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sexta-feira, 19 de julho de 2019

"Por que essa pressão em cima de um filho meu?", pergunta Bolsonaro. E eu respondo! - RODRIGO CONSTANTINO


“Por que essa pressão em cima de um filho meu? Ele é competente ou não é competente? Dentro do quadro das indicações políticas, vários países fazem isso. E é legal fazer no Brasil também”, declarou ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília. “Tem algum impedimento? Não tem impedimento. Atende o interesse publico. Qual o grande papel do embaixador? Não é o bom relacionamento com o chefe de estado daquele outro país? Atende isso? Atende. É simples o negócio”, completou.


 
                                             Eduardo Bolsonaro (Reprodução)

Bolsonaro citou, ainda, o caso do ex-deputado federal Tilden Santiago (PT-MG), que foi embaixador em Cuba quando não tinha sido eleito para um cargo público. “O Tilden Santiago não foi reeleito em 2002, foi ser embaixador em Cuba, ninguém falou nada”, argumentou.  E lá está o presidente usando o argumentum ad petistum, a nova moda do bolsonarismo. Ao se comparar sempre com o PT, o governo pretende nivelar por muito baixo as expectativas. Se o PT fez, então por que ele não poderia? Sendo que o presidente deixou de lado um “detalhe”: Tilden não era filho de Lula. E sim, vários criticaram a escolha na época, mas veja o destino: Cuba!                                                                                                                                          No caso atual estamos falando da embaixada mais importante, a americana. E além do parentesco com o presidente, Eduardo não tem experiência nisso, sequer fala inglês direito, e acabou de completar 35 anos, a idade mínima para o cargo. Tudo soa ruim, inadequado, favoritismo dinástico. Bolsonaro acha que é bem simples: se dar bem com o governante do outro país. Não! Uma embaixada não precisa apenas disso. É algo bem mais complexo, que envolve relacionamento com vários estados, com vários empresários, com o mundo dos negócios e da geopolítica, que exigem determinado perfil diplomático que Eduardo passou longe de possuir. William Waack comentou sobre o caso:  “Ao se empenhar em colocar o filho Eduardo como embaixador do Brasil em Washington, o presidente Jair Bolsonaro decidiu ignorar um dos mais antigos princípios nas relações entre Estados. É o princípio segundo o qual países não têm amigos, têm interesses. […] Tomado no seu conjunto, o campo das relações internacionais é, por definição, o campo da impessoalidade. Os Estados Unidos não são de Trump, nem o Brasil é de Bolsonaro.”


[Conveniente lembrar: O Presidente da República fez a indicação - competência que a Constituição Federal lhe atribui e o indicada preenche os requisitos objetivos exigidos;
- cabe agora, ao Senado Federal, cumprindo mandamento constitucional, analisar os demais requisitos, sabatinar e votar em Plenário se aceita ou rejeita;                                                                                            - - -ocorrendo a aceitação, assunto encerrado;
- Ou no Brasil os adversários do Presidente da República possuem o poder de pautar o Poder Executivo e o Senado da República?
- caso o indicado seja rejeitado, o assunto também se encerra.]

Bruno Garschagen também comentou, lembrando que a eventual aprovação no Senado pode custar caro: “Eu acho essa escolha um erro do Bolsonaro, pelo fato do Eduardo ser filho dele. Poderia ter todas as credenciais, poderia ser um diplomata de carreira. Mas o fato de ser filho é um elemento que, na minha opinião, pesa contra essa indicação. No Senado, talvez seja a sabatina mais aguardada desde o início da República. Vai atrair muita atenção. Alguns senadores vão aproveitar para tentar negociar alguma coisa com o Governo”.  Mas os bolsonaristas querem que todos achem normal um pai indicar o filho para um cargo desses, sem a devida experiência e com um currículo totalmente aquém do necessário, só porque ele é “amigo” de Trump. E ainda teve gente que acreditou que, em contrapartida, o presidente americano indicaria seu filho Eric para a embaixada americana no Brasil! É uma turma engraçada, temos de admitir.

Enquanto isso… em meio às articulações para sua indicação como embaixador do Brasil nos EUA, Eduardo Bolsonaro viajou para a Indonésia, informa Igor Gadelha na Crusoé. O deputado aproveitará o recesso parlamentar para surfar no país asiático. E os deputados do PSL querem que seu irmão Flávio seja um dos presentes na sabatina do Senado, vejam que coisa mais republicana!  Estamos vendo bem diante de nossos olhos o que significa a tal “nova era”, meus caros. A militância fica nas redes sociais xingando todo crítico, patrulhando até piada de humorista em defesa do “seu mito”, enquanto o filho vai curtir o longo recesso parlamentar na Indonésia, preparando-se para morar na mansão luxuosa em Washington e ganhar R$ 70 mil por mês, para tirar fotos com Trump e ver se aprende de uma vez a língua de Shakespeare.

Rodrigo da Silva, do Spotniks, resumiu bem a palhaçada: “Eduardo Bolsonaro na embaixada dos EUA não é defesa do Ocidente, preservação das instituições, manutenção dos princípios judaicos cristãos. É o exato oposto disso: é populismo, degradação institucional, nepotismo. Quem não entendeu isso até aqui não sabe o que é conservadorismo”.   E vale acrescentar: o pilar básico do conservadorismo é o ceticismo com os políticos. Ou seja, bajular políticos é tudo, menos atitude de conservador que se preza!


O presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou, nesta quinta-feira (18), as criticas que vem recebendo pela indicação de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Ele ressaltou a “competência” de Eduardo, que tem “bom relacionamento” com o atual presidente norte-americano, Donald Trump, e questionou a “pressão” sobre o assunto.



Blog / Rodrigo Constantino - Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

domingo, 7 de abril de 2019

Lula e Bolsonaro em Shakespeare

Temer pode ser comparado, segundo Gustavo Franco, a Bolingbroke, o usurpador em ‘Ricardo II’, de Shakespeare

O economista Gustavo Franco, especialista em Shakespeare, considera que os personagens que compõem o universo da dramaturgia do chamando “bardo de Avon” refletem a natureza humana com incrível atualidade. Gosta, por isso, de fazer paralelos entre nossos políticos e esses personagens, e, em parceria com o advogado Jose Roberto Castro Neves, outro “bardólatro” fervoroso, fez uma apresentação para os candidatos do Partido Novo, do qual é um dos fundadores, inserindo os personagens de Shakespeare na nossa época.

Falstaff, personagem de várias peças de Shakespeare, que considera um dos mais populares e interessantes personagens do teatro elisabetano, foi descrito como “Simpático cachaceiro, oportunista pândego e covarde espirituoso, Falstaff é o tipo mais macunaímico de toda a galeria shakespeariana; nenhum personagem foi mais carismático, cometeu gafes e pronunciou tantos ditos espirituosos próprios de um humor de taverna, que se tornou sua marca”.

Franco destaca como “clássicas” suas observações sobre a desnecessidade de lutar em nome da honra, e sob qualquer pretexto, bem como as justificativas à meia-boca para crimes flagrantes, assaltos à mão armada inclusive. Falstaff tornou-se um personagem gigantesco, destaca Gustavo Franco, contrariamente a todos os prognósticos. “Sempre retratado como gordo e barbudo, de um humor bonachão e etílico, não é preciso especular um segundo sobre onde Falstaff reencarnou no Brasil contemporâneo”, ironiza Franco. A própria Elisabeth I mandou o bardo misturar Falstaff com as comadres de Windsor, para idiotizá-lo através de uma paixão.

“Esperta Elisabeth”, exclama Franco, para explicar: “Incomodada com esta entidade meio carnavalesca avacalhando a rotina dos reis com quem conviveu, ela percebeu que Falstaff é o verdadeiro herói de “Henrique IV” aos olhos do público, pois é quem mais se parece com ele, e que se as coisas fossem se decidir por eleições gerais — um homem (ou mulher), um voto — Falstaff ganharia todas”. Lula, como disse a falecida Barbara Heliodora, talvez a mais notável especialista em Shakespeare no Brasil, “é um tipo de personalidade que Shakespeare não concebia chegando ao poder na época”. Gustavo Franco compara Fernando Haddad a “Henrique VI”, coroado rei da Inglaterra aos 8 anos devido à morte do pai, e também rei de França, mas nunca aceito pela nobreza francesa, não sendo reconhecido oficialmente como tal.

Para Gustavo Franco, Lula não é Lear, como afirmou Marina Silva em um texto. Mas ele acha que Marina escreveu sobre Lear apenas para se vestir de Cordélia, a terceira filha, a não bajuladora, e, por isso mesmo, banida em benefício das duas outras, bem mais ambiciosas, Goneril e Regan, que seriam Dilma e Marta. Quando Lear rejeita Cordélia, e decreta seu banimento — ou a demite do Ministério do Meio Ambiente —, segundo Marina, “não por acaso desmorona seu mundo. O que antes era tão bem definido passa a ser ambivalente. Ele só existe no mundo daqueles que o aceitam e o amam tal como é”. Tornou-se merecedor da reprimenda feita por meio das palavras do bobo: “Tu não deverias ter ficado velho antes de ter ficado sábio”.

Lear é um belo retrato da decadência de um rei que se ilude com a sensação de que anda sobre as águas, comenta Gustavo Franco. Ambos personagens de Hamlet, o tagarela Polônio lembra a Franco, com sua sabedoria caseira, o ex-ministro Guido Mantega, e Laertes, “ se torna uma espécie de Ciro Gomes, movido unicamente pelo ódio imerecido a Hamlet”. Ciro tem muito também de Coriolano, o brilhante general que se voltou contra Roma, depois de preterido. Gustavo Franco compara José Dirceu a “uma espécie de Macbeth interrompido e sem remorsos”. Em “Ricardo II”, o que o bardo exibe, segundo Franco, é a dessacralização da Presidência, “digo, da Coroa”.

Ricardo II vê-se reduzido à condição de cidadão comum, fenômeno extraordinário para a época, um risco institucional sem tamanho: um rei legítimo pode ser removido se for suficientemente corrupto ou incompetente, lembrando Collor e Dilma. Temer pode ser comparado, segundo Gustavo Franco, a Bolingbroke, o usurpador em “Ricardo II”. Angelo, um puritano hipócrita em “Medida por medida”, assediando a freira Isabela para não executar seu irmão, lembra Bolsonaro. Petruchio em “A megera domada”, tentando controlar Catarina, “brusca, irritada e voluntariosa”e, finalmente, domando-a com brutalidade, refere-se ao machismo atribuído a Bolsonaro.

A peça finaliza com uma admissão de inferioridade da megera subjugada: “[...] O mesmo dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as graças de seu amo e amante?”
 
Merval Pereira - O Globo
 

segunda-feira, 11 de março de 2019

Quem governa melhor: Sancho Pança ou Dom Quixote?

A história se passa na Espanha do século XVI e os heróis parecem ter errado de século. Dom Quixote não realiza seus sonhos, a não ser em sonhos outra vez


Dom Quixote e Sancho Pança encantam leitores há mais de quatro séculos. O livro de Miguel de Cervantes foi eleito o melhor romance do mundo nos últimos 400 anos. A votação deu-se na Noruega, em 2002, e o júri foi composto por 100 respeitados autores de 54 países. Dom Quixote obteve 50% a mais de votos do que o segundo colocado, Em busca do tempo perdido. A pesquisa, realizada em 2002, integrou uma campanha dos editores noruegueses para incentivar a leitura dos clássicos diante das atrações da televisão, de vídeos e de jogos de computador.

Dez escritores tiveram mais do que um livro de sua autoria na lista, como foi o caso dos russos Leon Tolstói e Fiódor Dostoiéviski, do judeu-checo Franz Kafka, dos britânicos William Shakespeare e Virgínia Woolf, do alemão Thomas Mann, dos franceses Marcel Proust e Gustave Flaubert e do colombiano Gabriel García Márquez. Do total dos eleitos, 75% eram europeus, 50% foram escritos no século XX e 10% foram de autoria feminina. Os motivos para o sucesso multissecular de Dom Quixote são muitos, mas um dos principais é a corda bamba em que razão e loucura dialogam ao longo do livro por meio de curiosas proposições e tramas bem engendradas, temperadas pela sátira aos romances de cavalaria, em cartaz até o século anterior e que então desabaram para o terreno do deboche e do riso.

Dom Quixote enlouquece de tanto ler aqueles romances. E vive alucinado, em tudo contrariando a sabedoria popular do camponês que entretanto aceitou ser seu escudeiro porque tem o sonho de tornar-se governador de uma ilha. Quer dizer, os dois são alucinados, cada um a seu modo.  A história se passa na Espanha do século XVI e os heróis parecem ter errado de século. Dom Quixote não realiza seus sonhos, a não ser em sonhos outra vez. Mas Sancho Pança torna-se governador perpétuo de uma ilha de mil habitantes. Deveria ser uma brincadeira dos senhores locais, um duque e uma duquesa, mas os habitantes são mantidos na ignorância disso justamente para que Sancho Pança seja mais convenientemente enganado.
E o que acontece? O camponês rude e de modos simples governa com sabedoria e bom senso, resolvendo vários problemas, numa época em que o Legislativo, o Judiciário e o Executivo são poderes na mão de um homem só.

Seu governo dura dez dias. Seus atos, alguns dos quais muito rudes, são apoiados pelo povo. Muito satisfeito por ter realizado o sonho que o tirou da placidez e da rotina de seus dias na roça, Sancho escreve para a mulher Teresa Pança contando as boas notícias. Escreve é modo de dizer, porque o governador é analfabeto. Ele manda escrever…  Tudo vai bem, mas de repente rebenta uma guerra. Tal como sua investidura no governo, também a guerra é falsa. Sancho, então, toma uma decisão muito sábia, como, aliás, foram as anteriores para resolver problemas de assédio sexual e calote de dívidas. Ele reconhece que não saberá liderar seu povo numa guerra e renuncia.  Sua renúncia não é como a de Jânio Quadros, num simples bilhetinho. Ao contrário, faz um discurso dizendo que cada um deve fazer aquilo que sabe e não ambicionar o que não sabe fazer.

E como ele reconhece que não sabe governar, despede-se do duque e da duquesa com uma grandeza e um espírito público extraordinários. Diz ele em sua despedida: “Cheguei a esse governo por vossa grandeza, sem nenhum merecimento. Entrei pobre e pobre saio. Nada ganhei, ao contrário dos governadores de outras regiões. Enfrentei os inimigos com coragem e os venci pelo valor do meu braço. Reconheço que governar é uma carga muito grande para mim. Volto a servir a Dom Quixote”.
Fica demonstrado nas entrelinhas da renúncia e da despedida de Sancho que governar é naquela época um ofício da aristocracia que pessoas da condição de Sancho Pança não sabem exercer.
Quatro séculos depois, a sabedoria de um homem simples como Sancho Pança ainda é muito rara.

Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
http://portal.estacio.br/instituto-da-palavra