O
presidenciável se consolida na vice-liderança das pesquisas, mas suas
ideias extremistas e seu isolamento político são um alerta para o perigo
que oferece
[Bolsonaro é antes de tudo coerente;
não oferece risco de surpresas durante o seu Governo - quiçá, Governos;
começa a incomodar e por isso seu nome, suas ideias para um Brasil melhor, seus projetos se tornam mais divulgados e com a divulgação, com as explicações necessárias para esclarecer, sua candidatura se consolidará.]
Do quartel ao palanque – Em seu casamento com a primeira mulher, Rogéria, em 1978 (//Reprodução)
O deputado
Jair Bolsonaro quer ser presidente do Brasil. O deputado Jair Bolsonaro
tem chances reais de vir a ser presidente do Brasil. Há alguns anos,
essas duas frases juntas fariam a maior parte dos brasileiros rir às
escâncaras. Hoje, provocam reações diversas, que vão da celebração ao
pavor, mas não incluem mais as antigas gargalhadas.
Do quartel ao palanque – Os filhos Carlos, Eduardo e Flávio, em agosto de 2017 (Antonio Milena/VEJA)
A mais recente
pesquisa do instituto Datafolha mostra que o deputado se consolidou em
segundo lugar na corrida eleitoral para a Presidência da República, com
17% das intenções de voto no primeiro turno, atrás apenas do líder de
sempre, o ex-presidente Lula, com 35% [além das dúvidas sobre os números apresentados para Lula, que não combinam com o percentual dos que o querem preso, bandido encarcerado não pode votar nem ser votado - e será isto que ocorrerá com o ex-"Nosso" guia, em menos de seis meses.] Os números significam que, se o
petista desistir ou for impedido de concorrer por motivos penais,
hipótese cada vez mais provável, Bolsonaro é hoje o candidato com maior
chance de assumir a liderança. É uma novidade e tanto — e talvez a maior
ameaça que o Brasil já enfrentou no atual ciclo democrático.
Do quartel
ao palanque – No Congresso Nacional durante a votação do impeachment, em
que homenageou o coronel Brilhante Ustra, conhecido torturador na
ditadura militar, [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sempre ACUSADO de torturador e nunca condenado - não havia provas a sustentar as acusações - ] em abril de 2016 (Cristiano Mariz/VEJA)
Debulhando-se
a pesquisa, constata-se que Bolsonaro tem um desempenho especialmente
favorável entre os jovens, na faixa de 24 a 32 anos, do sexo masculino,
com renda acima de cinco salários mínimos, que residem em cidades com
mais de 50 000 habitantes das regiões Sudeste e Nordeste. [e os que viveram durante o Governo Militar com certeza votarão em Bolsonaro.
Durante o Governo Militar o Brasil tinha segurança - houve alguma insegurança causada pelos porcos guerrilheiros da esquerda, tipo Lamarca, Diógenes do PT, Clemente, Fernando Pimentel, e outros marginais que agora estão:
- roubando os cofres públicos;
- tentando esconder o que roubaram;
- tentando não ser encarcerado
- presos cumprindo sentença.
Tinha também SAÚDE PÚBLICA;
EDUCAÇÃO;
TRANSPORTE.
Hoje está tudo em frangalhos, o povo morrendo nas portas dos hospitais, sendo assassinado por um 'quentinha', sem condições de lazer por não poder pagar uma passagem, as escolas caindo aos pedaços, professores não tendo apoio e sendo vítima da violência gratuita de alunos.
Muitos alunos frequentam a escola apenas pela merenda escolar - que para muitos é o almoço e o jantar.]
Isso mostra
que o grosso do seu público não viveu sob a ditadura militar e pertence a
um segmento da classe média. Não é o pedaço mais expressivo do
eleitorado brasileiro, mas já reúne entre 20 milhões e 30 milhões de
pessoas, dependendo dos nomes que aparecem na cédula.
Do quartel ao palanque – Com a terceira esposa, Michelle, em agosto de 2017 (Antonio Milena/VEJA)
Com esse apoio,
Bolsonaro colocou definitivamente a direita radical no jogo eleitoral,
num país que, há poucos anos, tinha vergonha de expor ideais dessa
tendência. “Eu sempre fui de direita, mesmo quando isso era crime”,
orgulha-se. [deputado Bolsonaro, fique certo que muitos não deixaram de ser de direita, mesmo quando era crime - sempre tive orgulho, tenho e continuarei tendo em ser de direita e milhões de brasileiros estarão apoiando sua candidatura e futuro governo.]
Sua ascensão ganhou um impulso monumental justamente de seu
maior inimigo — o PT, que, com a desmoralização provocada pela revelação
de seus intestinos criminosos, conseguiu imprimir um estrago histórico à
esquerda brasileira. Antes de Bolsonaro, o maior sucesso da direita
extremista foi protagonizado por Enéas Carneiro, um cardiologista
folclórico e estridente que se celebrizou pelo bordão “Meu nome é Enéas”
e teve 7% dos votos na eleição de 1994 — e que, não por acaso, é um dos
ídolos de Bolsonaro.
Bolsonaro
já é maior que dois Enéas. É recebido com fanfarra nos aeroportos por
fãs entusiasmados, é solicitado para selfies até nos corredores do
Congresso. Numa noite recente, depois de ser abordado por uma dezena de
deputados em sessão da Câmara, comentou com a reportagem de VEJA, que o
acompanhava: “Ouviu o que me disseram lá dentro? ‘Vou estar contigo no
ano que vem.’ Não tem opção, cara”. Apesar dos rapapés e uivos,
Bolsonaro vive em isolamento político. Não tem ligação sólida com nenhum
partido.
O general –
Ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante
militar do Planalto, o general Newton Cruz foi réu na ação penal do
atentado do Riocentro. [ACUSADO, nunca apresentaram provas de sua participação em algum crime.] Para Bolsonaro, o militar é uma “inspiração”
(Luiz Antonio/Agência o Globo)
Em quase três décadas como deputado, conseguiu aprovar apenas
dois projetos e virou um saltimbanco de siglas. Pertenceu ao PDC, PP,
PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e, agora, está prestes a aderir ao PEN, cujo
nome está mudando para Patriotas. No PSC, sua legenda anterior, quem lhe
abriu as portas foi o pastor Everaldo Dias Pereira, aquele que a
Odebrecht acusou de cobrar 6 milhões de reais para dar apoio ao
candidato presidencial Aécio Neves, do PSDB. O pastor, aliás, tornou-se
tão íntimo de Bolsonaro que o convenceu a cruzar o Oceano Atlântico pela
primeira vez, no ano passado, para visitar Israel e ser batizado no Rio
Jordão, junto com seus quatro filhos mais velhos.
Bolsonaro não
oferece a seus eleitores um conjunto concatenado de ideias, não articula
uma visão de Estado nem se alinha com nenhuma escola econômica. “Sou
ignorante em economia”, confessa. Mas, entre suas ideias, observa-se uma
tendência conspiratória, comum entre os militares, segundo a qual os
estrangeiros estão sempre tramando para afanar as riquezas nacionais . Outro sinal do isolamento está em seu
entorno. Seus conselheiros mais próximos são os três filhos mais velhos,
do primeiro casamento: o deputado estadual Flávio Bolsonaro, a quem o
pai chama de Zero Um; o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois; e o
deputado federal Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, todos do PSC. [por óbvio, ao oficializar sua candidatura a Presidência da República, Bolsonaro agira de acordo com sua nova condição, buscando assessoria ocmpetente e honesta.
Não tem sentido se exigir de um deputado federal - com vários mandatos - que disponha de uma assessoria do porte da necessária a um presidente da República.] Em tempos
de Lava-Jato, Bolsonaro vende seu isolamento político como um ativo.
“Nenhum partido vai querer se coligar comigo porque sabem que não sou
‘piranha’ para receber certas propostas indecorosas”, diz. Apresentar-se
como um solitário lírio no lodo pode parecer positivo, mas esconde um
perigo. “Não ter uma base ampla e organizada não é novidade em uma
eleição. Outros candidatos menos asquerosos disputarão as eleições de
2018 também sem amplas bases. Isso tudo coloca um problema: como
conseguirão maioria parlamentar que dê sustentação às decisões? Todos os
isolados teriam de responder a isso”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli,
da Universidade de São Paulo, que, em seguida, toca no ponto fulcral:
“Agora, no campo da especulação, um presidente isolado com o perfil de
Bolsonaro pode tentar apelar diretamente ao povo, por cima das
instituições de mediação democráticas, como já vimos acontecer em outros
países. Isso é uma ameaça à democracia porque põe em risco não a
relação direta entre o presidente e o povo, mas sim as mediações entre o
poder e o povo, que são fundamentais em um Estado democrático”. [a medida que a candidatura Bolsonaro se consolide e se constate uma ampla preferência do eleitorado por ele, o deputado escolherá os apoios que lhe convém e sempre em consonância com os interesses do Brasil e do povo brasileiro.]
O
torturador – O coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, foi
responsabilizado por torturas cometidas durante a ditadura. Bolsonaro o
considera “herói” (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo) [responsabilização não sustentada por provas válidas em juízo.]
O mesmo
isolamento se verifica no ambiente em que Bolsonaro passou a juventude e
parte da idade adulta, as Forças Armadas. Ali, o capitão da reserva faz
sucesso entre as baixas patentes, mas é visto com desconfiança pelo
comando, que não apoia sua candidatura presidencial, tampouco enxerga
com bons olhos o empenho do capitão da reserva em personificar a imagem
da corporação. Há dois meses, na cerimônia de entrega do espadim de
Duque de Caxias, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman),
Bolsonaro ganhou tratamento de celebridade por parte dos 450 cadetes e
seus familiares, mas teve recepção fria entre quem tinha mais estrelas
no peito. Generais fingiam ignorar sua presença. O ministro da Defesa,
Raul Jungmann, sentou-se o mais distante possível dele. Com esse clima
de indiferença, na mesa que Bolsonaro dividiu com a terceira mulher,
Michelle, alguém comentou: “As Forças Armadas estão cheias de
comunistas. Só por isso os militares permitiram que o PT ficasse tanto
tempo no poder”. [sendo o assunto decidido no voto, vale lembrar que um quatro estrelas tem um voto igual a qualquer outro eleitor - e a meta de Bolsonaro é ganhar a eleição no voto;
em caso de necessidade de uma intervenção militar, o número de estrelas tem grande peso, desde que o estrelado tenha comando de tropas.]
Na
corporação — na qual Bolsonaro é chamado de “bunda-suja”, termo usado
pelos militares de alta patente para designar os que não galgaram
posições na carreira —, o presidenciável deixou um passado de
insubordinação que a alta hierarquia não esquece. Em 1986, Bolsonaro
escreveu um artigo em VEJA reclamando dos salários e benefícios dos
militares. No ano seguinte, uma reportagem, também de VEJA, revelou que
ele urdira um plano para explodir bombas em locais públicos e chamar a
atenção do Exército para seu pleito de aumento do soldo militar (fato
que ele nega até hoje [e que não foi provado]). Um processo foi aberto para investigar o caso e
Bolsonaro foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar, numa decisão que
ainda é contestada. Mas as marcas do episódio ficaram nos arquivos do
Exército, onde Bolsonaro é tido como um militar dado a “proselitismos
políticos”.
O patriota –
Morto em 2007, Enéas Carneiro especializou-se em discursos de teor
nacionalista. Bolsonaro quer o ex-deputado no Livro dos Heróis da Pátria
(Rosane Marinho/Folhapress)
A ilha
política em que se transformou, no mundo civil ou militar, convive bem
com suas posições extremadas. Em nome delas, Bolsonaro já foi
classificado de quase tudo: homofóbico, racista, xenófobo, misógino,
fascista. Ele atribuiu tudo a acusações distorcidas ou a pura armação
promovida por inimigos da esquerda — ou, para usar sua definição
predileta, “os imbecis”. Sua artilharia verbal insultuosa, que mira
quase sempre as minorias, tem lhe rendido dissabores na medida em que
sua popularidade cresce. Na semana passada, ele foi condenado por mais
uma ofensa — nesse caso, contra os quilombolas. Em abril, em palestra no
Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, rememorou uma visita a um quilombo e
disse que “afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas”. E
acrescentou: “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriadores eles
servem mais”. A juíza Frana Elizabeth Mendes, da 26ª Vara Federal do
Rio, que o condenou a pagar indenização de 50 000 reais, deu-lhe um
pito público: “Política não é piada, não é brincadeira”. E acrescentou
que um parlamentar tem “o dever de assumir uma postura mais respeitosa
com relação aos cidadãos”.
As intervenções provocadoras, destinadas
mais a ofender opositores do que a clarear ideias, são uma marca de
Bolsonaro. Na votação do impeachment de Dilma Rousseff, ele fez questão
de dedicar seu voto a Carlos Alberto Brilhante Ustra, o famoso “doutor
Tibiriçá” dos porões da tortura do regime militar. [Ustra foi acusado de muitas coisas, mas NUNCA foi condenado - lembrando que uma condenação só tem força efetiva quando transita em julgado e nunca uma sentença condenando o coronel Ustra se tornou definitiva.
Os que tiveram a honra de conviver com Ustra, sempre o consideraram um militar íntegro, dedicado aos seus deveres e pronto a fazer o necessário pelo Brasil. Isto é crime?] Embora Ustra esteja
entre seus mentores intelectuais, Bolsonaro, ao mencioná-lo, queria
apenas ofender os adversários políticos, sobretudo a própria presidente
Dilma, que sofreu o suplício da tortura durante a ditadura. Dilma
construiu todos os motivos para ser apeada do Palácio do Planalto, mas
ter sido torturada não é um deles.
O discurso agressivo de
Bolsonaro encaixa-se no clima politicamente polarizado do Brasil atual e
faz sucesso entre uma camada de eleitores, mas talvez só ajude a
radicalizar ainda mais o ambiente político. Diz Maurício Santoro,
cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: “Assim
como ocorre com Trump e Marine Le Pen, muitas das declarações de
Bolsonaro extrapolam a legalidade e são explicitamente racistas,
discriminatórias ou de incitação ao crime. Só em 2017 ele já foi
condenado duas vezes por incentivar o estupro e por agressões verbais
contra negros. Agora, o que aconteceria se ele estivesse numa posição
forte no Poder Executivo, como a Presidência da República? Ele
provavelmente não hesitaria em promover discursos de ódio contra
adversários ideológicos, o que pode ter consequências nefastas num país
que já é muito violento”. A hostilidade ao diálogo não é novidade para
Bolsonaro. Ele tem por hábito fugir de situações que não domina para
evitar ser confrontado. Só viaja a locais onde é convidado por grupos de
seguidores que defendem suas ideias. Os convites costumam partir de
deputados estaduais e federais e de empresários locais.
Viva o
golpe – O general Mourão, que defendeu uma intervenção militar, é apenas
“um brasileiro indignado com esse estado de putrefação da política
brasileira”, escreveu o deputado (FS 2015/Divulgação)
OS MENTORES INTELECTUAIS
Entre
os ídolos declarados do Bolsonaro estão expoentes da ditadura e
ativistas de extrema direita que acreditam que o Brasil está prestes a
ser tomado por comunistas
Entretanto,
há um ambiente — o digital — em que Bolsonaro reina soberano. Tem 5,5
milhões de seguidores nas redes sociais, muito mais do que o
ex-presidente Lula, por exemplo, que tem 3,2 milhões. Na companhia
permanente de um celular, ele mesmo fica praticamente todo o tempo
on-line. Quem comanda seu núcleo virtual é o filho Flávio, o Zero Um.
Ele criou um repertório de vídeos, memes e gritos de guerra de fácil
assimilação e viés radical (com pequenas variações, são as seguintes as
frases preferidas dos seguidores do deputado: “Bandido bom é bandido
morto”, “Comunista tem que morrer, gay e feminazis também”, “Não gostou?
Vai pra Cuba”). Recentemente, fez sucesso nas redes o tuíte em que o
“Mito”, como o deputado é chamado por apoiadores, elogia o vídeo do
general Hamilton Mourão, que defendeu uma intervenção militar no Brasil.
“Ele (refere-se a Mourão) falou como um brasileiro qualquer que está
indignado com esse estado de putrefação da política brasileira”, disse.
Urros e vivas espoucaram no Facebook.
Atento à importância das
redes sociais, Bolsonaro é zeloso com sua imagem digital. Na Câmara, ele
percorre a passos largos e rápidos a distância de 400 metros que separa
o Salão Verde de seu gabinete, no Anexo III (a “favela da Câmara”, diz
ele). O gabinete de seu filho Eduardo, onde costuma receber visitas, é
decorado com distintivos da Polícia Federal e da NRA, a poderosa
associação que faz o lobby pró-armas nos Estados Unidos. No percurso,
um entusiasta o parou para pedir que gravasse em vídeo palavras de apoio
a uma campanha de sua cidade pela renovação das armas da Polícia Civil.
Outro quis uma selfie para mostrar à mulher, “fã” do deputado, segundo
disse. Minutos depois, jovens da Universidade Federal da Integração
Latino-Americana (Unila) abordaram o parlamentar. Queriam seu apoio
para “desmistificar a ideia de que a universidade é bolivariana”. Esses,
o deputado nem parou para ouvir. “Imagine se assino alguma coisa desse
lugar. Depois sou esculhambado.”
Nascido em Glicério, no interior
de São Paulo, Bolsonaro criou-se em Eldorado, no Vale do Ribeira, um
lugarejo de 20 000 habitantes. Ali, o grosso dos moradores atribui o
atraso da cidade à demarcação de reservas ambientais, que impediriam a
exploração agrícola. De família modesta (seu pai fabricava próteses
dentárias, a mãe é dona de casa), ele frequentava a escola pública, era
goleiro do time de futebol local e aturava a gozação dos colegas por
causa do jeito desengonçado com que apanhava a bola. Seus passatempos
eram caçar passarinhos com espingarda de chumbo, pescar no Rio Ribeira,
ouvir no rádio o programa de Tonico e Tinoco, assistir aos filmes de
Mazzaropi e — desde cedo, garante quem conviveu com ele — falar mal de
comunistas. Segundo o professor Olavo Amado Ribeiro, hoje com 85 anos,
de quem Bolsonaro foi aluno de português e educação moral e cívica, ele
já era na adolescência um dos mais ácidos críticos de João Goulart,
presidente derrubado no golpe de 1964. Mas o jovem Bolsonaro não era uma
voz dissonante na cidade. “Eldorado não tinha esquerdistas”, diz o
professor.
O episódio que mais moldou a forma de Bolsonaro,
porém, deu-se com a chegada à região da trupe de Carlos Lamarca, o líder
da VPR, organização guerrilheira de extrema esquerda. Em 8 de maio de
1970, um enfrentamento com soldados locais terminou com troca de tiros
na praça de Eldorado. Bolsonaro, então com 15 anos, estava na escola no
momento dos ataques. Ele lembra que os professores, amedrontados pelos
tiros, esvaziaram as salas de aula e mandaram as crianças atravessar a
praça rastejando para se proteger das balas. Seis soldados e uma
moradora foram feridos, mas ninguém morreu. O episódio marcou para
sempre a cidade e fez com que o Exército direcionasse tropas para o Vale
do Ribeira. Os soldados que se confrontaram com Lamarca e a VPR, vistos
como heróis, passaram a receber visitas constantes do jovem Bolsonaro, a
quem estimularam a entrar na carreira militar.
Na
década de 70, coube ao seu pai, Percy Bolsonaro, trazer a política para
dentro da família. Ele foi candidato a prefeito em Eldorado pelo MDB,
que fazia oposição ao regime militar, mas não se elegeu. Gostava de “uma
cervejinha” e não era “muito rígido” com os filhos. Algumas de suas
características contrastavam com as de Bolsonaro desde cedo. “O Jair
sempre foi mais radical e conservador que o pai”, diz o professor
Ribeiro. Tanto que, em algumas ocasiões, seu Percy julgava que o filho
se excedia no “anticomunismo”. Soltava um “o Jair é doido, é um
exagerado”. A família, contudo, sempre se entusiasmou com a entrada do
filho nas Forças Armadas. A prova disso é que, quando Bolsonaro decidiu
abandonar o Exército para se dedicar à política, o pai foi até o Rio de
Janeiro para demovê-lo da ideia. Fracassou. Agora, o filho está em
segundo lugar nas pesquisas — e passou a levar a sério suas chances de
chegar lá.
O professor
– Radicado nos Estados Unidos, o filósofo Olavo de Carvalho é o guru
dos ultraconservadores e diz que não houve ditadura no Brasil. É
consultor informal de Bolsonaro para assuntos externos (//Reprodução)
Tanto que, neste 7 de outubro, Bolsonaro embarca para
sua primeira visita como político aos Estados Unidos. Seu cicerone será o
filósofo ultraconservador Olavo de Carvalho, que mora lá e convidou o
candidato para um road show no país. “Vamos conversar com investidores,
membros do Partido Republicano e do governo de Donald Trump”, revela o
deputado. Será a segunda viagem de Bolsonaro aos EUA. A primeira foi nos
anos 2000, quando levou os filhos a Orlando. O político afirma que não
gosta muito de viajar. Prefere passar o tempo livre no condomínio em que
mora — com 100 casas de frente para o mar, na Barra da Tijuca.
Ultimamente, anda cismado com segurança. Conta que, outro dia, viu um
assalto em que o ladrão disparou um tiro para cima. Pensou que o
episódio poderia ser “um alerta” para ele. Bolsonaro suspeita da
existência de um “sistema” interessado em eliminá-lo “pelo fato de ser
um outsider”. “O patinho horroroso está ficando bonito. Por isso querem
me tirar. Mas vão ter de tirar na mão grande”, desafia, supondo que,
mesmo que saia vitorioso, não estará imune a investidas para apeá-lo do
cargo. “O sistema não me quer ali. Não quer que eu escolha ministros do
Supremo”, diz.
Como todo populista, Bolsonaro tem uma solução
simples para cada problema complexo. Contra a violência, propõe “dar
armas ao cidadão de bem”. Ele também quer o fim do regime de progressão
de pena e, para abrigar o número crescente de condenados, sugere
“construir presídios agrícolas, para o preso produzir alguma coisa e
trabalhar, e não ser um fardo para o Estado”. Em suas entrevistas, ele
aceita discorrer apenas sobre temas que “domina”, como a exploração de
metais por estrangeiros. Vencer o desemprego e fomentar o crescimento
econômico, para Bolsonaro, é uma equação que se resolve com “segurança
pública”. “Que empresário estrangeiro vai investir no Brasil se não
podemos nem andar na rua?”, questiona. Contudo, se o empresário for
chinês, ele não quer. “Os chineses estão se apropriando de nosso subsolo
e, em breve, de nosso solo”, reclama. “Vamos virar inquilinos da
China”, profetiza. Para o deputado, a exploração chinesa do nióbio
(metal usado como liga na produção de aços especiais), em Goiás, é “um
crime de lesa-pátria”. Numa mistura de nacionalismo e nostalgia, ele
apregoa que as riquezas minerais deveriam ser liberadas para extração
pelos brasileiros. “O que seria do Brasil sem os bandeirantes que
exploraram os diamantes? Teríamos um terço do território atual se não
fossem eles. É preciso parar de tratar o garimpeiro como bandido no
Brasil.”
Entre os especialistas ouvidos por VEJA, nenhum se
arrisca a apostar que o deputado saia vitorioso de um pleito
presidencial. Mas o fato de um grande grupo de brasileiros se engajar na
campanha precoce de um candidato como ele causa preocupação. “Bolsonaro
é contra todo o ideário que edifica uma democracia sólida, o que inclui
a defesa dos direitos humanos e o combate à desigualdade”, diz Ricardo
Sennes, da consultoria política Prospectiva. “Ele opta sistematicamente
por partidos cada vez menores e cria um cenário que remete ao do
ex-presidente Fernando Collor quando se filiou ao PRN. Essa falta de
coalizão resultaria numa dificuldade de governar tamanha que um
impeachment poderia se tornar inevitável.” Caminhando sozinho, um
candidato pode até vencer a eleição, mas governar sozinho ninguém
governa.
“Sou ignorante em economia”
Mesmo assim, Bolsonaro se
declara contrário à política de aumento de juros para combater a
inflação e votou contra o pacote fiscal de resgate do Rio
TAXA SELIC
Bolsonaro
critica a política de aumentar juros para conter a inflação — o
baluarte do pensamento liberal. Para ele, o Banco Central só cortou a
Selic no último ano para “beneficiar banqueiros”, que temiam que os
juros altos tornassem a dívida pública impagável, pondo em risco a
rentabilidade de títulos públicos nos quais os bancos investem.
“Banqueiro não quer levar calote”, diz. Bolsonaro afirma que defende a
queda da Selic “há muito tempo”. Mas diz ser criticado por essa
convicção porque o mercado acredita que “é pecado” o governo intervir na
política de juros.
PRIVATIZAÇÕES
Sobre as privatizações
anunciadas por Temer, ele se esquiva de dizer se manterá o plano caso
seja eleito. “Tem coisa que dá para privatizar para acabar com o
loteamento político. Mas setor estratégico não se privatiza. Nos Estados
Unidos, é o Exército americano que cuida das hidrelétricas. Algumas
coisas não podem sair da tutela do Estado. Chamam os militares de
estatizantes, mas como fazer Itaipu com dinheiro privado?” Contudo,
Bolsonaro votou a favor de desobrigar a Petrobras de participar dos
leilões do pré-sal e discordou quando o governo Dilma determinou que a
empresa tivesse participação obrigatória de 30% nos consórcios.
AJUSTE FISCAL
Bolsonaro
nunca esteve alinhado à agenda de corte de gastos públicos nos seus
sete mandatos como deputado. Sempre defendeu corporações do
funcionalismo, em especial os militares, sua base eleitoral, votando a
favor de reajustes salariais e de pensões. Neste ano, opôs-se ao pacote
fiscal de resgate do Rio de Janeiro, que previa a venda de estatais
fluminenses e a redução de benefícios de servidores. Mas, numa flagrante
contradição, causou revolta nos próprios eleitores ao votar a favor da
proposta que estabelece um teto de gastos para o governo em 2016, apesar
de ter discursado contra a medida.
EQUIPE ECONÔMICA
Bolsonaro
diz receber conselhos de um economista do setor financeiro cuja
identidade não revela. Afirma ainda não ter pensado em um nome para
assumir a Fazenda, caso ganhe. Costuma dizer que os generais não eram
economistas e fizeram o Brasil crescer como nunca nos anos 1970. “Sou
ignorante em economia, mas foram os especialistas que levaram o país
para o buraco”, declara, deixando de lado o fato de que foram os
especialistas que venceram o ciclo de hiperinflação.
CHINA
Ele
faz críticas à China, país ao qual o Brasil “está entregando o seu solo
e subsolo”, segundo diz. Tem obsessão pela ideia de que o Brasil possui
riquezas geológicas pouco exploradas, como o nióbio e o grafeno, que,
um dia, serão tomadas pelos chineses. “O chinês não tem coração. Não
manda seus homens para o Afeganistão nem para lutar no Iraque. Manda
homens de negócios para comprar tudo. A China está garantindo sua
segurança alimentar com as nossas terras, e vamos nos tornar inquilinos
dela”, diz.
Fonte: Revista VEJA
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro na VEJA - uma rápida nota
Bolsonaro na Veja: uma rápida nota -
... a jornalista que assina a peça de propaganda contra o deputado Jair
Bolsonaro para a Veja desta semana, é uma daquelas figuras típicas do
jornalismo tucano: formada na Wharton Business School, ela não é
ignorante o suficiente para acreditar em economia marxista ou
keynesiana, mas subscreve toda a agenda cultural da esquerda, venera o
lumpemproletariado (o povo oficial, formado pelas “minorias”) e sente
nojo do povo real, que se preocupa com segurança pública, está farto da
roubalheira da classe política e repudia a corrosão dos valores
tradicionais simbolizada em exposições como a do MAM e do Queermuseu.
Não surpreende, portanto, que ela tenha se colocado a serviço de
figuras como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Dória (a
quem ela parece ser mais simpática nas redes sociais) e esteja
trabalhando, ativamente, contra o candidato que dará mais trabalho aos
dois.
Não há nenhuma grande novidade em nada disso, mas a capa da revista é
um tanto curiosa. Apostando em uma chamada em letras vermelhas e com um
subtítulo repleto de adjetivos — insultuoso, extremista e outras
platitudes do tipo –, a Veja tenta alertar seus leitores (em número cada
vez menor) de que o deputado federal representa uma grande ameaça. No
interior da revista, o conteúdo da matéria segue a mesma linha, com o
agravante de dizer algumas bobagens sobre o professor Olavo de Carvalho,
mas o que mais chama a atenção é mesmo a capa, que em um certo sentido,
mais profundo do que a turminha do André Petry poderia imaginar, acerta
o alvo.
O deputado Jair Bolsonaro representa mesmo uma ameaça. Ele ameaça os arranjos do establishment
brasileiro, de que fazem parte a Veja e o tucanato em geral; a
hegemonia da tríade PT-PMDB-PSDB e a sobrevivência de seus esquemas de
corrupção; a instrumentalização das instituições de ensino para a
formação de idiotas úteis como os que assinam a edição da revista; e a
cultura do banditismo que, todos os anos, vitima centenas de milhares de
brasileiros.
O deputado ameaça, ainda, todos aqueles que abominam a
idéia de serem governados por alguém que pensa, fala e age como a maior
parte do povo brasileiro e que, no mínimo, atrapalha um bocado os mais
diversos esquemas de poder conduzidos por grupelhos iluminados que
desejam ditar os rumos do país. (...)
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