundo a ONU, não fossem as restrições à pesca, limitada a uma distância de 4,8 km da costa. O limite foi ampliado em 2012, após cessar-fogo do Hamas, até que os foguetes voltaram a ser lançados contra Israel. Navios israelenses, que observávamos no mar verde transparente, não raro abrem fogo contra barcos de pesca que excedem o limite. Do céu, éramos vigiados por um zepelim. A zona de segurança da fronteira significa que as terras mais férteis de Gaza não podem mais ser cultivadas e metade da população precisa de ajuda em alimentos. Não importa quanto se dediquem aos estudos, as filhas de Ayman e Heba dificilmente mudarão isso — o desemprego entre jovens é de 66%.

Além de Israel, o Egito mantém fechada a fronteira sul. Entre outros motivos, teme se tornar refúgio para radicais do Hamas, alinhado à Irmandade Muçulmana, cujo líder, Mohamed Mursi. foi eleito, deposto e preso pela junta militar que assumiu o país, assim como seus apoiadores. No poder, o general Abdel Fattah el-Sisi limitou ainda mais a passagem pelo posto de Rafah e lançou uma ofensiva contra os túneis de contrabando da fronteira. Os EUA, que destinam US$ 1,3 bilhão anual para o Egito mesmo valor destinado ao Iraque e terceira maior fatia do orçamento americano para ajuda em segurança, depois de Afeganistão (US$ 5 bi) e de Israel (US$ 3,2 bi) — pressionam o Egito a manter o bloqueio a Gaza.

É uma situação constrangedora para egípcios que se opõem à cooperação com Israel e EUA, por entender que o bloqueio, embora defendido como meio de sufocar o Hamas, pune largamente palestinos comuns e inocentes. O bloqueio foi mantido mesmo após o Hamas entrar em acordo de reconciliação com o Fatah e entregar o controle administrativo de Gaza à Autoridade Nacional Palestina, em outubro. Estima-se em 15 mil homens a força armada do Hamas. Isso significa que há 1.885.000 civis desarmados em Gaza, pessoas como eu e você.

Quando Ayman consegue um extra, compra água de caminhão-pipa, diesel para o gerador e uns minutos de internet — única janela para um mundo que suas filhas desconhecem além das fronteiras de Gaza e a que provavelmente nunca terão acesso, se não virtual.

Adriana Carranca - O Globo