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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

“O Conselho de Ética não vai fazer nada?”

Rechadinha do Alcolumbre - Senadores cobram posição do Conselho de Ética

Senadores cobram apuração da rachadinha que rendeu 2 milhões de reais no gabinete do senador Davi Alcolumbre

Durante a reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), os senadores cobraram uma posição do Conselho de Ética sobre o esquema de rachadinha no gabinete do senador Davi Alcolumbre, presidente da comissão. Conforme reportagem publicada por VEJA, seis mulheres foram contratadas no gabinete de Alcolumbre na condição de devolverem a maior parte dos salários. Elas ganhavam salários entre 4.000 reais e 14.000 reais, mas ficavam apenas com uma minúscula parte. O restante era devolvido ao parlamentar.

Presidente da CCJ, Alcolumbre não apareceu para conduzir os trabalhos. O senador Lasier Martins (Podemos-RS) cobrou providências: “As pessoas estão perguntando: ‘e o Conselho de Ética não vai fazer nada?’ Eu endosso essa reclamação. O Conselho de Ética precisa de tomar uma atitude. É o nome do Senado que está em jogo, é o nosso nome que está também sendo considerado”, disse. “Se for necessário, quero encaminhar o pedido para que a comissão decida e vote sobre o afastamento do titular, que simplesmente não trabalha”.

O senador Espiridião Amin (PP-SC) concordou com Lasier Martins e criticou o fato de o Conselho de Ética não ter se pronunciado a respeito do esquema de Rachadinha de Alcolumbre. “Vou fazer uma pergunta, que garanto que ninguém sabe aqui responder: quem é o presidente do Conselho de Ética?”, indagou. Segundo ele, o Conselho de Ética está acéfalo, pois o mandato do presidente Jayme Campos já expirou e a Casa não escolheu outro nome para substitui-lo.

Os senadores também criticaram o fato de o presidente da CCJ não ter marcado a data da sabatina do ex-ministro da Justiça André  Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Regional. Esperidião Amin classificou Davi Alcolumbre como “um desertor do regimento”. O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) também registrou seu protesto: “O presidente dessa Comissão já pode comemorar porque ele ganhou a medalha de ouro na olimpíada do desrespeito à esta instituição e ao povo brasileiro."

Política - VEJA 

 

domingo, 9 de agosto de 2020

Tocar a vida? - Vera Magalhães

O Estado de S.Paulo


Única forma de seguir o conselho de Bolsonaro é punir responsáveis por nossa tragédia

Tá chegando em 100 mil (talvez hoje). Mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar disso daí.” A frase, já inscrita na Enciclopédia Geral da Infâmia que Jair Bolsonaro resolveu compor durante a pandemia do novo coronavírus, foi dita por um presidente serelepe ao lado de um ministro interino da Saúde bonachão na última quinta-feira, numa das lives que ele insiste em impingir a um País traumatizado. O número que ele previu como quem joga no bicho, depois de com a mesma sem-cerimônia dizer, lá no início da pandemia, que os mortos não chegariam a 800, não chegou naquele dia, mas o vaticínio nefasto se cumpriu neste fim de semana. 

A única maneira aceitável de “tocar a vida” para que o Brasil não saia dessa tragédia ainda mais dilacerado em todas as suas dimensões é apontar as omissões, as ações criminosas, os ardis políticos e autoritários e o cinismo que nos jogaram nesse buraco, e apontar e punir em todos os fóruns cabíveis os responsáveis por ela. A começar por esse presidente que insiste em cuspir na cara daqueles que deveria governar perdigotos de imbecilidade com relação a uma situação que não faz a menor ideia de como ao menos tentar mitigar. Ele olha para a cara de uma Nação em que mais de 3 milhões foram oficialmente infectados e 100 mil perderam a vida e dá de ombros, como se esses números num intervalo de menos de seis meses fossem toleráveis.
[atualizando: 
o número de 100 mil, oficialmente, mortos pela covid-19, foi alcançado ontem e lembrado das mais variadas formas - houve até memória antecipada: o número foi alcançado no final da tarde de sábado, 8, e na praia de Copacabana houve 'lembrança' pela manhã.
Foi decretado luto oficial nos Poderes Legislativo e Judiciário, ex-ministro aproveitou a ocasião, buscando ser lembrado na tentativa inútil de adiar seu ocaso político. (o que conseguiu foi fornecer à SECOM-PR um 'gancho' para informar o muito que o Poder Executivo da União obteve de êxitos no combate à pandemia.
Esqueceram o Alcolumbre, que também lembrou do infausto acontecimento, fingindo esquecer que quando um juiz autorizou que os recursos dos inúteis Fundos Eleitoral e Partidário fossem utilizados no combate ao coronavírus, foi ele que na condição de presidente do Senado recorreu a instância superior e conseguiu a revogação da autorização.
Quanto ao presidente Bolsonaro só resta aconselhar para que os responsáveis pela tragédia sejam punidos - ele é chefe apenas do Poder Executivo e os culpados estão nos dois outros Poderes (que são, ou deveriam ser, harmônicos e independentes entre si), nos municípios e nos estados.] 

Nenhum governante do Brasil, dos mais nocivos que já passaram por aquela cadeira eleitos ou usurpando-a, teve em relação aos problemas que enfrentou ou provocou a desídia de Bolsonaro. Ele nem sequer finge que está tomando qualquer providência. Jair Messias Bolsonaro mente diariamente ao dizer que o Supremo Tribunal Federal impede o governo federal de coordenar a resposta à pandemia. Deveria ser advertido ou punido pelo próprio STF por isso, pois esta não foi a decisão da Corte. Em um País sério um presidente jamais repetiria essa empulhação sem que fosse admoestado, sequer.

Jair Messias Bolsonaro mente diariamente ao dizer que cloroquina e hidroxicloroquina têm efeito para tratar covid-19. Ele atenta contra a saúde pública ao impor ao Ministério da Saúde acéfalo um protocolo sem nenhum amparo científico indicando esses remédios para casos leves e moderados. Ninguém responsabiliza o presidente e o ministro, o Conselho Federal de Medicina não vai à Justiça, e o tal protocolo anticientífico está em vigor há mais de 3 meses. O STF, o Ministério Público e o Congresso apenas assistem. [se o presidente Bolsonaro dá um espirro mais forte e seus inimigos vêem possibilidade de acusá-lo, a acusação ocorre imediatamente; 
o silêncio dos órgãos citados pode ter como causa que o protocolo não é criminoso;
Crime ocorrerá, quando uma vacina, comprovadamente, eficaz  for fabricada e alguma autoridade - incluindo o presidente da República - proibir o seu uso, compelindo ao uso de outro produto.
Até o presente momento o tratamento da covid-19 tem sido feito via adaptação de várias drogas medicamentosas.]
Jair Messias Bolsonaro promoveu aglomerações, cumprimentou pessoas depois de tossir e assoar o nariz com a mão, anunciou que estava coronado diante de repórteres e câmeras e tirou a máscara para isso, cumprimentou garis sem máscara já doente. Ele comete essas nojeiras diante de um País enlutado, traumatizado, desamparado. É aplaudido por um grupo de celerados e não é impedido por algum dos muitos encarregados pela Constituição de contê-lo e lembrá-lo de que ele tem de governar, e não mostrar cloroquina para a ema.

Jair Messias Bolsonaro não decretou luto oficial quando os mortos foram mil, cinco mil, dez mil, vinte mil, cinquenta mil, cem mil. Ele assiste a esse número de vítimas, pessoas que tinham vidas, sonhos, famílias e planos como quem acompanha entediado uma partida de futebol comezinha com uma daquelas camisas de time falsificadas que adora envergar.

Jair Messias Bolsonaro condena o Brasil a ser um dos piores países do mundo na chaga da covid-19 e se fia na conta cínica de que os pobres coitados socorridos com auxílio emergencial vão lhe reeleger em 2022, sua única preocupação genuína. E quem deveria responsabilizá-lo assiste a todas essas atrocidades com cara de paisagem.
[uma vida importa, isto não se discute. 
Só que decretar luto oficial, fazer pronunciamento, emitir nota oficial em nada vai alterar a tragédia. 
Sem ser motivo de regozijo, mas, em prol da notícia, apresentamos alguns dados sobre número de mortos:
"A taxa de óbitos no país (48 por 100 mil) é, no momento, menor que as registradas na Bélgica (86), Reino Unido (70), Peru (64), Espanha (61), Itália (58) ou Suécia (57). 
Na faixa brasileira estão o Chile (53), os EUA (49) e o México (40). 
Por razões aleatórias, algumas áreas de elevada urbanização, na Espanha, na Itália, na França, na Bélgica, na Suécia e nos EUA, sofreram extensivos contágios na etapa oculta da pandemia. No Brasil, isso parece ter ocorrido com São Paulo, Rio, Fortaleza, Recife e Manaus. Depois desse impacto, com lockdown (Itália, Espanha, França) ou sem ele (Suécia)o gráfico de óbitos já estava traçado, ao menos em linhas gerais." (CONFIRA, CLICANDO AQUI)
ou
Fonte: Demétrio Magnolli - Folha de S.Paulo.]

Vera Magalhães, colunista - O Estado de S. Paulo





sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Palocci apresenta Lula como chefe da organização criminosa

Testemunho de ex-ministro, que negocia delação premiada, acaba com qualquer dúvida sobre papel central do ex-presidente nos esquemas de corrupção lulopetistas

Uma característica bizarra do mensalão do PT, denunciado em 2005, mas que funcionava desde a campanha, em 2002, na compra literal de apoios a Lula, é que se tratou de uma “organização criminosa”, termo usado pelo MP em denúncia, mas sem chefe. 

Primeiro, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi denunciado como tal, mas esta qualificação terminou apagada no Supremo, na fase dos recursos de embargos. Do ponto de vista penal, o mensalão ficou acéfalo, mas não no entendimento geral. O chefe, estava claro, era o presidente Lula. Um esquema como o mensalão não existiria sem o sinal verde dele. Vitorioso o candidato petista, montou-se o petrolão, sistema de desvio de dinheiro do contribuinte muito maior. Este, então, não teria mesmo condições de existir sem o acompanhamento direto do presidente, conhecido por ser centralizador.

Os testemunhos dados pelo ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba, ao juiz Sérgio Moro, e divulgados quarta-feira, acabam com as dúvidas de quem ainda as tinha. Lula, definitivamente, era o chefe da organização criminosa que assaltou o Tesouro, por meio do uso de estatais (Petrobras, Eletrobras etc.), para, em conluio com empreiteiras, superfaturar contratos e transferir dinheiro público, lavando-o na Justiça Eleitoral ou não, para PT e aliados de ocasião, como PMDB e PP. E não há mais dúvidas: também com a finalidade de dar vida muito boa a Lula, em pagamento pelos serviços bilionários muito bem prestados. No caso do depoimento de Palocci, à Odebrecht.

Ainda em fase de pré-delação premiada — o depoimento foi como testemunha em um processo contra Dilma e Lula —, o ex-ministro, pelo que disse, promete ser demolidor, na condição de alto dirigente petista, coordenador da primeira campanha de Lula à Presidência, ministro da Fazenda no primeiro governo dele e coordenador de campanha de Dilma. Antonio Palocci não deve decepcionar. A clássica tática da defesa de tentar descredenciar testemunhas enfrentará rara dificuldade.

Entre os vários pontos altos do depoimento, além daquele em que o ex-ministro reconhece ser o “Italiano” das generosas planilhas de Marcelo Odebrecht, está o relato do “pacto de sangue” proposto pelo pai de Marcelo, Emílio, e aceito sem resistência pelo então presidente no final do segundo mandato. “Envolvia um presente pessoal (o sítio), envolvia um prédio de um museu (do trabalhador) pago pela empresa, envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, combinadas com a Odebrecht. E envolvia uma reserva de R$ 300 milhões.” Lula chamou Palocci e o escalou para recolher e gerenciar o dinheiro.

Um bom sumário do que foi o relacionamento criminoso entre Lula e a empreiteira. Outro resumo emblemático é o que se refere ao uso do pré-sal para financiar o projeto de poder do PT, estatista e de eternização no Planalto. Sempre com o conhecimento de Dilma Rousseff.  Em reunião no Planalto, com Palocci, Dilma já candidata, e José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras e militante petista, Lula determinou que o programa de construção de sondas para o pré-sal servisse para financiar este projeto de poder e a eleição de Dilma. Sabe-se o que aconteceu com a Sete Brasil: corrupção, mais rombos na Petrobras e até em bancos privados.  Começa a ser desvendada a verdadeira história da passagem do lulopetismo pelo Planalto. Não que surpreenda, mas contada por um subchefe tem valor especial.

Fonte: Editorial - O Globo