O embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, cancelou sua
participação em evento que reuniu acadêmicos em Paris ao descobrir que a
vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, seria homenageada. Na
ocasião, a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo (Partido
Socialista), comunicaria sobre a inauguração de um jardim com o nome da
parlamentar brasileira.
A informação, dada pelo colunista Jamil Chade, do UOL, e confirmada
por ÉPOCA, consta em telegramas enviados pelo diplomata ao Itamaraty, em
Brasília. As mensagens integram 17 documentos fornecidos pelo
Ministério das Relações Exteriores (MRE) após requerimento feito pela
bancada do PSOL na Câmara. O partido solicitou acesso a comunicações
internas referentes a possíveis orientações de comportamento a seus
postos no exterior em relação às investigações da morte de Marielle.
Serra informou o ministério, em agosto do ano passado, sobre a
ocorrência de um congresso da Associação de Brasilianistas na Europa
(ABRE) entre os dias 18 e 21 de setembro. O evento teria a presença de
cerca de 540 professores e estudiosos brasileiros residentes no
continente europeu e seria realizado em local cedido pela prefeitura.
No
telegrama, o embaixador disse que
"após a palestra final da
conferência, deverá ser dada a palavra à prefeita para 'prestar
homenagem à brasileira Marielle Franco'" e que, na ocasião, ela
"tornará
pública a localização de jardim da capital francesa que receberá
oficialmente o nome da vereadora brasileira".
Esses foram os
motivos alegados para o boicote ao evento, conforme mostram as
mensagens.
"Ante o exposto, tomei a iniciativa de cancelar minha
participação no referido evento", finalizou. Questionado sobre a
participação na inauguração do jardim, o Itamaraty afirmou que a
embaixada não foi contatada ou convidada para a cerimônia. De acordo com
telegrama enviado pelo diplomata em 26 de setembro, a informação que
ele recebera por correspondentes brasileiros foi de que os pais e a
filha da vereadora estiveram presentes.
O embaixador já havia se envolvido em outra polêmica ao responder uma carta da senadora francesa Laurence Cohen, que preside o grupo interparlamentar de amizade França-Brasil, na qual ela questionava o governo brasileiro sobre as investigações relativas ao assassinato de Marielle. [essa senadora precisa se mancar e entender que ela tem competência para questionar o governo francês sobre assuntos que envolvam a França - assassinatos no Brasil, independente das vítimas, são assuntos da polícia brasileira.] Serra respondeu que era com "profunda consternação" que observava "que o assassinato de Celso Daniel e o ataque à vida de Bolsonaro não tiveram o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle, que foi até objeto de uma mobilização da Assembleia Nacional". Cohen chegou a compartilhar em seu Twitter um trecho da resposta dada pelo embaixador.
O MRE disse que as instruções à Embaixada do Brasil na França em relação ao episódio "foram preparadas com base em informações sobre o andamento das investigações" recebidas pelo ministério, ressaltando "o caráter sigiloso das investigações". Ao ser indagado pela bancada do PSOL acerca de sua avaliação da linguagem "agressiva e pouco protocolar" do diplomata, o ministério afirmou que o "chefe do posto possui prerrogativa de adequar os termos de sua resposta às circunstâncias".
O retorno dado pelo chanceler Ernesto Araújo, em 30 de março, não convenceu os parlamentares do PSOL, que protocolaram novo requerimento alertando que a omissão ou recusa em responder os questionamentos configurava crime de responsabilidade. O primeiro pedido foi feito em fevereiro.
Época - Brasil