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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Abuso de autoridade - Revista Oeste

Silvio Navarro

Supremo Tribunal Federal atropela o processo legal, persegue cidadãos e esconde imagens para sustentar uma agressão que não aconteceu contra o ministro Alexandre de Moraes

 

 Alexandre de Moraes | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Há exatos cem dias, o Brasil está diante do maior caso de abuso de autoridade da história do Supremo Tribunal Federal (STF). Pela primeira vez, um juiz vai exercer também os papéis de acusador e vítima. 
O personagem central do processo kafkiano é o ministro Alexandre de Moraes.

Aos fatos: no dia 14 de julho, quando retornava ao país depois de uma palestra na Universidade de Siena, Alexandre de Moraes foi abordado por três brasileiros no saguão do Aeroporto Leonardo da Vinci, em Roma, na Itália. 
Estava acompanhado do filho, Alexandre Barci, de 27 anos — que usa óculos, e este é um detalhe crucial na trama.

Segundo o ministro,
o trio de brasileiros Roberto e Andreia Mantovani e Alex Zanatta, genro do casal, que vivem na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, no interior paulista, agrediu Alexandre Barci com um tapa no rosto. Também teriam disparado algumas hostilidades contra o magistrado: “comunista”, “bandido” e “comprado”.  
Os advogados que defendem os acusados negaram a agressão física e disseram que tudo não passou de uma discussão acalorada na entrada da sala vip.

Um vídeo, aparentemente feito pelo trio, mostra o ministro Alexandre de Moraes visivelmente irritado. Ele diz as seguintes palavras: “Vocês serão identificados”, e depois chama um deles de “bandido”. São as únicas imagens em vídeo conhecidas até agora
 
No Brasil, Moraes registrou um boletim de ocorrência na polícia. Ele diz textualmente: “Roberto Mantovani Filho gritou e, chegando perto do meu filho, Alexandre Barci de Moraes, o empurrou e deu um tapa em seus óculos”. Em seguida, algumas pessoas intervieram para cessar a confusão. A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar “crimes contra a honra”.

Desde então, o ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) disponibilizou quantos homens da Polícia Federal fossem necessários para apurar o caso. O presidente Lula chamou a família Mantovani de “animais selvagens”.  “Precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre de Moraes no Aeroporto de Roma. Um cidadão desse é um animal selvagem, não é um ser humano.”
(Lula, em 17 de julho)

Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, os Mantovani tiveram de prestar depoimento à Polícia Federal, sem a presença de advogados, sobre o entrevero. Mas não foi só: a então presidente do Supremo, Rosa Weber, determinou que a polícia fizesse uma operação emergencial de busca e apreensão dos aparelhos celulares e computadores na casa dos acusados — até hoje não devolvidos. O carro deles também foi vasculhado. O que os agentes buscavam permanece um mistério.

As imagens do circuito interno do aeroporto italiano foram solicitadas pela Polícia Federal. Um relatório com 50 páginas foi entregue no dia 19 de setembro. É assinado pelo agente Clésio Leão de Carvalho. O parecer diz que “possivelmente, por suas expressões corporais, eles podem ter ofendido, injuriado ou mesmo caluniado o ministro”. O filho poderia ter sido alvo de um “aparente tapa, com as costas da mão direita”, que fizeram seus óculos caírem no chão.

Os óculos do filho de Moraes ganharam relevância nessa história porque, para defender o ministro, as redações da imprensa tradicional ficaram escandalizadas com uma cena — que talvez nunca tenha acontecido. O jornal O Globo produziu uma espécie de “tirinha”, ou gibi, retratando um sopapo no rosto do filho do ministro — os óculos, por consequência, voaram. Foto: Reprodução O Globo/18/7/2023

A Polícia Federal tampouco preservou a identidade dos brasileiros, que tiveram a vida vasculhada e exposta pela velha mídia.  
Emissoras de televisão acamparam na calçada de sua residência, no interior paulista, ao lado de vizinhos curiosos. As expressões “bolsonaristas”, “selvagens” e “extrema direita” foram usadas à exaustão por dois dias — até que o jornal Folha de S.Paulo descobriu uma foto de Roberto Mantovani ao lado de Lula, quando este se candidatou a prefeito. Há dezenas de artigos assinados por colunistas que afirmam “estar comprovado” que houve agressão e, por pouco, uma pancadaria no Aeroporto de Roma.

É aqui que começa outro capítulo da trama hollywoodiana. 
 
Perícia proibida

Ao saber do teor do documento
, a Associação Nacional de Peritos Criminais Federais fez uma pergunta básica: por que um profissional especializado não foi designado para fazer o trabalho com rigor científico? “É preocupante que procedimentos não periciais possam ser recepcionados como se fossem ‘prova pericial’, uma vez que não atendem às premissas legais, como a imparcialidade, suspeição e não ter, obrigatoriamente, qualquer viés de confirmação, que são exigidas dos peritos oficiais de natureza criminal”, disse em nota.

A Corregedoria da Polícia Federal achou a nota desaforada e abriu um processo disciplinar contra Willy Hauffe Neto, presidente da associação dos peritos. No despacho, afirma que, como não há suspeitas sobre a integridade, adulteração ou edição das imagens, o trabalho dos peritos era desnecessário.

Você não vai acreditar nos mais novos ABSURDOS que estão acontecendo na investigação do suposto caso de agressão ao ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma.

Assista o vídeo até o final e compartilhe! pic.twitter.com/La5JhRm2oM— Deltan Dallagnol (@deltanmd) October 27, 2023


A Polizia di Stato, da Itália, também produziu um relatório. Diz o texto: “Repara-se o único contato físico digno de nota, ocorrido entre Roberto Mantovani e o filho da personalidade. Nessa circunstância, esse último, provavelmente exasperado pelas agressões verbais recebidas, estendia o membro superior esquerdo, passando bem perto da nuca do antagonista, que, ao mesmo tempo, fazia a mesma ação utilizando o braço direito, impactando levemente os óculos de Alexandre Barci de Moraes”.

O advogado Ralph Tórtima, que defende a família de Santa Bárbara d’Oeste, pediu quatro vezes acesso às imagens das câmeras de segurança
O ministro Dias Toffoli, responsável pela investigação, negou todas. 
Por que as imagens permanecem há quase quatro meses em sigilo é outro enigma. 
Por que o caso segue no Supremo Tribunal Federal tampouco faz sentido, já que o trio não detêm o chamado foro privilegiado, destinado a autoridades — ou seja, o juiz de direito seria de primeira instância.

Não para por aí. Por alguma razão inexplicável, esse inquérito da PF foi anexado aos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro, em Brasília, que tem condenado pessoas a 17 anos de cadeia — embora a confusão com Moraes tenha acontecido na Europa, seis meses depois, e não tenha nenhuma relação com a eleição no Brasil.
Nem o documento da polícia brasileira nem o documento da polícia italiana concluem que houve agressão física. 
O nome mais apropriado para o que ocorreu é “confusão”. Mas, a partir daí, começou um capítulo ainda mais absurdo.

Do gabinete de Dias Toffoli partiu uma das maiores aberrações jurídicas conhecidas no “estado democrático de direito” brasileiro.  
Toffoli nomeou Alexandre de Moraes como assistente de acusação no processo em que o próprio ministro é a vítima e será, em última instância, também juiz da causa. 
O Ministério Público Federal reagiu imediatamente e afirmou que, além de se tratar de um privilégio incompatível, nem sequer foi apresentada denúncia.  
Ou seja, Moraes vai assumir também a função da Procuradoria-Geral da República?  “Não se tem notícia de precedente de admissão de assistência à acusação na fase inquisitorial. Tal privilégio jamais foi admitido para quaisquer das autoridades acima elencadas, nem mesmo para o presidente da República”, afirmou o Ministério Público Federal em recurso contra a decisão de Toffoli

Toffoli negou o recurso do Ministério Público Federal e dobrou o sigilo das imagens. É evidente que não deve haver tolerância com agressões a qualquer pessoa, seja ela figura pública ou não. 
Mas, antes, é preciso provar que houve agressão para que sejam assegurados dois princípios republicanos básicos: igualdade e legalidade, conforme diz a Constituição.
 
Entrevista com Ralph Tórtima, advogado da família acusada de ofender o ministro Alexandre de Moraes 
 
Por Cristyan Costa
 
Quais ilegalidades o senhor avalia que foram cometidas no processo?

Quando desembarcaram no Brasil, meus clientes foram abordados pela Polícia Federal. 
Os agentes, contudo, não informaram que aquelas pessoas tinham direito a um advogado ou defensor público para ajudá-las naquele momento. 
Trata-se da primeira violação. A segunda diz respeito à divulgação, sem autorização deles, de suas imagens, nomes completos e currículos. Em virtude dessa publicidade, tiveram a vida devassada pela imprensa e se tornaram conhecidos pelo Brasil inteiro. 
A terceira tem a ver com a inclusão do caso no inquérito que apura os protestos do 8 de janeiro. Este último fato é inaceitável, porque o ocorrido entre meus clientes e Moraes se deu em julho deste ano — e na Itália. Portanto, nada a ver com as manifestações. 
Até o Ministério Público interpelou isso, mas, até agora, não houve resposta judicial.

Qual é a estratégia da defesa daqui para a frente?
Esperamos a resposta da Justiça para nos ceder as imagens. Assim, conseguiremos fazer um trabalho mais técnico. O próprio Ministério Público disse não haver viabilidade nos moldes propostos pelo ministro Toffoli, nos quais pode-se apenas ver o vídeo na sede do STF. Quando esse material chegou ao Brasil, deveria ter passado por uma série de etapas. A primeira prevê submetê-lo, lacrado, a uma perícia, que vai abri-lo. E o processo tem de ser fotografado. Nada disso ocorreu. Entregaram o material a um agente da PF, que fez uma seleção com base num critério que desconheço. Esse profissional desprezou trechos importantes e montou um contexto desfavorável ao meu cliente. A própria associação dos peritos queixou-se. Sendo assim, não podemos descartar a possibilidade de todas as provas terem sido maculadas a ponto de ficarem inválidas.
 
Continue lendo - Revista OESTE


Leia também “As imagens imaginárias”
 
Coluna Silvio Navarro, Revista Oeste
 

sexta-feira, 10 de março de 2023

Cortina de fumaça - Revista Oeste

Silvio Navarro

Para não noticiar o fiasco de Lula, a velha mídia tira o foco de pautas centrais e finge que o governo Bolsonaro ainda não acabou

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons/Reprodução 

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons/Reprodução  
 
No último fim de semana, o pagador de impostos que abasteceu seu carro nas grandes cidades se deparou com mais uma triste notícia neste ano: o preço da gasolina no varejo disparou
No interior do país, os produtores rurais voltaram a enfrentar o pesadelo das invasões de fazendas por grupos de sem-terra, desde o anunciado “Carnaval vermelho”. 
A economia dá sinais de que a engrenagem emperrou antes do previsto. Em Brasília, ao menos dois ministros cambaleiam sob suspeitas antes de o governo completar os cem primeiros dias.

Não foi esse o retrato que o mesmo brasileiro encontrou nas manchetes da imprensa tradicional. Um dos destaques, por exemplo, era a fake news do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segundo a qual o Produto Interno Bruto (PIB) “cresceu nada” no ano passado — o avanço foi de 2,9%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Não houve repúdio de nenhuma “agência de checagem”. A imprensa destacou a mentira. 

Reportagem da CNN, de 2/3/23 | Foto: Reprodução

Com o aval do consórcio dessa velha mídia, Lula tem executado diariamente o que anunciou em fevereiro, durante a posse de Aloizio Mercadante no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social): “As narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais do que verdades ditas muitas vezes”, disse.

Na ocasião, ele tentava reescrever outra parte da história: o banco foi pilhado nos governos do PT e repassou bilhões para financiar obras em governos e ditaduras de esquerda o caso mais simbólico foi o calote de Cuba no Porto de Mariel, cuja dívida tem como garantia caixas de charutos. “Este banco foi vítima de difamação muito grave durante o último processo eleitoral”, afirmou Lula. “Vivemos nos últimos quatro anos um processo de mentira tresloucada.”

Não é só Lula que mantém a fixação em Jair Bolsonaro, citado em um a cada três discursos ou entrevistas. As redações do consórcio também. Desde sábado 4, nenhum assunto ocupa tanto espaço na mídia quanto as joias apreendidas pela Receita Federal, em outubro de 2021. As joias foram um presente do governo da Arábia Saudita à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, depois de uma visita ao Oriente Médio. Ela não chegou a recebê-las, porque as caixas com o material foram retidas pela alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

O governo brasileiro argumenta que as joias, com valor estimado em R$ 16 milhões, seriam destinadas ao acervo da Presidência da República, o que tradicionalmente acontece ao longo dos mandatos presidenciais. O acervo documental privado dos presidentes é regulamentado pela Lei 8.394, de 1991, no governo Fernando Collor de Mello, e pelo Decreto 4.344, de 2002, na gestão Fernando Henrique Cardoso. Há ainda um acórdão de 2016 (número 2.255) do Tribunal de Contas da União (TCU).

Dos mesmos criadores do “despiora” da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a “reoneração” dos combustíveis e as “viroses” carnavalescas — a covid sumiu

O acervo presidencial, aliás, já foi alvo de apreensão, em 2016, pela Polícia Federal.  
Os agentes fizeram buscas sobre 133 itens valiosos numa sala-cofre da agência do Banco do Brasil, em São Paulo, recebidos por Lula. 
As caixas estavam guardadas havia cinco anos e continham relógios, espadas, moedas e peças decorativas. 

No episódio das joias para Michelle, a mídia tradicional diz que há indícios de descaminho — crime tributário similar ao contrabando, mas quando envolve produtos legais. Sem nenhuma prova, o ministro Paulo Pimenta (Secom) disse que seriam propina pela privatização de uma refinaria da Petrobras por um fundo árabe. Outro ministro, Flávio Dino (Justiça), colocou a Polícia Federal para investigar.

É evidente que, se houve crime de descaminho, os responsáveis devem ser punidos, como qualquer cidadão que opta pela fila de “nada a declarar” para driblar a fiscalização nos desembarques internacionais. Mas não deve ser descartado que o caso pode configurar um simples entrave alfandegário, passível de ser solucionado burocraticamente, já que o destino do material seria Brasília.

A resposta oficial de Bolsonaro, em nota apresentada pelo advogado Frederico Wassef, foi a seguinte: “O presidente, agindo dentro da lei, declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo, recebidos em viagens, não existindo qualquer irregularidade em suas condutas. Estão tirando certas informações de contexto, gerando mal-entendido e confusão para o público. Como jamais existiu qualquer escândalo ou um único caso de corrupção durante os quatro anos de governo, buscam hoje, a qualquer custo, criar diversas narrativas, que não correspondem à verdade, em perseguição política ao presidente”.

O fato é que caixas de joias para o casal Bolsonaro retidas pela Receita Federal serviram de munição para centenas de manchetes durante uma semana. Para os analistas políticos do consórcio de mídia, nem a economia patinando, o terror organizado pelo MST em fazendas produtivas, como as da empresa Suzano, ou ministros em páginas policiais são mais relevantes para o país do que o batizado “escândalo das joias” — ou “joiasgate”. Um colunista chegou a comparar o caso com o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia. 

No caso dos cartões, um dado relevante: Bolsonaro desembolsou R$ 32 milhões durante o mandato (valores corrigidos pela inflação)
No primeiro governo, Lula gastou R$ 59 milhões. A farra com os cartões derrubou dois ministros do petista em 2008. Os seguranças dos familiares e do próprio presidente gastavam sem rédeas.
O fato de Lula ter gastado quase o dobro, contudo, não importa para a velha imprensa, que tratou o pagamento de R$ 10 mil em quatro anos numa padaria carioca como escândalo; ou os R$ 8 mil numa sorveteria. O jornal O Estado de S. Paulo conseguiu encontrar até notas ficais de 6 quilos de picanha pagos com o cartão.

A legislação diz que o uso do cartão corporativo deve ser com despesas eventuais, por exemplo, em viagens, que exigem pagamento à vista — os cartões substituíram os cheques. No caso do presidente e de alguns órgãos de segurança e inteligência, as despesas podem ser sigilosas.

 

A disparidade entre a realidade do país e a cobertura dos primeiros meses do governo é gritante, conforme o quadro acima. O Lula 3, aliás, também inaugurou um novo capítulo no Manual de Redação da mídia. Dos mesmos criadores do “despiora” da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a “reoneração” dos combustíveis e as “viroses” carnavalescas — a covid sumiu. 

Mas se aplica também às miudezas do noticiário. Na quarta-feira 8, por exemplo, a informação de que o filho caçula de Bolsonaro, Jair Renan, vai trabalhar num gabinete no Senado ofuscou a declaração grave do ministro Luiz Marinho (Trabalho) contra a empresa Uber, que emprega milhares de pessoas. “Se a Uber e as outras plataformas não gostarem de um processo de formalização, eu sinto muito”, disse. “Tem de ter regras, controle para não ter excesso de jornada.”

Sindicatos
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho - 
 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Não foi a primeira vez. No mês passado, ele teve a brilhante ideia de sugerir que os Correios substituíssem o gigante do transporte por aplicativos. “Posso chamar os Correios, que são uma empresa de logística, e dizer para criar um aplicativo e substituir a Uber”, declarou. “Aplicativo se tem aos montes no mercado. Não queremos regular lá no mínimo detalhe. Ninguém gosta de correr muito risco, especialmente os capitalistas brasileiros.”

Em 2021, quando se recuperava dos lockdowns da pandemia, a Uber divulgou um relatório no qual dizia gerar R$ 36 bilhões de valor agregado para a economia brasileira — soma do dinheiro repassado aos motoristas e o impacto na produção e no mercado de carros, oficinas e seguradoras. A empresa tem mais de 1 milhão de motoristas cadastrados.

Presos políticos
Nenhum exemplo é tão simbólico da cortina de fumaça — ou criação de narrativas, segundo Lula como os mais de 600 presos que permanecem em celas da Papuda (homens) ou da Colmeia (feminino), em Brasília, depois dos atos de 8 de janeiro. 
Até hoje, as autoridades que investigam o lamentável vandalismo contra prédios públicos não conseguiram tipificar com exatidão nem individualizar as condutas dos presos.
 
O texto traz perguntas há dois meses sem respostas: como justificar a prisão em flagrante dos mais de 1,3 mil homens que a Polícia Federal capturou nas cercanias do quartel?  
Por que centenas de pessoas seguem presas injustamente? 
Pior: os nomes e muitos dos rostos foram estampados pela mídia como terroristas e golpistas. 
Famílias em cidades no interior do país foram expostas à humilhação do uso de tornozeleiras eletrônicas. 
São vidas estraçalhadas num processo kafkiano.
 
Paralelamente, um grupo de parlamentares tenta instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o antes e o depois da depredação na Praça dos Três Poderes.  
Não houve apoio em nenhum editorial dos grandes jornais. 
Pelo contrário, a maioria dos articulistas argumentou que se trata de uma artimanha bolsonarista para desestabilizar o início do governo Lula.

Se o petista quiser, o Lula 3 nem precisa começar. O consórcio da imprensa prefere continuar acompanhando os passos de Jair Bolsonaro.

Leia também “Vidas suspensas”

Clique aqui, para acesso a dados atualizados - incluindo  confirmação do retorno da elevação da inflação sob Lula 3.

 Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Liberdade perseguida - Revista Oeste

Redação Oeste 

Alexandre de Moraes mantém superpoderes do TSE depois das eleições, continua a perseguir conservadores e dá sinais de que não vai parar 

Liberdade retida: o economista Marcos Cintra teve sua conta no Twitter suspensa | Foto: Reprodução/Twitter

 Liberdade retida: o economista Marcos Cintra teve sua conta no Twitter suspensa | Foto: Reprodução/Twitter 
 
No dia 20 de outubro, dez dias antes do segundo turno das eleições, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, aprovou uma resolução que concedeu poder imperial à Corte até o resultado das urnas.  
A partir daquele dia, o tribunal passou a decidir o que pode ou não ser publicado nas redes sociais, sob pena de remoção de conteúdo sem direito à defesa e envio do caso à Polícia Federal. A data marcou o retorno da censura ao país, extinta desde o fim do regime militar na década de 1980.
 
 
 Edição 138 
 

Durante a votação, chamou a atenção o voto envergonhado da ministra Cármen Lúcia, que até então era lembrada pela célebre frase “Cala a boca já morreu”. Ela aceitou a aplicação da censura proposta por Alexandre de Moraes, mas reconheceu que aquele poderia ser um passo no escuro.“Este é um caso específico e que estamos na iminência do segundo turno das eleições.” disse. “A proposta de inibição é até o dia 31 de outubro para que não haja comprometimento da higidez, da segurança e da escolha do eleitor. Mas se, de alguma forma, isso se comprovar, se desdobrando para uma censura, deve ser imediatamente reformulada essa decisão.”

As eleições terminaram na noite do dia 31 de outubro. Mas a censura imposta pela caneta de Alexandre de Moraes se intensificou. Nas últimas duas semanas, ao menos sete deputados aliados do presidente Jair Bolsonaro, jornalistas e influenciadores digitais tiveram suas contas nas redes sociais suspensas.

Foto: Reprodução/Folha de S. Paulo
Um dos casos mais esdrúxulos foi o do economista Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal e adversário do presidente nas eleições — foi candidato a vice na chapa de Soraya Thronicke. 
Cintra perdeu a conta no Twitter e teve de prestar um depoimento à Polícia Federal.
 
Qual o crime cometido? Cintra fez perguntas sobre o fato de algumas urnas em Roraima e São Paulo não registrarem nenhum voto para Bolsonaro no segundo turno. 
 Como ph.D. em Harvard e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirmou que o TSE devia “explicações convincentes”. 
Não questionou a legitimidade do pleito nem insuflou manifestantes a protestarem contra o placar das eleições.
Processo kafkiano
As decisões monocráticas de Moraes são sigilosas. Ou seja, os censurados são submetidos a um processo kafkiano não sabem do que estão sendo acusados, muito menos o que devem fazer para se livrar do processo.  
A única comunicação é enviada pelas plataformas, informando que as contas foram “retidas” por ordem do TSE. “Nós não podemos fornecer informações adicionais sobre o processo, nem dar conselho legal, mas você pode entrar em contato com um advogado para esse fim”, diz o Twitter.

Ele simplesmente fez um questionamento legítimo”, observou Roberto Delmanto Junior, advogado de Cintra. “Qualquer cidadão tem o direito de fazer uma pergunta às autoridades públicas. Ele fez uma indagação ao TSE com base nos próprios dados fornecidos pela plataforma do tribunal. Estou absolutamente convencido de que não houve crime algum. O ministro Alexandre de Moraes justifica sua decisão dizendo que teria havido uma agressão ao TSE e que isso pode configurar crime contra o Estado Democrático de Direito e crime eleitoral. Mas isso não existe, até porque a eleição já tinha acabado.”

O argumento de Moraes é que há um movimento orquestrado por trás das manifestações populares que se espalharam desde o resultado das eleições. Ele classificou os protestos em frente a quartéis do Exército por todo o país como antidemocráticos o que recai na esfera da aberração jurídica que se transformou o inquérito perpétuo das fake news no Supremo Tribunal Federal.

Contudo, como nem Alexandre de Moraes nem os serviços de Inteligência das polícias (Civil, Militar e Rodoviária) conseguiram identificar líderes nas ruas, a opção foi calar perfis de quem comenta o assunto nas redes sociais. A regra é essa: quem questionar o processo eleitoral ou reconhecer legitimidade nos protestos em quartéis será tratado como criminoso.

“Aqueles que criminosamente não estão aceitando o resultado das eleições, aqueles que criminosamente estão praticando atos antidemocráticos serão tratados como criminosos”, disse Moraes, na semana passada

Nesta sexta-feira, 11, os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica divulgaram uma nota pública na qual defendem a garantia de manifestações pacíficas e condenam “restrições a direitos por parte de agentes públicos” e “excessos cometidos” em atos pelo País “que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública”.
 O documento, direcionado “às instituições e ao povo brasileiro”, é um claro recado ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.

Sem citar nomes, a carta afirma que o papel das Forças Armadas é essencialmente assegurar o que a Constituição prevê, incluindo liberdade de pensamento, de reunião e o direito de ir e vir. Sobre o Legislativo, o texto diz que a Casa do Povo é o destinatário natural dos anseios e pleitos da população, “em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade”. [os atos são pacíficos = não colocam em risco a segurança pública nem impedem a circulação normal = alguns dos atos são realizados às margens de rodovias e em áreas públicas, não impedindo a circulação normal.]

Reações contra a mordaça
O Congresso Nacional, contudo, nunca foi tão covarde, permitindo em silêncio a perseguição e prisão de deputados. Diante do silêncio cúmplice do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), alguns parlamentares pressionam pela votação do Projeto de Lei 371/2022, que pode sustar os superpoderes do TSE. A articulação é liderada pelo senador gaúcho Lasier Martins (Podemos).

“Perduram no Brasil situações de notória censura de vários tipos, seja nas postagens, seja em perfis de pessoas, postagens que vêm sendo bloqueadas. Há um clima de intimidação, ameaça e medo. Perduram os riscos de punições pela autoridade que figura, no Brasil, hoje, como se fosse um imperador: o ministro Alexandre de Moraes” (Lasier Martins)

Martins é autor de um dos pedidos de impeachment de Alexandre de Moraes, que têm sempre o mesmo destino: a gaveta do gabinete de Pacheco.

No plenário do Supremo, a única voz dissonante até agora foi a do ministro André Mendonça, o mais novo integrante da Corte. “O papel de todos nós é de serenidade, de respeitar, de um lado, as manifestações pacíficas, e ao mesmo tempo buscar gerar uma pacificação no ambiente nacional que nos ajude a se desenvolver e olhar para o futuro numa boa perspectiva”, disse o ministro, que reconheceu como legítimos os protestos contra Lula.

O vice-presidente Hamilton Mourão, senador eleito, também reagiu na terça-feira 8. “Os patriotas resistem com coragem face ao ódio que faz com que a censura seja usada como arma covarde para buscar ameaçar o livre debate e os questionamentos democráticos.”

Consórcio aplaude a censura
Não é só para Alexandre de Moraes que a eleição não acabou. O consórcio da imprensa tem aplaudido a censura imposta a conservadores e liberais. Os Pravdas brasileiros tratam como propagador de fake news qualquer um que publique informações que contradizem as suas verdades. [os integrantes do tal consórcio desonram os Pravdas, quando muito merecem ser chamados de 'granma' - jornal oficial cubano, aguardado com ansiedade pelos cubanos, não pelo que contém e sim por substituit o papel higiênico - escasso na ilha.]  Numa nova modalidade do bizarro “despiora” e das manchetes adversativas, agora os títulos são multiadjetivados: “atos antidemocráticos golpistas de bolsonaristas”.
 
No portal UOL, por exemplo, é possível encontrar, em média, ao menos dez textos diários com ataques ao presidente, responsabilizando a equipe do ministro Paulo Guedes por um desastre econômico que pode ocorrer no governo Lula. Até o “Orçamento secreto”, criticado pela imprensa durante toda a campanha, foi rebatizado de “emendas de relator” imediatamente após o resultado das urnas
Outra novidade é o encantamento do consórcio com a criação de um ministério exclusivo para os “povos originários” leia-se índios. E com a escolha de nomes como o líder sem-teto Guilherme Boulos e o ex-terrorista Franklin Martins para a equipe de transição.

Foto: Reprodução/UOL

 

Foto: Reprodução/UOL

Outro retrato da falta de conexão de Brasília com as ruas ocorre nas Casas Legislativas. Na Câmara, o deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), lulista de primeira viagem, decidiu homenagear Alexandre de Moraes. Mesmo sob forte protesto de colegas, aprovou um prêmio pela gestão no TSE.

A poucos quilômetros do Congresso, enquanto mais de cem caminhões chegavam a Brasília para ampliar a vigília de manifestantes, o petista Chico Vigilante, líder do sindicato da categoria, [Chico vigilante, vulgo chico gambiarra, pelo vício de se valer de gambiarras para consumir energia sem pagar nada à concessionário - na epoca a CEB; Pergunta-se: o busto proposto pelo deputado ocioso será ilumina com energia paga pelo deputado, paga por nós - contribuintes -  ou via gambiarra?] propôs na Câmara Distrital a colocação de um busto de Alexandre de Moraes na capital federal. “Ele merece um busto em cada praça, em cada recanto deste país, em função da coragem cívica que ele está tendo”, disse. É provável que Alexandre de Moraes não vá parar. Continuará a agir fora da lei.

Leia também “A direita está aí”

Redação - Revista Oeste